Mundos Opostos – Capítulo 12

CENA 01: CASA DE ANGELO/FACHADA/EXT./NOITE

Bárbara e Júlio conversam, um de frente para o outro. Aquilo chama a atenção de Luciana, que vai se aproximando lentamente e ouvindo a conversa.

JÚLIO – Amanhã o Angelo trabalha?

BÁRARA – Sim, amanhã o meu marido trabalha.

JÚLIO – Ótimo. A gente podia sair amanhã à tarde. Sei lá, ir num restaurante, comer fora…

BÁRBARA – Não, Júlio.

JÚLIO – Qual é o problema? É só a gente não se beijar nem dar bandeira. A gente vai se sair como mãe e filho, ninguém vai desconfiar que a gente é namorado, praticamente.

BÁRBARA – Acho muito arriscado, Júlio. Eu prefiro não fazer isso. A gente pode não dar bandeira lá, mas pode dar bandeira aqui. Nós dois saindo junto e voltando junto, alguém pode desconfiar. E tu sabe que já tem gente desconfiando. Imagina se a minha filha, a tua cunhada, descobre que o ex dela tá com a mãe dela…

JÚLIO – Então tá bom, deixa pra lá. Aborta o plano então. Boa noite, Bárbara, até amanhã.

BÁRBARA – Boa noite, Júlio.

Bárbara e Júlio trocam um rápido beijo. Em seguida, Bárbara entra em casa, deixando Júlio ali sozinho. Porém, ao se virar de costas, ele toma um susto ao ver Luciana ali.

LUCIANA – Então quer dizer que você tem um caso com a mãe da sua própria cunhada, Júlio? Pegou a filha, e agora tá pegando a mãe?

Nervoso, Júlio não consegue responder a Luciana, que o encara com um sorriso vitorioso.

LUCIANA (debochada) – Que coisa feia, Júlio… enganando a família inteira por debaixo do tapete…

JÚLIO (tenso) – Luciana, não fala do que tu não sabe…

LUCIANA – Não adianta, Júlio. Eu ouvi a sua conversa com a sua amante.

Luciana solta uma breve risada.

LUCIANA – Que família estranha… melhor dizendo, que família pervertida…

JÚLIO – Eu não vou permitir que tu fale mal da minha família na minha frente.

LUCIANA – Qual seria a reação da dona Jéssica em saber que você tem um caso com a dona Bárbara? Melhor perguntando, qual seria a reação da Carolina em saber que você tem um caso com a mãe dela?

JÚLIO – Isso não é da tua conta.

LUCIANA – Mas é da conta de gente que mora vizinho a você, se não morar com você.

Alguns segundos de silêncio.

LUCIANA – Se você quiser, eu posso imitar aqueles macaquinhos japoneses e fingir que não ouvi nada. Mas claro, a minha surdez espontânea tem um preço.

JÚLIO – Sério mesmo que você vai querer me extorquir? Eu tenho cara de quem ganhou o primeiro prêmio do Totolec?

LUCIANA – Fique tranquilo, não vou tirar dinheiro nenhum de você. Mas vou querer sua ajuda.

JÚLIO – E no que eu poderia te ajudar?

LUCIANA – Você vai me ajudar a salvar o seu primo.

JÚLIO – Do que é que tu tá falando?

LUCIANA – Não se faz de burro, Júlio. Você vai me ajudar a separar o Ricardo do Dimas. Você vai me ajudar a conquistar o Ricardo.

Júlio fica surpreso com as palavras de Luciana. Após alguns segundos raciocinando, Júlio ri da moça.

JÚLIO – Tu só pode tar de brincadeira comigo… acha mesmo que eu vou separar o meu primo do Dimas pra ele ficar contigo?

LUCIANA – Acho sim. Porque, se você não fizer isso, eu faço questão que todo mundo saiba que você é amante de uma mulher casada. Pior ainda, amante da mãe da sua ex-namorada.

Júlio engole em seco. Luciana ri dele, que se irrita.

