Mundos Opostos – Capítulo 25

Mundos OpostosCENA 01: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./NOITE

Carolina, Dimas, Gustavo, Guto, Helena, Igor, Jonas, Júlio, Luciana, Luís, Maria e Ricardo estão reunidos na sala em uma grande roda, conversando e rindo. As atenções deles se voltam para Fátima, que lhes chama.

FÁTIMA – Crianças, o lanche está pronto.

Imediatamente, eles se levantam e seguem Fátima. Luís fica para trás, e acaba ficando sozinho em cena. Ele escuta a campainha tocar e se dirige à porta da mansão. Ele a abre e se surpreende ao saber que se trata de Débora.

LUÍS (tenso) – Débora, eu não acredito—

Débora entra na casa. Ela não desmancha o farto sorriso dirigido a Luís, que permanece tenso.

DÉBORA (sorrindo) – Eu demorei muito para o encontro da Corrente?

LUÍS – Débora, você está louca? Todos pensam que você está morta.

DÉBORA – Eles precisam saber que eu não estou morta.

Maria volta para a sala, chamando a atenção de Débora e Luís.

MARIA – Luís, vamos, estão todos esperando por—

Maria reconhece Débora e se assusta. Ela quase se desequilibra, mas rapidamente se recompõe.

MARIA (petrificada) – —você…

DÉBORA (sorrindo) – Oi, Maria. Tudo bem?

MARIA – Você… você tá viva?

Débora permanece sorrindo para Maria, que fica petrificada. Luís observa tudo com receio.

DÉBORA – Sim, Maria. Estou viva desde o dia em que nasci.

MARIA – Mas… mas você não tinha morrido naquele acidente?

DÉBORA – Gente, claro que não. Quem foi que disse isso pra você?

MARIA – O Pedro Igor.

Débora finge insatisfação com o que acabara de escutar de Maria. Ela e Luís encaram Débora com estranheza.

DÉBORA – Aposto que ele nem entrou no meu quarto no hospital. Aposto que ele deve ter descoberto que a gravidez era falsa e decidiu me matar pra vocês.

LUÍS – Mas sua avó confirmou a sua morte, inclusive nos disse que ia transladar seu corpo para Lisboa…

DÉBORA – Gente, me desculpem, mas vocês beberam alguma coisa? A minha avó nunca disse isso. O que aconteceu é que eu estava em coma e ela decidiu me transferir para um hospital em Lisboa, onde o meu caso podia ser mais bem cuidado. Não que o meu caso fosse grave a ponto de não poder ser tratado aqui no Brasil, mas lá em Portugal eu teria um tratamento mais eficiente, teria um tempo mais breve de recuperação. Não só teria como tive, me recuperei completamente dentro de três meses, o prazo estipulado pela equipe médica que me assistiu.

Nesse momento, as atenções dos três se viram para o corredor, de onde vem Helena.

HELENA – Luís, Maria, onde vocês estão? Nós estamos esperando por vocês—

Helena olha para a sua frente e nota a presença de Débora ali. A sua reação é soltar um longo e potente grito de pavor. Luís e Maria se assustam com a reação de Helena, enquanto Débora encara a prima com estranheza. Dentro de alguns segundos, Alice, Carolina, Dimas, Fátima, Gabriel, Gustavo, Guto, Igor, Jonas, Júlio, Luciana e Ricardo correm até a sala e se assustam ao notar a presença de Débora ali. Todos se afastam de Débora, com medo dela.

DÉBORA – O que é isso, gente? Parece que vocês estão vendo um fantasma…

DIMAS – Mas tu não tava morta, Débora?

DÉBORA – Igor, por que você disse a eles que eu estava morta?

IGOR – Foi o que o médico que cuidava do seu caso disse. Segundo ele, você tinha falecido durante a madrugada. O pai, a mãe e o Guto são testemunhas disso, e a sua avó até confirmou as palavras do médico. Ela nos disse que ia enterrar o seu corpo no cemitério da família em Lisboa e reconstruiria a vida dela por lá.

