Mundos Opostos – Capítulo 02

Mundos Opostos

CENA 01: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/INT./MANHÃ

Helena vai em direção a Maria e a cumprimenta com um abraço. Gabriel sorri diante da boa recepção dos seus filhos aos novos hóspedes, mas Alice permanece com a cara fechada.

GABRIEL – Bem, fiquem se conhecendo melhor enquanto eu vou ali e já volto, certo?

Gustavo, Helena, Luís e Maria fazem um gesto positivo com a cabeça. Em seguida, Gabriel se afasta deles, levando Alice consigo.

GABRIEL – O que é isso, Alice? Você nem falou com eles…

ALICE (irritada) – GABRIEL, VOCÊ PELO MENOS FALOU ALGUMA COISA SOBRE TRAZER ESSES INTRUSOS PARA DENTRO DE CASA?

GABRIEL – Alice, por favor—

ALICE (exaltada) – POR FAVOR, O QUÊ, GABRIEL, POR FAVOR, O QUÊ? POR FAVOR, QUEM DIZ SOU EU! Gabriel, você patrocinou a vinda desse casal de intrusos na nossa casa por debaixo dos panos, sem que ninguém soubesse de absolutamente nada! Você acha que eu não vou achar ruim?

GABRIEL – O Gustavo e a Helena não acharam ruim…

ALICE – Eu não sou o Gustavo nem a Helena, Gabriel. Meu amor, a troco de que você abriu mão da nossa privacidade para trazer esses dois—

Alice trava nesse momento, procurando o melhor termo para definir Luís e Maria. Gabriel rapidamente percebe que Alice faria o uso de termos racistas.

GABRIEL – Cuidado com as palavras que você vai usar, Alice…

ALICE – A troco de que você abriu mão da nossa privacidade pra meter esses… esses afrodescendentes marginalizados no meio do nosso círculo familiar?

GABRIEL – A troco de nada. Esses afrodescendentes marginalizados, QUE TÊM NOME, TÁ, ELE SE CHAMA LUÍS E ELA SE CHAMA MARIA! Eles serão metidos no meio do nosso círculo familiar por uma simples questão de pagamento de dívida.

ALICE – Pagamento de dívida?

GABRIEL – Eu prometi à mãe deles que eu tiraria os dois da periferia pra dar um teto decente a eles, pra educá-los, pra prepará-los pra vida. Eu prometi que eu daria a eles um futuro mais promissor do que, Deus os livre, viver às margens da sociedade.

ALICE – Muito nobre de sua parte dar assistência a esses dois jovens, mas o que custava você ter me colocado à parte de toda essa situação?

GABRIEL – Eu não podia arriscar, Alice…

ALICE (impaciente) – ARRISCAR O QUÊ?

GABRIEL – Agora não é hora de falar isso, nem tampouco lugar. Nunca se sabe quem pode estar do outro lado da parede, lá na calçada, ouvindo a gente.

ALICE – Gabriel, não me diga que—

GABRIEL – Não se preocupe, não vou dizer. Quando você se sentir pronta para saber, aí você me procura, e em um lugar bem reservado. Porque ninguém pode saber o real motivo deles estarem aqui sob minha tutela, nem mesmo eles.

Tensa, Alice se cala, deixando transparecer sua concordância com as condições impostas por Gabriel. Em seguida, eles retornam para junto de Gustavo, Helena, Luís e Gabriel. Os quatro estão rindo, em total clima de descontração, o que faz um sorriso brotar novamente no rosto de Gabriel.

Em um dado momento, um comentário de Helena causam risos generalizados. Maria, por sua vez, pega um balde d’água que por ali se encontrava (coincidências acontecem) e ameaça jogá-lo em Helena. Diante da falta de temor dela, Maria decide cumprir sua ameaça e jogá-lo na sua direção, mas erra o alvo. Pedro Igor, que vinha voltando para casa, em um indisfarçável estado de ebriedade, é acertado pelo banho de Maria, se desequilibra e cai sentado no chão. Imediatamente, os risos cessam e dão lugar ao medo da reação de Igor.

Rapidamente, Maria se aproxima de Pedro Igor e o ajuda a se levantar.

MARIA – Desculpa… desculpa…

Uma vez em pé, Igor não consegue se equilibrar e quase cai novamente, sendo segurado por Maria. Os rostos de ambos ficam próximos, e ali surge algo estranho. Maria se sente imensamente atraída por Igor… o cheiro de álcool é ofuscado pelo encanto vindo da observação dos seus olhos tão negros quanto seus cabelos, mesmo estando eles pesados; sua cor de pele, até então a mais escura da família, se torna alvíssima quando comparada à de Maria. Em ambos nasce uma enorme atração, contra a qual eles lutam bastante para não se entregar.

O clima é bruscamente quebrado por Igor, que cai em si e empurra Maria. Sua evidente embriaguez constrange seus familiares e é encarado com estranheza por Luís e Maria.

GUSTAVO – Igor—

IGOR (ébrio) – Cala a boca, Gustavo!

ALICE – Meu filho, o que é isso?

IGOR – O que foi? Eu não posso mais me divertir não?

ALICE – Igor, você chama isso de diversão?

IGOR – Pelo menos o álcool não fica apontando meus defeitos a todo minuto como aqui em casa, né?