LUCIANA – Me alegro muito com a sua espontânea adesão à minha empreitada, Júlio. Eu lhe garanto que você será muito bem recompensado ao final dessa jornada. Lhe dou a chance de escolher a recompensa.

JÚLIO (irritado) – Se eu pudesse escolher a minha recompensa, eu ia escolher era te matar. Esse seria o pagamento mais justo pra sujeira que tu quer que eu faça.

LUCIANA (rindo) – Só uma coisa: esse segredo é só nosso, tá? Se mais gente ficar sabendo do nosso segredinho, eu faço questão de distorcer a história e te fazer passar pelo único e verdadeiro culpado da história. Uma mentira bem contada é capaz de anular qualquer argumento.

Júlio e Luciana se encaram. Ele, com ódio no olhar, contrai as mãos, controlando-se para não tomar nenhuma atitude agressiva. Ela ri, debochando do rapaz.

LUCIANA – Boa noite, Júlio. Apareça lá em casa amanhã, o seu primo sabe onde fica. Temos que conversar melhor sobre o nosso acordo, tá?

Luciana sopra um beijo para Júlio e se afasta. Ele se vira e entra em casa.

CENA 02: CARRO DE GUTO/INT./NOITE

Luciana entra no carro, sentando-se no banco do acompanhante. Ela encontra dificuldades para segurar o riso, e isso causa estranheza em Guto.

GUTO – O que foi, Luciana?

LUCIANA – Eu tô conseguindo, Guto. Eu tô conseguindo.

GUTO – Conseguindo o quê?

LUCIANA – O Júlio vai me ajudar a separar o meu Ricardo do Dimas.

Guto se indigna com o que acabara de ouvir de Luciana.

GUTO – Por que é que eu ainda me surpreendo quando eu percebo que tu vai mesmo mergulhar de cabeça nessa história de fisgar o Dimas, hein?

LUCIANA – Não sei, e também não me quedo interessada. Meu único interesse é em ter o amor do Ricardo. Nada mais que isso.

GUTO – Você é louca…

LUCIANA (ri) – Louca de amores. Anda, vamos pra casa, já está ficando tarde.

Guto balança a cabeça, em sinal de negação. Ele liga o motor do carro, tira o câmbio do ponto morto e parte.

CENA 03: FORTALEZA/EXT./NOITE

Imagens da Praia de Iracema. Amanhece.

CENA 04: MANSÃO ANDRADE BASTOS/SALA/INT./MANHÃ

Alice, Cassandra e Gabriel estão sentados em um sofá, conversando sobre o casamento de Débora e Igor.

CASSANDRA – Alice, Gabriel, como andam os preparativos para a decoração? Vocês se comprometeram em estudar esses detalhes, mas até agora não tive retorno.

GABRIEL – Dona Cassandra, para falar a verdade, nós não tivemos tempo para parar e pensar nisso. Eu não acho que seja possível concretizar o casório na data planejada pela senhora.

CASSANDRA – Não consigo entender por que. Certo, entendo que você trabalha o dia inteiro, só para em casa para se alimentar e dormir, mas imaginei que a minha sobrinha Alice tivesse tempo e, principalmente, disposição para isso. Se acontecer do casório ser adiado, será por culpa de vocês dois. Senão, só de você, Alice.

GABRIEL – Olhe, dona Cassandra, se a senhora acha que nós somos incapazes para lidar com este tipo de situação, então a assuma somente para si. Já lhe expliquei que nós não pudemos fazer nada por questão de tempo. Apesar da Alice aparentemente ter muito tempo livre, ela precisava de minha opinião e de meu aval para julgar e aprovar as decorações. Ela não pode tomar sozinha todas as decisões, principalmente porque não é ela quem está se casando. As decisões devem ser consensuais, devem agradar a todos os envolvidos, principalmente os noivos.

ALICE – Lembrando que essa é uma situação delicada, já que o Pedro Igor vem demonstrado relutância para aceitar o casamento.

