O Preço da Vida – Capítulo 13 (últimos capítulos)

CENA 01: SEMANAS DEPOIS.

A vida de Célia, Tiago e Abner não tem sido fácil depois da publicação do filme pornográfico na internet. O fluxo de clientes na lanchonete caiu consideravelmente e o baixo lucro fez com que alguns fornecedores de alimentos rompessem o contrato. O prejuízo financeiro já dificulta da vida de Célia e Tiago, que estão apertados em dinheiro para pagar as contas do mês e também precisam cobrir o prejuízo dos produtos não vendidos.

Diante da situação, Rafael não retornou ao Rio de Janeiro e resolveu atrasar o último ano de seu doutorado em Direto para ajudar o irmão. Tiago prestou queixa na polícia para investigar quem publicou o vídeo na internet e, com ajuda de Rafael, abriu um processo na justiça contra o administrador do site que disponibilizou o vídeo. A investigação caminha a passos lentos, mas tanto a polícia quanto Rafael estão perto de descobrir o culpado.

O curso de Arquitetura da Universidade Federal de Belo Horizonte ainda está indignado com a exibição do filme pornográfico no congresso e foi aberto um processo administrativo dentro do campus universitário para descobrir como o vídeo foi exibido e punir o culpado. Até o momento, nada de concreto foi descoberto, mas a investigação segue. Quase em depressão depois da exposição público, Abner nunca mais foi para suas aulas e decidiu trancar sua matrícula na faculdade, ficando trancado no apartamento de Henrique o dia inteiro, sem ânimo para nada, recebendo visitar esporádicas de Kelly.

Jeniffer e Marieta seguem planejando uma forma de desmascarar Kelly. Henrique continua estudando e dando apoio a Abner. Gabriel se diverte com a repercussão de sua vingança, satisfeito em ter destruído a família de Abner. Paola e Rafael firmaram um namoro sério, para surpresa de Gabriel, mas que não se opôs também.

CENA 02: PRAÇA DO PAPA, EXTERIOR, TARDE.

Paola e Rafael estão em um local que é considerado um dos cartões postais de Belo Horizonte. Abraçados, eles observam o pôr-do-sol nos morros ao fundo da capital de Minas Gerais. Localizada em um dos pontos mais altos do município, é possível ter uma visão panorâmica da cidade. Paola e Rafael trocam beijos e carícias.

(PAOLA): – Ai Rafael, você apareceu num momento muito importante da minha vida. Eu estava precisando amar, sabe? Tava vivendo uma vida tão mecânica: trabalhar e casa, trabalhar e casa, trabalhar e casa… Tava sufocada, até um pouco em falta com a Célia eu fiquei, minha melhor amiga. – ela acaricia seu rosto. – Você entrou na minha vida e deu um novo sentido.

(RAFAEL): – Eu também estava vivendo uma vida mecânica, da universidade pro apartamento, nada mais. Fora que eu estava sentindo uma saudade imensa de morar aqui em BH, gosto do Rio de Janeiro, mas BH é minha terra né! Melhor coisa que fiz foi ter pausando meu doutorado pra ajudar o meu irmão e, finalmente, me declarado pra você. – ele dá um beijo no rosto dela. – Te amo! Te amo muito!

(PAOLA): – Eu também te amo muito, Rafael! – eles se beijam intensamente na boca e se abraçam. – Sabe, talvez eu pareça uma adolescente, mas o que você acha da gente morar junto? Nós já somos adultos, bem adultos né, e eu não tenho dúvidas do meu sentimento.

(RAFAEL): – Sua proposta é tentadora, Paola… – eles se afastam e se encaram. – Tão tentadora quanto sua boca! – eles sorriem e se beijam. – Claro que nós vamos morar juntos, mas vamos por partes. Primeiro vamos namorar, depois noivar, casar e aí morar juntos!

(PAOLA): – Nossa, que homem mais tradicional que eu fui arranjar, meu Deus! – eles riem. – Tudo bem, vamos seguir os costumes à risca.

Paola e Rafael se beijam apaixonadamente, sob o pôr-do-sol com a visão panorâmica de Belo Horizonte ao fundo.

CENA 03: APARTAMENTO DE PAOLA, INTERIOR, NOITE.

