O Preço da Vida – Capítulo 11 (últimos capítulos)

CENA 01: APARTAMENTO DE PAOLA, QUARTO DE GABRIEL, INTERIOR, NOITE.

Gabriel e Kelly estão deitados na cama, se beijando ainda vestidos. Eles se encaram sorrindo.

(GABRIEL): – Você é louca! Minha mãe tá em casa, sabia?

(KELLY): – Adoro correr perigo, fico com muito tesão!

(GABRIEL): – Cachorra! – ele beija o decote dela e se afasta. – Epa, que cheiro é esse? É perfume de homem!

(KELLY): – Eu te disse por telefone, tava com o Abner, mas ele me rejeitou.

(GABRIEL): – Só você mesmo pra aguentar aquele otário…

(KELLY): – Bom, eu não quero falar dele. Quer dizer, envolve ele, mas não é exatamente dele que eu quero falar. 

(GABRIEL): – Não entendi… Afinal, que bomba é essa que você me falou por telefone?

(KELLY): – O Abner estava brigado com o pai, mas não me falou o motivo, só sei que a briga foi muito feia. Hoje eu fui na casa dele e, sem querer, acabei descobrindo o motivo. Você vai cair pra trás quando souber!

Kelly levanta-se da cama e pega sua bolsa em cima da cama, retirando um DVD e entregando a Gabriel, que fica pasmo. Kelly ri enquanto Gabriel encara o filme com nojo.

(GABRIEL): – Peraí… Mas esse cara aqui não é o pai do Abner?

(KELLY): – Exatamente! Pelo visto, o meu sogro fez um filme pornô quando era jovem e agora o Abner descobriu, rompendo relações com ele. Quem diria, não é? O Seu Tiago, tão pai de família, tão certinho, tão amoroso com a Dona Célia, mas não passa de um pervertido!

(GABRIEL): – Caralho! O Abner tem um pai que foi ator pornô? Que bosta hein! – rindo e entregando o filme a ela.

(KELLY): – Bom, vendo meu sogrão pelado na capa desse filme, eu percebo que o Abner tem a quem puxar pelos seus dotes… – rindo sarcasticamente.

(GABRIEL): – Mas que puta você é hein, não alivia nem o sogro!

(KELLY): – Puta que você adora, não é? – colocando o filme em cima da mesa. – Gabriel, sei que tua mãe tá em casa, mas eu preciso ir ao banheiro, tô muito apertada.

(GABRIEL): – Vá, mas faça mais silêncio possível! Minha mãe tem o sono leve, se ela te ver aqui vai acabar contando pra Célia!

Kelly entende e sai do quarto de Gabriel para ir ao banheiro. Sozinho no quarto, ele se aproxima do DVD e pega-o na mão, encarando com ódio.

(GABRIEL/pensando): – Ah Abner, chegou a hora de te destruir por completo… Se meteu no meu caminho e agora vai ter que engolir a humilhação que eu vou te fazer passar. Minha vingança tardou, mas não vai falhar. Eu juro!

Gabriel senta em frente a seu computador e coloca o DVD dentro do leitor, gravando na memória de seu aparelho o filme pornográfico de Tiago, enquanto sorri maliciosamente.

CENA 02: APARTAMENTO DE PAOLA, INTERIOR, NOITE.

Kelly acabou de usar o banheiro e está saindo, quando Paola está preparando um café na cozinha e se choca ao vê-la.

(PAOLA): – Kelly? O que você tá fazendo aqui?

Kelly se surpreende ao ser flagrada por Paola, ficando imóvel por um tempo. Logo ela se aproxima da ex-sogra.

(KELLY): – Oi, Dona Paola, quanto tempo! – disfarçando a tensão.

(PAOLA): – Tempo suficiente pra sua presença ser incompreensível na minha casa. Posso saber o que você veio fazer aqui? Você é ex-namorada do meu filho, atualmente namora o Abner que possui inimizade com o Gabriel, não acho conveniente sua visita.

