Mundos Opostos – Capítulo 13

CENA 01: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/COZINHA/INT./MANHÃ

DIMAS – Eu tô percebendo umas coisas muito estranhas ali na casa da dona Jéssica.

TALITA – É com o Júlio?

DIMAS – Exatamente. Eu posso achar estranha a relação do meu namorado com o Jonas, mas com certeza a relação do Júlio com a dona Bárbara é mais do que estranha.

TALITA – Parece que nós dois estávamos querendo falar sobre o mesmo assunto. Sabe, Dimas, eu também estou estranhando muito a maneira como a Bárbara e o Júlio se tratam. Um dia desses, eu vi o Júlio entrando na casa dela depois que o Angelo saiu pra trabalhar.

DIMAS – Na semana retrasada, eu vi a dona Bárbara e o Júlio saírem de dentro do mesmo banheiro. Eu tentei questionar o Júlio, mas ele ficou fugindo de mim.

TALITA – Eu não tenho mais dúvidas, Dimas, eu tenho é certeza. A Bárbara e o Júlio são amantes.

Dimas fica surpreso e, principalmente, temeroso com a conclusão de Talita.

DIMAS – Amantes?

TALITA – É lógico! Como eu não suspeitei disso antes? Quando vocês foram para a festa da Maria, eu cheguei a questionar a Bárbara e fiz ela falar sobre o Júlio. Ela ficou tentando sair pela tangente…

DIMAS – Eu tô com medo, Talita.

TALITA – Medo de quê, Dimas?

DIMAS – Eles devem saber que nós sabemos disso. Você não acha que eles podem tentar alguma coisa para nos calar?

TALITA (ri) – Por favor, né, Dimas? O que eles ganhariam com isso? Eles não podem fazer nada contra a gente, mas a gente pode fazer algo contra eles.

DIMAS – Deus me livre e guarde!

TALITA – Não, claro que nós não vamos fazer isso. Também não ganhamos nada com isso…

DIMAS – Mas mesmo assim, eu tô com medo. A minha relação com o os dois nunca mais vai ser a mesma. E eles vão perceber. Eu vou viver com medo do Júlio, não vou mais tratar a dona Bárbara com aquele respeito que eu tinha por ela… meu Deus, coitado do seu Angelo!

Dimas encara Talita, com aflição no olhar. Ela o encara com uma expressão neutra.

CENA 02: CASA DE JÉSSICA/SALA/INT./MANHÃ

Jair e Ricardo estão em pé, um de frente para o outro, em silêncio. Um espera o outro quebrar o silêncio.

JAIR – Eu disse que a gente não tinha nada pra conversar.

RICARDO – Não é pela gente, é por quem está ao redor da gente. A tia Jéssica não deve tar se sentindo bem com isso, muito menos o Dimas.

JAIR – Não acredito que você está preocupado com o que os outros acham da gente.

RICARDO – O que eu quero é que a gente tenha uma convivência pacífica e respeitosa. E não dá pra ter isso quando o senhor fica me atacando.

JAIR – Ricardo, eu não tô te atacando. Eu só tô falando o que eu acho, que tua relação com o Dimas é intensa demais. Não tem como não comentar.

RICARDO – A minha relação com o Dimas é tão intensa quanto a do Jonas com a Carolina, quanto a do senhor com a tia Jéssica. Quer dizer, a nossa é menos intensa.

JAIR – A maioria discorda.

RICARDO – Que todo mundo discorde, mas eu não discordo, nem o Dimas. E isso é o que importa.

JAIR – Então, você só sai daqui se eu concordar com você que a sua relação com o Dimas não é exagerada?

RICARDO – Não vou sair daqui com as mãos apagando.

JAIR – Com as mãos abanando.

RICARDO – Tanto faz. E sim, eu quero que o senhor entenda isso.

JAIR – Nós dois estamos perdendo tempo conversando. Ricardo, nós nunca discutimos, nunca ficamos de mal. O que aconteceu foi só uma pequena divergência de opiniões, coisa normal que acontece entre pai e filho… no caso, tio e sobrinho. Você não precisava vir até aqui pedir desculpas, ou então o contrário.

RICARDO – Mas foi bom vir. Pude confirmar que tudo não passou de um mal estendido.

JAIR – Mal entendido.

RICARDO – Isso, mal entendido. Mas enfim, foi bom ter vindo aqui conversar com o senhor. A gente realmente não precisava pedir desculpas, mas sim entender o que tinha acontecido.

TRILHA SONORA: The Lazy Song – Bruno Mars

JAIR – Sabe, Ricardo, a cada dia que passa eu entendo o Júlio cada vez mais. Acontece cada coisa que me faz me colocar no lugar do Júlio… tipo o que acabou de acontecer entre nós dois. Eu falei tanta coisa pro Júlio nesse tom… se eu tivesse sido repreendido por alguém, eu teria parado na hora, tinha poupado o Júlio de virar esse bruto que eu sou. Ele fazia muito bem em me enfrentar, usar o mesmo tom que eu quando a gente discutia… ele queria mostrar pra mim o quanto ridículo eu tava sendo, mas eu não via. O meu filho tava querendo me ajudar, mas eu achava que ele tava faltando com respeito comigo.

Ricardo pensa em responder Jair, mas não encontra palavras.

JAIR – É exatamente assim que eu fico quando penso essas coisas, Ricardo. Sem saber o que dizer. Eu tô fazendo o que eu posso pra tratar o Júlio diferente. Quando o Júlio era pequeno, eu tratava ele como se ele já fosse gente grande. E agora que ele é gente grande, eu tô compensando e tratando ele como se ele ainda fosse pequeno.

RICARDO – São coisas que quem tá de fora não percebe. Iam dizer que o Júlio é desse jeito porque o senhor tá mimando ele… só que o que tá acontecendo é que o senhor tá tentando reparar o estrago que o senhor fez, tá tentando compensar o “mimo ao contrário”, digamos assim. Do mesmo jeito, como o senhor tá olhando de fora o meu namoro com o Dimas, o senhor diz que a gente é intenso demais… mas compara com qualquer outro casal que o senhor vê que a gente não é intenso não.

JAIR – Tô entendendo, Ricardo.

Jair e Ricardo sorriem um para o outro e trocam um aperto de mão. Porém, antes de soltar, Ricardo puxa a mão de Jair, fazendo-o aproximar-se dele.

RICARDO – Pode abraçar, tio. Eu sou gay, mas eu sou comprometido.

E os dois se abraçam.

CENA 03: FORTALEZA/EXT./TARDE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Imagens da Avenida Washington Soares.

Imagens da Avenida Beira-Mar.

Imagens do Estádio Arena Castelão.