Após a tarde romântica com Rafael, Paola está chegando em seu apartamento, sorridente e feliz. Porém, sua feição logo muda ao flagrar Gabriel visivelmente bêbado e terminando de ingerir uma garrafa de cerveja. Paola coloca sua bolsa em cima da mesa e se aproxima de Gabriel, tirando a garrafa de suas mãos.

(PAOLA): – Que isso, meu filho? Eu não acredito que você está bêbado!

(GABRIEL): – Quem tá bêbado? Você tá bêbada? Eu não tô bêbado, não… – soluçando.

(PAOLA): – Nossa, que cheiro forte de álcool… – ela coloca a garrafa na mesa. – Ai Gabriel, porque você faz isso comigo hein? Que decepção, garoto!

(GABRIEL): – Eu tô legal, tô de boas, e a senhora vem de chatice pro meu lado? Tá achando ruim, adota o Abner, aquele bostinha… – sentando no sofá.

(PAOLA): – Você e sua eterna implicância com o Abner… Pelo menos a Célia nunca teve a decepção de ver o filho chegar bêbado em casa.

(GABRIEL): – Quer mais decepção que ver o marido dar a bunda no filme pra todo mundo ver? – gargalhando. – Ainda bem que eu desmascarei aquela bichona do Tiago.

Paola fica intrigada com o que Gabriel disse e se aproxima dele, encarando-o.

(PAOLA): – Você fez o quê, Gabriel? Desmascarou o Tiago? Como? – logo ela lembra-se do filme na internet. – Não me diga que foi você quem publicou o filme na internet! Foi?

(GABRIEL): – Ah, quer saber da verdade? Tá bom, vou jogar tudo no ventilador hein! – ele levanta-se e caminha até o balcão da cozinha, desequilibrado. – Fui eu quem publicou na internet sim, tirei a máscara de homem de família do Tiago e de brinde ainda humilhei aquele metido a certinho do Abner. – rindo.

(PAOLA): – Eu não acredito que você fez isso, meu filho! Como você teve coragem de expor o Tiago desse jeito?

(GABRIEL): – Ele fez um filme pornô, queria o quê? – rindo.

(PAOLA): – Você não tem nada a ver com o que o Tiago fez ou deixa de fazer! O que você fez foi muita falta de caráter, Gabriel, você expôs a família do Abner só por causa de uma rivalidade infantil. – chorando. – Ai, como eu fui burra, como eu não suspeitei de você antes! Mas que mãe ia suspeitar que um filho seria capaz de tamanha baixaria?

(GABRIEL): – Ah, cala essa boca, sua chata! Eu não tô afim de ouvir sermões, você nem é minha mãe de verdade! – gritando.

Paola fica paralisada ao ouvir aquilo. Gabriel segue zonzo pela bebida alcoólica, enquanto ela o encara e limpa as lágrimas.

(PAOLA): – Como é que é? Eu não sou tua mãe? – ela aproxima-se do filho e desfere vários tapas em seu corpo. – Eu não sou tua mãe, é? Não sou tua mãe! Cretino! – ela grita e bate no filho, que caminha até o sofá e cai sentando, enquanto ela segue dando tapas. – Como você tem coragem de dizer isso, Gabriel! Eu te adotei, te dei amor e educação, eu sou tua mãe sim! – ela para de bater e se afasta, começando a chorar. – Olha, nossa conversa só não continua porque você tá bêbado e nada do que eu disser vai adiantar. Vai dormir, Gabriel, mas amanhã nós teremos uma conversa séria. Não pense que essa sujeira que você fez com o Tiago e o Abner vai ficar impune, ouviu bem?

(GABRIEL): – Tô morrendo de medo de você, sua idiota! – ele levanta do sofá e tropeça na mesa, se apoiando na parede. – Você podia sumir, assim deixava de incomodar as pessoas com a sua presença chata. Só a Célia mesmo pra te aguentar, aquela outra chata.

Paola engole aquilo a seco e Gabriel vai para o quarto, trambalhando de bêbado. Sozinha na sala, Paola senta no sofá e chora compulsivamente, sem acreditar no que acaba de descobrir do próprio filho.

CENA 04: CASA DE CÉLIA E TIAGO, INTERIOR, NOITE.

Célia e Tiago estão sentados na sala, folhando um álbum de fotografias da família. As fotos de encontros, festas e de muita alegria, deixam o casal emocionado. É quando eles veem uma foto de Abner no aniversário de 6 anos.