(KELLY): – Então, Dona Paola, eu vim aqui conversar com o Gabriel para tentar acabar com essa briga entre ele e o Abner. Eu me sinto culpada, sabe? Mas eu não tive intenção alguma de provocar essa rixa, tudo aconteceu de repente! Só vim falar com o seu filho pra tentar convencê-lo a fazer as pazes com o Abner.

(PAOLA): – E você não acha que é pretensão demais pensar que você conseguirá reatar a amizade deles? Eu, a Célia e o Tiago já cansamos de conversar com o Abner e Gabriel sobre essa rixa, mas não adianta, eles não querem reatar. Se eles não escutam os pais, acha que eles iam escutar você? Justo você, que só potencializou a rixa que já existia entre eles por aquele trabalho na faculdade?

(KELLY): – Nossa, eu vim aqui com a melhor das intenções e a senhora me recebe com mil pedras nas mãos, poxa…

(PAOLA): – Olha Kelly, eu não tenho raiva de você, mas não quero você aqui. Por favor, vá embora?

(KELLY): – Tudo bem, só vou pegar minha bolsa no quarto do Gabriel e estou indo.

(PAOLA): – Ah, vocês estavam conversando no quarto? – olhando de cima a baixo. – Vamos evitar problemas, vá embora logo.

Kelly sai da sala e Paola fica intrigada.

CENA 03: APARTAMENTO DE PAOLA, QUARTO DE GABRIEL, INTERIOR, NOITE.

Gabriel acabou de transferir o filme pornô para seu computador e está guardado dentro da bolsa de Kelly. Naquele instante, ela entra o cômodo, ofegante.

(KELLY): – Sujou! Tua mãe me viu e deu o maior sermão!

(GABRIEL): – Ah Kelly, eu falei pra você não fazer barulho!

(KELLY): – Mas eu não fiz, ela já tava na cozinha! – pegando a bolsa. – Eu preciso ir, mas a gente marca um encontro no motel em breve, aí a gente conversa melhor sobre esse filme do meu sogrão. O Abner me desprezou hoje, parou o sexo de repente e disse que tava sentindo nojo. Nunca um homem falou assim comigo, ele vai me pagar!

(GABRIEL): – E eu vou ter o maior prazer em te ajudar a humilhar aquele trouxa.

Os dois sorriem e se beijam intensamente. Em seguida, ela vai embora do apartamento e ele tranca a porta do quarto, indo até o computador assistir ao filme pornográfico de Tiago, pensando em como executar sua vingança a Abner.

CENA 04: UNIVERSIDADE FEDERAL DE BELO HORIZONTE, PRÉDIO DO CURSO DE ARQUITETURA, INTERIOR, MANHÃ.

Os estudantes do curso de Arquitetura estão chegando aos poucos para a aula. Jeniffer está caminhando e mexendo em seu smartphone, quando é surpreendida por Marieta, que estava sentada em um banco em frente ao prédio.

(MARIETA): – Bom dia, menina. Lembra-se de mim?

(JENIFFER): – Bom dia. – pensando. – Sinceramente, não estou me recordando da senhora.

(MARIETA): – Tudo bem, eu já esperava por isso. Nós nos vimos uma ou duas vezes, no máximo. Eu sou Marieta, avó do Abner. E você é amiga da Kelly, não é?

(JENIFFER): – Ah, já ouvi falar da senhora. E sim, sou amiga da Kelly, muito amiga dela. Porquê?

(MARIETA): – Menina, nós temos muito que conversar. Vamos a uma lanchonete aqui perto?

(JENIFFER): – Eu tenho aula agora, senhora, não pode ser outra hora?

(MARIETA): – Vai ser rápido, eu prometo. O assunto é sério e do seu interesse. Vamos?

Jeniffer fica intrigada, mas aceita o pedido de Marieta. Ambas saem em direção a lanchonete próxima ao prédio.

CENA 05: UNIVERSIDADE FEDERAL DE BELO HORIZONTE, LANCHONETE, INTERIOR, MANHÃ.