ALICE – Se você não fosse esse preguiçoso acomodado, você nunca ouviria nem um ai. Mas a escolha foi sua… você não quis a rosa? Agora aguenta os espinhos!

IGOR – Eu não quis cara—

GABRIEL – Chega! Parem com isso! Alice, você está mais atrapalhando do que ajudando!

ALICE – Gabriel, o Igor chega embriagado, me desafiando e a culpa é minha?

GABRIEL – Esse tipo de assunto não deve ser tratado dessa maneira, e muito menos na frente de qualquer pessoa.

Alice dirige seu olhar a Luís e Maria, com uma expressão insatisfeita. Luís se sente incomodado com o olhar de Alice, mas decide não tomar nenhuma atitude.

ALICE – Tem razão, Gabriel… esse tipo de assunto não diz respeito a qualquer pessoa…

Alice, então, se retira de cena, voltando para a mansão, sendo prontamente seguida por Gabriel. Igor, por sua vez, lança um olhar incógnito para Maria… observando-a, admirando-a? Ou encarando-a com ódio por ter lhe molhado? Essa dúvida angustia Maria, até que Igor decide sair de cena, entrando na mansão, e apoiando-se na primeira coisa que vê pela frente quando perde o equilíbrio por causa da ebriedade.

A sós em cena, Gustavo, Helena, Luís e Maria se entreolham, visivelmente constrangidos.

CENA 02: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens de uma rua qualquer do Centro da cidade.

Avião pousando no Aeroporto Internacional Pinto Martins.

Imagens da Estátua de Iracema na Lagoa da Messejana.

Imagens da fachada da casa de Larissa. Aos poucos, a câmera se aproxima da janela, onde se encontra Jonas, debruçado sobre a janela, observando a rua.

CENA 03: CASA DE LARISSA/SALA/INT./TARDE

Dimas entra pelo corredor e flagra Jonas ali: sua reação é aproximar-se dele, também se debruçando sobre a janela, ao lado de Jonas; este, por sua vez, reage rindo da situação. Sem olhar para Jonas, Dimas quebra o silêncio.

DIMAS – O que tem de tão engraçado em ver a rua?

JONAS – Não é a rua. Na verdade, é sim, mas não exatamente.

DIMAS – Pode ser mais claro?

JONAS – Eu tava olhando para aquela casa…

Jonas aponta para a casa de Angelo.

DIMAS – A casa do sogrão?

JONAS – Foi ali que tudo começou, Dimas.

DIMAS – Tudo?

JONAS – Foi ali que começou a minha história com a Carolina. Foi ali que eu e o Ricardo, a gente viu a Carolina pela primeira vez. A gente se encantou na hora. A gente já brigou por causa dela, a gente perdeu ela pro Júlio e brigou por causa disso… até que eu ganhei.

DIMAS – E graças a ela, vocês dois são felizes.

JONAS – Eu não diria que eu e o Ricardo, a gente já alcançou a felicidade. Eu acho mais fácil a gente literalmente alcançar a linha do horizonte do que alcançar a felicidade plena. Porque a felicidade não existe na forma plena… e nem pode existir. Imagina que sem graça seria uma vida completamente feliz? Você consegue tudo o que quer, mas… e aí? Qual vai ser o motor da nossa vida?

Dimas e Jonas se encaram.

JONAS – Uma vida de plena felicidade não consegue se sustentar. O tédio é tanto que ela vai se esvaindo, se desgastando, definhando… até secar a última gota de vontade de viver. Como se fosse uma overdose. É por isso que a felicidade vem na nossa vida de gota em gota, de momento em momento. A felicidade plena é fragmentada em diversos momentos que vão fazendo parte da nossa vida pouco a pouco, prolongando a nossa vontade de viver.

DIMAS – Clarice Lispector reencarnou num cabeça-chata…

Jonas ri do comentário de Dimas.

DIMAS – Jonas, seja sincero comigo…

JONAS – Desde que tu não me bata…

DIMAS – Prometo que eu não vou.

JONAS – Então…

DIMAS – Jonas, tu acha que eu tô sendo um prêmio de consolação pro Ricardo? Tu acha que o Ricardo tá comigo só porque aquela história toda com a Carolina traumatizou ele e agora ele não quer mais saber de mulher?

JONAS – Prêmio de consolação pro Ricardo era a Bianca. Quando ele tava mal, sei lá, tinha brigado comigo, com o Júlio ou com a mãe dele, ou ele se trancava no quarto, ou saía pra casa da Bianca e a gente só via ele no dia seguinte lá no colégio.

DIMAS – Então, quer dizer que tudo aquilo que diziam da Bianca era verdade? Que a Bianca era a boneca inflável do Ricardo?

JONAS – Pra ser sincero, eu não sei nem como é que a Bianca não engravidou do Ricardo, sabe? Porque se ela já ficava se agarrando nele feito um colar em público, imagina o que ela fazia com ele entre quatro paredes, dentro de um quarto?

DIMAS – Verdade…

JONAS – Teu macho é um bicho de sorte, viu, Dimas? Escapou lindamente da coleira de pai duas vezes. Mais uma e ele pode pedir música no Fantástico.

Dimas e Jonas riem.

CENA 04: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida Beira-Mar.

