Ovelha Negra – Capítulo 03

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EPISÓDIO 3: O Sacrifício.

Cena 1 Sala de Jantar – Noite.

Laura estende o prato. Clô pega a concha e mergulha na panela, quando a concha volta, traz a CABEÇA DA GATA PRISCILA com os olhos abertos de frente para Laura.

Laura: (grita de pavor) Priscila?

Clô: Meu Deus!

Todos se olham. Alguns muito assustados. Outros nem tanto.

Advogado: Clô? O que significa isso?

Clô: Eu não faço ideia. Não sei como isso foi parar aí.

Laura: (em choque e chorando) Meu Deus, Priscila!

Alex: Que nojo! Tapem isso!

Edmundo tampa. Laura se levanta.

Laura: (chorando de raiva) Malditos! Malditos! Quem fez isso? Malditos! Querem atingir a mim. Vocês me pagam. Quem fez isso me pagará! Eu…

Laura começa a tossir e fica zonza se apoiando na mesa.

Ângela: O que foi tia?

Laura: (desesperada) Eu quero voltar pra casa. Não fico mais aqui! Alguém liga pro meu helicóp…

Doutor Sérgio: O que está havendo? Senhora Laura?

Laura: (com a mão no peito) Estou, estou…

Laura desmaia e Sérgio a segura.

Doutor Sérgio: (grita) Alguém ajuda aqui.

Ângela: Tia?

Advogado e Ângela se aproximam. Os demais permanecem distantes indiferentes.

Advogado (Otávio): Senhora! Senhora!

Doutor Sérgio: Não sinto o pulso.

Ângela: Meu Deus! Está vermelha.

Os outros se inclinam pra olhar. Ambiente é de tensão.

Doutor Sérgio: Otávio, me ajude a leva-la pro quarto.

SÉRGIO E ADVOGADO CARREGAM LAURA PRO QUARTO NO ANDAR DE CIMA. TODOS AFLITOS.

Ângela: Ela ficou vermelha. Pareceu uma crise alérgica! Clô o que você colocou na comida?

Clô: (nervosa) Nada senhorita. Só o tempero de sempre.

Ângela: Minha tia ficou vermelha, só pode ser algo que ela não podia comer.

Edmundo: Pare com isso, Ângela! Chega de acusar a Clô.

Alex: (nervosa) Mas ela precisa explicar, como aquela gata foi aparecer na panela!

Clô: (aflita) Eu não sei. O prato era cordeiro. Não sei como aquela gata foi aparecer. Eu só deixei a cozinha por um instante, mas foi rápido. Eu…

Clô cai no choro.

Egídio: (gritando) Ângela, me abraça! Egídio tem medo.

Irene: (explode de raiva) Para com isso, seu retardado! Essa casa parece um hospício.

Todos se acusando. Advogado desce.

Advogado(Otávio): Sérgio está com ela. Pediu pra que não fizessem barulho aqui embaixo.

Amanda: Mas o que ela teve?

Advogado(Otávio): Parece que ao ver seu animal de estimação assassinado, ela teve a pressão aumentada e muito. Sem contar que está toda empolada. Sérgio está tentando controlar a pressão e tentando acalmá-la. Mas parece que o negócio é bem mais sério, pessoal.

Ângela: (chorando) Ah meu Deus, proteja minha tia.

Advogado (Otávio): Foi uma cena chocante. Eu mesmo estou impressionado com o que vi.

Clô: (chorando) Eu já disse que não sei como isso foi acontecer. Eu me ausentei da cozinha rapidamente. O cordeiro estava no forno. Ah meu Deus!

Ângela: Algum monstro cruel fez aquilo. Assassinar uma gata indefesa! Quem fez isso? Quero ver quem se manifesta!

Todos se olham.

UMA HORA DEPOIS.

CENA 2 SALA DE JANTAR – NOITE.

Todos reunidos na ponta da escada. Sérgio desanimado descendo.

Alex: Então Sérgio. Como está minha mãe?

