Mundos Opostos – Capítulo 35 (Penúltimo Capítulo)

Mundos OpostosCENA 01: CASA DE AZEVEDO/SALA/INT./NOITE

Azevedo, Dimas, Maurício, Ricardo e Talita chegam à sala de estar.

AZEVEDO – Eu já lhes disse que o Venâncio não está aqui.

DIMAS – Então não vai se importar se nós vermos para confirmar.

AZEVEDO – Me importo sim. Porque vocês estarão invadindo minha privacidade.

DIMAS – Por quê? Tá escondendo alguma coisa?

MAURÍCIO – Dimas, para com isso.

DIMAS – Sabe por que ele tá assim, Maurício? Sabe por que o Venâncio tá tão fixado no teu filho?

AZEVEDO – Eu fiquei muito amigo do garoto. Mas isso não é motivo para você me tratar como se eu fosse um sequestrador de crianças. Eu já disse que eu deixei o Venâncio em casa, mas vocês não acreditam em mim…

DIMAS – Tem razão, você não é um sequestrador de crianças, eu não deveria lhe tratar assim. Para eu ser condizente com o que você verdadeiramente é, eu deveria lhe tratar com ainda mais repúdio.

RICARDO – Tio Maurício, esse homem se chama Venâncio Soares Azevedo, ele era delegado num distrito policial lá em São Paulo. Foi ele quem assumiu o caso daquele serial killer que matava crianças afogadas por lá.

TALITA – Sim, mas por que vocês têm tanto ódio do Venâncio?

DIMAS – Porque o delegado Azevedo atrapalhou as próprias investigações pra poder se dar bem.

AZEVEDO – Eu não sei do que vocês estão falando.

DIMAS – Sabe sim. Já disse, tira a máscara de bom moço que comigo não cola. Eu sei que você sabe quem eu sou, eu sei que você conhece o meu pai. Eu sei que foi você quem acabou com a vida do meu pai, envolvendo ele na sua sujeirada toda.

MAURÍCIO – Dimas, seja mais claro.

DIMAS – Maurício, o que eu quero dizer é que esse homem É o Assassino do Origami! Quem matava as crianças afogadas lá em São Paulo era ele, e não o meu pai!

Assustados, Maurício e Talita encaram Azevedo, que mantém a expressão neutra. Dimas encara Azevedo com ódio no olhar.

AZEVEDO – Eu não sei do que você está falando, Dimas.

DIMAS – Sabe sim. Para de fingir.

AZEVEDO – Prove o que você está dizendo.

RICARDO – Então vamos todos até o presídio onde o Douglas está detido para tirar essa história a limpo. Se você realmente não tiver envolvimento algum com essa história, você vai aceitar entrar naquele presídio, ser identificado pelos policiais e bater um papo com o Douglas.

DIMAS – Ele não vai fazer isso. Sequer vai ter coragem de chegar perto daquele presídio. Ele é foragido da Justiça, foi indiciado por ter forjado provas falsas pra atribuir a identidade do Assassino do Origami ao pai de uma das vítimas dele. Se a polícia pegar ele, vai descobrir com muita facilidade que o Assassino do Origami era justo a pessoa que deveria identificá-lo e prendê-lo.

AZEVEDO – Eu não vou participar desse joguinho de vocês. Certeza que é uma armadilha.

Nesse momento, Venâncio aparece na sala de estar. Sonolento, ele enrola o seu corpo em um lençol de cores claras.

VENÂNCIO (sonolento) – Quem é, Venâncio?

Maurício e Talita encaram Azevedo com ódio.

MAURÍCIO – Você estava com ele esse tempo todo…

AZEVEDO – Ele não lhes disse que passaria a noite aqui?

VENÂNCIO – Ele me disse que vocês tinham deixado.

TALITA – É a primeira vez no dia que nós estamos vendo ele.

MAURÍCIO – Nós vamos embora agora. Vamos, Venâncio.

Maurício leva Venâncio pelo braço. Os dois vão até o corredor, rumo ao quarto onde o garoto estava dormindo.

RICARDO – Não se preocupe, delegado Azevedo. Assim que o meu primo voltar, nós vamos embora, não vamos mais lhe incomodar. Mas da próxima vez que alguém bater à sua porta, prepare-se, porque vai ser a polícia.

AZEVEDO – Vocês vão me denunciar.

DIMAS – Era o que deveríamos ter feito desde a primeira vez que você apareceu lá na casa do Maurício.

TALITA – O que você fez com o meu afilhado?

AZEVEDO – Eu juro que eu não toquei um dedo no Venâncio. Eu gosto muito dele porque ele me faz sentir como uma criança. Dificilmente vocês entenderiam, mas ser amigo do Venâncio me faz um bem enorme.