Marieta e Jeniffer estão sentadas em uma mesa da lanchonete, comendo um pão de queijo, prato típico de Minas Gerais.

(JENIFFER): – E então, Dona Marieta, qual o assunto sério e do meu interesse que a senhora quer conversar?

(MARIETA): – Nós não nos conhecemos muito bem, Jeniffer, mas eu preciso muito da sua ajuda. Você é uma grande amiga da Kelly e só você poderá me ajudar. Pra ser mais direta, eu não gosto da Kelly, nunca gostei dela.

(JENIFFER): – Mas Dona Marieta, porquê isso? – perplexa.

(MARIETA): – A Kelly também não gosta de mim e provavelmente já tenha falado mal de mim pra você. Não precisa negar, eu não me importo com a opinião dela. A Kelly nunca me inspirou confiança. Aquele jeito debochado, irônico, erótico e até vulgar, eu não acredito que ela ama o Abner. No fundo, eu acho que ela está enganando o meu neto.

(JENIFFER): – Nossa, eu não sabia que a Kelly era tão malvista na família do namorado…

(MARIETA): – Na verdade, só eu acho isso. A Célia e o Tiago gostam muito da Kelly, são cegos por ela assim como o Abner é. – ela segura nas mãos da jovem. – Jeniffer, eu vim aqui pedir que você me ajude a desmascarar a Kelly! Você é próxima a ela e poderá investigar se ela está enganando o meu neto! Por favor, me ajude!

Jeniffer fica pasma com o pedido de Marieta e naquele momento ela lembra-se do dia em que atendeu o celular de Kelly e escutou Gabriel marcando encontro com a amiga. Jeniffer também se recorda da troca de olhares suspeitas entre Kelly e Gabriel. Por fim, ela lembra-se de Abner, o qual nutre um sentimento reprimido. Jeniffer solta as mãos de Marieta.

(JENIFFER): – Eu não sei como reagir… A Kelly é minha amiga de muito tempo e…

(MARIETA): – Escute sua consciência. Eu percebo que você é uma boa pessoa, com bom coração e de princípios, totalmente diferente da Kelly. Além do mais, em quinze minutos de conversa você me tratou com mais simpatia que a sua amiga em meses de namoro com o Abner. Sabe, é de uma mulher assim que meu neto precisa, como você.

(JENIFFER): – Dona Marieta, eu vou contar pra senhora uma coisa que eu não contei a ninguém até hoje. – ela respira fundo. – Eu sou apaixonada pelo Abner! Muito, desde sempre, antes mesmo da Kelly começar a namorar com ele! Só que eu sou muito tímida e tive medo de me aproximar dele, aí a minha amiga foi mais rápida e eu acabei reprimindo meus sentimentos por respeito a essa amizade.

(MARIETA): – Meu Deus, menina, o destino nos uniu então! Olha, se você firmar uma parceria comigo e me ajudar a provar ao meu neto que a Kelly é uma piranha, eu prometo que te ajudo a conquistá-lo! E então, topa? – estendendo a mão.

(JENIFFER): – Topo! – apertando a mão. – Talvez me considerem amiga da onça, mas eu tenho que admitir que também desconfio do caráter da Kelly. E amando o Abner como eu amo, eu não posso deixar que ele seja enganado, porque eu sei o bom coração que ele tem. Mesmo que o Abner não me queira, ao menos eu provarei que a Kelly não é merecedora do seu amor.

Marieta sorri e fica contente com parceria com Jeniffer.

CENA 06: APARTAMENTO DE PAOLA, INTERIOR, MANHÃ.

Paola está se arrumando para sair ao trabalho, quando a campainha do seu apartamento toca. Intrigada, ela atende, e Célia entra rapidamente, chorando. Paola fecha a porta e se aproxima de Célia.

(PAOLA): – Célia, minha amiga, o que você tem?

(CÉLIA): – Eu não aguento mais, Paola, eu não tenho mais estruturas pra aguentar isso! – abraçando Paola. – Me ajuda!