Doutor Sérgio: (lágrima nos olhos tentando ser forte) Ela ingeriu camarão, ou seja, uma substância que continha alergênico entrou em seu organismo. Assim ela teve uma redução da pressão arterial, sua pressão subiu muito rápido por causa da cena chocante que viu e logo depois chegou à zero. Ela então teve um choque anafilático e infelizmente… (com a voz embargada)

Irene: Infelizmente o quê? Fala logo!

Doutor Sérgio: Não resistiu… Ela acaba de morrer.

Ângela: (grita chorando) Não! Não minha tia não.

Ângela tem uma queda de pressão. Edmundo a segura e a senta em uma cadeira. Egídio chora.

Amanda: Meu Deus, o que faremos com o corpo dela, doutor?

Doutor Sérgio: Bem eu sugiro que deixemos no quarto dela, onde a mesma faleceu. Amanhã quando o dia clarear, faremos um contato com o instituto médico legal mais próximo e com a polícia, para verificação da perícia, enfim.

Alex: Que polícia? Que IML? Estamos isolados aqui. Essa casa é a única coisa nessa ilha.

Doutor Sérgio: Bem, podemos ligar. Eles deverão vir nos buscar.

Edmundo: Alérgica a camarão?

Doutor Sérgio: Algumas alergias se desenvolvem de uma hora pra outra. Não se culpe Clô.

Clô: Mas eu não coloquei camarão no suflê. Nem molho.

Advogado (Otávio): Então alguém colocou. Alguém que sabia.

Irene: Bom. Ela morreria do mesmo jeito não é? Não se culpe Clô.

Todos olham pra Irene.

Irene: Que foi? Não ia morrer mesmo?

Doutor Sérgio: De qualquer forma, quem fez isso, fez com muito ódio e muito bem pensado. Alguém matou a gata dela de vingança. Alguém que não gostou nenhum pouco do resultado do testamento. Isso significa que foi um ato insano. Já o camarão, foi um ato pensado. O que temos aqui?

Edmundo: Espera aí. Está insinuando que ela foi assassinada? E que um de nós aqui fez isso? Como pode afirmar um absurdo desses?

Doutor Sérgio: Não é nenhum absurdo. Nenhum de nós aqui tinha tempero de camarão no prato, só o dela. O que me diz? Só posso dizer que alguém colocou lá sem que ninguém visse.

Todos se olham.

Ângela: (chorando) Eu quero vê-la Sérgio.

Doutor Sérgio: Minha querida; acho melhor não. A perícia precisa analisar.

Ângela: (ríspida) Por favor.

CENA 2 QUARTO DE LAURA – NOITE.

Corpo de Laura na cama, Sérgio junta as mãos dela sobre o peito e a cobre com um lençol. OS DEMAIS CHEGAM E FICAM NA PORTA, IRENE IMPACIENTE. Ângela, chorando entra, e ajoelha diante da cama, tocando a mão gelada da tia. Sérgio, TOMADO DE PAIXÃO a levanta e a conduz até a porta.

Ângela: (chorando) Gostaria de ficar com ela.

Com carinho e amor por Ângela, Sérgio aproveita para abraça-la.

Doutor Sérgio: Sinto muito querida, mas melhor deixar essas despedidas costumeiras para o velório. A princípio, devemos esperar pela chegada dos peritos.

Ângela: Eu queria tanto.

Irene: (impaciente) Não seja louca Ângela! Não viu que ela tá morta? Quer fazer o quê? Ficar ali conversando com um cadáver? Fazer carinho? Ficou maluca?

Ângela: Não sou insensível como você.

Irene: Insensível não. É uma questão de higiene também. Só falta querer passar a noite deitada na mesma cama que ela. Vocês me desculpem, mas agora sim eu vou me deitar. Amanhã a gente chama os peritos e sai daqui. Chama os bombeiros, a polícia.

Amanda: (preocupada) Polícia? Então há necessidade da polícia investigar?   (tensa olha para Alex)

Advogado: Bem… Sim.

Amanda: Mas ela não morreu por causa de saúde, gente?