GUTO – É verdade. Tanto é que foi por causa da sua “morte” que o Dimas passou esses últimos três meses atormentado, porque ele achou que tinha te matado por causa daquele acidente.

GABRIEL – Alice, a sua tia e a sua sobrinha têm muitas explicações para nos dar.

DÉBORA – Nada disso. Se alguém tem que lhes dar satisfações é o dito médico que cuidou de mim aqui em Fortaleza. Porque, como vocês devem ter percebido, eu não morri.

JONAS – Das duas uma: ou foi erro médico, ou ele foi pago para mentir pra gente. Eu acho mais fácil a segunda alternativa.

RICARDO – Eu também. Acho muito difícil que ele tenha confundido estado de coma com estado de óbito.

JONAS – Eu também.

LUCIANA (cantando/debochada) – Carne e unha/Alma gêmea…

JONAS – Luciana, vai se fuder.

GABRIEL – Jonas, pare com isso.

LUCIANA – Isso mesmo, Jonas, pare com isso. Certeza que essa não foi a educação que a sua mãe lhe deu.

JONAS – Cala a boca, Luciana.

GABRIEL – Jonas, eu já falei, pare com isso. Eu não admito esse tipo de desrespeito aqui em minha casa.

DÉBORA – Três meses se passaram e a Corrente continua desunida do mesmo jeito. Coitada da Luciana, agora ela é o único alvo do ódio do grupinho…

GUSTAVO – Ela não é alvo de coisa nenhuma. Sim, a agressão do Jonas não é justificável, mas a Luciana vive provocando ele e a família dele depois que ela separou o Ricardo do Dimas e começou a namorar com ele.

LUCIANA – Pelo amor de Deus, parem com isso. Eu não separei ninguém, eles mesmos que se separaram. Eu só comecei a namorar com o Ricardo depois que ele terminou com o Dimas. Que parte dessa história vocês ainda não entenderam?

DÉBORA – E depois eu digo que a Luciana é alvo do grupinho e todo mundo vem com pedra pra cima de mim… tá vendo só, Luís, o que eu lhe falei?

MARIA – O que é que tu falou pro meu irmão?

DÉBORA – Luís, eu tenho pena de você, por estar morando nesse verdadeiro ninho de cobras. A sua sorte é que você ainda não contrariou ninguém aqui dentro dessa casa. Porque se não fosse por isso, você seria odiado por todos. Veja só o quanto a Luciana sofre aqui…

CAROLINA – Para com isso, Débora, não bote essas ideias loucas na cabeça do Luís.

DÉBORA – Esse não é o fantástico mundo do Bobby para eu pôr ideias loucas na cabeça de ninguém. Eu estou apenas expondo a verdade nua e crua ao Luís, coisa que vocês não podem fazer porque a subvertem para ele.

ALICE – Chega, Débora. O seu espetáculo já acabou. Se quiser, nós a ovacionaremos agora mesmo, mas as cortinas já se fecharam. Agora, por obséquio, ponha-se daqui para fora. Você deixou muitas feridas abertas aqui dentro dessa casa e a maioria ainda não cicatrizou completamente, o que faz de sua presença nessa mansão algo indesejável. Por favor, retire-se daqui o mais rápido possível.

Débora não responde Alice, apenas a encara. Segundos depois, ela dá meia-volta e sai pela porta da frente. Luís, então, se separa e vai atrás de Débora. Maria tenta segurá-lo, mas Igor a detém.

IGOR – Deixa, Maria.

MARIA – Nós não podemos deixá-lo ir atrás dela.

IGOR – O que não podemos é interferir na conversa particular deles.

Maria não resiste e concorda em ficar na mansão. Ela olha para os amigos da Corrente, todos ainda reagindo àquele reencontro inesperado e surpreendente.

CENA 02: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/FACHADA/EXT./NOITE

Débora anda pelo jardim a passos largos. Ao fundo, Luís corre em uma tentativa de alcançá-la. E ele consegue chegar perto dela o suficiente para conseguir segurá-la pelo braço.