CASSANDRA – E vocês falam isso com essa naturalidade? Meus queridos, isso é grave, vocês devem tomar as devidas providências. Ou querem que a sobrinha de vocês sofra discriminação por ser mãe solteira?

GABRIEL – De jeito algum, dona Cassandra, mas nós não podemos moldar o humor do nosso filho da maneira que desejarmos. Como a Alice lembrou, o nosso filho está relutante. Esse é o principal, senão o verdadeiro motivo pelo qual o casório corre o risco de atrasar. O casamento está refém da boa vontade do noivo.

Insatisfeita, Cassandra desvia o olhar. Alice e Gabriel se entreolham, tensos.

CENA 05: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA DE JANTAR/INT./MANHÃ

Gustavo, Helena, Igor, Luís e Maria estão sentados à mesa, tomando café da manhã. A refeição transcorre em relativo silêncio, até que as atenções de todos se dirigem para a entrada da sala de jantar: Débora entra em cena, sorrindo para seus sobrinhos e para os hóspedes. Igor devolve com um sorriso natural; Gustavo e Helena devolvem um sorriso amarelo; Luís e Maria apenas encaram a moça com um olhar neutro.

DÉBORA – Bom dia, família.

LUÍS – O dia deixou de ser bom quando você apareceu aqui.

DÉBORA – Incomodado com a minha presença? Pegue seu banquinho e saia de mansinho, você não é obrigado a me aturar.

LUÍS – Vagabunda…

DÉBORA – Me ofenda de novo, seu vira-lata. Eu te faço voltar para o barraco sujo onde você nasceu em uma fração de segundo. Será um grande prazer.

Luís se cala. Débora lhe sorri sarcasticamente, e ele desvia o olhar. Em seguida, ela se senta ao lado de Igor, próximo a Helena. Imediatamente, Helena afasta sua cadeira, enquanto Débora a encara e ri dela.

DÉBORA – Eu não mordo não, tá?

HELENA – Cobra dá o bote quando se menos espera.

DÉBORA (rindo) – Aproveitem para falar o que quiser contra mim. Será inútil de qualquer maneira… vocês não poderão mais me expulsar daqui, muito em breve esta será a minha casa. Quando eu me casar com o Pedro Igor, serei esposa do herdeiro do império Andrade da Costa e, consequentemente, superior a todos vocês.

Débora inicia a refeição, sob os olhares irados de Gustavo, Helena, Luís e Maria. Igor encara tudo aquilo com medo.

CENA 06: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Praia do Futuro.

Imagens da Avenida General Osório de Paiva.

CENA 07: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/COZINHA/INT./MANHÃ

Angelo, Bárbara, Carolina, Dimas, Jair, Jéssica, Jonas, Júlio, Larissa, Maurício, Ricardo, Talita, Vinícius e Venâncio estão sentados na mesa, tomando café da manhã. Entre Carolina e Jonas está Felipe, sentado em uma cadeirinha, sendo alimentado pelos pais.

LARISSA – Pelo visto, essa festa de aniversário foi uma verdadeira farra, não é verdade?

DIMAS – Mais ou menos, sogrinha.

LARISSA – Por quê?

CAROLINA – Seria uma festa linda se não fosse pela presença de uma pessoa. A prima do Igor, do Gustavo e da Helena.

JÚLIO – Eu já comentei com a minha mãe sobre a Débora, ela é uma garota muito chata. Nosso primeiro contato com ela foi o pior possível, porque ela destratou todo mundo e ainda chamou a Maria de escrava, e essas coisas todas que são passíveis de processos por injúria racial.

JAIR (irônico) – Que amor de pessoa.

MAURÍCIO – Mas o que foi que aconteceu nessa festa?

DIMAS – Não deu pra entender bem, mas parece que a Débora e a Maria tinham discutido e a Débora desejou a morte da mãe da Maria.

Silêncio em cena. Todos em cena demonstram choque com o que acabaram de ouvir de Dimas, com a exceção do sempre alheio Felipe, do próprio Dimas, de Jair e de Júlio.

JÉSSICA – Isso na festa?

JÚLIO – Não, mãe, antes da festa.