Imagens do Rio Cocó.

Câmera onboard em um veículo de cores claras passando pela Avenida Mister Hull.

Imagens da Praia do Futuro.

CENA 05: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./TARDE

Gabriel, Gustavo, Helena, Luís e Maria estão sentados no sofá da sala de estar. A conversa flui na maior naturalidade. Um comentário de Gustavo faz todos rirem.

Aos poucos, eles vão parando de rir, adotando uma postura séria, até alcançar o silêncio. Segundos depois, Helena quebra o silêncio.

HELENA – Então… de onde vocês vieram?

MARIA – Fortaleza III.

Helena acena com a cabeça, indicando que havia entendido a resposta: Luís e Maria vieram de uma humilde comunidade chamada Fortaleza III.

HELENA – Vocês moravam sozinhos?

LUÍS – Não, com a minha mãe.

GUSTAVO – Vocês não são irmãos?

LUÍS – A minha mãe é madrinha da Maria.

Helena acena novamente com a cabeça.

HELENA – E—

GABRIEL – Tá bom, Marília Gabriela. Não precisa desse interrogatório todo.

Gustavo ri. Helena encara Gabriel, e um sorriso escapa do seu rosto. Gabriel encara Helena com um largo sorriso no rosto. Luís e Maria apenas observam, sem entender nada. Gabriel percebe Luís e Maria se perguntando.

GABRIEL – Vocês não conhecem Marília Gabriela?

LUÍS – Não… quem é?

GUSTAVO (rindo) – É uma apresentadora de TV chegada na—

GABRIEL – Não entra em detalhes, Gustavo.

LUÍS – Não, não conheço, não…

MARIA – Mamãe deve conhecer, Luís. Ela assiste mais TV que a gente…

Nesse momento, o portão de entrada se abre, chamando as atenções de todos. Débora entra na mansão e se assusta ao ver Luís e Maria sentados no sofá. Intrigada, ela se aproxima dos cinco, sempre encarando Luís e Maria, que se sentem intimidados.

Uma vez estando do lado de Gabriel, Débora dirige-se ao tio.

DÉBORA – Tio Gabriel, eu não acredito que o senhor dá esse tipo de intimidade para os seus empregados…

Maria se indigna com o comentário de Débora e imediatamente se levanta do sofá, indo em direção à moça com certa agressividade.

MARIA – Olha aqui, sua—

Rapidamente, Luís segura a mão de Maria, impedindo-a de avançar contra Débora, e a força a sentar-se de volta no sofá.

LUÍS – Calma, maninha…

MARIA – Calma o quê, maninho? Essa nojenta vem querer diminuir a gente e tu quer que eu fique calma?

LUÍS – Quero. Porque se tu fizer o que não deve, vai ser pior pra ti!

Débora ri de Maria. Ela pensa em reagir, mas Luís a veta.

DÉBORA (rindo) – Se eu fosse o senhor, tio Gabriel, botava essa atrevida no olho da rua…

GABRIEL (irritado) – Por favor, Débora, suba logo para o quarto de sua tia e não nos chateie mais.

DÉBORA – Com licença…

Débora se afasta dos cinco e vai em direção às escadas. Ela para em frente aos degraus, sopra um beijo para Gabriel e, em seguida, vai subindo as escadas.

Foco em Maria, irritada, sendo acalmada por Luís.

CENA 06: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE IGOR/INT./TARDE

Igor deitado na cama, ainda com a roupa do corpo, dormindo profundamente. Os tons escuros do quarto reforçam a escuridão. A porta é lentamente aberta por Débora: com muito cuidado, ela adentra o quarto e senta-se na borda da cama, observando Igor dormir.

Débora cede à tentação de passear a palma de sua mão pelo abdômen de Igor e inclusive chega a falar consigo mesma.

DÉBORA (sussurrando) – Nós ainda vamos ser muito felizes juntos… pode ter certeza disso, Igor…

Débora se despede de Igor beijando-lhe levemente a cabeça. Igor chega a reagir, mas não desperta: apenas vira a cabeça para o outro lado. Com um sorriso no rosto, Débora se retira do quarto e fecha a porta cuidadosamente.

CENA 07: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE ALICE E GABRIEL/INT./TARDE

Alice abre a porta do quarto. É Débora. Alice dá espaço para a sobrinha entrar.

ALICE – Que bom que você chegou, Débora…

Débora se senta na cama, de costas para Alice. Esta, por sua vez, fecha a porta do quarto e se senta na cama, de frente para Débora.

DÉBORA – Acho que já sei sobre o que a senhora quer falar comigo… é sobre aqueles dois sujinhos com quem o tio Gabriel, a Helena e o Gustavo estão conversando?

ALICE – Exatamente.

DÉBORA – Quem são eles?

ALICE – São dois irmãos. Seu tio tirou os dois de uma periferia qualquer para abrigar aqui dentro de casa como se fossem filhos perdidos.

DÉBORA (assustada) – O quê?

ALICE – Você não ouviu errado, Débora. O seu tio trouxe aqueles dois para viverem aqui como se fossem partes integrantes da família.

DÉBORA – Mas por que a senhora permitiu essa loucura, tia?