LUÍS – Débora—

DÉBORA – Me solta, Luís.

LUÍS – Débora, por favor, vamos conversar.

DÉBORA – Me solta, Luís. Nós não temos o que conversar.

LUÍS – Temos sim. Por favor, me dê essa chance.

Débora respira fundo, e se vira de frente para Luís.

DÉBORA – Luís, a sua passividade diante daquela família é triste. Você praticamente foi dominado por eles.

LUÍS – Não, Débora, por favor.

DÉBORA – Se você parar para pensar, vai perceber o quanto eu estou certa. A partir do momento em que você abrir os olhos e começar a pensar sem se deixar levar pelo que eles dizem, você vai perceber que está morando num verdadeiro ninho de cobras. E quando isso acontecer, você será odiado por eles tanto quanto eu e a Luciana somos.

LUÍS – Débora, reconheça que vocês são odiadas por eles porque vocês fizeram por onde. Ninguém gosta de pessoas que tratam os outros de maneira irônica e ácida, expondo os outros de maneira depreciativa e tudo o mais…

DÉBORA – E o que você acha que eles fazem com a gente? Se nós somos ácidas, irônicas e agressivas com eles, é por questão de legítima defesa. Se eles não fizessem o mesmo conosco, nós não teríamos por que fazer isso. Nós não atacamos ninguém, só nos defendemos. Quando você estiver na nossa pele, vai entender.

Alguns segundos de silêncio.

LUÍS – Agora que você falou… eu andei notando ultimamente uma certa rixa do tio Gabriel e do Gustavo com o Igor. Eu já escutei bastante o Igor reclamar deles, principalmente do tio Gabriel, ele diz que o tio Gabriel prefere o Gustavo porque o Igor tem fama de irresponsável…

DÉBORA – Fama essa que o próprio tio Gabriel criou. O tio Gabriel é o principal incentivador do preconceito que ele deveria ser o principal combatente. Ele sempre diminuiu o Pedro Igor por ser o primogênito e herdeiro, sempre procurou jogar na cara dele que ele é um irresponsável e coisas do gênero porque sabe que nunca vai precisar trabalhar para manter uma vida confortável, luxuosa e estável. O primeiro emprego dele vai ser presidir o Grupo Andrade da Costa, e ele conseguirá isso por direito no dia em que o tio Gabriel morrer. Ele não precisará lutar para conseguir o emprego, muito menos para mantê-lo, porque é um direito dele. Agora o Gustavo precisa trabalhar para manter a vida confortável que ele tem, porque ele não tem nenhum cargo no Grupo como herança. E isso faz com que o tio Gabriel prefira o Gustavo ao Igor. Por causa de um preconceito que ele mesmo alimenta ao invés de combater.

Alguns segundos de silêncio.

DÉBORA – Entende o que eu estou querendo lhe dizer, Luís?

LUÍS – Sim, Débora, entendo.

Débora sorri para Luís.

DÉBORA – Boa sorte agora para aguentar a metralhadora de inquisições hipócritas da família Andrade da Costa, o exemplo de unidade, humildade e fraternidade.

Débora se vira de costas para Luís e vai embora.

CENA 03: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./NOITE

Luís volta para dentro da mansão. Antes que alguém fale alguma coisa, ele mesmo trata de interromper.

LUÍS – Por favor, apenas me deixem sozinho.

Dito isso, Luís sobe as escadas, deixando a família e a Corrente a sós na sala.

JONAS – A Débora voltou. E agora com artimanhas inéditas para virar a nossa vida de cabeça pra baixo. Ela já começou confundindo a cabeça do Luís…

LUCIANA – Olha, gente, eu não vou aguentar ver vocês insultando a minha amiga na minha frente.

JÚLIO – Tá incomodada? A saída é logo ali, monamour.

Luciana encara Júlio com raiva e vai embora da mansão, a passos largos. Agora, é Ricardo quem encara Júlio com raiva.

