Mundos Opostos – Capítulo 19

CENA 01: CARRO DE DÉBORA/INT./NOITE

Dimas dirige em alta velocidade pelas ruas de Fortaleza. Transtornado, ele volta e meia tira as mãos do volante para enxugar as lágrimas que esporadicamente caem do seu rosto. As ultrapassagens perigosas e as reações violentas de Dimas quanto aos desleixos de motoristas e pedestres assusta Débora.

DÉBORA – Dimas, por favor, vai mais devagar.

DIMAS – Cala a boca, sua vadia! Tu quis vir comigo, agora aguenta até o fim!

DÉBORA – Você vai causar um acidente!

DIMAS – Dane-se! Dane-se tudo!

Alguns segundos de silêncio. Dimas faz uma manobra perigosa que assusta novamente Débora. A moça começa a entrar em pânico.

DÉBORA – Por favor, Dimas, vai devagar, você está me assustando.

DIMAS – Cala a boca, eu já falei!

DÉBORA – Vai mais devagar!

DIMAS – CALA A BOCA!

Dimas grita com Débora, que se desespera de vez.

CENA 02: CARRO DE JAIR/INT./NOITE

A certa distância, Júlio e Jonas, respectivamente no banco do motorista e do acompanhante, seguem o carro de Débora. Jonas se exalta ao perceber movimentos estranhos dentro do carro.

JONAS – O que é que tá acontecendo ali?

Jonas e Júlio entram em desespero ao perceber que o carro está ziguezagueando pela estrada.

JÚLIO – Ai meu Deus!

JONAS – O que tá acontecendo?

JÚLIO – Não sei!

JONAS – Tô com muito medo, Júlio…

JÚLIO – Eu também tô!

O carro de Débora sobe em um viaduto. Os corações dos irmãos batem mais fortemente. Uma manobra brusca em cima do viaduto faz o veículo perder o controle e ultrapassar as barreiras laterais.

JONAS e JÚLIO – NÃO!

CENA 03: FORTALEZA/RUA/EXT./NOITE

O carro de Débora pula do viaduto em direção à calçada da pista de baixo. O veículo atinge violentamente o solo, aterrissando com as rodas viradas para cima. O trânsito para devido ao acidente.

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Do outro lado, o carro de Jair para. Jonas e Júlio observam a cena a certa distância. Débora e Dimas sofreram um grave acidente de trânsito e eles nada puderam fazer para impedir. O desespero puro invade o interior dos dois irmãos, que choram a provável morte de ambos.

A cena escurece aos poucos.

CENA 04: HOSPITAL/QUARTO/INT./MANHÃ

Mesma trilha sonora da cena anterior. A cena clareia aos poucos. Foco no rosto de Dimas, com os olhos fechados, marcado por várias escoriações. Aos poucos, os olhos dele se abrem. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

Dimas estranha ao ver Jonas e Júlio em sua frente. Os irmãos tentam esconder o choro e demonstram alívio.

JÚLIO (sussurrando) – Graças a Deus… graças a Deus…

Dimas sente algumas dificuldades para falar.

DIMAS – Onde é que eu tô?

JONAS – Dentro de um hospital.

DIMAS – O que aconteceu?

JÚLIO – Tu sofreu um acidente de carro.

Dimas se surpreende com o que ouve de Júlio.

DIMAS – O quê?

JÚLIO – Tu tava dirigindo muito rápido. Acho que a Débora tentou te parar e o carro caiu do viaduto.

DIMAS – A Débora tava comigo?

JONAS – Não se lembra?

DIMAS – Me lembro de pouca coisa… só me lembro que a gente tava se divertindo lá na casa do Guto e da Luciana… aí do nada eu tava gritando com a Débora… e depois tudo apagou do nada.

JÚLIO – Pois é. O carro caiu do viaduto e vocês sofreram esse acidente.

DIMAS – Quanto tempo eu fiquei inconsciente?

JÚLIO – Dois dias.

Dimas se surpreende com o que ouve.

DIMAS – E o que aconteceu com a Débora?

Jonas e Júlio se entreolham, deixando Dimas tenso.