TALITA – Você representa um perigo pro Venâncio, por isso nós não vamos mais permitir que vocês voltem a se ver. Se você for realmente o Assassino do Origami, eu posso te garantir que, dentro de 24 horas, você estará detido dentro de uma delegacia.

AZEVEDO – Vocês estarão cometendo um grave engano em me denunciar.

RICARDO – Se vamos ou não, quem vai dizer isso é a própria polícia. Porque nós não acreditamos em uma palavra sua. Nós te conhecemos, sabemos quem você é. O Douglas nos contou a verdade.

AZEVEDO – O Douglas é um mentiroso. Vocês preferem acreditar num empresário corrupto e promíscuo do que em mim?

DIMAS – NÃO FALA DO MEU PAI!

Dimas tenta se levantar da cadeira de rodas e agredir Azevedo, mas Ricardo o contém.

DIMAS – SEU DESGRAÇADO! VAI TER QUE LAVAR A BOCA COM SODA CÁUSTICA ANTES DE FALAR MAL DO MEU PAI!

RICARDO – Como você sabe tanto sobre o Douglas? Acaso o conhece?

Azevedo se cala, sentindo-se encurralado.

RICARDO – Tá vendo, tia Talita? Ele tava tentando enganar a gente, tentando fazer a gente acreditar que tava acusando a pessoa errada. Mas é ele. Ele é o verdadeiro Assassino do Origami.

DIMAS (chorando) – Por sua culpa, eu perdi a minha família. Você acabou com a minha família quando matou o meu irmão.

A cena clareia rapidamente.

[FLASHBACK] CENA 02: OBRA/EXT./NOITE

Chove torrencialmente. A visibilidade é atrapalhada pelas condições climáticas. Um garoto começa a brincar correndo pelas plataformas mal acabadas daquela obra: é Diogo, irmão de Dimas. Um homem observava ao longe, forçando os olhos a fim de não perdê-lo de vista. É Azevedo.

DIMAS (voz/chorando) – Ele estava brincando naquela obra. Num terreno que você vendeu pro meu pai construir um imóvel. Você sabia que não era seguro pro Diogo brincar ali, mas mesmo assim permitiu que ele ficasse lá.

AZEVEDO (voz) – Eu fui pego de surpresa quando vi o Diogo ali na construção, mas eu não pude fazer muita coisa pra tirá-lo de lá. Lembra que tava caindo um dilúvio lá, não dava pra ver as coisas direito.

DIMAS (voz) – Então, você viu o que aconteceu. Você viu o Diogo caindo naquela cratera.

O garoto desliza na plataforma. A construção cede e Diogo sofre uma queda livre, caindo dentro de uma cratera. Azevedo se assusta ao ver a queda e corre na direção do local do acidente.

AZEVEDO (voz) – Sim, eu vi. E corri até lá para tentar ajudá-lo. Mas eu não pude fazer nada.

Azevedo se ajoelha próximo à cratera. Diogo se segura na borda da cratera, inundada pela água da chuva, apenas com as mãos e parte do rosto emerso na cratera. Azevedo congela ao ver o garoto, ferido e enfrentando dificuldades para continuar emerso.

DIOGO (baixo) – Me ajuda…

Lentamente, Azevedo estende uma das mãos para Diogo, que usa as suas poucas forças para erguer uma de suas mãos e segurar a de Azevedo. Crendo na sua salvação, Diogo se solta da borda, o que faz com que sua cabeça afunde na água. Porém, Azevedo não faz nada, apenas permanece encarando a mão de Diogo.

AZEVEDO (voz) – Eu me aproximei da cratera, mas ele não tinha conseguido emergir e se agarrar na borda para se salvar e ter como respirar. Deve ter se afogado ali mesmo, e eu não tive tempo para ajudá-lo.

A falta de ar começa a bater e Diogo se debate, puxando o braço de Azevedo em uma tentativa de fazê-lo lhe erguer. Mas o homem continua imóvel, esperando o afogamento de Diogo.

AZEVEDO (baixo) – Isso… isso, Diogo… gaste o resto de suas energias… você não sabe o quanto eu quero que você faça isso…

Azevedo imerge seu braço na cratera e, em seguida, o tira de lá. Ele largou Diogo dentro da cratera. Ele fica encarando a cratera, com um olhar neutro. Segundos depois, Douglas chega até a cratera, agachando-se do lado de Azevedo.

DOUGLAS – O que houve, Venâncio?

AZEVEDO (frio) – O Diogo tava aqui na obra.

DOUGLAS – Você deixou ele brincar aqui? Perdeu a noção do perigo, cara?