RICARDO – Por que tu fez isso?

JÚLIO – Ah, Ricardo, para com isso.

Ricardo faz menção para ir embora atrás de Luciana, mas Jonas o segura pelo braço, detendo-o.

RICARDO – Me deixa ir atrás da minha namorada, Jonas.

JONAS – Não, Ricardo, não precisa. Deixa.

Aos poucos, Ricardo vai se acalmando e Jonas vai soltando o braço do primo.

JONAS – Gente, é claro que isso não vai interromper um encontro da Corrente, né?

Todos concordam com Jonas e voltam à cozinha, deixando a sala vazia.

CENA 04: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/EXT./NOITE

A Corrente se divide em grupos para se divertir durante a noite. Ao redor de uma mesa, sentam-se Carolina, Dimas, Helena, Maria e Júlio para jogar Uno. Mais afastados, próximo à varanda, Gustavo e Igor jogam tênis de mesa. E Guto, Jonas e Ricardo se divertem nadando na piscina.

Foco na piscina, onde Guto, Jonas e Ricardo nadam em círculos.

GUTO – Vem cá, vocês costumam mergulhar na piscina?

JONAS e RICARDO – Aham.

RICARDO – A gente já se desafiou várias vezes pra ver quem conseguia ficar mais tempo embaixo d’água, mas a gente nunca conseguiu tirar a prova. Sempre empatava.

GUTO – Vamo ver agora se vocês finalmente conseguem desempatar.

Jonas e Ricardo concordam.

GUTO – Preparados?

JONAS – Sim.

RICARDO – Sim.

GUTO – Um… dois… três!

Jonas e Ricardo submergem.

CENA 05: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/VARANDA/INT./NOITE

Gustavo e Igor jogam tênis de mesa. Gustavo vence a rodada e comemora, enquanto Igor vai para o jardim pegar a bola.

GUSTAVO (provocativo) – O que é isso, Pedro Igor? Sério mesmo que até no ping-pong eu sou melhor do que você?

IGOR – Cala a boca, Paulo Gustavo. Eu só estou um pouco enferrujado, faz semanas que eu não jogo uma partida de ping-pong.

GUSTAVO – Mas tu tá perdendo demais pra quem só parou de jogar há algumas semanas atrás. Eu, no teu lugar, já teria ganhado pelo menos uma rodada.

IGOR – Anda, vai.

Igor devolve a bola para Gustavo, que inicia uma nova rodada. Gustavo sente uma maior atenção por parte de Igor, que consegue manter a bola na mesa por mais tempo.

GUSTAVO – Bem que você disse que estava desenferrujando…

IGOR – Preparado para perder?

GUSTAVO – Quem empina muito o nariz pisa na merda, viu?

Gustavo surpreende Igor com uma manobra brusca e consegue vencer a partida. Igor vai buscar a bolinha.

GUSTAVO – Presta mais atenção no jogo, Igor. Eu já tô cansado de vencer todas.

IGOR – Ah, então me deixa ganhar uma, né?

Igor joga a bolinha para Gustavo.

GUSTAVO – Eu não vou simplesmente parar de jogar pra te deixar ganhar. Joga pra ganhar de mim, ué.

Gustavo inicia uma nova partida. O desempenho de Igor melhora um pouco e ele consegue bloquear uma manobra brusca de Gustavo.

CENA 06: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/INT./NOITE

Foco na piscina. Jonas e Ricardo emergem ao mesmo tempo e encaram Guto, ofegantes.

JONAS (ofegante) – E aí, quem ganhou?

GUTO – Nenhum dos dois. Vocês subiram ao mesmo tempo?

RICARDO (ofegante/rindo) – Eu não falei?

GUTO – Ai, eu não sei vocês, mas eu já tô cansado de ficar aqui na piscina. Eu vou sair, vocês também?

JONAS – Olha a minha cara de quem vai querer passar frio do lado de fora da piscina.