ALICE – Aí é que está, eu não permiti. Para falar a verdade, eu só fui saber disso depois que eu te chamei para vir até aqui. Ele arquitetou tudo por debaixo dos nossos narizes, tudo.

DÉBORA – Aí tem coisa, tia… certeza que o tio Gabriel está escondendo alguma coisa da senhora.

ALICE – Sim, claro que está, tanto é que ele ficou de me explicar melhor essa situação em um momento mais oportuno. Mas eu estou tão desconfiada…

DÉBORA – Pelo jeito, não duvido nada que ele esteja é ganhando tempo para inventar alguma mentira pra senhora.

Silêncio em cena. Alice desvia o olhar, refletindo sobre as palavras da sobrinha. Débora segura nas mãos de Alice; em seguida, ela se levanta e se retira do quarto da tia.

Foco em Alice pensativa.

CENA 08: FORTALEZA/EXT./TARDE

Câmera onboard de um veículo de cores escuras passando pela Rua Cônego de Castro.

Banhistas na Praia do Futuro observam um navio ao longe transitando pelo oceano.

Imagens da fachada da mansão Andrade da Costa.

CENA 09: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./TARDE

Horário de almoço. A família está se preparando para realizar a refeição. Fazem Gabriel, Alice, Gustavo e Helena um semicírculo ao redor da mesa de jantar.

GUSTAVO – O Igor não vai almoçar?

HELENA – E você acha que ele vai querer almoçar daquele jeito, Gustavo? Ele deve estar caído em cima da cama feito peso morto… isso se ele não tiver dormindo no chão.

ALICE – Helena, por favor!

HELENA – Tá bom, eu me calo…

GABRIEL – E a Débora?

ALICE – Ela já almoçou antes de vir para cá. E quanto aos nossos novos hóspedes? Será dada a honra de se servir junto com a família?

GABRIEL – Eles não foram contratados para trabalhar aqui, estão morando aqui. Claro que eu lhes dei liberdade de se servir junto conosco. Agora, se eles aceitarão, é algo que compete à vontade deles.

GUSTAVO – Sim. Longe de querer depreciá-los de alguma forma, mas eles foram criados em uma realidade diferente da nossa, certamente eles devem obedecer a um relógio biológico diferente. Muito provavelmente, esse pode não ser o habitual horário de almoço para eles.

HELENA – Eles terão todo o tempo do mundo para se adaptar. Afinal, pelo que eu entendi, eles são hóspedes permanentes, têm os mesmos direitos que nós, os anfitriões.

ALICE – Por enquanto, parece que esses dois passarão, no mínimo, algumas semanas se servindo junto aos empregados… e depois, você ainda quer que nós os consideremos agregados da família…

GABRIEL – Alice, pare com isso. Você pode ter muitos direitos como minha esposa e dona dessa mansão, mas com certeza debochar dos outros não se inclui na sua lista de direitos.

ALICE – E você pode ter muitos direitos como o legítimo proprietário da mansão, mas com certeza inserir dois estranhos aqui dentro desavisadamente também não deve estar incluso na sua lista de direitos.

Helena olha diretamente para a câmera, dialogando com o espectador.

HELENA – Seja bem-vindo ao Restaurante Andrade da Costa. Aperitivos: torta de climão e patadas fritas. A primeira rodada é grátis, por conta da casa.

GABRIEL – Eu tive meus motivos, Alice, você sabe muito bem disso.

ALICE – Não, não sei. Você escondeu tudo.

GABRIEL – Eu tive os meus motivos para ter privado vocês de tudo isso. Foi por uma boa causa.

ALICE – Boa causa?

GABRIEL – Eu já lhe disse que eu vou te explicar essa história mais tarde, com mais calma. Agora não é o momento, e eu também não estou com tempo hábil para lhe deixar a par dos detalhes.

ALICE – Pois fique você sabendo que, enquanto você não me esclarecer essa história, eu não abrirei mão de falar como eu quiser a respeito desses intrusos.

GABRIEL – Não fale do que você não sabe, Alice.

ALICE – Eu só falo a única coisa que eu sei. Que você claramente trouxe esses intrusos para debaixo de nossas asas com a simples intenção de me desafiar, de testar meus sensos e instintos. E essa será a verdade que vai prevalecer dentro dessa casa até que a boa vontade bata à sua porta e lhe convide para me deixar a par de toda essa história.

GABRIEL – Eu já lhe disse, Alice, eu farei isso quando tiver tempo.

ALICE – Olha, Gabriel, escute bem o que eu vou lhe dizer. Quanto mais tempo você demorar em me procurar, mais difícil será para você me convencer de que você está falando a verdade.

GABRIEL – Eu sei. Apenas espere o tempo que for necessário. Já lhe aviso que você há de concordar comigo em todos os pontos.

Incrédula, Alice desvia o olhar de Gabriel. Gustavo e Helena se entreolham, sem conseguir esboçar nenhuma reação definida.

As cozinheiras entram na sala de jantar e começam a servir os patrões.

CENA 10: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE IGOR/INT./TARDE

Igor ainda dorme profundamente. A porta estava entreaberta, e é possível perceber um vulto aproximando-se. A porta é aberta por Maria, que, encostada na parede, observa Igor de longe. Sua vontade é de entrar no quarto, sentar ao lado de Igor, mas ela permanece ali plantada.