AZEVEDO – Eu não sabia que ele tinha entrado aqui. Eu vi ele aqui na obra, fui procurá-lo, mas até agora não achei. Como essa plataforma aqui desmoronou, eu achei que ele podia estar aqui.

DOUGLAS – E ele está?

AZEVEDO – Não…

Azevedo põe a mão dentro da cratera e puxa o braço de Diogo. Ele finge surpresa para Douglas, que se desespera.

AZEVEDO – Não…

DOUGLAS (apavorado) – Diogo!

Azevedo e Douglas se entreolham, apavorados. A cena clareia rapidamente.

CENA 03: CASA DE AZEVEDO/SALA/INT./NOITE

Azevedo e Douglas se encaram: o primeiro ostenta uma expressão fria, enquanto o segundo exprime todo o seu ódio.

DIMAS – Você fez o meu pai acreditar que o Diogo morreu por causa dele, e por isso o envolveu nos seus crimes.

AZEVEDO – Eu vacilei. Acabei contando pra ele que eu omiti socorro ao Diogo. E, pra ele não me denunciar à polícia, eu tive que sujar a ficha dele e chantageá-lo. Era ele quem bancava as minhas aventuras.

DIMAS – Você chama o assassinato de crianças de aventura? O quão sórdido e doentio você pode ser?

TALITA – Por que você fazia isso? Qual o sentido de matar crianças afogadas?

AZEVEDO – Não parece óbvio? Que pai não diz que é capaz de tudo pra garantir o bem estar do seu filho pequeno? Eu sempre tive a curiosidade de saber se esses pais são mesmo homens para cumprir sua palavra, ou só falam da boca pra fora mesmo. Eu até me animei com o empenho daquele André em salvar o filho… ele fez todos os meus desafios bem direitinho, o Douglas sempre me avisava quando ele completava um desafio com sucesso. Eu senti que aquele André era um homem de palavra quando ele completou o desafio da hidrelétrica.

TALITA – Você é doente.

RICARDO – Então por que você tentou jogar a culpa pra ele? Por que você tentou fazer ele se passar pelo Assassino do Origami?

AZEVEDO – Um novato foi incorporado à minha equipe de investigação. Ele se empenhou em descobrir a verdade sobre esse caso, tentou tomar para si a posição de liderança da equipe. Eu temia que ele descobrisse que eu era o Assassino do Origami, e por causa disso eu comecei a tentar desviar a atenção dele. Se eu fixasse na ideia de que o André era o serial killer, eu desviaria as atenções deles e teria tempo para me reorganizar e conseguir tirar o meu nome da reta.

RICARDO – Olha, Venâncio… nós podemos te chamar de demônio, de psicopata, de doente… mas a gente se esqueceu de dois adjetivos que se encaixam perfeitamente em ti: inteligente e estrategista. Você conseguiu enganar todo mundo direitinho.

AZEVEDO – Eu não teria conseguido se eu não tivesse a ajuda do seu pai, Dimas.

DIMAS – Desgraçado…

AZEVEDO – Vejo que o seu sofrimento ainda não acabou. Agora, você está preso nessa cadeira de rodas…

DIMAS – Minha vida não é completamente infeliz. Eu encontrei uma família para chamar de minha, e eu encontrei uma pessoa pra chamar de meu amor também. Eu não me deixo abater com a minha invalidez porque eu tenho ao Ricardo e à família dele.

Azevedo solta um breve sorriso debochado.

AZEVEDO – Olha só… quem diria, o Dimas saiu do armário. Diz aí, o teu amante é tão poderoso que te deixou nessa cadeira de rodas?

Dimas e Ricardo se indignam com o comentário de Azevedo, que ri debochadamente.

AZEVEDO – Pois é… tal pai, tal filho. Você é um viadinho safado tal qual o seu pai.

Ricardo não se aguenta e acerta um soco em Azevedo. Surpreendido com o golpe, Azevedo cai no chão.

RICARDO – Se o Dimas não pode ficar de pé e fazer isso, eu faço por ele.

AZEVEDO – Grandes coisas defendê-lo. Você é outro viadinho maldito… como dizem aqui, você é um baitolinha de merda.

Ricardo acerta um chute no rosto de Azevedo, que cobre o rosto com as mãos e se vira de costas. Imediatamente, Talita contém Ricardo, afastando-o do delegado.

TALITA – Para com isso, Ricardo.

RICARDO – É o que ele merece, tia Talita. E ainda é pouco.

TALITA – Deixe que a polícia o puna como ele merece.

Maurício aparece com Venâncio na sala. Imediatamente, Talita vai até Venâncio e lhe tapa os olhos.

TALITA – Vamos embora daqui agora, meus amores. Não vamos mais ficar um segundo dentro dessa casa.

RICARDO – Não pense que isso acabou por aqui, não. Daqui pra frente, as coisas vão ser piores pra ti.