Doutor Sérgio: Mesmo assim, minha cara, é preciso investigação. É normal, podem alegar um monte de coisas, como envenenamento, enfim.

Alex: Envene… (ri nervoso) Imagina gente! Que isso? Estamos em família. Acho que ela morreu do coração. Não aguentou a cena que viu.

Advogado (Otávio): Talvez a morte da gata seja só fachada pra ocultar um possível envenenamento.

Alex: O que insinua?

Edmundo: Também não acredito. Que a gata foi assassinada isso eu sei. Mas dizer que a tia Laura foi envenenada, aí é demais. Exceto que alguém realmente tivesse interesse na morte dela.

Clô: Por favor, pessoal. Eu já disse a vocês, que não coloquei camarão na comida.

Doutor Sérgio: Acalme-se Clotilde. Bem, porque não tentamos ligar agora pra polícia ou para os bombeiros?

Irene e Edmundo se olham preocupados. Mordomo e Clô ficam tensos. Alex e Amanda também se olham.

CENA 3 SALA DE JANTAR – NOITE.

Doutor Sérgio com o telefone fixo nas mãos. Os demais em pé, olhando pra ele, tensos. Doutor Sérgio desiste e coloca o telefone novamente no gancho.

Doutor Sérgio: Realmente não há linha.

Mordomo (Jayme): Eu já disse. A casa foi reformada há pouco tempo. Mas esses pequenos detalhes ainda não tinha ficado prontos. O pessoal da companhia telefônica ficou de vir na próxima semana.

Ângela: Gente, pra quê fixo? Temos celulares, não? Vou buscar o meu.

Ângela sobe as escadas.

Advogado(Otávio): Se você conseguir achar área nesta ilha…

Irene: Isso se conseguir achar o celular. Porque o meu sumiu desde quando voltei do almoço.

Advogado(Otávio): Sumiu?

Edmundo: Podem usar o meu. Ele tá aqui. (apalpa o bolso do casaco e não sente nada) Quer dizer? Estava aqui.

Doutor Sérgio: Não me diga que o seu também sumiu? (mexe na maleta de médico) O meu ficou aqui na male… Não está mais aqui.

Ângela volta descendo as escadas.

Ângela: Gente, o meu celular desapareceu!

Alex: Que isso? Epidemia?

Ângela: Eu deixei o meu carregando no quarto, antes de descer pra…  Jayme, você viu o meu celular carregando, não viu? Quando entrou no quarto pra limpá-lo.

Mordomo (Jayme): (pensando) Sinceramente, não me lembro; senhorita.

Edmundo: Jayme, o meu celular estava no bolso do meu casaco, que deixei sobre a cama, antes da tal limpeza dos quartos.

Todos olham para o Mordomo.

Mordomo(Jayme): O que os senhores insinuam? Que eu possa ter roubado?

Irene: O que você nos sugere que pensemos?

Mordomo(Jayme): Isso é um absurdo! Jamais roubei alguém.

Ângela: Peraí, gente! Também não é assim. Não vamos sair acusando ninguém sem provas.

Advogado(Otávio): Ângela tem razão. Jayme poderia processá-los.

Irene: Tá a fim de arrumar cliente aqui nesse fim de mundo, doutor?

Advogado(Otávio): Não me provoque senhorita Irene.

Irene: Não seria nenhuma provocação. É tática de mercado. Ainda mais sabendo agora que seu possível futuro cliente é dono de uma fortuna.

Doutor Sérgio: Minha nossa! É verdade! Jayme é o primeiro herdeiro!

Egídio: Então foi ele que matou! Foi ele! Jayminho é mau. Ovelha má! Ovelha negra!

Mordomo: Eu vou te mostrar quem é mau, seu dementezinho. Quer que eu te cure? Jogo um balde de água em você que é assim que se curam os loucos!

Egídio: Eu jogo água em você primeiro. Bobão!

Amanda: Vamos acabar com essa palhaçada. Havia levado o meu celular lá pra fora, após o almoço. Deixei-o em cima da cama. Vou busca-lo.

Amanda sobe as escadas.

Alex: E o seu, Otávio?