CENA 04: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./TARDE

Mesma trilha sonora da cena anterior. A porta de entrada da mansão se abre. Cassandra entra na sala de estar e observa cada detalhe do cômodo, contagiada por uma pequena nostalgia, uma nostalgia de algo que só lhe foi palpável durante as breves visitas que fizera à sobrinha nos primeiros meses de casamento dela com Gabriel.

O momento é interrompido pela entrada de Fátima, que carrega quatro grandes malas de cores fortes, claramente de propriedade de Cassandra. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

FÁTIMA – A senhora levou a sério mesmo a recomendação da sua neta em fazer todas as malas e se mudar para cá, né, dona Cassandra?

CASSANDRA – Cala a boca, Fátima, e leve minhas malas para os meus novos aposentos. Você é apenas uma serviçal, só deve receber ordens e acatá-las, sem objeções nem perguntas.

Cassandra se vira de frente para Fátima e se surpreende ao vê-la com as quatro malas, que a governanta põe no chão.

CASSANDRA – O que é isso? Por que pôs essas malas no chão? E onde estão as outras malas?

FÁTIMA – A senhora não queria que eu trouxesse tudo debaixo dos meus ombros, né, dona Cassandra?

CASSANDRA – Onde está o restante das malas, Fátima?

FÁTIMA – Os outros empregados estão descarregando as malas, dona Cassandra. Agora com licença que eu vou pôr suas malas em seus aposentos, como a senhora diz.

Cassandra apenas encara Fátima, que pega novamente as malas se dirige às escadas com certa dificuldade. De repente, um empregado figurante entra em cena e se oferece para carregar as bagagens para Fátima. E ela permite, entregando-lhe os pesos. O figurante manuseia as malas com menos dificuldade, e sobe as escadas.

Cassandra e Fátima observam mais quatro empregados entrarem em cena com malas em mãos e subindo as escadas, em direção ao quarto de Cassandra.

FÁTIMA – O que a senhora vai fazer com a antiga residência?

CASSANDRA – O que mais? Vender. Queria que eu fizesse o que, demolisse?

FÁTIMA (resmungando) – Com a senhora lá dentro, até que não seria uma má ideia…

CASSANDRA – O que você disse, Fátima?

FÁTIMA (assustada) – Hã? O quê? Eu? Ahm, eu… nada não, dona Cassandra, eu não disse nada. Ehm… ahm… com licença…

Atarantada, Fátima sai correndo da sala, deixando Cassandra ali sozinha. Ela não resiste e começa a rir da governanta.

CENA 05: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/EXT./TARDE

Luís e Maria andam pelo jardim, observando o lugar. O sorriso no rosto de ambos é desfeito quando eles trombam com Débora, e a inversa é verdadeira.

MARIA (desanimada) – Oi, Débora.

DÉBORA (sarcástica) – Oi, Maria. Oi, Luís. Tudo bem com vocês?

LUÍS (irado) – Tava tudo bem até tu aparecer na nossa frente.

DÉBORA (ri) – Obrigada pela parte que me toca, Luís, seu fofinho…

Débora acaricia o rosto de Luís, que imediatamente segura sua mão e a empurra. Débora ri da reação do rapaz, que fica ainda mais irado.

LUÍS – Vagabunda! Ordinária!

DÉBORA – Também te amo, Luís. Mas o homem da minha vida é o Pedro Igor, sabe? Tanto que ele me pediu em casamento.

Débora levanta a sua mão direita, destacando o anel de noivado no dedo anelar. Maria se ira com a atitude de Débora e bate no braço dela, forçando-o a cair e sair do campo de visão deles.

DÉBORA – Estou esperando vocês me desejarem felicidades e todos aqueles votos sinceros para uma pessoa que está prestes a se casar.

MARIA – Quero mais é que você se ferre.

DÉBORA – Sim, eu e o Pedro Igor seremos sim muito felizes. Eu o farei o homem mais feliz do mundo, mais do que qualquer pessoa.

Maria levanta a mão para bater em Débora, mas Luís imediatamente detém a irmã, impedindo-a de cumprir a sua ação. Enquanto Luís tenta controlar Maria, Débora os encara e não segura o riso.

DÉBORA – Você é ridícula.

Débora vai embora. Porém, Maria consegue se soltar de Luís e corre até Débora e a impede de entrar na mansão: ela segura a rival pelos cabelos, vira-a de frente para si e lhe desfere uma forte bofetada no rosto. Luciana flagra a cena e corre para amparar Débora, antes que ela caia no chão após a desorientação causada pelo golpe de Maria.

MARIA – O Pedro Igor não merece uma mulher como tu.

DÉBORA – E quem ele merece? Você? Não… eu posso ter os defeitos que forem, mas com certeza eu não sou uma selvagem que agride os outros depois de ouvir umas boas verdades na cara. Eu não sou uma marginal que se aproveita da bondade alheia para roubar os outros por debaixo dos panos. Ao contrário de você, eu tenho classe, eu tenho berço, eu tenho educação e esse anel de noivado, o símbolo do meu futuro casamento com o Pedro Igor, o homem que me ama verdadeiramente.

Maria é logo segurada por Luís, que a afasta de Débora e Luciana.

LUÍS – Chega, Maria. Não vale a pena discutir com a Débora.

Débora ri deles. Quando eles estão afastados o suficiente, Débora se solta de Luciana e passa a mão na face agredida, com ódio no olhar. Ela tenta se controlar para não chorar de raiva.

DÉBORA – Eu odeio esses marginaizinhos de merda!

LUCIANA – Não faça nada do que você vai se arrepender depois, Débora!

DÉBORA – Fique tranquila, Luciana. Eu nunca vou me arrepender do que eu vou fazer. Esses encostos vão embora dessa mansão hoje mesmo!

LUCIANA – O que você vai fazer, amiga?

Débora retira o anel de noivado do seu dedo e o ergue diante de Luciana, que se surpreende com a atitude.

DÉBORA – Vocês dois serão meus cúmplices. Melhor dizendo, são meus cúmplices. Vocês me ajudaram a forjar a cena do crime e, agora, vão me ajudar a forjar o crime em si.

LUCIANA – Nós dois?

DÉBORA – Sim, Luciana. Você e esse anel de noivado.

LUCIANA – Você está me assustando, Débora…

DÉBORA – Nós vamos forjar o crime de roubo. Melhor dizendo, furto. Esse anel vai se passar pelo objeto furtado. Eu serei a vítima do crime e você será a testemunha.

LUCIANA – Mas por que a Maria lhe furtaria esse anel?

DÉBORA – Luciana, usa a cabeça. Esse anel simboliza o meu futuro casamento com o Pedro Igor. Na cabeça daquela marginal, isso significa que eu só vou me casar com ele se eu tiver esse anel. Se eu não tiver o anel, eu não me caso. Mas se ela tiver o anel, quem se casa com o Pedro Igor é ela.