E assim, os cinco vão embora, deixando Azevedo sozinho em cena.

CENA 04: FORTALEZA/EXT./NOITE

Imagens da Praia do Futuro. Amanhece.

CENA 05: CASA DE LARISSA/COZINHA/INT./MANHÃ

Dimas, Larissa e Ricardo estão tomando café da manhã. Larissa demonstra choque.

LARISSA – Eu ainda não tô acreditando numa coisa dessas.

RICARDO – Olha só o perigo ao qual o tio Maurício e a tia Talita exporam o Venâncio.

DIMAS – Expuseram, Ricardo.

RICARDO – Tanto faz. Olha, o pior de tudo eu ainda nem contei pra ninguém. É que eu descobri que a última vítima do Assassino do Origami é uma criança muito, mas muito parecida com o Venâncio. Imagina se aquele psicopata se aproximou do Venâncio com a intenção de “terminar o serviço”. Vai que ele queria matar o Venâncio, porque não conseguiu matar aquele garoto?

Assustada, Larissa faz o sinal da cruz.

LARISSA – Deus o livre e guarde.

RICARDO – Mas pelo menos agora nós botamos esse caso nas mãos da polícia. Fizemos a denúncia ontem à noite ainda. Só falta ele aparecer dentro de uma cela numa delegacia ou então num presídio.

DIMAS – Só espero que ele não fique no mesmo presídio que o meu pai. Imagina se ele tenta se vingar dele?

LARISSA – Vai dar tudo certo, Dimas. Bota Deus na frente que vai dar tudo certo.

DIMAS – Deus esteve na frente e eu perdi tudo… perdi meu irmão, minha mãe, meu pai, minha vida estável, perdi o Ricardo, e até os meus movimentos da cintura pra baixo… eu não confio em Deus. Ele só trouxe desgraças para a minha vida.

LARISSA – Não diz besteira, Ricardo. Tu perdeu muita coisa, mas ganhou também. Vai dizer que não é grato por ter passado quase um ano e meio da tua vida namorando o meu filho e nos tratando como se a gente fosse a tua família?

RICARDO – E outra: tu me perdeu, mas agora tu tem a oportunidade de recuperar. Eu pedi pra voltar, e ainda tô esperando uma resposta.

Alguns segundos de silêncio.

DIMAS – Desculpa… é que aquele ordinário bagunçou o meu juízo…

LARISSA – A gente te entende.

Ricardo se levanta da mesa e se ajoelha ao lado de Dimas, chamando-lhe a atenção.

RICARDO – Eu já te pedi uma vez, e peço de novo. Por favor, volta pra mim. Vamo recuperar o tempo perdido, vamo fazer de conta que a gente nunca se separou. Eu te prometo, palavra de homem, que eu nunca vou te abandonar em momento algum. Eu quero ser o teu homem, pro resto das nossas vidas. Eu sei que isso vai te fazer feliz, do mesmo jeito que vai me fazer feliz. Dimas, devolve a felicidade pra gente. Vamo voltar a namorar?

Alguns segundos de silêncio. Dimas olha para Larissa, que lhe sorri, subentendendo um conselho para aceitar o pedido de Ricardo. Dimas sorri para ele.

DIMAS – Ai, vamo. Tô morrendo de saudade de ti.

Larissa e Ricardo sorriem fartamente com a resposta de Dimas, que retribui com um sorriso igualmente farto. Uma vez namorados novamente, Dimas e Ricardo se abraçam e trocam o primeiro beijo depois de quase quatro meses. É um tímido selinho. Porém, os dois não se separam depois do selinho e cedem à tentação de trocar outro beijo, que aos poucos vai se intensificando. Larissa assiste àquilo emocionada.

CENA 06: CASA DE AZEVEDO/SALA/INT./MANHÃ

Tocam a campainha. Azevedo, ostentando uma grande ferida no rosto causada pelo chute de Ricardo, vai atender a porta. Antes que ele faça qualquer coisa, ele é surpreendido quando uma algema é presa ao seu pulso.

AZEVEDO – Mas o que é isso?

O policial entra na casa, junta o outro pulso de Azevedo e o algema.

POLICIAL – Senhor Venâncio Azevedo, o senhor está preso.

AZEVEDO – Você não pode me prender.

POLICIAL – Posso sim. Temos provas suficientes para legitimar as acusações que temos contra o senhor.

AZEVEDO – Do que estou sendo acusado?

POLICIAL – Oito homicídios, duas tentativas de homicídio, omissão de socorro, sequestro e cárcere privado e, por fim, corrupção ativa.

AZEVEDO – Não precisa continuar. Estou ciente do meu direito ao silêncio, pois tudo o que eu disser será usado ao meu desfavor em meu julgamento. Mas, por hora, fique ciente de que declaro-me inocente de todas estas acusações.