(PAOLA): – Claro que eu te ajudo, Célia, mas o que está acontecendo?

Célia se afasta de Paola, limpa as lágrimas e as duas sentam no sofá.

(CÉLIA): – A gente ficou um tempo sem se encontrar pela correria do dia a dia, eu senti tanto sua falta. Tô sobrecarregada, Paola, preciso muito desabafar.

(PAOLA): – Então, desabafe! Eu tô aqui pra te ouvir e te ajudar. E me desculpa pela minha ausência, mas o trabalho tem me sufocado.

(CÉLIA): – Sabe aquele momento em que você se sente um fracasso como mãe? Não sei se você já sentiu isso, mas eu tô sentindo agora. Eu sinto que falhei na criação do Abner e estou me culpando por isso.

(PAOLA): – Eu já senti isso sim, quando o Gabriel perdeu o intercâmbio porque foi festejar com os amigos. A irresponsabilidade dele me deixou muito magoada comigo mesmo. Mas porque você diz isso sobre o Abner? O que ele fez pra você se culpar?

(CÉLIA): – O Abner brigou com o Tiago e saiu de casa, Paola. E depois, o meu filho brigou comigo também. – chorando. – Ele é um insensível, falou palavras tão cruéis ao Tiago e a mim, não dá pra acreditar! Mas apesar disso, eu ainda o amo como filho e não suporto ficar longe dele. Eu não sei mais o que fazer, Paola!

(PAOLA): – Meu Deus! Mas porque o Abner brigou com vocês? Ele sempre foi tão pacífico e um filho tão carinhoso…

(CÉLIA): – Eu não sei se deveria falar o motivo, mas eu não aguento mais guardar isso dentro de mim. Talvez o meu marido me repreenda, mas eu já me calei 16 anos. – ela respira fundo e encara a amiga. – Lembra quando o Abner sofreu um infarto e ficou entre a vida e a morte?

(PAOLA): – Lembro sim, vocês precisavam de 100 mil reais pra fazer uma cirurgia no coração do Abner, eu até ajudei com uma quantia em dinheiro.

(CÉLIA): – Pois então, sabe como nós conseguimos o dinheiro da cirurgia? O Tiago fez um filme pornográfico! E agora o Abner descobriu tudo e despreza o próprio pai!

Paola fica perplexa e Célia chora compulsivamente, cabisbaixa. Ela põe a mão no ombro da amiga, ainda incrédula.

(PAOLA): – Como assim, Célia? O Tiago fez um filme pornô pra pagar a cirurgia do Abner?

(CÉLIA): – Fez, Paola, ele fez! A cirurgia custava muito caro e tínhamos poucos dias pra reunir o dinheiro, aí surgiu essa proposta e o Tiago aceitou. Nós prometemos que não contaríamos a ninguém, só que diante da descoberta do Abner e da reação dele, eu não aguento mais guardar isso. Você imagina o quanto foi humilhante aceitar que meu marido transasse com mulheres e homens no filme? Eu tive que engolir meus ciúmes, meu nojo, minha honra, tudo pela vida do meu filho!

(PAOLA): – Nossa amiga, coitada de você! E coitado do Tiago também, meu Deus, eu estou chocada demais! – ela abraça Célia. – O Abner não entendeu os motivos de vocês?

(CÉLIA): – Não, ele disse que nos odeia. Acredita? Meu filho me odeia, Paola! – elas se afastam. – Onde foi que eu errei na criação do Abner? Como ele pode ser tão insensível e desumano? O Tiago se vendeu, pisou na própria dignidade, tudo por amor ao Abner, mas ele não vê isso!

(PAOLA): – Eu confesso que estou perplexa diante da revelação, nunca imaginei que vocês conseguiram dinheiro da cirurgia por esses meios. – segurando a mão de Célia. – Mas não importa os meios, o que importa é a finalidade! Eu não me sinto confortável em julgar a atitude do seu marido, Célia, diante da morte de um filho, os pais são capazes de tudo. E se ele foi capaz disso, quem é o Abner pra repreender, sendo que sua vida é fruto dessa atitude?