LUCIANA – Meu Deus, Débora! Que lampejo foi esse?

Débora e Luciana sorriem uma para a outra.

DÉBORA – Todas as etapas do crime já foram consumadas. Agora só falta o esconderijo do objeto furtado.

LUCIANA – O quarto da criminosa.

Débora sorri para Luciana.

DÉBORA – Exatamente.

Débora e Luciana se encaram e trocam um sorriso malicioso.

CENA 06: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE MARIA/INT./TARDE

Débora e Luciana entram no quarto. Assim que Luciana fecha a porta, Débora abre todas as gavetas da cômoda, procurando um lugar para esconder o anel. Ela se irrita ao ver Luciana apenas a observando.

DÉBORA – Anda, Luciana, me ajuda a esconder esse anel.

LUCIANA – Sério mesmo que você vai esconder esse anel no meio das roupas da ladra?

DÉBORA – Ai Luciana, para de falar e me ajuda!

LUCIANA – Deixa de ser burra, Débora, você vai é perder esse anel.

DÉBORA (irada) – Então pega essa porcaria de anel e esconde você.

Débora atira o anel contra Luciana. Surpreendida, Luciana tenta se proteger, mas o anel bate na parede. Ainda mais enfurecida, Débora pensa em dar socos na cômoda, mas desiste da ideia, engolindo sua frustração a seco. Luciana tenta procurar o anel, e o encontra.

DÉBORA – Me diga, ó fonte da inteligência humana, onde esconder esse anel…

Luciana, sorrindo sarcasticamente para Débora, aproxima-se do criado-mudo, abre a gaveta e guarda ali o anel. Débora se irrita com as expressões de Luciana, mas nada faz.

DÉBORA (frustrada) – Parabéns, Luciana.

LUCIANA – Duas cabeças pensam melhor do que uma.

DÉBORA – Eu devia ter pensado nisso.

LUCIANA – O crime já foi consumado. Agora vamos voltar para as nossas vidas normais. Para todos os efeitos, você perdeu o anel e vai procurá-lo em todos os lugares, exceto nos quartos. Em seguida, vamos confrontar a criminosa e acusá-la de furto.

Débora e Luciana se encaram. Luciana sorri para a amiga, que não repete o gesto, apenas balança a cabeça, em sinal de concordância com o pensamento da moça.

CENA 07: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE LUÍS/INT./TARDE

Helena e Maria estão sentadas na cama, uma de frente para a outra. Luís está sentado do outro lado da cama. Os três estão conversando.

MARIA – Tu acha, Helena? Essa Débora mal trocou aliança com o Pedro Igor direito e já se acha a dona do mundo.

LUÍS – E para completar, ela já lhe disse que não vai descansar enquanto não nos expulsar daqui… (ri) Como se a gente tivesse medo dela. A Débora vai morrer tentando, mas não vai conseguir tirar a gente daqui.

HELENA – Gostei. Parabéns pela atitude.

Helena sorri para Luís e Maria, que repetem o gesto.

HELENA – Olha, Maria, me desculpe a sinceridade, mas eu acho que você perdeu sim o Pedro Igor para a Débora…

MARIA – Disso eu já tenho certeza.

LUÍS – A única certeza da vida é a morte. Ainda há esperanças.

HELENA – Discordo. O Igor já pediu a Débora em casamento, e em questão de meses eles já vão subir o altar. Quer dizer, dependendo dos esforços da Cassandra, em questão de semanas. E uma vez esposa do Pedro Igor, a Débora vai utilizar todos os métodos possíveis e imagináveis para lhes expulsar daqui, mesmo que para isso tenha que tirar planos do éter.

MARIA – Do éter?

HELENA – É modo de dizer. Mas enfim, eu acho que essa guerra contra a Débora vocês vão perder, a não ser que haja uma virada espetacular. De qualquer modo, quem perder a guerra vai ter que sair dessa mansão e não voltar nunca mais.

MARIA – Como a Débora disse, essa mansão é muito pequena pra nós três. Ou nós saímos, ou ela sai.

HELENA – Enquanto isso, eu entro na luta e já sei que eu vou perder antes mesmo de fazer qualquer coisa.

LUÍS – Como assim, Helena, do que é que tu tá falando?

HELENA – Eu estou apaixonada pelo Jonas.

Luís e Maria se entreolham, surpresos com a confissão de Helena.

MARIA – O quê?

HELENA – Exatamente, Maria. Eu estou apaixonada por um homem casado, praticamente.

LUÍS – Você não vai fazer nenhuma loucura não, né?

HELENA – Claro que não. Eu não vou fazer nada pra separar o Jonas da Carolina para ele ficar comigo, isso nunca. Eu sei que eles se amam, são muito felizes juntos, têm até filho, mas mesmo assim… eu estou completamente apaixonada pelo Jonas, e eu acho que a Carolina já percebeu.

MARIA – Eu não sei nem o que dizer…

LUÍS – Nem eu…

HELENA – Olha, eu vou falar uma coisa pra vocês, mas que fique só entre nós, tá?

MARIA – Ai meu Deus, o que é?

HELENA – Eu estou falando sério, ninguém pode saber que eu falei isso. Eu devia guardar isso só pra mim, mas como eu estou contando pra você, eu quero que isso fique só entre nós.

LUÍS – Tá, conta… a gente já tá ficando preocupado.

HELENA – Vocês sabem que eu e o Jonas trocamos WhatsApp no dia em que vocês foram apresentados à Corrente, não é? Pois bem, desde aquele dia, nós mantemos contatos regulares por lá, e em uma dessas conversas, ele me contou histórias no mínimo estranhas.

MARIA – Estranhas?

HELENA – Ele me contou assim por cima a história dele com a Carolina. Parece que a Carolina começou a namorar o irmão dele, o Júlio, e depois ela se envolveu com ele e com o Ricardo. O negócio foi tão intenso que ela engravidou e não sabia quem era o pai.

Luís e Maria ficam chocados com a história que Helena lhes conta.

MARIA – E aí, o que aconteceu?

HELENA – No final, descobriu-se que o filho era do Jonas, ele se casou com ela e todos viveram felizes para sempre.

LUÍS – Então quer dizer que o Jonas está casado com a Carolina por causa do filho? Meu Deus, a Alice e a dona Cassandra querem fazer com o Igor o mesmo que fizeram com o Jonas.

HELENA – Não, mas ele me disse que ama a Carolina mais do que tudo.

LUÍS – Se o filho não fosse dele, ele não estaria casado com ela, né? E outra, foi algo bem precipitado porque, como você mesma disse, eles se conhecem há uns dois anos e noivaram no ano passado, depois que a criança nasceu.