DIMAS – O que aconteceu com ela?

JONAS – Dimas… a Débora morreu.

Dimas se desespera com a notícia dada por Jonas.

CENA 05: HOSPITAL/RECEPÇÃO/INT./MANHÃ

Alice, Cassandra, Gabriel, Guto e Igor estão na recepção, conversando com um médico. Cassandra chora copiosamente e é consolada por Alice.

GABRIEL – A Débora faleceu?

MÉDICO – Infelizmente ela não resistiu aos ferimentos e veio a óbito durante a madrugada.

IGOR – O Luís me disse que vocês entraram em contato conosco ainda durante a madrugada e a dona Cassandra se prontificou a vir até aqui para cuidar da situação.

MÉDICO – Sim. Ela foi a primeira a receber a notícia, ainda durante a madrugada.

CASSANDRA – Eu não quis incomodá-los tão cedo, por isso orientei a equipe do hospital a avisá-los somente quando viessem para cá. Não se preocupem quanto ao enterro dela, eu mesma me encarregarei de providenciar o translado do corpo.

ALICE – Translado?

CASSANDRA – Eu não quero que a minha neta seja enterrada no Brasil. Eu decidi me mudar para Portugal, e quero que minha neta seja enterrada no cemitério da família em Lisboa.

GABRIEL – Como quiser, dona Cassandra. Não fazemos oposição alguma à sua vontade.

Jair, Jéssica, Larissa e Ricardo chegam ao hospital e se aproximam de Alice, Cassandra, Gabriel, Guto e Igor.

JAIR – Com licença.

GABRIEL – Aproveitando que a família do Dimas está aqui, doutor, o senhor tem notícias sobre o estado dele?

MÉDICO – Sim. Felizmente, o paciente acordou do coma e está consciente.

Larissa e Ricardo ficam aliviados. Cassandra reage mal à notícia.

CASSANDRA – Ele teve sorte… muita sorte…

JÉSSICA – A Débora morreu?

GABRIEL – Sim, dona Jéssica. A Débora faleceu durante a madrugada.

Os quatro se chocam com a notícia dada por Gabriel. Consternada, Jéssica tenta se aproximar de Cassandra para dar-lhe as condolências.

JÉSSICA – Meus pêsames, dona Cassandra…

Cassandra se afasta de Jéssica. A sua raiva é indisfarçável.

CASSANDRA – Eu não preciso da pena de nenhum de vocês.

JÉSSICA – Por favor, dona Cassandra, nós também estamos tristes com a morte de sua neta.

CASSANDRA – Não sejam falsos. Nenhum de vocês gostava de minha neta. Eu tenho certeza que, internamente, alguns de vocês estão pulando de felicidade com a morte da Débora. Se o Dimas tivesse morrido, todos vocês estariam se acabando de chorar.

JAIR – Ao contrário da Débora, o Dimas é muito querido pelos seus amigos e familiares. Ele não era mau caráter, nunca fez mal a ninguém e nunca se fez de superior aos outros. Acredite, dona Cassandra, o Dimas já foi tão rico quanto vocês, e era uma pessoa muito humilde quando rico.

CASSANDRA – Não compare a minha neta com essa bicha maldita!

RICARDO – Não fala assim do Dimas!

CASSANDRA – Outra bicha maldita. Cale a sua boca, ninguém lhe chamou na conversa!

LARISSA – A senhora não é ninguém para ofender meu filho na minha frente!

CASSANDRA – Grande coisa defender esse seu filho. Nem soube criá-lo direito e aceita passivamente que ele se relacione com outros homens. Se esse garoto tivesse pai, ele seria um homem de verdade!

Larissa e Ricardo se enfurecem com o comentário de Cassandra.

RICARDO – SUA FILHA DA—

GABRIEL – Já chega! Parem com isso, por favor, nós estamos em um hospital. Onde está o respeito?

CASSANDRA – Respeito? Respeito é uma palavra que não está no vocabulário dessa família torta.

GABRIEL – Vamos, dona Cassandra.