Azevedo permite-se ser levado pelo policial para fora de sua casa, rumo à delegacia.

CENA 07: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE IGOR E MARIA/INT./MANHÃ

Igor e Maria estão sentados na cama. Maria está no celular, conversando via WhatsApp com a Corrente.

HELENA (cel./assustada) – Meu Deus do Céu! Sério mesmo, Dimas?

DIMAS (cel.) – Seríssimo. O primo do Ricardo tava ficando amigo do Assassino do Origami.

MARIA (cel.) – Gente, que perigo.

DIMAS (cel.) – A sorte é que eu tinha reconhecido o desgraçado. Ele fez muito mal a mim e à minha família. Graças a Deus eu consegui convencer o Maurício a afastar o Venâncio daquele doente e ainda o denunciei.

RICARDO (cel.) – Espero que ele já esteja atrás das grades.

JÚLIO (cel.) – Todos nós, primo. Que ele esteja fazendo companhia à Débora lá na cadeia.

IGOR (cel.) – Ai, gente, não é querendo defender a Débora não, mas ela não merece a companhia de um assassino psicopata. Tá certo que ela fez mal à gente, mas isso não a faz merecedora disso.

CAROLINA (cel.) – Concordo com o Igor. Também não é pra tanto, né, Júlio?

JÚLIO (cel.) – Tá bom então. Peço perdão pelo vacilo, tá?

Risos generalizados.

DIMAS (cel.) – É quase certo que aquele assassino esteja preso. Por isso, eu gostaria de saber se vocês estão dispostos a marcar um encontro para festejar essa minha vitória pessoal. Quero comemorá-la com vocês, meus verdadeiros amigos.

JÚLIO (cel.) – Opa! Não sou Inês Brasil, mas me chama que eu vou, lalalalalalalaô!

Novamente, risos generalizados.

JONAS (cel.) – Eu também já tô lá.

CAROLINA (cel.) – Conta com a minha presença.

RICARDO (cel.) – A minha também.

GUSTAVO (cel.) – Ah, Dimas, você sabe que nós vamos sim fazer esse encontro. Você merece esse festejo.

DIMAS (cel./rindo) – Gente, bem que dizem que depois da tempestade vem a bonança. Já fazem uns quatro meses que eu sofri aquele acidente, e agora que eu parei de me importar tanto com isso, agora que eu tô começando a me aceitar como eu tô, as coisas tão começando a dar certo pra mim. Primeiro eu descubro que tenho chances de voltar a andar, agora eu descubro que o homem que destruiu a minha família vai enfim pagar pelo que fez… e ainda tem mais, gente, lá no encontro vocês vão saber melhor.

MARIA (cel.) – Vai fazer mistério, Dimas?

DIMAS (cel.) – Vou sim. (ri) Bom, agora eu vou ter que sair. Até mais, gente.

TODOS (cel.) – Até.

E a conversa é encerrada. Igor e Maria se entreolham, sorrindo um para o outro, e trocam um rápido beijo.

MARIA – Depois que a Débora foi pra cadeia, as nossas vidas tão começando a se acertar. Nós nos juntamos e encontramos a felicidade um do lado do outro. O Luís está se recuperando bem do ataque daquela louca. O Jonas e a Carolina se separaram, mas não estão de mal um com o outro. E agora o Dimas descobre que pode voltar a andar e ainda está se sentindo vingado porque a justiça vai punir o homem que desgraçou a vida dele.

IGOR – Maria… não é querendo cortar clima, mas eu sinto que essa história ainda não acabou.

Maria encara Igor, surpresa com a resposta dele.

CENA 08: CEMITÉRIO/EXT./MANHÃ

Alice e Gabriel caminham pelo cemitério. Vestidos de preto da cabeça aos pés, com óculos escuros, eles param em frente a um túmulo. Alice se desvencilha de Gabriel e se ajoelha em frente ao túmulo, pondo um buquê de rosas ao seu lado.

Foco na lápide: está escrito “Cassandra Matias Andrade Bastos: 1936 – 2016”.

ALICE (voz embargada) – Descanse em paz, tia Cassandra… só isso o que eu tenho a dizer para a senhora.

GABRIEL – Faço das palavras de sua sobrinha as minhas, dona Cassandra… que a senhora esteja em um bom lugar.

Alice se levanta com a ajuda de Gabriel. Sem conseguir mais controlar as lágrimas, a mulher se abraça ao marido, que tenta consolá-la. A cena escurece aos poucos.