GUTO – Sim, macho, toalha existe pra quê?

RICARDO – De qualquer forma a gente vai ter que sair daqui. Se tu ficar com frio, eu te esquento com o meu calor humano, tá, primo?

Guto e Jonas riem de Ricardo.

JONAS – Se separa da Luciana que depois a gente conversa, tá?

Jonas e Ricardo riem.

CENA 07: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/VARANDA/INT./NOITE

Pela primeira vez, Igor vence uma rodada. Ele larga a raquete em cima da mesa e começa a pular, em comemoração. Alice e Gabriel saem da mansão e vão para a varanda, vendo os jovens no jardim.

ALICE – Ai, Gabriel, eu não acredito que eles inventaram de nadar na piscina à noite. Isso é pedir pra ficar com frio, viu?

GABRIEL – Espero que tenha valido à pena.

Alice e Gabriel riem disfarçadamente. Eles destinam sua atenção ao jogo de Gustavo e Igor.

IGOR – Agora eu quero ver a sua coragem em dizer que eu não sei jogar ping-pong.

GUSTAVO – Maninho, o placar tá de 5 a 1, só pra constar, viu?

IGOR – Mas eu acabei com a sua invencibilidade. Você não é mais invicto.

GUSTAVO – Tá, vamo continuar. Mais duas rodadas e depois acaba, viu? Quero completar o 7 a 1.

Alice e Gabriel riem dos dois irmãos.

CENA 08: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/EXT./NOITE

Enrolado em uma toalha, Ricardo aproxima-se da mesa onde Carolina, Dimas, Helena, Maria e Júlio estão jogando e chama a atenção deles.

RICARDO – E aí, gente, quem tá ganhando?

Assim que Ricardo termina de falar, Júlio joga sua última carta na mesa com força. Assustados, os demais jogadores olham para a mesa.

JÚLIO – Bati.

Todos olham para Júlio, que permanece sorrindo.

JÚLIO – Caso vocês ainda não tenham percebido, essa carta é um 9.

Imediatamente, todos os jogadores põem sua mão em cima da mão de Júlio. Tendo sido a mais atrasada, Maria acaba pegando duas cartas no monte.

JÚLIO – Agora decidam aí quem é o segundo lugar.

Júlio põe as mãos na nuca e observa a continuidade do jogo. Ricardo permanece ali observando o jogo. Dimas sente-se incomodado com a presença do ex ali perto, pois volta e meia sente-se tentado a olhar para o tórax dele. Dimas não resiste por muito tempo, joga suas cartas em cima da mesa e se afasta, indo em direção à varanda. Todos observam aquilo com estranheza.

CENA 09: FORTALEZA/EXT./NOITE

Imagens do Shopping Parangaba.

Imagens da Avenida Borges de Melo.

Imagens da Avenida General Osório de Paiva.

Imagens da Avenida Aguanambi.

Imagens da Praia do Futuro. Amanhece.

CENA 10: CASA DE JAIR E JÉSSICA/QUARTO DE JÚLIO/INT./MANHÃ

Júlio está deitado na cama, dormindo profundamente, enrolado no meio dos lençóis da cama. O momento é bruscamente interrompido pelo toque do celular de Júlio. O rapaz demora alguns segundos para despertar e mais alguns segundos para se virar na direção do criado-mudo, pegar o celular e parar o alarme.

JÚLIO (sonolento) – Eu te odeio, sabia, alarme?

Júlio devolve o celular ao criado-mudo e volta a se deitar na cama, com os olhos fechados e tapados por seu antebraço. Júlio já estava quase adormecendo quando a porta do quarto é aberta, acordando-o de vez.

É Jéssica, trazendo consigo um prato com dois pães e uma xícara de café com leite. Júlio reconhece-a e abre um sorriso para ela.

JÚLIO (sonolento/sorrindo) – Ah mãe, não precisava me mimar desse jeito…

JÉSSICA – Ah, precisava sim. Enquanto tu viver aqui no mesmo teto que eu, tu vai ter o direito de receber café na cama da sua mãezinha que te ama tanto e ainda acha que tu é um bebezinho.