Advogado (Otávio): Não comentei que o meu caiu no mar?

Alex: Quase o mesmo que o meu. Com uma diferença, joguei o meu de propósito. Queria passar um fim de semana sem ligações do pessoal do escritório.

Advogado: E a senhora, dona Clô?

Clô: Nem sei mexer nesse treco. Nem tenho idade pra aprender.

Mordomo (Jayme): Nunca tive um celular na vida. Nunca precisei e nem tenho interesse. Estou profundamente aborrecido com as acusações feitas a minha pessoa pela senhorita Irene e o senhor Edmundo.

Irene: Me processa. Olha o advogadozinho aí, ó. (Advogado respira fundo)

Edmundo: Ângela, você tinha pego o celular da tia Laura quando ela quis voltar pra casa.

Ângela: Sim. Havia colocado no meu bolso, mas sumiu também.

Egídio olha com desconfiança pra Ângela. Amanda volta com o celular.

Ângela: Viram? Amanda é mais cuidadosa que nós.

Alex: Achou amor?

Amanda: O celular sim.

Doutor Sérgio: Graças a Deus. Posso ligar?

Amanda: Se conseguir o milagre de ligar de um celular sem bateria.

Irene: Como sem bateria? Não vai me dizer que… (Ri) Essa foi boa! Parabéns Jayme. Inovou dessa vez. Tirou só a bateria. Que foi? Não gostou do celular da Amanda?

Edmundo: Certamente foi ele. O único que tinha acesso aos quartos. Agora entendo. Faz parte do plano nos deixar sem contato algum. Isolados nesta ilha. É ou não é Jayme?

Mordomo(Jayme): Como disse?

Irene: É isso mesmo que você ouviu. Você é o herdeiro agora. Que belo plano hein, Jayme? A resposta está na nossa cara, pessoal. Ele matou a tia Laura e antes deu um fim nos celulares de todos aqui, pra que ninguém pudesse avisar a polícia. Parabéns. Você foi muito engenhoso. Canalha! Assassino!

Todos se voltam contra o Mordomo Jayme, desconfiados dele. Jayme fica encurralado e os encara. Close no rosto de Jayme que está tenso.

Continua…

33 thoughts on “Ovelha Negra – Capítulo 03

  1. Morto que a Laura já morreu! Confesso que fiquei com um pouco de pena dela. E fiquei com pena da Clô também, não consigo acreditar que ela tenha colocado os camarões na comida, nem que ela matou a gata. E morto que todos ficaram sem celular. Será que Jayme é culpado mesmo?

    O Egídio me causa muita desconfiança.

    Parabéns, Maurício!

    Divulgação – https://audienciadatvmix.wordpress.com/2016/10/19/cartas-para-florenca-capitulo-05/

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  2. Parabéns pelo capítulo Maurício. Laura envenenada e antes de morrer viu sua gata sendo servida. Quem foi tão cruel com ela, suspeitos tem vários. Penso ser Alex e Irene. O mordomo seria muito óbvio.
    Agora começam as mortes, as mentiras, as acusações e as armações para ser o herdeiro e ter o dinheiro de Laura. Web muito boa. Quem é a Ovelha Negra?

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  3. Laura morreu envenenada e todos desconfiam do Jayme, não tiro a certeza deles, o Jayme é o primeiro herdeiro e com certeza vai ser o próximo a morrer
    Sumiram com todos os celulares, mas o da Amanda somente tiraram a bateria, risos
    Irene rainha como sempre, brilhando em todas a as cenas
    Parabéns, Maurício!

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    • Jayme agora é o dono da fortuna!! Será ele a bola da vez???
      Esses celulares…..
      Irene é uma personagem que fala o que pensa!! Acho que de todas é a que tinha mais ódio pela tia Laura! As duas batiam de frente. Laura não gostava mesmo dela pq tinha uma adversária à altura!!
      Obrigado amigo! 🙂

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  4. Não foi a Irene. Está muito evidente o ódio dela, seria muito óbvio ela ser a assassina. Desconfio do médico e advogado.

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