CENA 09: CASA DE JÉSSICA/SALA/INT./MANHÃ

TRILHA SONORA: Break of Dawn – Michael Jackson

Ricardo começa a reproduzir a mesma música da trilha sonora. Ele se ajoelha na frente de Dimas e sorri para ele. Dimas rapidamente enxuga a lágrima que ameaça transbordar. Ricardo segura as mãos de Dimas e as beija.

RICARDO (cantando) – Hold my hand / feel the touch / of your body cling to mine. / You and me / making love / all the way through another night. / I remember / you and I / walking through the park at night. / Kiss and touch / nothing much / let it blow just touch and go. / Love me more / never leave / me alone by house of love. / People talk / people say / what we have is just a game.

Dimas e Ricardo sorriem um para o outro.

RICARDO – Eu nunca vou te abandonar. A gente vai se amar até o amanhecer.

Dimas e Ricardo trocam um singelo beijo. Assim que eles se separam, Carolina, Jéssica, Jonas, Júlio e Larissa entram na sala e os aplaudem. Os dois namorados se entreolham, sorrindo timidamente.

CENA 10: DELEGACIA/CELA/INT./MANHÃ

Débora está deitada na cama, olhando para o teto. Uma movimentação estranha lhe chama a atenção. Ela se põe sentada na cama e assiste ao policial trazendo Azevedo até a cela. Ele a abre e empurra o homem para dentro da cela, fechando-a em seguida. Uma vez a sós com Débora, Azevedo a encara com ódio.

DÉBORA – Hm, parece que eu ganhei uma visita.

AZEVEDO – Eu mereço…

DÉBORA – Me conte, o que lhe levou a passar uma temporada nesse hotel cinco estrelas?

AZEVEDO – O descuido de ter chegado na cidade há pouco tempo. Me envolvi com as pessoas erradas, elas me reconheceram e me denunciaram.

DÉBORA – Mas o que você fez?

AZEVEDO – Ah, coisa pouca, eu matava crianças afogadas e ornamentava o corpo com uma orquídea e uma figura de origami.

Débora se surpreende com o que ouve.

DÉBORA – Você é o Assassino do Origami?

AZEVEDO – Vejo que a minha fama não é restrita só a São Paulo. A inclusão digital me tornou conhecido inclusive nesse fim de mundo chamado Nordeste.

DÉBORA – Mas vem cá, você não era o delegado que cuidava do caso do Assassino do Origami?

AZEVEDO – Prazer, Venâncio Azevedo. E você, quem é?

DÉBORA – Sou Débora Matias Andrade Bastos, sobrinha do presidente do Grupo Andrade da Costa.

AZEVEDO – Ah, então você não é qualquer uma. Pertence à nata da high society local. Mas o que você fez para se rebaixar tanto?

DÉBORA – Tentei matar o meu amante e ainda matei a minha própria avó na frente dos policiais.

AZEVEDO – Olha só, então estamos, de certa forma, equiparados. Um serial killer de crianças dividindo uma cela com uma patricinha assassina.

DÉBORA – Todos nós achamos que o Assassino do Origami era aquele empresário imobiliário, o Douglas Monteiro Vasco Martins, ou algo do tipo.

AZEVEDO – Ele era meu cúmplice.

DÉBORA – Sabe, eu conheço esse homem… melhor dizendo, eu conheço o filho dele. Ele se chama Dimas Vasco Martins, certo?

AZEVEDO – Exatamente. Foi ele quem me denunciou.

DÉBORA – Eu também estou aqui por causa dele. Ele tentou me roubar o meu amante e, para me vingar, eu tentei matá-los. Infelizmente, só consegui ferir o meu amante, não tive condições de atacar o Dimas.

AZEVEDO – Olha só. Nos conhecemos a uns cinco minutos e já descobrimos muita coisa um sobre o outro. Descobrimos inclusive que temos um inimigo em comum.

DÉBORA – Onde você quer chegar com isso, Venâncio?

AZEVEDO – Ai, Débora, como você é lenta… estou lhe propondo o seguinte: que tal se nós fugirmos dessa delegacia, nos vingássemos daquele viado aleijado e fugíssemos para fora do Brasil?

DÉBORA – Parece uma proposta tentadora. Mas como você pretende fugir do Brasil?

AZEVEDO – Aí já é com você. A sobrinha do milionário cearense não sou eu. E então, o que me diz?

Azevedo estende a mão para Débora.

AZEVEDO – Aceita?

Débora encara Azevedo. Ela, então, aperta a mão do delegado.

CENA 11: CASA DE GUTO E LUCIANA/COZINHA/INT./MANHÃ

Luciana está sentada à mesa, mexendo no seu celular. Guto está lavando a louça.

LUCIANA – Guto.

GUTO – Luciana.

LUCIANA – Deixa de ser palhaço.

GUTO – Eu tô sendo pago pra ser palhaço.