(TIAGO): – Você lembra dessa data, meu amor? – acariciando a foto.

(CÉLIA): – E como esquecer? Foi o primeiro aniversário do Abner depois da cirurgia no coração. – sorrindo.

(TIAGO): – Olha só, a gente tava tão feliz! Mesmo diante do drama que passamos, a gente tava feliz pelo Abner estar vivo, completando mais um ano de vida. Às vezes, eu queria voltar no tempo, Célia. Não queria reviver aquele terror na empresa do Sandro, mas queria reviver a infância do Abner.

(CÉLIA): – Você queria reviver isso pra se sentir amado pelo seu filho, não é? Quem sabe isso não aconteça agora, no presente?

(TIAGO): – O Abner me odeia, Célia… – fechando o álbum.

(CÉLIA): – O Abner não te odeia, no fundo ele ainda te ama, mas não sabe lidar com o que descobriu. Eu tenho esperança que um dia o nosso filho volte pra gente, nos ame e que a felicidade reine de novo nessa casa.

(TIAGO):  – Será, meu amor? Eu queria tanto ter esperança como você, mas já se passaram alguns meses e o Abner continua irredutível. Tenho medo de morrer sem nunca mais ter o afeto do meu filho! – uma lágrima escorre.

(CÉLIA): – Não diga isso, Tiago, você e o Abner vão se entender sim, eu tenho fé! – secando a lágrima do marido com a mão. – Em breve, será o aniversário do nosso filho e se Deus quiser, todos nós estaremos reunidos.

Tiago dá um tímido sorriso e Célia lhe beija a boca com paixão. Logo, Marieta surge na sala, bem vestida, e para em frente ao casal.

(MARIETA): – E então, como estou? – dando uma voltinha.

(TIAGO): – Tá linda, minha sogra! Parece até que vai a uma festa.

(MARIETA): – Ah, são seus olhos, meu genro. – rindo. – Não vou a uma festa, mas vou sair. Digamos que vou me divertir como se fosse uma festa.

(CÉLIA): – Mamãe, a senhora vai sair a essa hora? Mas é quase meia-noite!

(MARIETA): – E qual é o problema? Não é porque sou uma idosa que não posso sair a hora que eu quiser. Não me esperem pra dormir, não tenho hora pra voltar. Tchauzinho!

Célia e Tiago estão pasmos e Marieta sai de casa, rindo sem parar. O casal se olha e ri.

(CÉLIA): – Não sei se eu riu ou me preocupo com a atitude da minha mãe!

(TIAGO): – Sei lá, nunca vi a minha sogra sair de casa a essa hora, tô surpreso. Será que ela arrumou um ficante novinho?

(CÉLIA): – Para, seu bobo!

Eles riem e se beijam. Em seguida, continuam a folhar o álbum de fotos da família e relembrando momentos.

CENA 05: APARTAMENTO DE HENRIQUE, INTERIOR, NOITE.

Henrique e Abner estão assistindo um filme na sala e comendo pipoca. Logo, a campainha toca e Henrique vai atender. Era Marieta e Jeniffer, que entram rapidamente e deixam Abner surpreso.

(ABNER): – Vó? Nossa, que saudades! – ele a abraça e beija seu rosto. – Quanto tempo!

(MARIETA): – Pois é, menino, se não é eu vir até aqui, a gente deixa de se falar pra sempre né? Esqueceu da avó!

(ABNER): – Não diga isso, a senhora sabe que eu gosto muito da senhora. Mas qual o motivo da visita a essa hora e com a Jeniffer? Ah propósito, oi Jeniffer! – beijando seu rosto.

(JENIFFER): – Oi Abner! Eu e a sua avó temos uma coisa muito importante pra falar com você. É sobre a Kelly.

(ABNER): – Bom, eu nem sabia que vocês duas se conheciam. Mas o que vocês querem falar da Kelly? – intrigado.

(MARIETA): – Você sabe que eu nunca gostei da Kelly, não sabe? Eu sempre desconfiei dela, tinha alguma coisa nessa garota que eu não engolia. Foi quando eu conheci a Jeniffer e resolvi procurá-la pra conversar sobre a Kelly. A Jeniffer também desconfiava do caráter da Kelly e, juntas, nós passamos a investigá-la.