(CÉLIA): – Ai Paola, muito obrigada pelo seu apoio! Eu me sinto tão angustiada, não sei o que fazer pra reestruturar minha família. – chorando. – Porque Deus está me castigando desse jeito?

Paola se compadece com a situação de Célia e a abraça fortemente, consolando-a.

CENA 07: DIAS DEPOIS.

Abner continua brigado com Célia e Tiago, nunca mais falou com os pais. Ele segue morando no apartamento de Henrique e se desculpou com Kelly após a discussão no meio da relação sexual. Paola guardou segredo sobre o desabafo de Célia. Jeniffer começou a investigar Kelly para tentar descobrir algum podre da amiga. Rafael avisou Tiago que chegará a Belo Horizonte em breve. Gabriel já decidiu como vai se vingar de Abner. Os preparativos do congresso de Arquitetura estão a todo vapor.

CENA 08: AEROPORTO DE BELO HORIZONTE, INTERIOR, MANHÃ.

Ao avião do Rio de Janeiro pousar no aeroporto de Belo Horizonte, Tiago fica ansioso pela chegada de Rafael. Pouco depois, os irmãos se avistam no saguão do aeroporto e se aproximam, sorridentes. Tiago e Rafael se abraçam e caminham até saída, entrando no carro e partindo.

CENA 09: LAGOA DA PAMPULHA, EXTERIOR, MANHÃ.

Tiago e Rafael caminham pela margem da Lagoa da Pampulha, um dos símbolos turísticos da capital de Minas Gerais.

(RAFAEL): – Que lugar lindo, me trazem ótimas lembranças! Boa ideia você querer parar aqui, fazia anos que eu não visitava a lagoa. Lembra como a gente brincava aqui quando era criança, Tiago?

(TIAGO): – Lembro, mas não foi exatamente por isso que eu resolvi parar aqui antes de irmos pra casa. Eu tô precisando desabafar contigo, meu irmão. Eu e o Abner estamos brigados há semanas.

(RAFAEL): – Brigados? Não acredito! Como foi isso?

(TIAGO): – O Abner descobriu o maior segredo da minha vida, Rafael, e agora me despreza por isso. Mas ele não tem esse direito, eu não admito esse desprezo!

(RAFAEL): – Segredo? Olha, eu tô surpreso, nunca pensei que você tinha segredos. O que você escondeu pro Abner reagir desse jeito?

(TIAGO): – Não é fácil te revelar isso, meu irmão, mas eu não aguento mais carregar esse peso nas costas. Eu preciso dividir com alguém e eu confio muito em você. – ele respira fundo. – Quando o Abner precisou fazer uma cirurgia no coração, eu tentei reunir os 100 mil reais necessários pra operação, mas não consegui e o tempo era curto. Então, eu fiz um filme pornográfico.

Rafael fica horrorizado com a revelação de Tiago, que olha para o lago com os olhos marejados.

(RAFAEL): – Você fez o quê? – incrédulo.

(TIAGO): – Eu fiz um filme pornô, Rafael. Eu vendi meu corpo. Eu transei em troca de dinheiro. Eu fui infiel a minha esposa, sujei minha dignidade e subjuguei minha masculinidade. Mas eu não me arrependo porque foi assim que eu consegui pagar a cirurgia do Abner e se ele está vivo hoje, é graças a isso.

(RAFAEL): – Meu Deus, eu não consigo acreditar! Porque você nunca me contou isso? Porque você escondeu todos esses anos? Você deve ter sofrido tanto!

(TIAGO): – Foi muito humilhante fazer esse filme e eu tenho pesadelos até hoje, mas o maior sofrimento é ter o desprezo e o ódio do meu filho hoje. – chorando. – Talvez você sinta vergonha de ter um irmão como eu, Rafael, mas eu só te peço que entenda meus motivos! Se não fosse pela vida do Abner, eu jamais teria feito um filme pornô! Eu sinto nojo desse meu passado, mas eu fui pressionado pelo destino.