CENA 11: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/CORREDOR 2º ANDAR/INT./TARDE

A porta do quarto de Alice e Gabriel se abre para a saída de Débora. Ao olhar para o lado, a moça percebe que Maria está encostada à porta do quarto de Igor, observando o rapaz dormir.

Débora é tomada por uma repentina raiva que a faz correr em direção a Maria.

DÉBORA – O que você está fazendo?

Sem dar chance de reação, Débora pega Maria pelos cabelos, e a empurra na direção oposta, fazendo-a cair no chão. Enquanto Maria se recupera do susto e da queda, Débora fecha a porta do quarto de Igor com força.

MARIA – TÁ LOUCA, GAROTA?

DÉBORA – LOUCA É VOCÊ DE FICAR BISBILHOTANDO OS OUTROS DAQUELE JEITO! O que você estava fazendo? Pensando em alguma artimanha para tentar conquistar seu lugar naquela cama?

MARIA – E SE FOR? O QUE VOCÊ TEM A VER COM ISSO?

Ainda mais irada, Débora faz menção de partir para cima de Maria, mas exatamente naquele momento Luís aparece e impede Débora de chegar perto de Maria, empurrando-a. A força do empurrão faz Débora parar na parede, mas ela não se machuca.

Luís se vira para Maria, enquanto Débora se recupera.

LUÍS – Ela bateu em ti, Maria?

MARIA – Graças a ti, não.

DÉBORA (se levantando) – COVARDE! FAVELADO MISERÁVEL! FOI CAPAZ DE BATER NUMA MULHER!

LUÍS – NEM COMEÇA! EU NÃO BATI EM TI COISA NENHUMA!

DÉBORA – Então quem vai bater sou eu!

Antes que Débora faça qualquer coisa, Maria se põe na frente de Luís.

MARIA – Antes de bater nele, você vai ter que me derrubar.

DÉBORA – Não seja por isso…

Débora puxa Maria, largando-a de Luís. Ela tenta acertar uma bofetada no rosto de Maria, mas erra o alvo. Maria consegue se soltar e empurra Débora, afastando-se. Débora consegue se equilibrar e tenta partir novamente para cima de Maria, mas Luís se põe na frente dela. Inevitavelmente, os corpos de chocam, e os dois ficam parados, com os corpos colados, encarando um ao outro com olhares de estranheza.

Passados alguns segundos, chegam Alice, Gabriel, Gustavo e Helena, preocupados com a gritaria.

ALICE – Mas que barulho todo é esse? Nós estávamos lá embaixo, ouvimos tudo, vocês não tem medo de acordar o—

Eles se surpreendem ao ver Débora e Luís colados, se encarando.

ALICE – O que é isso?

Segundos depois, Débora e Luís se empurram e finalmente se separam. Eles ainda estão se encarando.

LUÍS – Tu conta ou eu conto?

ALICE – Conta, Débora.

DÉBORA – É o seguinte, tia—

LUÍS – Ah, agora eu entendi… vai querer fazer chantagem pro tio e pra tia acreditar em você, né? Nada disso, a Débora não vai falar nada. Quem vai falar é a Maria.

GABRIEL – Está certo. Fale, Maria, o que causou essa bagunça toda aqui?

MARIA – Ah, eu só tava conhecendo aqui os quartos, vendo quem dorme em qual quarto. Daí eu fiquei ali, abri a porta do quarto do Igor, e aí do nada a Débora veio e começou a me bater.

DÉBORA – Mentira sua, Maria. Você não estava só observando o Igor dormir… dava pra ver até terceiras intenções se formando na sua cabeça!

MARIA – Mentira! Eu só estava olhando! Olhar não arranca pedaço!

DÉBORA – Tem razão, olhar não arranca pedaço. Mas secar com o olhar arranca pedaço sim, e dependendo da pessoa que você seca, as consequências podem ser piores.

MARIA – Vá pra baixa da égua, vá!

DÉBORA – Olha como você fala comigo, sua negra safada!

Imediatamente, uma fúria invade Luís a ponto de fazê-lo segurar o braço de Débora com toda a sua força. Sua atitude surpreende a todos.

LUÍS – RETIRA O QUE VOCÊ DISSE AGORA DA MINHA IRMÃ!

DÉBORA – Solta meu braço!

Débora reage atingindo uma forte bofetada no rosto de Luís, que logo solta o braço dela. A atitude de Débora também surpreende a todos, indignando Gabriel, Gustavo, Helena e, principalmente, Maria.

DÉBORA – VOCÊS SÃO DOIS MARGINAIZINHOS!

MARIA – CALA A BOCA!

DÉBORA – Não sei que métodos escusos vocês usaram para poder entrar dentro dessa casa. E também não me interesso em sabê-los. Mas se vocês pelo menos se pusessem em seus respectivos e servis lugares, eu estaria calada, porque pelo menos vocês teriam alguma utilidade. Mas não, vocês se utilizaram de métodos tão baixos que ganharam o direito de transitar livremente pela casa, como se fossem da família.

MARIA – Cala a boca, Débora…

DÉBORA – Não se preocupem, o reinado de vocês aqui nesse galinheiro não vai durar muito. Eu vou fazer o possível para ver vocês cantar de galo fora daqui. Se não posso devolvê-los para o buraco de onde nunca deveriam ter saído, devolvo para o buraco de periferia onde vocês moravam.