(ABNER): – Investigá-la? Vó, do jeito que a senhora fala parece que a minha namorada é uma criminosa!

(JENIFFER): – Ela não é uma criminosa, mas ela não é a mulher que você pensa. – ela respira fundo. – A Kelly te traí, Abner! Ela traí com vários homens!

(MARIETA): – Em outras palavras, é uma vagabundazinha ordinária! E nós viemos te provar isso, Abner, chegou a hora de você conhecer quem é a verdadeira Kelly!

Abner está chocado e senta no sofá, boquiaberto. Henrique fica surpreso com a ação de Marieta e Jeniffer, embora já soubesse do caráter de Kelly.

(ABNER): – A Kelly me traí? Não é possível… Ela me ama! A gente é muito feliz, eu sinto que ela gosta de mim, que os sentimentos são verdadeiros!

(JENIFFER): – Talvez a Kelly goste de você, mas ela não é fiel. Se ela sente interesse por outro homem, ela não hesita em te trair.

(MARIETA): – Desculpe Jeniffer, mas quem gosta do namorado não faz uma cachorrada dessas! Aliás, saiba que a Kelly chegou a ter um caso com o Gabriel depois que começou a namorar com você, meu neto…

(ABNER): – A Kelly e o Gabriel foram amantes? Eu me recuso a acreditar nisso!

(JENIFFER): – É verdade, Abner! Eu atendi o celular da Kelly uma vez e era a voz do Gabriel marcando um encontro no motel. A Kelly disfarçou, disse que era perseguição dele, mas o número de celular do Gabriel estava registrado na lista de contatos do celular da Kelly. Eles eram ex-namorados, porque ela mantinha contato com ele, ainda mais sabendo que o vocês são rivais, Abner?

(ABNER): – Meu Deus do céu, isso é muita loucura pra mim acreditar… A Kelly não pode ter sido tão baixa a esse ponto!

(HENRIQUE): – Desculpe me intrometer, mas eu sabia que a Kelly tinha essa vida dupla. Eu nunca falei pra você por medo da sua reação, Abner, mas a Kelly deu em cima de mim várias vezes. Lembra quando você chegou no apartamento e nos flagrou no sofá e ela começou a ter um ataque de tosse? Pois então, tudo mentira, Abner! A Kelly veio aqui tentar me seduzir, mas eu resisti, só que você chegou na hora e ela forjou aquele ataque. Quando eu descobri, eu disse que ia te contar, mas ela falou que ia te manipular para acreditar que eu tinha agarrado ela a força. Tive medo de perder sua amizade, pois eu sei o quanto você a ama e podia acreditar na mentira dela.

(ABNER): – Cara, é sério isso? – ele fica em pé e caminha pela sala. – Porque você não me disse antes? Se vocês três já sabiam que a Kelly era esse tipo de mulher, porque me deixar continuar sendo enganado?

(JENIFFER): – Nós queríamos te provar que a Kelly é assim, não apenas falar, senão ela vai desmentir na primeira oportunidade. – ela aproxima-se e segura as mãos dele. – Vem comigo e com sua avó, nós vamos te levar a uma boate. Nesse momento, a Kelly tá te traindo. Quer ter a prova final?

Abner está dividido, quando o seu celular vibra. Ele tira do bolso e vê uma mensagem da Kelly.

(ABNER): – Olha aqui, a Kelly me enviou uma mensagem me desejando boa noite, como sempre faz, e disse que já foi dormir porque está com dor de cabeça.

(MARIETA): – Tudo mentira dessa vaca, aposta quanto que ela tá rebolando até o chão numa boate rodeada de homens?

(ABNER): – Que isso, vó? Olha, eu não sei o que pensar depois disso tudo, mas eu amo muito a Kelly e eu não quero duvidar do amor dela.

(JENIFFER): – Você é um bom homem, Abner, não quer trair a namorada nem por pensamento, imagina fisicamente? Mas e ela, será que ela é tão fiel a esse amor quanto você? Vem com a gente, Abner, por favor! Nos deixe abrir teus olhos!