(RAFAEL): – Que isso, Tiago, eu jamais vou ter vergonha de você! – abraçando. – Eu te amo, meu irmão. A sua atitude me surpreendeu e me chocou, mas como eu vou julgar o desespero de um pai pela vida do seu filho? – afastando. – No seu lugar, eu acho que faria o mesmo. A vida de um filho vale mais que a própria honra.

(TIAGO): – Obrigado pelo apoio, Rafael, você não sabe como isso me conforta. Eu tive tanto medo de revelar isso, não queria o seu desprezo também. Não foi fácil esconder essa dor todos esses anos, mas se o Abner não tivesse descoberto a verdade, eu continuaria escondendo. Eu ainda amo o meu filho, mas eu não admito esse desprezo dele. Tô muito ferido pelas palavras cruéis que ele me falou, mas eu não consigo deixar de amá-lo. O Abner sempre teve uma afinidade grande com você, talvez se vocês conversassem…

(RAFAEL): – Claro, eu vou conversar com o meu sobrinho sim, eu prometo que vou convencê-lo a reconsiderar. Mas e esse filme, por acaso o Abner descobriu na internet?

(TIAGO): – Não, graças a Deus esse filme não vazou na internet, senão a destruição seria ainda maior. O Henrique descobriu o DVD do filme nos Estados Unidos durante seu intercâmbio e mostrou ao Abner quando voltou ao Brasil.

(RAFAEL): – Menos mal, porque nós sabemos como a sociedade é cruel com atores pornôs, existe muito preconceito. Bom Tiago, eu lamento por essa situação, mas fico feliz com o seu desabafo. Obrigado pela confiança e pode contar comigo, sempre!

Tiago e Rafael sorriem e dão um abraço longo e apertado. E nas margens da Lagoa da Pampulha, os irmãos se confortam no sofrimento familiar.

CENA 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE BELO HORIZONTE, PRÉDIO DO CURSO DE ARQUITETURA, INTERIOR, MANHÃ.

Tem início o Congresso Internacional de Arquitetos da América Latina no auditório do prédio de Arquitetura. A palestre de abertura é realizada pelo coordenador do curso, sendo que o auditório está lotado com estudantes do Brasil e de vários países da América Latina. No corredor do prédio, Kelly arruma a gravata de Abner, que demonstra nervosismo.

(KELLY): – Caramba, que gato é esse meu namorado hein?

(ABNER): – Para com isso, Kelly, eu tô uma pilha de nervos e me sentindo preso nessa roupa toda engomadinha.

(HENRIQUE): – Também né, o coordenador foi te escolher pra ser o primeiro estudante a apresentar um trabalho no evento, ainda mais pra todos os inscritos. Teu trabalho foi tão bom que elegeram pra representar a UFBH, meu amigo! – dando tapinhas no ombro.

(ABNER): – Não sei se fico feliz ou triste por isso. Feliz pelo reconhecimento e conquista, triste porque nunca apresentei trabalho pra tanta gente. Mas vai dar tudo certo, se Deus quiser!

(KELLY): – Claro que vai dar tudo certo, você é muito inteligente, o coordenador não tinha estudante melhor pra escolher como representante. – terminando de arrumar a gravata. – Prontinho, tá perfeito! Vai lá e arrebenta, meu amor, ficarei na primeira fileira te admirando.

Kelly dá um beijo longo em Abner, deixando Henrique sem graça. Logo, os dois amigos se afastam e ela mexe no smartphone. É quando Gabriel a surpreende, puxando-a pelo braço atrás de uma parede.

(KELLY): – Ai, seu bruto, me solta! – se soltando. – O que você quer hein?

(GABRIEL): – Eu quero saber que proximidade é essa com aquele otário? Você não tinha me procurado pra se vingar dele?