LARISSA – Misericórdia… que Deus perdoe essa garota, ela não sabe o que diz…

DIMAS – Que bom a senhora ter falado isso, sogrinha. Pois bem, o Igor convenceu a Débora a aparecer na festa para pedir desculpas à Maria pelo que ela disse. A Débora disse ter se arrependido do que disse, e parecia ser verdadeiro. Mas a Maria tava tão magoada que ela chegou a desejar que a Débora tivesse um aborto espontâneo.

E a reação de choque quase generalizada se repete.

JÚLIO – Pois é. Aí os ânimos se exaltaram e elas partiram pra peia. Foi mãozada pra tudo quanto era lado, puxão de cabelo, murro, soco, dedo no olho, mordida, azunhada, pisão… bom, eu já tô aumentando, mas foi um vale tudo daqueles.

CAROLINA – E, por causa disso, nós viemos embora mais cedo.

JAIR – Mais cedo? (ri) Imagina se vocês tivessem voltado tarde…

RICARDO – Enfim, foi assim que aconteceu. Mas não cometemos nenhum excesso, voltamos inteiros, sóbrios, conscientes, sãos e salvos.

Jair e Ricardo se entreolham por alguns segundos.

RICARDO – Tio Jair, eu acho que a gente precisa conversar.

JAIR – Eu não acho. Mas se tu acha e todo mundo vai me pressionar até eu ceder, então a gente vai conversar sim.

Ricardo respira fundo após a resposta fria e seca de Jair.

RICARDO – Onde a gente pode conversar, tio?

JAIR – Onde tu achar melhor.

RICARDO – Mais tarde eu passo lá na sua casa.

JAIR – Como quiser.

Jair e Ricardo desviam o olhar. O clima não fica muito confortável. Ricardo se levanta bruscamente da mesa, sequer termina o café da manhã, e vai embora. Imediatamente, Jonas se levanta da mesa e corre atrás do primo.

CENA 08: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/SALA/INT./MANHÃ

Ricardo para no meio da sala. Ele não consegue mais segurar o choro, mas tenta escondê-lo. Jonas chega à sala e se depara com Ricardo de costas.

JONAS – Ricardo?

Ricardo não responde. Jonas se aproxima dele.

JONAS – Tá tudo bem, primo?

Sem respostas. Jonas fica de frente para Ricardo, que desvia o rosto. Jonas sente um nó na garganta ao ver o primo chorando.

JONAS – Chora não, cara. Vem, deixa eu te dar um abraço.

Jonas abre os braços para Ricardo, que imediatamente o abraça com toda a sua força. Jonas se surpreende com a força empregada por ele, mas não demora para se adaptar e retribuir o abraço.

RICARDO (chorando) – Me desculpa, Jonas, me desculpa…

JONAS – Desculpa por que, Ricardo?

RICARDO – Eu tive vontade de bater no teu pai. A minha vontade era de levantar e bater nele até o braço doer. Me desculpa, Jonas, por favor…

JONAS – Calma, primo, calma… não pensa nisso, tá? Ó, eu tô aqui contigo, eu tô aqui te abraçando, eu tô te protegendo, não tô?

RICARDO – Tá… tá… só continua, tá, não para. Eu preciso muito disso, eu quero proteção.

JONAS – Eu vou continuar sim. Não se preocupa.

As lágrimas começam a escapar dos olhos de Jonas. Um é capaz de sentir o coração do outro pulsando aceleradamente, em uma sincronia desordenada, graças à pressão máxima do abraço. Os primos choram juntos: as lágrimas de um são absorvidas pelo tecido da camisa do outro, fazendo esvair aos poucos a má essência que as ditas lágrimas retiraram da alma deles. O processo parece eterno, os segundos parecem passar cada vez mais devagar, como se o tempo quisesse parar e esperá-los se recompor para voltar a trabalhar.

RICARDO – Jonas… muito obrigado por ser o que tu é. Muito obrigado mesmo. Eu não sei o que seria de mim sem ti.