(ABNER): – Eu não sei e…

(MARIETA): – Ah, dá licença, Jeniffer! – empurrando a jovem e ficando em frente ao neto. – Escuta aqui, mocinho, quando você descobriu o passado do seu pai, você não pensou duas vezes em discutir com ele! Mas e agora, cadê aquele homem feroz? Você vai aceitar permanecer na dúvida? Vai aceitar que aquela vadia continue te colocando chifres? Honre sua dignidade e vamos nessa boate agora! – encarando seriamente. – Ou você tá com medo de comprovar tudo o que nós dissemos? Se você acredita na Kelly, tem medo do quê então?

Abner está pasmo com a situação e pensa um pouco, enquanto é encarado por Marieta, Jeniffer e Henrique.

CENA 06: BOATE, INTERIOR, NOITE.

A boate estava lotada. Música alta, luzes piscando, muita bebida alcoólica e sedução. Lentamente, Abner entra na boate, acompanhado por Marieta, Jeniffer e Henrique. Eles observam por todos os lados, a procura de Kelly.

(MARIETA): – Misericórdia! Quanta safadeza num local só, Jesus Cristo! Jeniffer, você tem certeza absoluta que aquela vaca tá aqui né?

(JENIFFER): – Claro que sim, Dona Marieta, eu segui a Kelly e vi ela entrando nessa boate, logo depois liguei pra senhora e fomos falar com o Abner.

(HENRIQUE): – Isso aqui tá lotado, vai ser difícil achar a Kelly se ela realmente estiver aqui.

Naquele instante, Abner olha para um pequeno palco que havia no canto da boate, em que algumas pessoas dançavam em cima. Seu olhar paralisa ao ver Kelly aos beijos com dois homens, dançando colada com eles.

(ABNER): – Kelly… É ela? – incrédulo.

Abner aponta para o palco e Marieta, Jeniffer e Henrique olham, ficando pasmos ao identificar Kelly.

(MARIETA):– Tá vendo, meu neto, essa daí é tua namorada apaixonada! Enquanto você é fiel, ela te trai com dois ao mesmo tempo!

(ABNER): – Cachorra! Mas isso não vai ficar assim…

Furioso, Abner corre até o palco, sendo seguido por Henrique, enquanto Marieta e Jeniffer ficam imóveis, observando tudo de longe. Kelly continua dançando, agora sozinha, pois os homens foram comprar bebidas no bar. Ela dança sensualmente e atrai olhares de várias pessoas da boate, quando é surpreendida por Abner puxando seu braço. Kelly arregala os olhos ao ver Abner a encarando com fúria.

(KELLY): – Abner? O que você tá fazendo aqui? – surpresa.

(ABNER): – Eu é que tenho que te fazer essa pergunta, Kelly! Você não tava em casa, com dor de cabeça? – gritando.

(KELLY): – Calma, eu posso te explicar!

(ABNER): – Explicar o óbvio? – soltando seu braço. – Vagabunda!

Abner desfere uma bofetada no rosto de Kelly, que cai bruscamente no chão da pista de dança. Abner vai chutá-la, mas Henrique o segura e o tira de cima do palco, enquanto Kelly é acudida por outras mulheres.

(HENRIQUE): – Vamos embora daqui, você vai se complicar! – arrastando Abner pela boate.

(ABNER): – Me solta, Henrique, deixa eu acabar com aquela vadia! – se debatendo.

Henrique tira Abner a força da boate, enquanto Kelly os segue um pouco atrás, chorando e com o rosto vermelho. É quando ela vê Marieta e Jeniffer e fica imóvel na frente delas.

(KELLY): – Vocês aqui também? Espera aí… É um complô, é isso?

(MARIETA): – Sua máscara caiu, Kelly! Eu falei que ia provar ao meu neto que você era uma vagabunda. Palavra de Marieta é tão exata quanto Matemática! – rindo.

(KELLY): – Velha azeda! Eu sabia que tinha dedo da senhora…

(MARIETA): – Dedo não, meu bem, foi a mão inteira mesmo! E a Jeniffer me ajudou, porque diferente de você, ela tem caráter e não achou justo a sua infidelidade ao Abner.

(JENIFFER): – Eu não queria que fosse assim, minha amiga, mas você me obrigou…

(KELLY): – Amiga? Amiga da onça, só se for né! Como você pode fazer isso comigo, Jeniffer? Você traiu nossa amizade, nossa confiança! Cretina! Eu não acredito que você se uniu a essa velha desgraçada!

Marieta se enfurece e esbofeteia Kelly, que a encara seriamente.