HELENA (pensando) – Um casal que se une desse jeito é mais propenso a recaídas. As ideias ainda não foram amadurecidas e tal, é mais provável que os cônjuges traiam. Mas não… apesar de terem se juntado muito cedo, a Carolina e o Jonas parecem ser muito felizes juntos e eu não quero estragar a felicidade deles. Eu jamais me perdoaria se isso acontecesse. Mas tem essa história que eu te contei, ela aumenta exponencialmente as chances de haver traições, principalmente por parte da Carolina. Às vezes parece algo inevitável e outras vezes parece algo improvável.

LUÍS – Tu tá numa situação muito complicada, Helena. Eu não sei nem o que te dizer.

MARIA – Nem eu… gente, que loucura…

Luís e Maria se entreolham. Helena desvia o olhar, preocupada.

CENA 08: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./TARDE

Alice e Cassandra estão sentadas no sofá, uma de frente para a outra, conversando.

CASSANDRA – Eu não estou lhe entendendo, Alice. O que aconteceu para que você inventasse obstáculos para o casamento do seu filho com a sua sobrinha? Que bicho é esse que mordeu a você e ao seu marido?

ALICE – Já lhe expliquei, tia, chama-se preocupação com a felicidade do nosso filho. Nenhum de nós vê como o noivo pode se beneficiar com a união matrimonial. Justo ele, que deveria ser o principal beneficiário.

CASSANDRA – Não vejo como essa união pode não ser benéfica ao Pedro Igor. A oposição do Gabriel é até entendível, afinal ele nutre essa implicância gratuita com a Débora. Sim, era uma oposição incômoda, mas ele compunha a minoria. Mas agora, a sua mudança repentina de partido está dificultando as coisas. Por que você se deixou contaminar pela implicância do Gabriel?

ALICE – Tia, não é implicância. Mas se a senhora prefere utilizar este termo, então não é uma implicância gratuita. Ela faz por merecê-la.

CASSANDRA – Claro que é implicância gratuita. A Débora nunca lhes fez nada. Ao contrário desses seus protegidos, que agem como se fossem parte da família. Não me estranharia se eles estivessem lhes roubando por debaixo dos seus olhos.

ALICE – Vou fingir que eu não escutei isso, tia. Mas de certa forma, eles são parte da família sim. Eles têm sim o direito de acessar qualquer área da mansão tanto quanto todos nós. Nós vamos patrocinar a conclusão da escolarização e formação acadêmica dos dois, inseri-los no mercado de trabalho, cumprindo os desejos de meu marido. Se lhes apetece continuar morando aqui, então eu mesma me encarregarei de adaptá-los a nossa realidade, ensinando-os a se comportar como membros de uma família abastada como a nossa. Eles ficarão irreconhecíveis, tia, a senhora vai ver.

CASSANDRA – A troco de que você está fazendo isso, minha sobrinha? Se vocês estão querendo polir esses favelados, algum motivo tem. E não me diga que é por caridade ou algo do tipo. A mim vocês não convencem com essa conversa fiada. Responda com sinceridade, minha sobrinha: eles são filhos bastardos seus ou do seu marido?

Indignada, Alice se levanta do sofá, encarando Cassandra com raiva.

ALICE (exaltada) – Minha tia, o que é isso? De onde a senhora tirou essa ideia? Eles não são filhos bastardos coisa nenhuma, eles são filhos de uma amiga de meu marido e nós estamos simplesmente salvando-os de ter a mesma vida miserável e cheia de necessidades da mãe, que Deus a tenha.

CASSANDRA (debochada) – Que interessante lhe ver falando para Deus tê-la em um bom lugar imediatamente após depreciá-la desse jeito.

ALICE – Eu não a depreciei, tia, eu apenas ressaltei que ela passava necessidades. Mas Deus enfim teve misericórdia dela e a levou. Agora ela não passa mais necessidade.

CASSANDRA – Eles podem até ser filhos de uma amiga do Gabriel, como você disse, mas isso não é motivo para trazê-los para cá. Deixassem-nos ter a mesma vida miserável e cheia de necessidades da mãe, pelo menos eles não estariam virando as nossas vidas do avesso. Se eles não se fizessem aqui presentes, eu tenho certeza que não haveria essas oposições descabidas e ridículas à união da Débora e do Pedro Igor por parte sua e de seu marido.

ALICE – Independente de quem estivesse aqui, se o Pedro Igor se mostrasse relutante à união e nos apresentasse motivos convincentes para tal, eu e meu marido continuaríamos fazendo oposição. Minha tia, entenda que o Luís e a Maria não estão interferindo de forma alguma nas negociações. Eles sequer estão sendo comunicados a respeito deste casamento, mas eles obviamente sabem que ele ocorrerá em breve, afinal se trata de um evento cuja existência é de conhecimento geral.

CASSANDRA – De fato, um evento de conhecimento geral e aguardadíssimo. Se duvidar, vai virar pauta de cobertura no SuperPop da RedeTV!

ALICE (envergonhada) – RedeTV!, que decadência… seria mais digno se fosse na TV Diário.

CASSANDRA – Alice, o casamento da Débora e do Igor tem de tudo para ser o casamento do ano. Você quer mesmo estragar a felicidade da sua sobrinha por causa de uma picuinha?

ALICE – Exatamente porque é a felicidade da minha sobrinha. SÓ da minha sobrinha. Esse casamento não vai trazer felicidade para o meu filho, tia, eu já lhe falei. Nada disso vai valer a pena se não houver amor dos dois lados.

CASSANDRA – Vocês têm muito a perder se opondo a este matrimônio. Mas mesmo com a oposição de vocês, ele vai acontecer.

Cassandra se levanta do sofá e sobe as escadas, deixando Alice sozinha na sala.

CENA 09: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA DE JANTAR/INT./TARDE

Gabriel, Gustavo, Guto, Helena, Igor, Luís e Maria estão sentados à mesa fazendo um lanche. O momento é descontraído e volta e meia os jovens trocam conversas e piadas, mas é interrompido pela chamativa entrada de Débora e Luciana em cena. Ambas se concentram em Maria, que é puxada da cadeira por Débora.

DÉBORA – Sua ladra maldita! O que foi que você fez com o meu anel de noivado?

Todos se levantam da mesa, encarando aquela cena com surpresa. Maria, por sua vez, tenta se soltar de Débora, sem sucesso.

MARIA – Me solta, Débora, me deixa em paz!

DÉBORA – Sua máscara caiu, Maria. Você é uma safada, uma vigarista! Você e o seu irmão estão nos roubando por debaixo dos nossos olhos!

MARIA – Eu não roubei nada.

DÉBORA – Mentira! Você roubou meu anel de noivado sim, não adianta negar!