JONAS – Eu digo o mesmo, Ricardo. Muito obrigado por ser o que tu é. Eu também não sei o que seria de mim sem ti.

Os dois continuam abraçados e chegam a trocar beijos no rosto.

CENA 09: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Avenida Barão de Studart.

Imagens da Avenida Senador Virgílio Távora.

Imagens da Rua Senador Pompeu.

CENA 10: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./MANHÃ

Débora abre a porta para a entrada de Guto e Luciana. Ela cumprimenta a amiga com um longo abraço, enquanto Guto apenas se afasta delas, escapando de um contato com Débora. Ele sai da sala, e sobe as escadas, deixando Débora e Luciana a sós na sala.

As duas se apartam do abraço e começam a conversar, sentando-se no sofá.

LUCIANA – Amiga, o que foi aquilo? Você enlouqueceu de vez?

DÉBORA – Não pude fazer nada, Luciana. A Maria não quis aceitar meus pedidos de desculpas e ainda me ofendeu. Você acha que eu deixaria aquilo barato?

LUCIANA – Mesmo assim, é muita loucura.

DÉBORA – Definitivamente, a Maria ganhou uma inimiga mortal. Já que ela se recusa a ir embora, então farei da vida dela um verdadeiro inferno. Uma hora, ela pede arrego e vai embora por livre e espontânea vontade, trazendo enfim a paz de volta para essa família.

LUCIANA – Agora, entre nós duas… o que você vai fazer para continuar sustentando essa falsa gravidez depois do casamento? Com certeza, você vai encontrar dificuldades para esconder uma barriga de espuma do Igor, ou—

DÉBORA – O Igor é ingênuo, não vou encontrar muitas dificuldades em esconder isso. Eu posso não ter conseguido engravidar dele, mas eu tenho artifícios e argumentos suficientes para esconder a falsa gravidez. Agora, quanto a você, o que vai fazer para continuar tentando chamar a atenção do Ricardo? Porque não estou percebendo esforços de sua parte… quanto mais você demorar, mais difícil será para separá-los. Eles já estão juntos há um ano, isso é um ponto ao seu desfavor.

LUCIANA – Eu acho o contrário, Débora. Quanto mais tempo eu demorar, mais chances eu tenho de separá-los. A relação do Dimas e do Ricardo é movida pelo prazer carnal, como qualquer outra promiscuidade. Com o passar do tempo, esse prazer vai se esvaindo, e vai ser mais fácil desviar a atenção deles.

DÉBORA – A relação do Dimas e do Ricardo é movida só por prazer, Luciana? Eu não teria tanta certeza. O namoro deles é intenso e duradouro demais para ser movido só por prazer.

LUCIANA – Ai, Débora, me ajuda também, né? E outra, eu estou me esforçando sim. Posso não estar entrando em ação, mas estou preparando o terreno. Já conquistei meus aliados.

DÉBORA – Aliados?

LUCIANA – Eu já percebi que separar o Ricardo do Dimas vai ser uma operação de guerra, por isso eu preciso de aliados. Consegui comprar a ajuda e o silêncio do Guto e do Júlio, eles vão me ajudar a conquistar o Ricardo.

DÉBORA (surpresa) – Do Júlio? Como você conseguiu isso?

LUCIANA – Eu tive meus métodos. Mas enfim, eu ganhei um aliado e tanto para alcançar os meus intentos.

Débora e Luciana riem juntas.

CENA 11: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE GUSTAVO/INT./MANHÃ

Gustavo entra no quarto. O telefone celular, que se encontra em sua mão, é jogado em cima da cama. Porém, antes que faça mais qualquer coisa, ele se vira em direção à porta: é Guto entrando no quarto.

GUSTAVO – Guto? O que você está fazendo aqui?

GUTO – Se importaria em me ouvir um pouquinho?

GUSTAVO – Você já entrou, então não tenho porque não lhe ouvir.

Guto fecha a porta do quarto e se aproxima de Gustavo.

GUSTAVO – Pode falar.