Alice, Gabriel, Guto e Igor tentam conduzir Cassandra para longe de Jair, Jéssica, Larissa e Ricardo. Porém, Cassandra se desvencilha e se aproxima de Ricardo. Os dois se encaram com ódio no olhar.

CASSANDRA – O seu amante vai pagar muito caro por ter matado minha neta.

RICARDO – O meu namorado não matou a Débora. Foi um acidente.

CASSANDRA – Ele quem estava no volante, ele era o responsável pela vida dela.

RICARDO – Não deixa de ter sido um acidente. Por mais que ele estivesse no volante, ele não tem culpa da morte da Débora.

Cassandra se afasta de Ricardo e vai embora com Alice, Gabriel, Guto e Igor. O médico se aproxima de Jair, Jéssica, Larissa e Ricardo.

JAIR – Doutor, o senhor disse que o Dimas já acordou…

MÉDICO – Exatamente.

JAIR – Qual é o estado dele?

MÉDICO – Como eu já disse, ele está consciente. Ele apresenta escoriações em grande parte do corpo, mas o impacto causou lesões graves em sua coluna.

Eles se desesperam com a notícia dada pelo médico.

LARISSA – O que isso quer dizer?

Jair, Jéssica, Larissa e Ricardo encaram o médico, que olha para cada um deles com uma expressão neutra.

CENA 06: HOSPITAL/QUARTO/INT./MANHÃ

Dimas encara Jonas e Júlio com uma expressão desesperada. Eles, por sua vez, continuam tristes.

DIMAS – O que isso quer dizer?

JÚLIO – A pancada ferrou com a tua coluna. O médico disse pra gente que tu tá paraplégico.

Dimas se desespera com a notícia dada por Júlio. Porém, ele surpreende Jonas e Júlio ao dar risada.

DIMAS – Não… eu não estou paraplégico… quê isso, Júlio? Olha só, posso mexê-las perfeitamente…

Dimas faz esforço para balançar as pernas, mas elas não saem do lugar. O desespero aumenta, mas Dimas continua mantendo a calma.

DIMAS – Que anestesia poderosa…

Dimas não consegue movimentar as pernas. Ele provou sua paraplegia na frente de Jonas e Júlio. Ele levanta a cabeça para eles, e uma lágrima cai do seu olho.

DIMAS – É verdade… eu tô paraplégico…

Júlio não aguenta e começa a chorar por Dimas, sendo imediatamente amparado por Jonas. Dimas observa a cena e não evita a queda das lágrimas.

JÚLIO (chorando) – A culpa é minha… a culpa é minha…

JONAS – Não fala isso, Júlio, não fala isso…

Dimas vira o rosto e se permite chorar à vontade.

CENA 07: HOSPITAL/RECEPÇÃO/INT./MANHÃ

Alice, Cassandra, Gabriel, Guto e Igor estão sentados em um banco. Cassandra é consolada por Alice, enquanto Gabriel, Guto e Igor conversam.

IGOR – Sabe o que está me deixando mais angustiado? É que ninguém fala nada sobre o bebê da Débora.

GABRIEL – Realmente, isso é muito estranho…

Guto se recorda da conversa que tivera com Débora na noite do acidente.

GUTO (voz) – Débora, tu tá bebendo demais. Isso não é normal.

DÉBORA (ébria/voz) – Ai, Guto, me deixa divertir um pouquinho.

GUTO (voz) – Débora, tu tá grávida, isso vai fazer mal ao teu filho.

DÉBORA – Grávida?

Os risos debochados de Débora ecoam na mente de Guto.

DÉBORA (voz) – Guto, eu não tô grávida. Eu nunca estive grávida do Pedro Igor.

GUTO (surpreso/voz) – O quê?

DÉBORA (voz) – É tudo mentira. Essa gravidez é mentirosa, é a arma que eu tenho pra prender o Igor.

As risadas de Débora ecoam novamente na mente de Guto, que decide quebrar o segredo.

GUTO – Eu sei o porquê disso…

Todos estranham o pronunciamento de Guto.

IGOR – Como assim, Guto?

GUTO – Igor, tu se lembra que, naquela noite, a Débora bebeu e eu tentei levá-la para dentro da casa?