(MARIETA): – Veneno de cobra pra mim é drink, sua rameira! Eu não tenho nada contra você viver essa vida desregrada, desde que não engane os sentimentos do Abner. Vamos embora, Jeniffer, não consigo respirar o mesmo ar que essa vadiazinha vulgar.

Marieta segura a mão de Jeniffer e elas saem da boate. Logo em seguida, Kelly também sai e pega um táxi, indo ao apartamento de Henrique para falar com Abner.

CENA 07: CASA DE CÉLIA E TIAGO, INTERIOR, NOITE.

Célia, Tiago e Rafael estão tomando um vinho e conversando na sala. Já passou da meia-noite, mas eles permanecem confraternizando em família. É quando a campainha toca e Rafael vai atender. Era Paola, que lhe abraça fortemente. Eles caminham até a sala e Paola cumprimenta Tiago e dá um abraço forte em Célia, começando a chorar.

(CÉLIA): – Paola, o que houve, minha amiga? Porque você tá assim?

(PAOLA): – Ai Célia, eu tô destruída! – se afastando. – Eu não aguentei ficar em casa depois do que aconteceu, não conseguiria ficar com isso engasgado até amanhã.

(RAFAEL): – O que aconteceu, meu amor? Você estava tão feliz quando te deixei em casa, depois do nosso passeio.

(PAOLA): – Pois é, mas quando eu cheguei em casa, o Gabriel estava bêbado e nós tivemos uma discussão horrível. Ele até teve coragem de dizer que nem mãe dele eu sou só porque é meu filho adotivo, acreditam? – chorando e sentando no sofá.

(TIAGO): – Meu Deus, como nós temos filhos rebeldes, Paola? O Abner me despreza e agora o mesmo acontece com você. E nas duas situações, o desprezo é por motivos bobos.

(CÉLIA): – Oh minha amiga, se acalme! O Gabriel disse isso de cabeça quente, ele tava fora si, não dá pra levar em conta o que uma pessoa fala quando está bêbada.

(PAOLA): – Ah Célia, você nunca ouviu falar que as pessoas bêbadas dizem coisas que não tem coragem de dizer quando estão sóbrias? Pois então, o Gabriel não só me desprezou, mas também fez uma confissão.

(CÉLIA): – Confissão? Que confissão, Paola? – intrigada.

(PAOLA): – Eu tenho vergonha de dizer, mas eu preciso… – ela respira fundo. – Foi o meu filho quem sabotou a apresentação do Abner no congresso da faculdade, exibindo o filme pornográfico do Tiago no lugar do trabalho. E foi o meu filho também quem publicou na internet o filme.

Célia, Tiago e Rafael estão chocados e ficam em silêncio por alguns instantes, enquanto Paola chora compulsivamente.

(RAFAEL): – Foi o Gabriel que fez isso? Tem certeza, Paola? Como ele conseguiu o filme?

(PAOLA): – Eu não sei, mas alguém mostrou o filme do Tiago ao meu filho e ele cometeu essa baixaria, tudo por ódio ao Abner, um ódio que eu nunca vou entender. – limpando as lágrimas. – Me perdoem? Por favor, eu peço o perdão de vocês! Eu me sinto culpada por ter criado o Gabriel desse jeito, se eu tivesse dado uma educação melhor, ele não sairia tão mimado e mau-caráter!

(CÉLIA): – Que isso, você não tem que pedir perdão, você não é culpada de nada! – acariciando o rosto da amiga.

(TIAGO): – Eu tô chocado que nem sei o que pensar… Eu sabia que o Gabriel tem problemas com o Abner, mas não pensei que chegasse a tanto pra ele expor minha família desse jeito.

(RAFAEL): – Bom, nós precisamos tomar alguma atitude, afinal o que o Gabriel fez confere num crime.

(PAOLA): – Eu vim até aqui contar pra vocês porque eu quero que meu filho seja punido. Não é porque eu sou amiga da Célia e namorada do Rafael que vocês irão poupar o Gabriel de uma punição. Ele errou, errou muito, e eu estou profundamente magoada e decepcionada com ele. Podem avisar pra polícia que o meu filho confessou que publicou na internet, pois eu amanhã mesmo irei falar com o reitor da Universidade Federal de Belo Horizonte. Eu sou mãe e amo o Gabriel, mas eu não vou me omitir diante de um crime. Eu quero que o meu filho pague!