GABRIEL – Chega, Débora, chega! Pare com essa palhaçada! Por favor, vá embora daqui, a minha paciência com você está chegando no limite.

DÉBORA – Tá bem. Eu vou. Mas fiquem avisados, seus miseráveis… favelados… mulatinhos, marginais!

GABRIEL – JÁ CHEGA, DÉBORA! FORA DAQUI, AGORA! SAIA DAQUI ANTES QUE EU PARE DE RESPONDER POR MIM!

E sem falar mais nada, Débora sai andando, deixando Alice, Gabriel, Gustavo, Helena, Luís e Maria a sós em cena.

Maria se aproxima de Luís, conferindo a face agredida por Débora.

MARIA – Ela te machucou?

LUÍS – Não, não foi nada, não. Tá ardendo um pouquinho, a mão dela é meio pesadinha, mas passa. Nem deixou marca…

MARIA – Não se preocupa, ela vai pagar por ter encostado a mão em ti. Bateu em ti, bateu em mim. E se bateu em mim, eu bato de volta, não quero nem saber.

GABRIEL – Luís… Maria… eu gostaria de pedir desculpas a vocês. Eu gostaria de pedir desculpas pela maneira como a Débora se comportou.

ALICE – Ela pode ter exagerado, mas foi uma reação sensata.

Gabriel encara Alice, repreendendo seu comentário. Ela, então, se cala.

GABRIEL – O que eu quero pedir a vocês dois é tentar ao máximo não se deixar afetar pelas palavras dela. Tentem não se intimidar com ela, não deixem espaço para que ela perceba fraqueza e monte em cima de vocês.

MARIA – Pronto… taí, tio, taí uma coisa que eu nunca deixei, foi gente montar em cima de mim. Nunca deixei! E não vai ser a Débora que vai fazer isso comigo. Ela quer tirar a gente daqui, né verdade? Eu só quero saber como ela vai fazer isso, se é que ela vai ter coragem…

Gustavo e Helena se entreolham, surpresos com as palavras de Maria. Sorrindo, Gabriel encara Alice, que fica sem saber como reagir.

CENA 12: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida dos Expedicionários.

Um grupo de jovens se encontra na Praça do Ferreira.

Câmera onboard em uma motocicleta de cores escuras passeando pela Avenida Beira-Mar.

Imagens da fachada da casa de Larissa.

CENA 13: CASA DE LARISSA/SALA/INT./TARDE

A sala de estar está vazia. Ricardo chega e saca seu telefone celular, disca um número e efetua a ligação: põe o aparelho no ouvido, esperando ser atendido.

HELENA (cel.) – Alô?

RICARDO – Helena?

HELENA (cel.) – Não, é a Cláudia Raia.

RICARDO (rindo) – Ei, Helena, aquele encontro ainda tá de pé?

HELENA (cel.) – Só estamos esperando a tua resposta, Ricardo. Se você não for, não vai ter encontro.

RICARDO – Não, eu vou sim. Eu vou sim.

HELENA (cel.) – Vai levar mais alguém?

RICARDO – Não, vou só eu mesmo.

HELENA (cel.) – Preparado pra entrar pro clube, Ricardo?

RICARDO (sorrindo) – Preciso responder essa pergunta?

Helena e Ricardo riem.

HELENA (cel.) – Não perde o horário, duas horas da tarde…

RICARDO – Agora?

HELENA (cel.) – Quanto antes melhor. Ou tem algum problema?

RICARDO – Não, problema nenhum. Vou tar aí o mais cedo possível.

HELENA (cel.) – Certo, você vem para cá que a gente te leva pro lugar.

RICARDO – Beleza… tchau…

HELENA (cel.) – Tchau…

A ligação é encerrada. Ricardo guarda o aparelho no bolso da bermuda. Ele se vira de costas e percebe a presença de Larissa ali.

LARISSA – Quem era?

RICARDO – Era a Helena. Ela me convidou pra conhecer o pessoal.

LARISSA – Quando?

RICARDO – Agora. Eu vou lá pra casa dela e, depois, eu vou pro local onde eles marcaram o encontro. Sabe como é, né, se eu não for não tem encontro, eles marcaram esse encontro justamente pra me apresentar pro grupo.

LARISSA – Vai sozinho?

RICARDO – Vou.

LARISSA – Sabe quando volta, pelo menos?

RICARDO – Prometo que eu volto antes da meia-noite.

LARISSA – Olha lá, hein?

RICARDO – Não, eu não vou fazer nada demais, não… fica tranquila, o máximo que pode acontecer é eu beber um ou dois copos. Mas eu vou tomar cuidado, não vou dirigir, não vou pegar carona com nego bebum, não se preocupa comigo, tá?

LARISSA – Tá. Mas me deixa informada, tá?

RICARDO – Tá bom, pode deixar.

Ricardo se despede de Larissa com um abraço e um beijo no rosto. Em seguida, ele sai de casa, deixando Larissa a sós em cena.

CENA 14: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens aéreas do bairro da Messejana.

Imagens da Praia do Futuro.

Câmera onboard em um ônibus passando em frente ao Estádio Arena Castelão.