GUTO – Cara, eu tô preocupado com a Luciana. A obsessão dela pelo Ricardo está atingindo níveis estratosféricos.

GUSTAVO – Então não adiantou de nada ela saber que ele namora o Dimas?

GUTO – Na verdade, ela saber disso foi pior. É agora que ela tá decidida a conquistar o Ricardo. Ela praticamente tá me obrigando a ser cúmplice dos planos dela, e pelo que eu entendi ela fez o mesmo com o Júlio.

GUSTAVO (surpreso) – Não acredito… sério isso? E vocês vão aceitar fazer parte dessa sujeira?

GUTO – Claro que sim, ela está nos obrigando a isso. Quer dizer, eu só não faço nada pra impedir porque eu não quero me queimar com a Luciana, mas eu tenho certeza que ela deve ter chantageado o Júlio pra tê-lo como cúmplice.

GUSTAVO – Então, você é conivente com a destruição do namoro do Dimas e do Ricardo?

GUTO – Mas acontece que eu ia me sentir muito mal se eu fizesse algo pra impedir e causasse a infelicidade da Luciana. Eu nunca ia me perdoar.

GUSTAVO – Então, você não sentiria remorso nenhum em causar a infelicidade do Dimas?

Guto se cala diante do questionamento de Gustavo. Ele tenta encontrar argumentos, mas falha.

GUSTAVO – Guto, se alguma coisa acontecer com o Dimas, a culpa vai ser sua.

GUTO – Gustavo, a felicidade da Luciana depende da infelicidade do Dimas.

GUSTAVO – E porque a felicidade da Luciana é mais importante que a do Dimas?

GUTO – Porque seria o melhor pro Ricardo. Ele não seria tão mal visto se tivesse com a Luciana, ao invés do Dimas. Seria melhor pra ele, e seria melhor pra ela.

Gustavo se cala. Os dois ficam se encarando.

CENA 12: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./MANHÃ

Ainda sentadas no sofá, Débora e Luciana estão conversando.

LUCIANA – Mas me diz uma coisa, Débora: você se arrependeu mesmo de ter desejado a morte da mãe da Maria?

DÉBORA – Sim, me arrependi. Pela primeira vez, eu me arrependi de ter dito alguma coisa. Acredite, mas eu me pus no lugar dela depois da nossa briga, eu senti o peso das minhas próprias palavras. E eu sabia que a Maria jamais me perdoaria por causa disso… no lugar dela eu faria a mesma coisa. Mas o que ela me disse naquela festa foi decisivo para selar a nossa inimizade. O meu casamento com o Pedro Igor deixou de ser apenas um sonho, agora ele vai ser os meus sapatos: com ele, eu vou pisar em cima de todos os que me desafiarem e também vou dar um pé na bunda da Maria e do Luís, enviando-os direto para o barraco de onde eles nunca deveriam ter saído.

Igor desce as escadas e aparece na sala de estar, para a surpresa de Débora e Luciana, que imediatamente se levantam do sofá e dirigem o olhar ao rapaz.

DÉBORA – Igor?

IGOR – Eu estava lhe procurando, Débora.

DÉBORA – Me procurando?

Igor se aproxima de Débora e Luciana.

IGOR – Bom… você e a sua avó estão se instalando aqui na mansão e você basicamente já se comporta como se fosse a minha noiva. Por isso, eu acredito que está mais do que na hora de eu fazer isso.

Débora e Igor se entreolham. Igor se ajoelha diante de Débora e tira do seu bolso uma caixa de veludo. Débora e Luciana se entreolham, surpresas com a atitude de Igor, que abre a caixa, revelando um anel de noivado.

IGOR – Débora Matias Andrade Bastos, você aceita se casar comigo?

Emocionada, Débora leva as mãos à boca e tenta controlar as lágrimas. Logo, ela tira as mãos da boca, revelando um farto e verdadeiro sorriso de felicidade.

DÉBORA – Sim! Sim! Mil vezes sim!