MARIA – Eu não roubei o teu anel, Débora. Tu deve é ter perdido, ter deixado cair em algum lugar, mas eu não peguei o teu anel.

DÉBORA – Pegou sim. Nós duas vimos.

LUCIANA – É verdade, ela pegou. E se duvidam, por que não vamos até o quarto dela?

Maria consegue se soltar de Débora.

MARIA – Ótimo, se é assim que vocês querem, então vamos. Eu vou mostrar que a Débora está enganada. Eu não roubei nada seu.

DÉBORA – Pois muito que bem. Olha, tio Gabriel, se o meu anel estiver dentro daquele quarto, estará mais do que provado que o senhor abrigou dois sanguessugas vigaristas dentro dessa casa. E caso o senhor não seja conluiado com estes ladrões, vai ter que expulsá-los desta casa no mesmo segundo.

LUÍS – Pois muito que bem, então vamos lá pro quarto da Maria ver se ela roubou ou não o anel da Débora.

Logo, todos se retiram de cena quase que ao mesmo tempo, deixando a sala de jantar vazia. Poucos segundos depois, uma cozinheira entra na cozinha com uma travessa em mãos e se assusta ao encontrar o cômodo deserto.

COZINHEIRA – Gente…

Sem saber o que fazer, a empregada dá meia-volta e retorna à cozinha.

CENA 10: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida Borges de Melo.

Imagens da Avenida General Osório de Paiva.

Imagens da Praia do Cumbuco, em Caucaia.

CENA 11: CASA DE LARISSA/COZINHA/INT./TARDE

TRILHA SONORA: Esquiva da Esgrima – Criolo

Jonas e Ricardo estão sentados à mesa, um de frente para o outro. Ambos põem o cotovelo apoiado na mesa, deixando o braço erguido e em posição para uma queda de braço. Ao fundo, Carolina, Dimas, Jair, Júlio, Larissa, Maurício e Vinícius dividem-se na torcida.

Venâncio alinha os braços dos primos, que imediatamente seguram as mãos erguidas. Assim que elas se unem, Venâncio as segura com as suas duas mãos.

VENÂNCIO – Prontos?

JONAS – Sim.

RICARDO – Nasci pronta, meu amor.

Jonas e Venâncio se controlam para não rir.

VENÂNCIO – Não vale golpe baixo, tá bom? É pra fazer uma luta justa.

JONAS – Quem perder leva chinelada nas costas.

RICARDO – Tuas costas vão ficar lindas com a marca da minha chinela, meu priminho…

JONAS – Eu sou mais forte do que tu.

RICARDO – Fala isso para esse braço de Hércules.

Ricardo usa a mão livre para bater no seu bíceps.

JONAS – Grande braço de Hércules, deitou pro braço do tio Maurício…

RICARDO – Convenhamos que o tio Maurício tem muito mais força no braço do que eu.

MAURÍCIO (rindo) – Quê isso, Ricardo? Vai chorar agora, é?

RICARDO – Vamo ver quem é que vai chorar. Vai, Venâncio.

VENÂNCIO – E foi!

Venâncio solta as mãos deles. Imediatamente, Jonas e Ricardo dirigem todas as suas forças em seus braços erguidos, em uma tentativa de enfraquecer o braço alheio e fazê-lo bater a mesa. A união de braços treme, pende para todos os lados, mas basicamente não sai do lugar.

CAROLINA – Quem será que vai ganhar?

MAURÍCIO – Eu acho que vai ser o Jonas.

JAIR – Claro que o meu filho vai ganhar.

VINÍCIUS – Quem vai ser o próximo?

LARISSA – Tu, né, Vinícius?

VINÍCIUS (surpreso) – Eu?

Eles riem de Vinícius, que fica preocupado. Os competidores empenham a sua força máxima nos braços, mas o resultado da luta não modifica muito. As expressões de esforço deles assusta Carolina.

CAROLINA – Ai gente, coitados. Tô vendo a hora de um deles sair com o braço quebrado.

JAIR – Ah, Carolina, para com isso. Ninguém vai sair com o braço quebrado.

Os braços começam a pender para a esquerda, preocupando Jonas. O rapaz tenta empurrar o braço de Ricardo para a direita, mas começa a perder força. A reviravolta surpreende Jair, enquanto Dimas o encara com um sorriso no rosto.

DIMAS – Quem é que ia ganhar mesmo, seu Jair?

JAIR – Cala a boca, Dimas.

O braço de Jonas é derrubado e toca a mesa. Ricardo ganhou a queda de braço. Ofegantes, os dois sorriem um para o outro. Dimas, Larissa e Venâncio comemoram a vitória de Ricardo.

RICARDO – Tu foi bem, hein? Parabéns.

JONAS – Eu não tava mais aguentando botar força.

RICARDO – Nem eu.

JONAS – Vai, Vinícius. É tua vez, vem…

Jonas se levanta e cede seu lugar para Vinícius. Porém, antes de se afastar, Jonas recebe um tapa na bunda de Ricardo. Ele reclama de dor, enquanto Ricardo ri dele.

JONAS – Vai ter volta, viu?

RICARDO – Ai, eu vou adorar.

JONAS – Sério, cara, doeu.

Ricardo continua rindo de Jonas, que enfim se afasta. Vinícius se senta de frente para Ricardo.

VINÍCIUS – Não adianta, eu vou perder.

RICARDO – Vai nada, eu já tô cansado. Anda.

Ricardo e Vinícius unem as mãos. Venâncio põe suas mãos em cima das deles.

VENÂNCIO – Prontos?

RICARDO e VINÍCIUS – Sim.

VINÍCIUS – Não duro nem três segundos.

RICARDO – Para com isso, Vinícius. Tu vai ganhar…

VINÍCIUS – Vai, pingo.

VENÂNCIO – Pingo é a barata nas tuas calças. E foi!

Venâncio solta e começa a queda de braço. Ricardo, ainda rindo de Venâncio, encontra dificuldades para manter vantagem, e logo seu braço toca a mesa. Vinícius ganha e pula da cadeira, comemorando.

Maurício e Vinícius se abraçam, enquanto Venâncio se aproxima de Ricardo, de cabeça baixa, tentando controlar o riso.

RICARDO (rindo) – Eu disse que ele ia ganhar. Valeu, Venâncio.

VENÂNCIO – Mas eu não fiz nada. Só porque ele me chamou de pingo e eu não gostei?

RICARDO – Vocês dois ainda me matam de rir.

Dimas se afasta um pouco do grupo.