IGOR – Mais ou menos…

GUTO – Pois é, eu tentei levar a Débora para um dos quartos, não lembro qual foi, mas lá eu falei pra ela que ela tava bebendo muito e que podia fazer mal ao bebê. Ela riu da minha cara e disse que não tava grávida.

Todos, à exceção de Cassandra, se chocam com a revelação de Guto.

IGOR – O quê?

GUTO – Ela disse que não tava grávida, nunca esteve grávida. Era uma gravidez armada, de mentira, só pra te enganar.

GABRIEL – Você tem certeza disso, Guto?

GUTO – Sim senhor, seu Gabriel. Ela me confessou isso. Ela me disse que era pra eu guardar segredo… mas eu quebrei porque achei que vocês mereciam saber.

ALICE – Isso é verdade, tia?

CASSANDRA – Sim, é verdade. A Débora forjou a gravidez para poder se casar com o Pedro Igor. Ela me disse que essa gravidez falsa era o trunfo dela em cima da Maria. Eu fui conivente com essa farsa porque ela atendia aos meus interesses, mas agora isso é impossível graças à morte da Débora. E estou admitindo isso porque não tenho nada a perder. Aproveitarei a fortuna que ainda me resta para refazer a minha vida em Portugal, onde o corpo da Débora será enterrado.

Igor se levanta do banco, ficando de costas para Alice, Cassandra, Gabriel e Guto.

IGOR – Mas é claro… como eu não pensei nisso? Era tão evidente que essa gravidez não passava de um blefe, de uma farsa. Ela me embebedou e simulou uma noite de amor para justificar a gravidez. Eu não me lembro de ter encostado um dedo na Débora naquele dia…

GUTO – Isso não quer dizer que a dita noite não aconteceu. Ela pode ter sido consumada, mas não foi frutífera. Simples assim.

IGOR – Então, isso quer dizer que nada mais pode me afastar da Maria. Eu estou definitivamente livre da Débora, posso viver a minha vida com a Maria sem maiores problemas! Os meus problemas acabaram!

Igor se vira de frente para Alice, Cassandra, Gabriel e Guto com um farto sorriso de felicidade no rosto, que é imediatamente desfeito quando Igor se dá conta da maneira como tratou Débora na frente de Cassandra. Constrangido, ele novamente desvia o olhar, enquanto Cassandra o encara com ódio no olhar. Gabriel e Guto se entreolham, tensos.

GABRIEL – O que a gente faz agora?

GUTO – O diretor aqui não é o senhor?

CENA 08: HOSPITAL/QUARTO/INT./MANHÃ

A porta do quarto se abre para a entrada de Jair e Jéssica. Imediatamente, Jéssica se aproxima de Júlio e o consola com um abraço. Jair se aproxima da cama de Dimas e lhe estende a mão: abatido, Dimas não o cumprimenta.

JAIR – Eu entendo que você esteja assim porque perdeu os movimentos das pernas… mas por favor, tenta pensar positivo. Podia ter sido pior, tu podia ter morrido.

DIMAS – Isso não vai me consolar, seu Jair. Eu não morri, mas a Débora morreu. Esse tipo de pensamento egoísta não me reconforta e só me deixa ainda mais triste.

JAIR – Mesmo assim, Dimas. Tu tá vivo. Certo, fraturou alguns ossos e a coluna, não pode mais mexer as pernas, mas tu tá vivo!

DIMAS – Eu não tô vivo, seu Jair. Eu tô morto da cintura pra baixo. Não tem como eu pensar positivo estando desse jeito, ainda mais sabendo que foi tudo culpa minha. A Débora morreu e eu fiquei paraplégico por minha causa, porque eu peguei num volante estando bêbado.

JAIR – Deus foi tão misericordioso contigo, Deus te ama tanto que não te tirou a vida. Se isso aconteceu, é porque Ele tem planos pra não te deixar sofrer por causa disso. Os planos d’Ele vão te fazer agradecer pela segunda chance que Ele te deu.