Igor sorri para Débora, evitando passar-lhe uma imagem forçada. Ele se levanta e põe a aliança no dedo de Débora. Em seguida, ela abraça Igor e tenta beijá-lo, mas ele a impede: Débora se contenta em apenas abraçar Igor fortemente.

Luciana enxuga suas lágrimas ao ver aquela cena, a concretização da felicidade de Débora. Ao fundo da cena, Maria limpa as amargas lágrimas de tristeza pelo noivado e vai embora.

CENA 13: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE LUÍS/INT./MANHÃ

Maria entra no quarto, arrastando Luís. Uma vez os dois dentro do quarto, Maria larga a mão de Luís e fecha a porta. Luís estranha o desespero de Maria.

LUÍS – Calma, Maria! O que é que tá acontecendo contigo?

MARIA – Luís, a Débora conseguiu.

LUÍS – Maria, tu tá sendo tão clara quanto as chamadas da novela. Me explica direito essa história.

MARIA – Eu perdi o homem da minha vida pra Débora, Luís.

LUÍS – Sim, agora ela será a esposa do Luís e vai fazer nossa vida muito difícil, não vai descansar enquanto não expulsar a gente dessa mansão… Maria, eu não tô te reconhecendo. Cadê aquela mulher que sempre dizia que não tinha medo das ameaças da Débora?

MARIA – Ela tá com medo de morder a língua. E se ela conseguir o que quer?

LUÍS – Ela não vai, Maria. Se você ficar alimentando essa ideia, ela vai sim. A Débora só vai conseguir o que quer se a gente abaixar a cabeça pra ela. E outra, todo mundo sabe que ela odeia a gente. Ela pode inventar qualquer coisa pra manchar a nossa imagem, mas ela não vai conseguir convencer ninguém.

Maria reflete sobre as palavras de Luís e aos poucos volta ao seu estado normal. Ao ver a irmã bem mais calma, Luís sorri para ela.

LUÍS – Deixa de neura, irmãzinha. Usa a cabeça, a Débora não tem chance nenhuma contra a gente. Tu vai ver, Maria, a ajuda que o tio Gabriel tá dando pra gente vai valer muito a pena lá no futuro.

Maria e Luís sorriem um para o outro.

CENA 14: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Avenida Rogaciano Leite.

Imagens da Rua Benjamin Brasil.

Imagens da Rua Cônego de Castro.

CENA 15: CASA DE JÉSSICA/QUARTO DE JÚLIO/INT./MANHÃ

Júlio está deitado na cama, apoiando a nuca nas palmas das mãos, encarando o teto. Ele se lembra da conversa que teve com Luciana na noite passada.

LUCIANA (voz) – Se você quiser, eu posso imitar aqueles macaquinhos japoneses e fingir que não ouvi nada. Mas claro, a minha surdez espontânea tem um preço.

JÚLIO (voz) – Sério mesmo que você vai querer me extorquir? Eu tenho cara de quem ganhou o primeiro prêmio do Totolec?

LUCIANA (voz) – Fique tranquilo, não vou tirar dinheiro nenhum de você. Mas vou querer sua ajuda.

JÚLIO (voz) – E no que eu poderia te ajudar?

LUCIANA (voz) – Você vai me ajudar a salvar o seu primo.

JÚLIO (voz) – Do que é que tu tá falando?

LUCIANA (voz) – Não se faz de burro, Júlio. Você vai me ajudar a separar o Ricardo do Dimas. Você vai me ajudar a conquistar o Ricardo.

JÚLIO (voz) – Tu só pode tar de brincadeira comigo… acha mesmo que eu vou separar o meu primo do Dimas pra ele ficar contigo?

LUCIANA (voz) – Acho sim. Porque, se você não fizer isso, eu faço questão que todo mundo saiba que você é amante de uma mulher casada. Pior ainda, amante da mãe da sua ex-namorada.

Júlio deixa escapar uma lágrima e nada faz para detê-la.

JÚLIO – Eu não vou estragar a felicidade do meu primo por causa daquela louca.

De repente, Júlio se lembra da conversa que tivera com Dimas no primeiro capítulo.