CENA 12: CASA DE LARISSA/SALA/INT./TARDE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Dimas se afastou do grupo e foi para a sala. Ele olha para o nada, recordando-se do que ele passou durante esses últimos dias. Ecoa em sua mente a conversa que ele teve com Talita. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

TALITA (voz) – Sabe, Dimas, eu também estou estranhando muito a maneira como a Bárbara e o Júlio se tratam. Eu não tenho mais dúvidas, Dimas, eu tenho é certeza. A Bárbara e o Júlio são amantes.

DIMAS (voz) – Amantes?

TALITA (voz) – É lógico! Como eu não suspeitei disso antes?

DIMAS (voz) – Eu tô com medo, Talita.

TALITA (voz) – Medo de quê, Dimas?

DIMAS (voz) – Eles devem saber que nós sabemos disso. Você não acha que eles podem tentar alguma coisa para nos calar?

TALITA (voz) – O que eles ganhariam com isso?

DIMAS (voz) – Mas mesmo assim, eu tô com medo. A minha relação com o os dois nunca mais vai ser a mesma. E eles vão perceber.

Júlio vinha se aproximando de Dimas aos poucos, estranhando aquilo. Ao chegar bem próximo dele, Júlio lhe surpreende com um abraço por trás. Dimas se assusta com o que acontece e imediatamente se solta de Júlio. Ele se vira de frente, encarando Júlio.

DIMAS (assustado) – Quer me matar do coração, Júlio?

JÚLIO (rindo) – O que foi, Dimas? O que é que tá acontecendo contigo?

DIMAS – Me deu um susto…

JÚLIO – Desculpa, tá?

DIMAS – Tá, tá… desculpado…

JÚLIO – Mas sério, o que aconteceu? Por que é que tu tá assim?

Dimas pensa em uma resposta para despistar Júlio e não demora muito para conseguir uma.

DIMAS – Tava pensando naquela história toda envolvendo a Luciana, sabe… depois que a gente meio que brigou com ela naquele encontro da Corrente, eu e o Ricardo fomos até a casa dela, conversamos com ela e tal. A gente tá de bem agora, mas mesmo assim eu continuo pensando naquela cena dela se agarrando com o Ricardo e tal.

JÚLIO – Ciúmes?

DIMAS – Sim. Quando eu vi aquela cena, eu fiquei com tanta raiva… cheguei a pensar que o Ricardo tava era me traindo com ela. É aquele ditado, né? Relacionamentos amorosos são feitos para duas pessoas, mas pena que tem gente que não sabe contar…

JÚLIO – Hm, entendo…

DIMAS – Mas não se preocupa não, viu? É só besteira minha.

Júlio sorri para Dimas e retorna à cozinha. Assim que Júlio lhe vira as costas, Dimas respira fundo, controlando seu nervosismo.

DIMAS – Ai meu Deus, será que o Júlio desconfiou?

Dimas se vira de costas, tenso.

CENA 13: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE MARIA/INT./TARDE

Débora abre as gavetas da cômoda e as desarruma, à procura do seu anel. Maria está sentada na cama, indignada com o que Débora está fazendo. Fingindo fúria, Débora chega a jogar algumas peças contra Maria, que imediatamente as joga no chão. Em pé, Alice, Cassandra, Fátima, Gabriel, Igor, Luciana e Luís observam a cena, apreensivos.

CASSANDRA – Débora, minha neta, você não acha que está exagerando?

DÉBORA – Não, vó, eu não acho que eu estou exagerando coisa nenhuma. Eu vou provar que vocês estão abrigando uma vigarista aqui dentro.

GABRIEL – Você está exagerando sim. A Maria não roubou nada seu, ela não tem por que fazer isso.

Débora abandona a cômoda e vai até Gabriel, enfrentando-o.

DÉBORA – Claro que o senhor vai defender essa baixa, claro! Se ela não tivesse feito isso, eu e a Luciana não teríamos a acusado e não estaríamos revirando esse quarto à procura desse anel!

LUCIANA – Eu sou testemunha do roubo, seu Gabriel. Foi no jardim. Eu flagrei a Maria e o Luís brigando com a Débora. Ela deve ter aproveitado a bagunça e ter tirado o anel do dedo da Maria sem que ela percebesse. Mas eu vi o anel na mão dela quando o Luís teve a atitude sensata de ir embora com essa barraqueira.

Maria se levanta da cama e vai até Luciana, segurando-a pelos cabelos e sacudindo-a.

MARIA – Cala a sua boca, sua maldita! Eu não peguei nada da Débora!

LUCIANA – Me solta!

Luciana empurra Maria. As duas se encaram com ódio no olhar.

LUCIANA – Roubou sim. Diga logo onde você escondeu esse anel.

LUÍS – Vocês podem virar esse quarto à vontade, vocês não vão achar anel nenhum aqui dentro!

Luciana vai até Luís e o segura pela gola da camisa.

LUCIANA – Se o anel não estiver aqui, nós vamos revirar o seu quarto. Como você é o irmão dessa criminosa, você deve ser cúmplice do crime e deve ter escondido o anel no seu quarto para tentar nos despistar.

Luís empurra Luciana. Ela sorri sarcasticamente para ele e para Maria, enfurecendo-os.

LUCIANA – Se ela não tiver escondido na cômoda, deve ter escondido nesse criado-mudo.

MARIA – Tá esperando o quê, então? Pode abrir. Quem não deve não teme.

Luciana ri para Maria e abre a gaveta. Ela retira lá de dentro o anel de noivado de Débora, assustando a todos.

LUCIANA – Seria este o seu anel de noivado, Débora?

Débora vai até Luciana e pega o anel, devolvendo-o ao seu dedo anelar direito. Em seguida, ela encara Maria, que ainda está boquiaberta com o que aconteceu.

DÉBORA – E agora? Vai ter a pachorra de negar que me roubou esse anel diante das evidências?

MARIA – Eu juro que não sei como esse anel foi parar aí. Débora, eu—

DÉBORA – Cínica!

Débora acerta uma bofetada em Maria, que é prontamente amparada por Luís. Imediatamente, Igor segura Débora, afastando-a de Maria.

DÉBORA – Sua ladra! Vigarista! Você não passa de uma oportunista desgraçada! Deve ter nos roubado muito mais coisas durante todo esse tempo por debaixo dos nossos narizes!

LUÍS – A Maria não roubou nada, ela está sendo vítima de uma armação!

LUCIANA (fingindo indignação) – Armação? Gente, então o cinismo é de família! Você é um criminoso tanto quanto a sua querida irmãzinha.

Cassandra decide intervir, pondo-se entre Débora, Igor, Luís e Maria.

CASSANDRA – Vamos acalmar os ânimos. As atitudes serão tomadas somente mediante diálogo. Nós não vamos fazer nada antes de termos a certeza de que houve mesmo um furto.