Jéssica põe o prato em cima do criado-mudo e se senta na beirada da cama. Ela se inclina para poder beijar a cabeça de Júlio. Antes de se levantar da cama, Jéssica é abraçada por Júlio, de modo que ela acabe deitando em cima dele. Os dois riem, mas logo ficam sérios, encarando um ponto aleatório do cenário.

JÚLIO – Mãe, ontem aconteceu uma coisa muito inesperada lá no encontro da Corrente.

JÉSSICA – E o que foi?

JÚLIO – A Débora apareceu lá na mansão. Mais viva do que nunca.

Jéssica petrifica com o que ouve de Júlio.

JÉSSICA – A Débora tá viva?

JÚLIO – Sim, tá viva. Ela não morreu, ela simplesmente estava em coma.

JÉSSICA – Meu Deus…

JÚLIO – Se antes daquele acidente a Débora bagunçou a vida de todos nós, agora ela simplesmente vai tratar de revirar a vida de todos nós de cabeça pra baixo. E ela já fez a primeira vítima dela: o Luís. O coitado já tá sendo manipulado por ela…

JÉSSICA – Nossa… eu não sei nem o que dizer sobre isso…

Alguns segundos de silêncio.

JÉSSICA – Júlio, mudando de assunto… até quando tu vai esconder de todo mundo que a Luciana armou para separar o Dimas e o Ricardo? Tu vai esperar a Bárbara se separar do Angelo e começar a namorar pra valer contigo? E se ela não escolher por ti?

JÚLIO – A senhora sabe que, se eu contar a verdade, ela expõe o nosso segredo. Se a Luciana cair na lama, ela me arrasta junto. Eu corro o risco de ser odiado pelo Dimas, pelo Ricardo, pelo Angelo e até pela Carolina. E o pior, todo mundo vai pensar que eu ajudei ela por pura maldade e também vai ficar contra mim. Eu não quero me arriscar, eu não quero pôr a minha imagem perante a família inteira à prova.

JÉSSICA – Mas com certeza era mais seguro ter o seu caso com a Bárbara exposto do que ter ajudado a Luciana a separar o Dimas do Ricardo, não é verdade?

JÚLIO – Na verdade, são riscos parecidos. De uma forma ou outra, eu vou ficar mal visto pela família inteira quando a verdade vier à tona. Vão dizer que eu não aprendi nada com a história da gravidez da Carolina, que eu não tenho mais jeito, que eu sou um inconsequente, e essas coisas todas.

JÉSSICA – Mas convenhamos que eles até que têm razão. Júlio, tu é amante de uma mulher casada—

JÚLIO – De uma mulher que eu amo, de uma mulher que ama mais a mim do que o próprio marido.

JÉSSICA – E de uma mulher que, na hora do vamo ver, certamente vai preferir o marido do que o amante.

Alguns segundos de silêncio.

JÉSSICA – Júlio, entenda que eu tô falando isso pra ti porque eu tô pensando no teu bem. E esse teu namoro com a Bárbara não é saudável pra ti nem pra ela. Por mais que ele tenha seus dois anos de duração, a grande verdade é que ele só proporciona prazer carnal para vocês dois. Esse namoro é movido pela carência que a Bárbara sente de um homem carinhoso, romântico, amoroso e sexualmente ativo.

Jéssica se aparta do abraço e se levanta da cama. Ela pega o prato no criado-mudo e o oferece para Júlio. Ele se põe sentado na cama e põe um travesseiro no seu colo, onde repousa o prato. Em seguida, Jéssica se retira do quarto, deixando Júlio sozinho em cena.

CENA 11: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./MANHÃ

Luís desce as escadas da mansão com certa pressa e se dirige à porta de entrada. Fátima entra na sala, vinda do corredor, e flagra a saída de Luís.

FÁTIMA – Luís! Luís, onde você vai?