DIMAS (voz) – O que foi isso?

JÚLIO (voz) – Isso o que, Dimas?

DIMAS (voz) – Júlio, o que é que tu tava fazendo dentro desse banheiro com a dona Bárbara?

JÚLIO (voz) – O quê? Tu tá ficando doido, Dimas?

DIMAS (voz) – Júlio…

JÚLIO (voz) – Sei não, viu…

Júlio se levanta, pondo-se sentado em cima da cama.

JÚLIO – Se bem que o Dimas me viu sair do banheiro junto com a Bárbara…

CENA 16: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/COZINHA/INT./MANHÃ

Dimas e Talita estão sozinhos na cozinha, sentados à mesa. Eles começam a conversar.

DIMAS – Talita, você tem tempo para ouvir um desabafo meu?

TALITA – Que engraçado… tava pensando em te perguntar a mesma coisa…

DIMAS – Ah, pode falar então.

TALITA – Não, fale primeiro você. Aqui é por ordem de chegada.

DIMAS (ri) – Tá bom. Enfim, eu tô percebendo umas coisas muito estranhas ali na casa da dona Jéssica.

TALITA – É com o Júlio?

DIMAS – Exatamente. Eu posso achar estranha a relação do meu namorado com o Jonas, mas com certeza a relação do Júlio com a dona Bárbara é mais do que estranha.

TALITA – Parece que nós dois estávamos querendo falar sobre o mesmo assunto. Sabe, Dimas, eu também estou estranhando muito a maneira como a Bárbara e o Júlio se tratam. Um dia desses, eu vi o Júlio entrando na casa dela depois que o Angelo saiu pra trabalhar.

DIMAS – Na semana retrasada, eu vi a dona Bárbara e o Júlio saírem de dentro do mesmo banheiro. Eu tentei questionar o Júlio, mas ele ficou fugindo de mim.

TALITA – Eu não tenho mais dúvidas, Dimas, eu tenho é certeza. A Bárbara e o Júlio são amantes.

Dimas fica surpreso e, principalmente, temeroso com a conclusão de Talita.

DIMAS – Amantes?

TALITA – É lógico! Como eu não suspeitei disso antes? Quando vocês foram para a festa da Maria, eu cheguei a questionar a Bárbara e fiz ela falar sobre o Júlio. Ela ficou tentando sair pela tangente…

DIMAS – Eu tô com medo, Talita.

TALITA – Medo de quê, Dimas?

DIMAS – Eles devem saber que nós sabemos disso. Você não acha que eles podem tentar alguma coisa para nos calar?

TALITA (ri) – Por favor, né, Dimas? O que eles ganhariam com isso? Eles não podem fazer nada contra a gente, mas a gente pode fazer algo contra eles.

DIMAS – Deus me livre e guarde!

TALITA – Não, claro que nós não vamos fazer isso. Também não ganhamos nada com isso…

DIMAS – Mas mesmo assim, eu tô com medo. A minha relação com o os dois nunca mais vai ser a mesma. E eles vão perceber. Eu vou viver com medo do Júlio, não vou mais tratar a dona Bárbara com aquele respeito que eu tinha por ela… meu Deus, coitado do seu Angelo!

Dimas encara Talita, com aflição no olhar. Ela o encara com uma expressão neutra. A cena congela em um efeito preto-e-branco no rosto dos dois.

FIM DO DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO.

34 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 12

  1. E Talita e Dimas finalmente decifraram o enigma: ÂNGELO É CORNO!

    Ai gente, como o Igor é trouxa, pelo amor de Deus.

    Gostei da atitude, Júlio. Mas será que ele vai ter coragem de ferrar a Bárbara para não ferrar o Ricardo?

    Ótimo capítulo, e parabéns :*

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    • E agora, o que vai acontecer?
      A Débora mesmo já falou, né non?
      Ele tá meio dividido, né? Mas vamos ver qual vai ser a prioridade dele: a amante ou o primo.
      E muito obrigada, Esmeralda :*

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