Dimas não responde a Jair, apenas o encara. Jair volta a estender a mão para Dimas, que dessa vez demora, mas cumprimenta rapidamente Jair. Jair sorri para Dimas, que aos poucos vai retribuindo o gesto.

CENA 09: HOSPITAL/RECEPÇÃO/INT./MANHÃ

Luciana chega ao hospital e imediatamente se aproxima de Larissa e Ricardo, que estão sentados em um banco. Ao ver Luciana chegar, Ricardo se levanta e a recebe com um abraço.

LUCIANA – Ricardo, eu sinto muito pelo que aconteceu com o Dimas. De verdade.

Os dois se apartam do abraço, mas ficam um de frente para o outro, com os corpos próximos. Luciana tenta controlar a sua vontade de beijar a boca de Ricardo.

LUCIANA – O Dimas acordou?

Ricardo apenas acena com a cabeça, subentendendo uma resposta positiva.

LUCIANA – E aí? Como é que ele tá?

RICARDO (voz baixa) – O doutor disse que ele tá consciente, mas tá sequelado.

LUCIANA – Como assim?

RICARDO – Ele fraturou a coluna no acidente, perdeu os movimentos da cintura pra baixo. Pode ser que ele não volte mais a andar.

Luciana se choca com a notícia dada por Ricardo. Ele, por sua vez, desvia o olhar, mas não resiste e cai no choro: imediatamente, ele leva as mãos ao rosto para esconder o choro. Larissa se levanta e abraça o filho, enquanto Luciana apenas observa a cena.

LUCIANA (pensamento) – Paraplégico…

CENA 10: HOSPITAL/QUARTO/INT./MANHÃ

A porta do quarto é se abre para a entrada de Larissa e Ricardo. Dimas fecha a cara ao ver o namorado entrar no quarto.

RICARDO – Dimas—

DIMAS (ríspido) – O que é que tu tá fazendo aqui?

Ricardo sente um nó na garganta com a reação de Dimas.

RICARDO – Dimas, meu amor—

DIMAS – Tá vendo? Tô aqui, numa cama de hospital, sem poder me mexer da cintura pra baixo. Muito provavelmente, vou passar o resto da minha vida preso numa cama ou numa cadeira de rodas. Sabe como eu fui parar aqui? Por causa da tua teimosia em ficar se esfregando com o Jonas em todo lugar.

JONAS – Não, Dimas, para com isso. Se tu não tivesse tanto ciúme do Ricardo, isso não teria acontecido.

DIMAS – Cala a boca, Jonas, eu não tô falando contigo.

RICARDO – Dimas, por favor—

DIMAS – Pra quê que tu veio aqui, Ricardo? Pra quê?

RICARDO – Eu queria te ver. Eu queria saber se tu tá bem. Porque eu me preocupo contigo, porque eu gosto de ti. Dimas, eu te amo, eu sou o teu namorado.

DIMAS – Aham. Bota o Jonas na tua frente que tu esquece tudo isso. O Jonas é muito mais teu namorado do que eu. E eu me deixei ser idiotizado por vocês durante um ano e alguns meses, aceitei passivamente os chifres que vocês botavam em mim sem nenhum pudor pra quem quisesse ver.

RICARDO – Eu nunca te traí com o Jonas, Dimas.

DIMAS – Então quer dizer que tu me bota chifres com outra pessoa?

Ricardo se desespera com a resposta de Dimas.

DIMAS – Fala, Ricardo! Quem é o desgraçado? Ou a vagabunda? Anda, fala logo!

Ricardo acena a cabeça, em sinal de negação.

RICARDO – Os ciúmes tão te deixando cego, Dimas…

DIMAS – Chame do que quiser. Mas não tem mais nada entre a gente. Tu tá livre, pode namorar o Jonas, porque tu tá solteiro. Ah é, o Jonas é casado… mas deixa, não tem problema, tu pode ser o amante dele.

Silêncio em cena. Dimas e Ricardo enxugam as lágrimas.

RICARDO – Não faz isso comigo, Dimas… eu te amo…

DIMAS (debochado) – Se tu me ama, então tu é completamente apaixonado pelo Jonas.