Imagens da fachada da mansão Andrade Bastos, de propriedade de Cassandra, avó de Débora. Poucos detalhes estéticos diferenciam-na da mansão Andrade da Costa.

CENA 15: MANSÃO ANDRADE BASTOS/QUARTO DE DÉBORA/INT./TARDE

Sentada na cama está Cassandra, uma senhora loira, com uma fisionomia moldada em função da idade um pouco avançada, roupas douradas. A idosa acompanha, com certa inquietação, à desesperada palestra de lamentações de Débora, que a declama andando incessantemente de um lado para o outro.

DÉBORA (tensa) – Vó, a senhora não percebe a gravidade da situação? Todos os meus esforços para conquistar o Pedro Igor podem ir por água abaixo por causa de uma negra safada que mal chegou lá na casa do tio Gabriel e já se acha a estrela central da Via Láctea?

CASSANDRA – Cuidado com as palavras que você usa, Débora. Se você fala uma coisa dessas em público, você já é automaticamente afogada em uma piscina com processos na Justiça por injúria racial!

DÉBORA – Eu estou pouco me importando com processo por injúria racial, vó! Se isso acontecer, a senhora paga as indenizações.

CASSANDRA (irritada) – Mas nunca que o meu bolso vai se responsabilizar pela sua língua solta! Passou-se o tempo em que você estava sob minha tutela, Débora. Agora você deve responder pelos seus próprios atos, sozinha. E como você não tem nenhum dinheiro para pagar indenizações, então eu lhe aconselho a dobrar a língua dentro da boca.

DÉBORA – Então a senhora vai virar as costas para mim?

CASSANDRA – Não. Eu vou lhe incentivar a juntar escovas de dente com o Pedro Igor. Como ele é o primogênito, ele terá direito à maior parte da fortuna do Gabriel. E, como esposa do Pedro Igor, você também terá igual direito à parte dele. Desde que vocês se casem em comunhão de bens, é claro. Por isso, pare de incomodar meus tímpanos com suas frescuras, arregace as mangas e dê um jeito de fisgar seu primo e afastar essa tal de Maria.

DÉBORA – E como a senhora quer que eu faça isso?

CASSANDRA – Eu entreguei a faca e o queijo na sua mão. Você só não corta o queijo se não quiser.

Cassandra se levanta e sai do quarto, deixando Débora sozinha, pensativa.

CENA 16: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./TARDE

Gustavo e Helena estão sentados lado a lado no sofá, mexendo em seus respectivos telefones celulares. Tocam a campainha.

GUSTAVO e HELENA (gritando) – TIA FÁTIMA!

FÁTIMA (gritando/off) – Já estou indo!

GUSTAVO (gritando) – A porta, coração!

FÁTIMA (gritando/off) – Eu já sei!

Fátima corre até o portão e observa pelo olho mágico. Ela se vira para Gustavo e Helena, chamando as atenções de ambos, e abre o portão, revelando tratar-se de Ricardo. Imediatamente, Helena larga o seu celular no sofá e corre para abraçar Ricardo. Fátima e Gustavo observam a cena com um sorriso no rosto.

Helena e Ricardo se apartam do abraço e se encaram, rindo um do outro.

HELENA – Já tava achando que você não vinha, já ia entrar no grupo do ZapZap para avisar ao povo que não ia ter encontro.

RICARDO – Mas eu já tô aqui, pronto pra conhecer meus novos migos e minhas novas migas.

Gustavo se levanta e se aproxima dos dois.

GUSTAVO – Então, o que estamos esperando? Vamos, então.

Antes de saírem, os três ainda são abordados por Luís e Maria, que vêm descendo as escadas.

LUÍS – Epa, calmaí! Onde é que vocês vão?

HELENA – Luís, se lembra que eu te falei da Corrente?

Luís acena com a cabeça, indicando uma resposta positiva.

HELENA – Então, hoje a gente marcou uma reunião pra apresentar o mais novo integrante da Corrente.

Helena chama Luís e Maria para mais perto e os apresenta a Ricardo. Luís e Ricardo trocam um aperto de mão.

HELENA – Luís Eduardo, Jonas Ricardo. Jonas Ricardo, Luís Eduardo.

RICARDO – Jonas Ricardo, mas pode me chamar só de Ricardo, pra não me confundir com meu primo. Prazer em conhecê-lo, Edu.

LUÍS – Pode me chamar de Luís. E o prazer é meu, Ricardo.

Maria e Ricardo dão um abraço e trocam beijos no rosto.

HELENA – Maria Eduarda, Jonas Ricardo. Jonas Ricardo, Maria Eduarda.

RICARDO – Te chamo de Maria, certo?

MARIA – Sim. Prazer em te conhecer, Ricardo.

RICARDO – O prazer é meu, Maria.

MARIA – Olha, Ricardo, eu acho que eu te conheço de algum lugar…

RICARDO – Não vou mentir não, eu também acho que te conheço de algum lugar…

HELENA – Enfim, vocês dois têm todo o tempo do mundo pra se lembrar de onde se conhecem. Mas acontece que nós não temos quase nenhum tempo pra levar o Ricardo pra conhecer a Corrente. Nós vamos saindo, tá? Licença…

Gustavo, Helena e Ricardo saem, deixando Fátima, Luís e Maria a sós em cena. Luís e Maria se viram na direção de Fátima, e os três começam a conversar.