LUCIANA – Sabe da novidade?

GUTO – Qual? A morte do Domingos Montagner?

LUCIANA – Não. O Dimas e o Ricardo voltaram.

Guto demonstra não se importar muito com a notícia recebida. Mas a câmera mostra um sorriso se formando no seu rosto. Luciana se decepciona com a aparente reação indiferente de Guto.

LUCIANA – Esperava outro tipo de reação sua.

GUTO – Eu já esperava por isso. Cedo ou tarde, eles acabariam voltando.

LUCIANA – Você não sabe o quanto essa notícia me destrói.

GUTO – Você tem uma parcela de culpa nisso. Não soube segurar o Ricardo.

LUCIANA – Mas eu vou tê-lo de volta. Você vai ver.

GUTO – Ai, Luciana, tu ainda não superou isso? Para com isso, mulher, tu perdeu o Ricardo pro Dimas, aceita que dói menos.

LUCIANA – Eu já disse. Eu vou até o fim.

GUTO – Só espero que tu não queira matar pra poder se sair por cima.

LUCIANA – Boa ideia, Guto. Decidi: vou ter o Ricardo de volta passando por cima de cadáveres.

Guto respira fundo.

GUTO (sussurrando) – Ó Deus, tende misericórdia dessa tua pobre filha. Toque o coração dela e a impeça de cometer essa loucura. Ela não pode desperdiçar a vida dela por causa dessa besteira.

CENA 12: HOSPITAL/RECEPÇÃO/INT./MANHÃ

Igor e Maria estão no hospital, conversando com o médico responsável pelo caso de Luís.

MÉDICO – Estamos todos surpresos com a recuperação do Luís. Ele está reagindo bem, e se tudo correr bem, ele poderá receber alta antes do previsto.

MARIA – Então, vocês já trabalham com uma previsão definida.

MÉDICO – Exatamente. Em uma semana, ele recebe alta médica.

Igor e Maria sorriem um para o outro.

MÉDICO – Ele tem recebido muitas energias positivas dos amigos e da família. Isso está se mostrando muito benéfico para a sua recuperação. Todos os dias, algum amigo ou parente vem visitá-lo.

IGOR – Ele é muito querido pelas pessoas à sua volta. Todos nós estamos torcendo para que ele se recupere por completo desse incidente.

O médico sorri para Igor e Maria. Em seguida, ele se vira e volta para o corredor do hospital. Felizes com as previsões positivas, os dois namorados se abraçam.

CENA 13: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Avenida Borges de Melo.

Imagens da Avenida Heráclito Graça.

Imagens da Avenida Washington Soares.

CENA 14: DELEGACIA/CELA/INT./NOITE

A cela está escura. Silêncio total em cena. Uma luz é acesa, mas não chega a iluminar decentemente a cela onde Débora e Azevedo estão detidos. Um policial se aproxima da cela e começa a observá-la. Ele estranha aquele silêncio.

Movido pela curiosidade, ele decide pegar a chave, abrir a cela e entrar nela para conferir esse mistério melhor. Segundos depois, ele é surpreendido por Azevedo, que lhe acerta um potente soco. O policial apaga, caindo desmaiado no chão. Logo após efetuar o golpe, Azevedo começa a massagear o punho, pois o impacto foi tão forte que ele sentiu.

AZEVEDO – Gente, que fácil…

DÉBORA – Queria o quê, Venâncio? País de terceiro mundo é assim mesmo. Vamos aproveitar que a cela tá aberta e vamos fugir.

AZEVEDO – E nós vamos sair pela porta da frente?

DÉBORA – À noite, só esse policial fica aqui. A delegacia fica deserta durante a maior parte da noite. Vamos.

E os dois saem da cela, deixando o policial desacordado sozinho em cena.

CENA 15: CASA DE GUTO E LUCIANA/SALA/INT./NOITE

Tocam a campainha. Luciana corre para atender e se surpreende ao ver que se trata de Azevedo e Débora.

LUCIANA – Débora?

Débora empurra Luciana e entra com Azevedo. Rapidamente, Luciana fecha o portão.

DÉBORA – Não se esquece que nós somos fugitivos da polícia.

LUCIANA – Como vocês conseguiram fugir?

DÉBORA – Foi tão fácil que você nem vai acreditar. Mas enfim, isso a gente conta depois. O importante agora é que nós vamos precisar da sua ajuda.

LUCIANA – Por quê?

DÉBORA – Você me disse que tinha perdido o Ricardo pro Dimas, certo?

LUCIANA – Sim.

DÉBORA – Pronto. Venâncio, eu te apresento à nossa aliada.

LUCIANA – Débora, o que está acontecendo?

AZEVEDO – Eu explico.