LARISSA – Por favor, Dimas, para com isso.

DIMAS – Sogrinha, o grude do Ricardo com o Jonas tá passando dos limites. Eu não quero viver num namoro onde o meu parceiro pode me trair com o melhor amigo dele a qualquer momento. Eu peço, por favor, que a senhora e o seu filho saiam desse quarto agora. Eu não quero que vocês fiquem mais aqui.

Larissa decide acatar o pedido de Dimas e segura o braço de Ricardo, na intenção de levá-lo para fora do quarto, mas Ricardo resiste.

RICARDO – Não, eu quero ficar aqui contigo, Dimas.

DIMAS – Eu não te quero aqui comigo, Ricardo, tu ainda não entendeu? Sai daqui!

As palavras de Dimas dilaceram o coração de Ricardo, que não consegue conter as lágrimas. Sem forças para resistir, Ricardo permite ser levado por Larissa para fora do quarto. Uma vez a sós em cena com Jonas e Júlio, Dimas leva as mãos ao rosto e torna a chorar.

DIMAS (voz abafada) – Ai meu Deus!

CENA 11: HOSPITAL/RECEPÇÃO/INT./MANHÃ

Larissa e Ricardo se sentam em um banco, próximo a Luciana. Ela se acentua ao vê-los chorando.

LUCIANA – O que aconteceu?

RICARDO – Ele ainda tá magoado comigo. Ele não me quer mais. Acabou…

O coração de Luciana acelera. Sua reação é abraçar Ricardo, que aceita prontamente o conforto dos braços de Luciana e chora à vontade.

LUCIANA – Eu sinto muito…

Larissa observa a cena e se limita a acariciar levemente o ombro do filho. Luciana, por sua vez, acaricia e beija a cabeça dele: em sua mente, a moça comemora o término do namoro de Dimas e Ricardo, e conta esse abraço como um passo importante para o início de seu namoro com o rapaz.

CENA 12: HOSPITAL/QUARTO/INT./MANHÃ

A porta do quarto se abre para a entrada de Guto e Igor. Dimas sorri desanimadamente para os amigos.

IGOR – Com licença…

DIMAS – Podem entrar.

GUTO – Fomos os únicos que tiveram coragem de vir. A gente tá aqui em nome do resto da Corrente.

DIMAS – O resto da Corrente foi bem representado. Obrigado pela preocupação comigo e pela coragem de vir me ver.

IGOR – Na verdade, eu acho que o Luís vem também, ele deve estar a caminho. Mas enfim…

GUTO – Como é que tu tá se sentindo, Dimas?

DIMAS – Por fora, bem. Por dentro, mal. Não é nada fácil lembrar que eu matei uma pessoa.

IGOR – Para com isso, Dimas. Você não matou a Débora. Ela foi vítima de um acidente, tanto quanto você.

DIMAS – Mas eu podia ter evitado.

JÚLIO – Não… quem podia ter evitado era eu. Quem devia ter te impedido de entrar dentro daquele carro era eu.

DIMAS – Não, Júlio, tu não tem culpa de nada.

A resposta de Dimas mexe profundamente com o interior de Júlio, mas ele não deixa isso transparecer.

GUTO – Não pensa nisso, Dimas.

DIMAS – Não tem como. Eu morri da cintura pra baixo. Eu sempre vou me lembrar desse acidente e a morte da Débora por causa disso.

GUTO – Cara, Deus foi tão bom pra ti que só te tirou o movimento das pernas. Isso não é e nem pode ser empecilho pra tu voltar a viver a tua vida como antes. Olha, pensa positivo, agora tu ganhou vários mordomos pra fazer tudo por ti.

Igor, Jonas e Júlio riem da piada de Guto. Ao ver que Dimas esboçou um sorriso com a piada, Guto sorri junto.

DIMAS – Obrigado, Guto. Tava precisando rir um pouco.

GUTO – Nas próximas visitas, eu trago mais sopinhas quentes pra esquentar o teu coração, ele tá muito gelado.

Dimas ri da piada de Guto.

DIMAS – Traga, Guto, por favor.