DÉBORA (indignada) – Mas o que é isso, um complô contra mim? Nós não apresentamos provas mais do que suficientes de que essa ordinária me roubou? Essa oportunista e o cúmplice dela começaram a me fazer provocações no jardim e ela começou a me agredir. Como a Luciana disse, ela deve ter aproveitado a confusão e me subtraiu o anel de maneira que eu não percebesse por hora. Além do mais, o objeto furtado foi encontrado escondido dentro do quarto da criminosa. Que mais vocês querem? Provas em áudio e vídeo?

CASSANDRA – Vamos ouvir ambas as partes. Os acusados têm direito a ter sua versão da história ouvida.

Débora e Luciana se entreolham, insatisfeitas. Cassandra passa a palavra para Luís e Maria.

MARIA – Fala, Luís.

LUÍS – Muito que bem, dona Cassandra. A senhora bem deve saber que hoje o Pedro Igor pediu sua neta em casamento. Depois de receber o anel de noivado, a Débora nos pegou no jardim e começou a nos provocar.

FÁTIMA – Primeira contradição. A Débora afirma que foram eles quem a provocaram.

DÉBORA (agressiva) – Cala a boca, Fátima. Ninguém aqui pediu a sua opinião! Saia daqui, sua presença aqui é dispensável e indesejada.

CASSANDRA – Continue, Luís.

LUÍS – Bom, ela basicamente passou um tempão provocando a Maria, que perdeu a cabeça e a agrediu. Ela diz que nós dois batemos nela, mas é mentira. O máximo que aconteceu foi a Maria ter batido na cara dela. E quando eu percebi que as coisas iam piorar, eu levei a Maria embora. Eu garanto a vocês que a Maria não tinha nada nas mãos. Eu quero que a Débora morra agora se eu tiver mentindo.

DÉBORA (enfurecida) – Seu cachorro!

Débora tenta se soltar de Igor e agredir Luís, mas não consegue. Igor é mais forte. Helena, então, chama a atenção de Cassandra para complementar o depoimento de Luís.

HELENA – Quando eles voltaram do jardim, nós nos encontramos e começamos a conversar. Fomos até o meu quarto, ficamos conversando sobre assuntos aleatórios. Depois, descemos para a cozinha. E, por fim, a Débora e a Luciana vieram acusando a Maria de roubo. Desde que eles entraram até o momento da primeira acusação, eu fiquei próxima deles o tempo todo e eles não se separaram de mim em momento algum, não entraram nesse quarto nenhuma vez antes desta. Esse anel não foi escondido nesse quarto por nenhum dos dois, eu posso lhes garantir.

Débora e Luciana encaram Helena com ódio no olhar. A farsa delas foi desmascarada.

LUÍS – Claro… como eu não suspeitei? Antes de nós entrarmos aqui na mansão, a Débora acusou gratuitamente a minha irmã de ser uma ladra.

FÁTIMA – Como você é baixa, Débora… foi capaz de forjar um furto para tentar expulsar o Luís e a Maria dessa mansão!

DÉBORA (desesperada) – É mentira deles! Ela me roubou o anel sim! A baixa aqui é a Helena, que está mentindo para acobertar esses dois criminosos. Certamente ela foi chantageada por eles.

GABRIEL – Chega de mentiras, Débora. Nós não acreditamos em uma palavra que você está dizendo. Você forjou esse furto sim, não adianta negar. Temos provas e testemunhas de que esse furto é uma farsa sua e da Luciana.

Cassandra encara Débora e Luciana, claramente desesperadas.

CASSANDRA – Nunca pensei que você pudesse chegar a tanto, Débora…

DÉBORA (desesperada) – Acredita em mim, vó, eu não estou mentindo. Ela me roubou sim.

MARIA (irada) – Sua mentirosa!

Maria se solta de Luís e agarra Débora pelos cabelos. Assustado, Igor solta Débora, que é jogada por Maria em cima da cama. Antes que ela pudesse reagir, Maria monta em cima de Débora, imobilizando-a, e desfere várias bofetadas contra o seu rosto. Mas o momento não dura muito, pois Gabriel, Igor e Luís conseguem segurar Maria e tirá-la de cima de Débora, que é prontamente amparada por Cassandra e Luciana.

MARIA – Você é baixa, garota! Mentirosa! Manipuladora!

LUÍS – Tua máscara caiu, Débora!

Débora é levada por Cassandra e Luciana para fora do quarto.

DÉBORA – Vocês vão me pagar!

Cassandra, Débora e Luciana saem do quarto, sendo acompanhadas por Igor. Maria se aproxima de Gabriel, com medo.

MARIA – Acreditem em mim. Eu não roubei nada.

GABRIEL – Nós acreditamos em você, Maria. Ficou provado que tudo isso não passou de uma armação da Débora para lhe prejudicar.

MARIA – Conviver com a Débora está sendo cada vez mais difícil.

ALICE – Maria, a Débora pode fazer o que for, mas ela não vai conseguir pôr abaixo a boa imagem que temos de você.

HELENA – Exatamente. Você e o Luís sempre se mostraram serem pessoas boas, honestas e incapazes de fazer mal a alguém, de enganar os outros.

MARIA – Ela nos disse que não vai descansar enquanto não botar a gente pra fora daqui.

FÁTIMA – É mais fácil ela sair daqui do que vocês saírem daqui. Ao contrário dela, vocês não se valeram de meios vis para ter o direito de morar aqui conosco.

Maria sorri para Fátima, que retribui.

CENA 14: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/CORREDOR 2º ANDAR/INT./TARDE

Cassandra, Débora, Igor e Luciana chegam à porta do quarto de Débora e Igor. Imediatamente, Débora barra Cassandra e Luciana.

DÉBORA – Chega. Eu não preciso de escolta para ir ao meu quarto.

Débora e Igor entram no quarto, deixando Cassandra e Luciana no lado de fora.

CASSANDRA – Eu ainda não acredito que vocês foram capazes de fazer isso.

LUCIANA – A ideia foi da Débora.

CASSANDRA – Mas você parecia estar envolvida de corpo e alma nesse plano. Afinal, ajudou ativamente a executar este plano maluco. O que vocês conseguiram foi dificultar as coisas para o lado da Débora. Agora as chances do casamento se consolidar são mínimas.

LUCIANA – Sim, nós nos arriscamos demais.

CASSANDRA – Se a Débora e o Pedro Igor se separarem, a culpa vai ser sua.

Cassandra se afasta de Luciana, dirigindo-se ao seu quarto. Luciana não fica sozinha em cena por muito tempo, pois é abordada por Guto.

GUTO – O que aconteceu, Luciana?

LUCIANA – Você não viu? A Débora tentou forjar o roubo do anel de noivado dela para tentar expulsar o Luís e a Maria da mansão.