LUCIANA – Tá, Venâncio, então explica.

AZEVEDO – Nós três temos um inimigo em comum, o Dimas. Então, a minha ideia é que nós nos vinguemos do Dimas e, em seguida, eu e a Débora, como somos foragidos da polícia, fugimos do país.

LUCIANA – Certo. E como vocês vão fugir? Via pó de pirlimpimpim?

AZEVEDO – Ela se vira pra bancar a nossa fuga. Mas como você é uma cidadã livre, pode nos ajudar nessa tarefa.

DÉBORA – O Venâncio vai se vingar única e exclusivamente do Dimas. Já eu irei me vingar da Maria. Nós queremos sua ajuda para poder isolar os dois e nos ajudar a executar o serviço.

Luciana encara Azevedo e Débora, ainda um pouco confusa.

CENA 16: FORTALEZA/EXT./NOITE

Imagens da Avenida General Osório de Paiva.

Imagens da Avenida Mister Hull.

Imagens do Estádio Arena Castelão. Amanhece e entardece.

CENA 17: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/CORREDOR 2º ANDAR/INT./TARDE

Igor bate à porta do quarto. Ele não esconde a sua pressa e afobação.

IGOR – Maria, você já está pronta? Vamos logo, senão você vai se atrasar.

MARIA (voz) – Calma, Igor, eu já vou. Faz o seguinte, pode descer que eu já vou, tá?

IGOR – Tá bom… te espero lá no carro, tá certo?

MARIA (voz) – Tá certo.

Igor dá meia-volta e segue o seu caminho.

CENA 18: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE IGOR E MARIA/INT./TARDE

Maria está em frente ao espelho. Em cima da cama, vários vestidos diferentes. E, em suas mãos, dois vestidos. Um deles é posto por cima do seu corpo, mas ele não a agrada. Em seguida, ela põe o outro vestido por cima do seu corpo. Ela sorri, satisfeita com o vestido.

MARIA – Vai ser esse.

Maria põe o vestido escolhido em um lugar separado da cama e junta os demais vestidos espalhados pela cama, levando-os até o armário para guardá-los. Sem que ela perceba, a janela do quarto é aberta.

Corta para Maria guardando os vestidos no armário. De repente, ela sente algo tocando a sua cabeça e prendendo o seu braço. Ela percebe que se trata de uma arma de fogo e fica paralisada. Em seguida, Maria é jogada na direção oposta e se surpreende ao ver Débora encarando-lhe com um sorriso sarcástico.

DÉBORA – Oi, querida.

A cena congela em um efeito preto-e-branco no rosto de Maria.

FIM DO TRIGÉSIMO QUINTO CAPÍTULO.

37 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 35 (Penúltimo Capítulo)

  1. Débora e Azevedo fugiram da prisão e foram procurar Luciana
    Será que os dois vão fugir?
    Adorei os crossovers das suas outras webs
    Parabéns, Glay!

    P.S. Que ator fazia o Douglas em O Resgate?

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  2. Parabéns, dona Glauce, sua web merecia mais pontos e uma média geral melhor, pena que o público não soube reconhecer isso.
    Deixo meu humilde ponto é vai conferir meu blog, o link tá lá no EPC, o primeiro comentário.

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  3. Pingback: Amanhã, no último capítulo de “Mundos Opostos”… | TV MIX ::. Audiência da Tv

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    Que capítulo mais tenso, cara, o melhor até aqui e tenho dito! Esse delegado Azevedo é um psicopata, um maluco, nossa, não estou acreditando que ele foi capaz de levar Débora para esse mundo. Dimas desmascarou ele e o colocou atrás das grades, mas nem tudo são orquídeas e esse pilantra saiu pior do que entrou naquele lugar. Depois que li esses capítulos com a presença do tal Azevedo e sua história, fiquei muito mais interessado em ler O Resgate, sério, esse serial killer parece que aprontou muito, amo. E temos mais uma cúmplice: Luciana. Agora essa trinca promete arrasar nesse último capítulo. Estou sofrendo que esteja chegando ao fim- Marejando- Mas vamos aproveitar enquanto domingo nn chega, né non? Maria que se cuide pois a rainha nn esta pra brincadeira. Tiro, porrada, morte e bomba nesse final? Parabéns, Glay! ❤ Ansiosíssimo pelo desfecho desse sucesso. Parabéns pela trama em geral, eu adorei acompanhar Mundos Opostos 😀

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    • Aposto que vou surpreender você e muito com esse último capítulo.
      Ai ❤
      Muito obrigado, Fred, e aguardo você amanhã no último capítulo ❤
      Sabia que eu adorei ter você como leitor fiel de Mundos Opostos, fico muito feliz em saber que eu lhe agradei. ❤

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