Luís não dá atenção a Fátima e vai embora, deixando-a sozinha na sala.

FÁTIMA – Mas que inferno…

Alice desce as escadas da mansão e flagra Fátima ali sozinha na sala, resmungando.

ALICE – O que houve, Fátima?

FÁTIMA – Nada, dona Alice…

ALICE – Tem certeza, Fátima?

FÁTIMA – Sim, dona Alice. Não aconteceu nada.

Fátima se retira da sala a passos largos. Alice fica ali, parada na escada, sem entender nada.

CENA 12: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Praia de Iracema.

Imagens da Avenida Aguanambi.

Imagens da Avenida Barão de Studart.

Imagens da Avenida Carapinima.

CENA 13: MANSÃO ANDRADE BASTOS/SALA/INT./MANHÃ

Tocam à campainha. Uma empregada vai até a porta de entrada e a abre. É Luís, aparentemente nervoso.

EMPREGADA – Pois não?

LUÍS – Eu gostaria de falar com a Débora… onde ela está?

EMPREGADA – A dona Débora está lá no quarto… o senhor quer que eu a chame?

Luís não responde a empregada e já vai entrando na casa. Ele vai até às escadas e sobe correndo, a fim de não ser alcançado pela empregada.

EMPREGADA – Senhor! Senhor, por que o senhor está correndo? Senhor, volte aqui!

CENA 14: MANSÃO ANDRADE BASTOS/QUARTO DE DÉBORA/INT./MANHÃ

Débora está se arrumando em frente ao espelho do quarto. De repente, Luís entra no quarto, assustando Débora. Em seguida, a empregada entra no quarto.

EMPREGADA – Dona Débora, ele entrou sem ser convidado e invadiu o seu quarto. A senhora quer que eu—

DÉBORA – Sim, eu quero que você saia do meu quarto agora. Obrigada por permitir que ele subisse até o meu quarto. Pode se retirar.

A empregada fica confusa com o que ouve, mas decide sair do quarto.

EMPREGADA – Sim senhora. Com licença.

Débora e Luís ficam a sós no quarto e sorriem um para o outro.

DÉBORA – Esse seu lado louco é inédito para mim, Luís.

LUÍS – Você ainda não me conhece completamente, Débora. Essa é só uma amostra grátis do que eu realmente sou capaz de fazer.

DÉBORA – Você pensou no que eu lhe disse ontem à noite?

LUÍS – Eu refleti bem sobre as suas palavras. Aos poucos, eu estou notando a verdade explícita nelas.

DÉBORA – Me alegro muito em ver você reconhecendo a veracidade dos meus argumentos, em ver você admitindo a minha preocupação com o seu bem. Por isso estou desmascarando aquela família e aquela Corrente na sua frente, a falsidade e a hipocrisia transborda naquele ambiente. E eu não quero vê-lo contaminando-se com isso. Eu quero o seu bem… eu quero você, Luís…

Luís sorri para Débora e vai até ela, lhe abraçando. Em seguida, os dois começam a se beijar romanticamente.

CENA 15: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/JARDIM/EXT./MANHÃ

Alice e Fátima se encontram no jardim da mansão.

ALICE – Fátima, me conte logo a verdade. O que aconteceu ali na sala?

Fátima respira fundo e decide contar.

FÁTIMA – Foi o Luís, dona Alice… ele saiu de casa sem dizer onde ia.

ALICE – O Luís?

FÁTIMA – Sim senhora. E eu tenho certeza que ele foi atrás da Débora…

Alice reage mal à notícia: uma expressão raivosa invade o seu rosto. A cena congela em um efeito dourado no rosto de Alice.

FIM DO VIGÉSIMO QUINTO EPISÓDIO.

29 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 25

  1. Claramente Débora esta conseguindo o que quer e Luís (Who) esta caindo aos poucos nas garras dela. Se eu adoro isso? Claro que sim! Alice caiu muito no meu conceito e ponto. Parabéns, Glay! :*

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