(KELLY): – O Abner me procurou e explicou tudo, ele não sentiu nojo de mim durante a transa, é que ele lembrou do pai no filme pornô e sentiu nojo. Além do mais, eu amo o Abner e nunca escondi isso, se poupe, Gabriel!

Kelly vai sair, mas Gabriel a puxa de volta e prensa na parede, com os olhos em fúria.

(GABRIEL): – Mas e a nossa vingança? Como fica?

(KELLY): – Não fica, seu louco! – empurrando. – Se toca, Gabriel, eu hein! Tá chato com essa fixação em se vingar do Abner, isso aí pode ser tesão reprimido…

Kelly ri com deboche e Gabriel se irrita, dando um tapa no rosto de Kelly. Os dois se encaram.

(KELLY): – Covarde! Nunca um homem bateu em mim!

(GABRIEL): – Vadia! Você vai pagar por ter me traído nessa vingança!

Gabriel se afasta de Kelly, que estranha o comportamento do amante. Ela se recompõe e entra no auditório, que segue com a palestra de abertura e, logo depois, Abner apresentará seu trabalho.

CENA 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE BELO HORIZONTE, PRÉDIO DO CURSO DE ARQUITETURA, INTERIOR, MANHÃ.

Gabriel caminha enfurecido pelo prédio de Arquitetura, decidido a colocar em prática sua vingança a Abner. Ele aproxima-se da sala onde a equipe do evento está organizando as apresentações. Gabriel percebe que há uma pessoa dentro da sala e aguarda por alguns minutos, até que a pessoa sai para resolver um problema. Aproveitando a oportunidade, Gabriel entra na sala e mexe no computador que dá acesso as apresentações.

(GABRIEL): – Vai Gabriel, mostra pra eles do que você é capaz!

Após muito mexer, finalmente encontra o arquivo com a apresentação de Abner. Sem pensar duas vezes, ele exclui a apresentação e insere seu pen drive no computador. Gabriel transfere um arquivo ao computador do evento e renomeia o mesmo com o nome de Abner.

(GABRIEL): – Perfeito, garoto! Agora é só esperar pra ver o circo pegar fogo!

Gabriel retira o pen drive do computador e sai da sala, sem que ninguém o veja.

CENA 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE BELO HORIZONTE, PRÉDIO DO CURSO DE ARQUITETURA, INTERIOR, MANHÃ.

Alguns minutos depois, a palestra de abertura feita pelo coordenador do curso de Arquitetura se encerra e Abner sobe ao palco, em meio a aplausos de todos os presentes. Ele está nervoso, mas orgulhoso também. Ao olhar para o auditório lotado, Abner sente uma tristeza no coração por ninguém da sua família estar presente. No fundo, ele ainda gosta de sua mãe e seu pai, mas o orgulho segue imperando. Ele pega o microfone e inicia.

(ABNER):– Bom dia, caros participantes. É com muita honra que lhes apresento o meu trabalho, fruto de muito esforço, sobre a história arquitetônica do subúrbio de Belo Horizonte. Gostaria de agradecer a oportunidade que o curso de Arquitetura me ofereceu em participar da abertura deste evento com meu humilde trabalho. Espero agregar conhecimento ao fim desta apresentação.

Henrique, Kelly e Jeniffer observam Abner atentamente, assim como o auditório lotado de estudantes e profissionais da área. Gabriel assiste também, corroendo-se de inveja, bem ao fundo do auditório. Abner clica no botão do notebook, em uma mesa do palco, que abre sua apresentação no telão. Porém, a imagem que aparece no telão deixa todos chocados: era o filme pornográfico de Tiago. Abner fica pálido e sem reação, deixando o microfone cair no chão. Ele vê seu pai fazendo sexo com outro homem, sendo exposto pra centenas de pessoas no evento. Gabriel abre um sorriso sarcástico ao perceber que conseguiu atingir seu objetivo.

CONTINUA…

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Jeniffer acusa Kelly de entregar filme de Tiago para Gabriel.