LUÍS – Bem simpático esse Ricardo, né não?

FÁTIMA – Verdade. Parece ser bem criado.

MARIA – E é bem gatinho também. Será que já tem coleira?

FÁTIMA – Espero que a Helena me desculpe por eu ter escutado conversa dos patrões, mas pelo que eu sei, ele tem coleira sim e é muito bem cuidado pela dona.

LUÍS – Como ele vai fazer parte da Corrente, é bem provável que ele apareça mais vezes por aqui. Pra gente fazer amizade com ele é um pulo, vocês viram como ele é acessível? Eu não sou desse jeito com estranho, não…

MARIA – Será que algum dia a gente vai fazer parte dessa Corrente?

LUÍS – Nesse momento não, a gente ainda não tem intimidade suficiente com eles. Mas eu tenho quase certeza que a gente entra sim na Corrente.

FÁTIMA – Bom, se vocês me dão licença, eu tenho tarefas para fazer aqui. Com licença…

LUÍS e MARIA – Toda.

Fátima, então, se retira de cena, deixando Luís e Maria conversando a sós em cena.

CENA 17: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida Washington Soares.

Imagens aéreas do Rio Cocó.

Câmera onboard em um veículo de cores claras passando em frente ao prédio da reitoria da Universidade Federal do Ceará.

Um Gol G5 branco estaciona em frente à Praça do Ferreira: a porta do motorista abre para a saída de Gustavo; a porta do acompanhante abre para a saída de Helena; a porta traseira direita abre para a saída de Ricardo. Os três fecham as portas e Gustavo trava o carro. Então, eles vão caminhar pela praça.

CENA 18: PRAÇA DO FERREIRA/EXT./TARDE

Gustavo, Helena e Ricardo caminham pela praça até se encontrarem com dois jovens. Gustavo chama a atenção de um deles, um rapaz branco, loiro, magro, com um rosto colorido por um largo sorriso e uma camisa estampada com a piada “Se eu sou o que como, então eu sou lésbica?”. Os dois se reconhecem imediatamente e trocam um abraço.

GUSTAVO – Há quanto tempo, Guto…

GUTO – Como é que as coisas tavam por aqui, hein?

GUSTAVO – Bem, cara. Como é que foi Belo Horizonte, hã?

Enfim, os dois se apartam do abraço.

GUTO – Vou te contar, viu? É uma cidade bonita, nada assim sensacional, mas é bonita, sabe? Mas agora, uma cidade bonita é Ouro Preto… ô cidade bonita, tu tinha que ver… depois dessa viagem, eu comecei a dar valor àquelas aulas chatas de História… me arrependi de ter passado um semestre inteiro dormindo durante as aulas de História…

GUSTAVO – É assim mesmo. Sim, a gente marcou essa reunião aqui pra apresentar o novo membro da corrente. Vem cá, Ricardo!

Ricardo se aproxima de Gustavo. Guto e Ricardo se cumprimentam com um aperto de mão.

RICARDO – Prazer, eu sou Jonas Ricardo. Mas pode me chamar de Ricardo.

GUTO – Prazer, eu sou Gustavo Castela. Não me pergunte porque, mas o povo me chama de Guto.

RICARDO (rindo) – Gostei de ti.

GUTO – Também gostei de ti, Ricardo. Olha, vou te contar uma coisa… se tu desse abertura eu te pegava, viu?

Os três riem da piada de Guto.

GUTO – Tô brincando, viu, cara? Não sou viado, não…

GUSTAVO – Mas tu tem jeito, viu?

GUTO – Tá vacilando, é?

Os três continuam rindo. Guto chama a atenção de Ricardo e o apresenta a uma jovem branca de cabelos claros e vestido colorido. A moça olha fixamente para Ricardo, intimidando-o de certa forma.

GUTO – Ricardo, Luciana. Luciana, Ricardo.

RICARDO – Prazer em conhecer.

LUCIANA – O prazer é todo meu.

Luciana obedece ao seu desejo e começa a passar sua mão pelo tronco de Ricardo. Guto estranha a atitude de Luciana, enquanto Ricardo apenas olha para a mão dela. Ele levanta a cabeça, encarando-a, enquanto ela sorri para ele.

A cena congela e é animada por dois efeitos: à esquerda, com Ricardo, um efeito preto-e-branco; à direita, com Luciana, um efeito dourado.

FIM DO SEGUNDO CAPÍTULO.

43 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 02

  1. Me perdi nesse negócio de Corrente. Será que foi explicado no capítulo 1 e passou despercebido por mim?

    Morri com o barraco entre Débora e Maria, foi ótimo.

    E Débora e Cassandra me lembraram muito Lícia e Dolores 😛

    Débora já é a melhor personagem da web, foi só ela aparecer que a web já subiu de nível.

    Segundo capítulo melhor que o primeiro, parabéns 😀

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  2. Morta com a rainha Débora. Amei o barraco. Dona desse folhetim, felizmente.

    E morto com o “Tô brincando, viu, cara? Não sou viado, não…”

    O capítulo de fato está melhor que o primeiro e a tendência é ascendente, adoro! Parabéns amigo. 😀

    Curtido por 1 pessoa

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