Célia, Tiago e Rafael se surpreendem com a atitude de Paola, ao mesmo tempo em que sentem-se aliviados pelo apoio dela diante dos erros de Gabriel.

CENA 08: APARTAMENTO DE HENRIQUE, INTERIOR, NOITE.

Abner está tomando um copo de água, trêmulo, enquanto é acalmado por Henrique e Jeniffer.

(ABNER): – Vadia! Como eu pude ser tão cego!

(JENIFFER): – Se acalma, Abner, o pior já passou.

Naquele instante, a campainha toca. Henrique vai atender e se surpreende com Kelly entrando rapidamente. Ao vê-la, Abner muda de feição e arremessa o copo de água em direção a Kelly, que se abaixa. O copo quebra na parede.

(ABNER): – Piranha! Vai embora daqui, desaparece da minha frente! – gritando.

(KELLY): – Calma, vamos conversar, eu juro que não é o que você tá pensando!

(ABNER): – Eu não tô pensando nada, eu vi com meus próprios olhos! Meu Deus, como eu pude ser tão idiota! Você me traindo esse tempo todo e eu acreditando que você era só minha, que você me amava!

(KELLY): – Mas eu te amo, Abner, eu não admito que você duvide do meu amor!

(ABNER): – Cínica! – dando uma bofetada. – Quem ama não trai, não mente, não debocha dos sentimentos alheios. Se você me amasse, não estaria se esfregando com outros caras naquela boate igual uma prostituta!

(KELLY): – Abner, em que século você vive hein? Em pleno 2016 e você associa amor com fidelidade do corpo? Eu te amo sim, sempre te amei, mas eu admito que não ignorei meus desejos íntimos durante o nosso namoro.

(ABNER): – Então, você admite que sempre me traiu? Não vai nem tentar disfarçar, cachorra?

(KELLY): – Você acha que me ofende me chamando de vadia, cachorra, piranha? Eu adoro ser chamada assim, seu bobo! – rindo. – E sim, eu sempre te trai, perdi a conta de quantos homens eu transei durante o nosso namoro! Mas isso não significa que eu não te ame, Abner. Entenda: amor é sentimento, sexo é necessidade física. Eu te amo e nunca te traí em sentimento, mas fisicamente… Bom, eu não consegui reprimir meus desejos sexuais. Fisicamente eu te trai, mas eu sempre fui fiel no amor que eu sinto por você!

(HENRIQUE): – Que cara de pau, eu não acredito que tô ouvindo isso!

(ABNER): – Se você queria viver um namoro moderno, um relacionamento aberto como dizem por aí, você devia ter me dito desde o início, perguntado se eu topava viver isso! Se você não associa fidelidade física com sentimento, eu associo! Eu não acredito no seu amor, não pode existir amor quando a confiança na fidelidade é quebrada e você quebrou, Kelly!

(JENIFFER): – Eu nunca pensei que você fosse tão vulgar, Kelly…

(KELLY): – Cala boca, sua cobra, que eu tô me segurando pra não dar uns tabefes nessa tua cara de sonsa!

(ABNER): – Kelly, sabe quantas mulheres me paqueraram enquanto a gente tava namorando? Muitas! Na facul, em festinhas, em todo lugar! E sabe quantas vezes eu recusei? Todas! Sabe porquê? – começando a chorar. – Porque eu te amava! Meu amor por você sempre foi verdadeiro e eu sempre fui fiel a você! Eu não merecia essa cachorrada, Kelly, não merecia…

(KELLY): – Abner, meu amor, tenta me entender…

(ABNER): – Pare de falar que eu não suporto mais ouvir sua voz! Vá embora, Kelly, nunca mais me procure! Nada do que você falar vai me fazer mudar de opinião. Você morreu pra mim, sua vagabunda! – gritando.

(KELLY): – Então, é assim que você retribui todo meu carinho e dedicação a você nesses meses de namoro? Eu estive do seu lado no momento que você mais precisou, Abner! Eu fui seu alicerce quando você brigou com o seu pai, eu aguentei todas as suas crises, os seus chiliques, até sua impotência pelo trauma do filme pornô do pai eu aguentei, e é assim que você retribui, me desprezando por uma visão antiquada de namoro fiel?