GUTO – A troco de que você foi ajudar a Débora nesse plano maluco?

LUCIANA – A Débora é minha amiga, Guto, por ela eu faço qualquer coisa. Você sabe disso.

Guto se cala.

LUCIANA – Quer saber? Vamos voltar para casa.

GUTO – Tá bom. Então vamos.

Guto e Luciana saem de cena.

CENA 15: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida General Osório de Paiva.

Imagens da Avenida Quarto Anel Viário. Está anoitecendo.

Fachada da casa de Larissa.

CENA 16: CASA DE LARISSA/QUARTO DE RICARDO/INT./NOITE

Ricardo sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura e os cabelos molhados. Dimas está deitado na cama, com os braços na nuca, encarando Ricardo com um sorriso no rosto.

RICARDO – O que foi? Perdeu alguma coisa?

DIMAS (rindo) – Quase.

RICARDO – Quase o quê?

DIMAS – Se tu chegar mais perto de mim desse jeito, eu perco o controle e viro o MC Biel. Te pego e te quebro no meio.

Os dois riem.

RICARDO (rindo) – Ai, eu te denuncio, viu?

O celular de Ricardo toca. Imediatamente, Dimas o pega e atende.

DIMAS – Alô?

LUCIANA (cel.) – Alô, Dimas?

DIMAS – Ah, oi, Luciana. Boa noite.

LUCIANA (cel.) – Boa noite, Dimas. Ei, Caco Antibes, cadê a Magda?

Os dois riem. Ricardo fica curioso.

DIMAS – O Ricardo? Ele tá aqui, quer que eu passe pra ele?

LUCIANA (cel.) – Aham.

Dimas tira o celular do ouvido e o entrega para Ricardo.

RICARDO – O que ela quer?

DIMAS – Ela não falou.

Ricardo põe o celular no ouvido para falar com Luciana.

RICARDO – Luciana?

LUCIANA (cel.) – Oi, gatinho, tudo bem?

RICARDO (rindo) – Tudo sim. O que foi?

LUCIANA (cel.) – Ricardo, você vai querer pegar a tua camisa? É que o Guto já percebeu a troca e tá querendo a camisa de volta.

Surpreso, Ricardo encara Dimas, que estranha a sua reação. A cena congela em um efeito preto-e-branco no rosto de Ricardo.

FIM DO DÉCIMO TERCEIRO CAPÍTULO.

33 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 13

  1. Se a record nao substituir Chamas da Vida, vai ser uma falta de respeito ,com quem ja ta acostumado com duas novelas a tarde.
    deveriam por Cidadao Brasileiro, na faixa das 3h45.

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    • Mas a Record não tem como manter duas faixas de reprises por muito tempo. Ela não tem um catálogo muito extenso para isso (afinal, ela nunca conseguiu produzir e exibir duas novelas ao mesmo tempo de maneira contínua). A não ser que ela faça um ciclo e fique reprisando as novelas em loop só pra manter as duas faixas. E outra, há meses que eu vi a notícia de que o Cidade Alerta ia perder 1 hora de duração para Escrava Mãe e que iria compensar essa perda engolindo o horário de Chamas da Vida depois que ela acabasse.

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  2. CAPÍTULO ANTERIOR (Vulgo 12)

    Após Luciana flagrar Barbara e Júlio em um momento intimo, vamos fizer assim, pede para que ele a ajude a conquistar Ricardo em troca de seu silêncio. Ele se enfurece com o acordo, mas ela ameaça contar o que viu. Nossa! E eu pensando que Luciana tinha se transformado em uma pessoa boa, mas me enganei. Ela continua venenosa como Débora, amo! Débora chega arrasando na mesa do café da manhã e já é recebida por palavras ofensivas de Luiz e os outros. Esse Luiz me parece afeminado para usar esse tipo de palavreado e agredir Débora. Não gosto desse infeliz, com licença. Ricardo se “abre” para Jonas após pedir para conversar com Jair. Luciana e Débora se encontram e falam de seus planos. Duas rainhas sim! Guto conta a Gustavo sobre a tramóia de Luciana em querer separar Dimas de Ricardo. Acho que esse desejo de querer a felicidade dela não cola. Tem algo a mais nesse meio. Luciana pergunta se Débora estava realmente arrependida por ter desejado a morte da mãe de Maria, e ela diz que estava. No momento, Igor aparece e pede a mão dela em casamento. Calma, eu estou tendo um treco. Sabia que ele uma hora iria ceder ao momento e a rainha. Débora aceita e o beija. No fundo, Maria observava o momento. Adorei isso, a melhor cena do capítulo sem dúvidas. Júlio esta indeciso se vai ou não ajudar Luciana em seu plano. Dimas fala com Talita sobre a relação estranha entre Júlio e Barbara e deduzem que eles podem ser amantes. Achei um pouco esquisito pois Dimas nem estava pensando nesse caso, mas foi só Júlio falar dele na cena anterior que o jovem resolveu se abrir depois de dias.

    Muito bom o capítulo, eu gostei muito

    ______________________________

    CAPÍTULO 13

    Jair e Ricardo tem a conversa entre tio e sobrinho. Depois da conversa, acredito que daqui em diante as coisas ficaram mais pacificas entre eles. Cassandra e Fatima trocam umas farpas na mansão. Já vi de onde Débora tirou esse lado meio explosivo. Já gosto da Cassandra também. Maria e Débora se atacam, mas Luiz aparta. Débora e Luciana colocam o anel de noivado na gaveta de Maria e a acusam por ter roubado. Maria fica indignada com o ocorrido. Debora rainha, né non? EU NÃO ACREDITO QUE HELENA FEZ ISSO! Eu não quero acreditar que Maria conseguiu virar esse jogo. Eu… Eu… Não tenho mais o que falar. Essa vaca vai pagar caro por ter encontrado o anel e por ter desmascarado Débora.

    Parabéns, Glay! Sequência muito boa. 😀

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    • Umas falsas redenções, adoramos? Muito.

      Mort com a sua impressão sobre o Luís.

      Hm, será que tem algo a mais nesse lance do Guto?

      Mas eles não se beijaram, ele não deixou… e realmente, foi sim a melhor cena do capítulo.

      Mas enfim, é um passo importante para o desenrolar dessa história em específico.

      Veremos, né?

      Claro, Mendel explica 😛

      Grito, será?

      Muito obrigado, Fred ❤ 😀

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  3. A armação da Débora e da Luciana foi bem clichê, mas você inovou ao fazer com que elas já fossem desmascaradas na hora do ato. Eu jurava que Luís e Maria iam mesmo ser expulsos da casa (como acontece na maioria das novelas que esse plano é executado).

    Ótimo capítulo, parabéns 😀

    Curtido por 1 pessoa

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