GUTO – Ser paraplégico não vai afetar tanto na tua vida. Pelo contrário, vai te aproximar ainda mais das pessoas que tu gosta e que gostam de ti.

Guto sorri para Dimas.

CENA 13: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens do Aeroporto Internacional Pinto Martins.

CENA 14: CASA DE LARISSA/COZINHA/INT./MANHÃ

Ricardo está sentada à mesa, esperando Larissa servir o almoço. A monotonia da cena é quebrada quando se escuta o barulho da campainha.

LARISSA (estranhando) – Visita a essa hora? Tá esperando alguém, filho?

RICARDO – Eu não. A senhora também não tá esperando ninguém não, mãe?

LARISSA – Não, também não tô esperando ninguém. Vai lá ver quem é, filho, não tô podendo.

Prontamente, Ricardo se levanta da mesa e sai da cozinha.

CENA 15: CASA DE LARISSA/SALA/INT./MANHÃ

Tocam à campainha novamente. Ricardo entra na sala e vai até a porta de entrada da casa.

RICARDO – Já vai!

Ricardo abre a porta e se surpreende ao ver que se trata de Luciana.

RICARDO (surpreso) – Luciana?

LUCIANA – Oi, Ricardo… posso entrar?

RICARDO – Claro…

Ricardo abre espaço para Luciana entrar. Ele fecha a porta e vai até o centro da sala, onde Luciana ficou, em pé.

RICARDO – Então, o que o levou até aqui?

LUCIANA – Os meus pés.

Ricardo tenta segurar o riso.

RICARDO – Sério.

LUCIANA – Não, eu queria saber como você está reagindo a essa história toda. Tô muito preocupada contigo.

RICARDO – É, tô vendo. Pois é, tá meio difícil. Não paro de pensar no Dimas…

LUCIANA – Mas ele não quer mais saber de ti mesmo?

RICARDO – Não, ele continua alimentando essa mágoa de mim.

LUCIANA – Quer que eu te fale uma coisa?

RICARDO – À vontade.

LUCIANA – Esses ciúmes que o Dimas alimentava de ti não eram normais não. Aquilo mostrava o quanto ele era inseguro com o namoro. Foi melhor mesmo que vocês terminassem, tu não merece namorar uma pessoa que não confia em ti, que não acredita na tua fidelidade.

RICARDO – Vai ser muito difícil. Eu vivi os 15 meses mais felizes da minha vida com o Dimas, eu acho muito difícil que alguém consiga me fazer mais feliz do que o Dimas me fazia.

LUCIANA – Ricardo…

Luciana se senta no sofá e convida Ricardo a se sentar também.

TRILHA SONORA: Um Beijo Seu – Banda Calypso

LUCIANA – Desde aquele dia em que a gente se beijou, eu não consigo mais te tirar da minha cabeça. Eu não paro de pensar em ti… meus sentidos se aguçam com a tua presença. Meus olhos até enxergam melhor quando te focam, meus tímpanos vibram intensamente quanto escutam a tua voz, o meu tato entra em erupção quando eu te toco, meu interior é invadido por um bem-estar quando eu sinto o cheiro do teu perfume… e o meu corpo entrou em erupção no dia em que a gente se beijou. Eu queria sentir tudo isso de novo. Na verdade, eu quero ser merecedora disso todos os dias. Eu quero que você me dê a chance de tentar te fazer tão feliz quanto o Dimas te fazia.

Surpreso, Ricardo apenas encara Luciana, que espera ansiosamente pela sua resposta.

FIM DO DÉCIMO NONO CAPÍTULO.

30 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 19

  1. AI QUE RAIVA DA NANA CALIXTA CASSANDRA. ESSA HIPÓCRITA FALANDO EM RESPEITO???????

    Chocada com a morte da Débora, mas já me acalmei por causa de possibilidade de ela ainda estar viva. E acredito que ela realmente esteja viva, porque a senhora não ia fazer a Eu e matá-la assim, do nada, antes de ela realmente mostrar a que veio…

    Ricardo é bem tapado de não perceber que Luciana fala essas coisas só pra separá-lo do Dimas.

    Parabéns :*

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