(HENRIQUE): – Já chega, Kelly, você perdeu. Se toca, garota, vai embora!

(JENIFFER): – Antes de ir embora, seria bom que a Kelly confessasse ao Abner do caso que ela tá tendo com o Gabriel esse tempo todo. Conta pro Abner que você o traia com seu inimigo, que se divertia em incentivar a rivalidade dos dois.

(KELLY): – É mesmo, queridinha? Prove o que diz! Prove que eu tive um caso com o Gabriel, sua falsa!

(ABNER): – A Jeniffer não precisa provar nada, ela é uma mulher digna, diferente de você. Se aconteceu mesmo um caso entre você o Gabriel, vocês se merecem, são dois lixos da sociedade, mais sujos que esgoto!

(KELLY): – Olha quem falando em sujeira… Você é fruto de uma sujeira. Esqueceu que o seu papaizinho fez um filme pornô?

(ABNER): – Lava essa boca antes de falar do meu pai, sua vadia! – ele a segura pelos braços.

(KELLY): – Que foi? Vai defender o papaizinho pornográfico agora é? Não tinha brigado com ele, agora vai proteger? – ela ri e ele a empurrada.

(HENRIQUE): – Você já deu seu show, Kelly, sua máscara caiu, agora vai embora, por favor?

(JENIFFER): – Ela tá precisando de senso do ridículo…

(KELLY): – Senso do ridículo quem precisa é você, Jeniffer! Porque armou todo esse circo com a Marieta hein? O que você tem a ver com a maneira que eu me relacionava com o Abner? Por acaso você tem um interesse encubado por ele, é isso?

Jeniffer fica em silêncio e cabisbaixa, deixando Abner e Henrique intrigados. Logo, Kelly começa a gargalhar sem parar, com extremo deboche.

(KELLY): – Ai, eu não acredito que a bobinha é apaixonada pelo Abner! Meu Deus, que otária! Você acha que é páreo pra mim, Jeniffer? Se olha no espelho! Você é tão sem-graça, tão sonsa, tão apagadinha… – rindo.

(JENIFFER): – Cala essa boca, Kelly! – quase chorando.

(KELLY): – Cala boca você, sua desgraçada! – dando uma bofetada nela. – Tá aí o que você merece, por traído nossa amizade! – ela começa a bater palmas e andar pela sala. – Ah, já que é pra lavar roupa suja, vamos lavar! Quer saber de toda a verdade? – ela para de bater palmas e fica frente a frente com a amiga. – Sabe por que nenhum dos seus namoros deu certo, Jeniffer? Porque eu não deixei! Eu fiquei com todos os teus namorados, sua idiota! – gargalhando.

(JENIFFER): – O quê? Eu não acredito! – surpresa.

(KELLY): – Pois acredite, meu bem! Você me procurava pra me contar que tinha começado um namoro, ficava me contado tudo do cara, do que ele gostava e do que ele não gostava, do que ele queria que você fizesse… – rindo. – Imbecil, você jogava isca pra pessoa errada! Eu aproveitava todas as informações e seduzia teus namorados! Todos ficaram comigo, todos! – ela começa a gritar. – Chifruda! Otária!

Jeniffer se enfurece e dá uma bofetada no rosto de Kelly, que se apoia na mesa. Logo, Jeniffer segura nos cabelos de Kelly e começa a puxar com muita força, arrastando a falsa amiga por todos os lados da sala do apartamento. Abner e Henrique assistem tudo, apavorados e imóveis. De repente, Jeniffer dá uma rasteira em Kelly, que cai. Jeniffer senta em cima de Kelly e começa a desferir várias bofetadas em sequência.

(JENIFFER): – Toma, sua vagabunda! – batendo. – Toma o que você merece, sua maldita! – batendo. – Eu te odeio!

Jeniffer continua a dar tapas no rosto de Kelly, enquanto ela grita furiosa e tenta se soltar, inutilmente.

CONTINUA…

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Abner e Gabriel tem acerto de contas decisivo.

VEM AÍ, A NOVA WEB-NOVELA DAS 22H! DE HIVAN MARTINEZ… CONFIRA O TEASER!

ESTREIA PRÓXIMA SEGUNDA, EXCEPCIONALMENTE ÀS 23H, LOGO APÓS O ÚLTIMO CAPÍTULO DE “O PREÇO DA VIDA”!