Cadeia Sem Grades – Capítulo 11

Cena 1: Campana/ Beco/ Carro de Dário, Dia

Dário adentra seu carro, se sentando em frente ao volante. Ele olha para Taís durante alguns segundos, com um sorriso de satisfação no rosto. De repente, ela começa demonstrar reação, se mexendo e soltando gemidos de dor. Ela olha ao redor, sem entender nada. E antes que Taís pudesse compreender a situação, Dário cerra seus punhos.

Dário: Mil desculpas, meu amor. Mas é preciso.

Ele desfere um forte soco na face de Taís, que ainda desnorteada, desmaia novamente. Sangue escorre do nariz da mulher. Ele dá partida no carro e acelera, saindo do beco e adentrando a estrada principal.

Cena 2: Campana/ Hotel Campana Palace/ Recepção, Dia

Paulino está em pé no balcão, conversando com o responsável pelo hotel.

Paulino: Como assim, a hóspede Taís não se encontra mais aqui nesse hotel?

Gerente: Eu não sei explicar, senhor. Uma das camareiras me informou que o quarto da senhorita Taís estava vazio, seus pertences não estavam mais lá. Eu fui checar, e encontrei apenas uma quantia em dinheiro sobre um móvel, certamente para pagar sua estadia aqui no hotel.

Paulino: Você está querendo dizer que a Taís foi embora? Mas isso não é possível! Porque ela faria isso sem dizer nada à ninguém? Sem nem ao menos pagar suas despesas pessoalmente?!

Gerente: Isso, infelizmente eu não posso informar, senhor. Mas o fato, é que a senhorita Taís não amanheceu no Campana Palace hoje. Ela deve ter ido embora pela madrugada. 

Confuso, Paulino concorda com a cabeça.

Paulino: Muito estranho… mas enfim, obrigado pela informação.

Paulino se vira e caminha em direção a saída do hotel. Na porta de entrada, ele se depara com Alana chegando.

Paulino: Alana? O que faz aqui?

Alana: Eu moro aqui, meu amor. Mas felizmente é temporário. E você? Veio procurar a empregadinha que chama de sua mulher?

Paulino: Não lhe interessa. Com licença.

Paulino passa pela porta, saindo do hotel. Alana chama sua atenção.

Alana: Não se esqueça que eu sempre estarei ao seu dispor, Paulino. Estarei sempre a sua espera, ao contrário de outras…

Ela sorri, e Paulino lhe lança um olhar confuso. Sem dizer nada, ele se vira e caminha até seu carro. Alana continua com um sorriso no rosto.

Cena 3: Campana/ Mansão de Paulino/ Sala de Estar, Dia

A porta de entrada se abre, e Paulino adentra. Ele caminha até Rodolfo, que está sentado no sofá, e também se senta.

Rodolfo: Então, meu irmão? Como foi a conversa com Taís?

Paulino: Não houve conversa, Rodolfo. A Taís foi embora!

Rodolfo: Como assim? Para onde ela há de ter ido?

Paulino: Não sei. Talvez tenha voltado para o Rio de Janeiro. Ela deve estar com raiva de mim…

Rodolfo: Não, eu duvido. Ela te ama demais para ir embora. Ela não desistiria tão facilmente!

Paulino não se contém, e começa a chorar.

Paulino (chorando): Eu não sei mais o que pensar, meu irmão. O que eu faço? Eu mesmo afastei o amor da minha vida de mim!

Rodolfo: Se acalme, Paulino. Tudo não deve passar de um mal entendido. A Taís não abandonaria a cidade assim, de repente!

Paulino (chorando): As hipóteses mais absurdas insistem em me atormentar. Eu não sei no que pensar, no que acreditar.

Rodolfo coloca uma de suas mãos no ombro de Paulino, o confortando.

Cena 4: Campana/ Praça, Dia

Rodolfo está sentado em um banco junto com Lucília, que está no seu horário de almoço.

Rodolfo: Acabei de vir da casa de Paulino, e ele me contou que a Taís foi embora. Que história é essa?!

Lucília: Eu cheguei no hotel hoje pela manhã e fiquei sabendo disso. Eu não acredito que Taís foi embora. Conheço minha amiga, ela jamais faria isso.

Rodolfo: Eu também não estou crendo, mas que outra resposta existe para esse sumiço?

Lucília: Eu não sei. Eu só tenho certeza, de que a Taís jamais iria embora dessa forma, sem dizer nada para ninguém. Estou muito preocupada com ela. Farei uma inspeção em seu quarto, preciso encontrar algo que possa justificar esse desaparecimento. Isso não faz sentido.

Rodolfo: Faça isso, amor. Qualquer coisa que encontrar, me procure. Eu passarei o resto do dia com o Paulino, ele está muito abalado com tudo isso. Me procure na casa dele.

Lucília concorda e continua conversando com Rodolfo, mas o som é abafado.

Cena 5: Campana/ Mansão de Olavo e Odete/ Sala de Estar, Dia

Odete está em pé, ao lado do aparelho de telefone que está fixado no móvel ao lado. O mesmo aparelho está em seu ouvido.

Odete (ao tel): Como é Paulino? A Taís sumiu? Mas que ótima notícia! (…) Me desculpe, meu filho, mas não vou sofrer com isso, pelo contrário. Você está livre. (…) Tudo bem, você está certo. Não iremos discutir por causa disso. (…) Até mais, Paulino. Fique bem.

Odete encerra a ligação.

Odete: A golpista foi embora! Que notícia maravilhosa. Menos uma interesseira. Agora só falta eu me livrar daquela crioula que está cercando o Rodolfo.

Ela abre um largo sorriso, planejando seus próximos passos.

 

Cena 6: Campana/ Hotel Campana Palace/ Quarto de Taís, Dia

A porta se abre e Lucília adentra, com seus materiais de trabalho no carrinho de mão. Ela se apressa e começa a vasculhar o quarto, procurando por algo que possa explicar o desaparecimento de Taís. Ela procura nos móveis, abrindo as gavetas. Olha nos armários, mas nada encontra. Até que, em cima de um criado-mudo, ela avista uma corrente. Ela pega e observa.

Lucília: Essa corrente… é da Taís! E é muito significativa para ela. Ela sempre está com esse colar no pescoço. Minha amiga não pode ter ido embora. Ela jamais sairia da cidade sem essa corrente. Jamais sairia da cidade sem despedir de mim. Ela não estava disposta a desistir do Paulino… Se Taís deixou Campana, não foi por livre e espontânea vontade!

Ela guarda a corrente no bolso e arruma os objetos do quarto que havia retirado do lugar.

Cena 7: Imagens Aleatórias

Anoitece ao som de N – Nando Reis.

Cena 8: Campana/ Mansão de Paulino/ Sala de Estar, Noite

Paulino, Rodolfo e Lucília estão no escritório. Os dois últimos, sentados de frente para o primeiro. Lucília está com a corrente de Taís nas mãos.

Lucília: Revirei o quarto de Taís, e encontrei essa corrente dela. Este apetrecho é muito importante para ela, estava sempre com ele no pescoço.

Paulino pega a corrente e analisa.

Paulino: Eu me lembro dessa corrente. E realmente, nunca vi Taís sem ela no pescoço.

Rodolfo: Agora temos uma prova concreta de que ela não foi embora. Ela não iria sem esse objeto, que é tão importante para ela.

Paulino: Mas então onde ela está?

Lucília: A Taís não está na cidade, disso eu tenho certeza. Mas eu também tenho certeza, que ela não foi embora por vontade própria.

Rodolfo: Você acha que ela foi obrigada a deixar Campana?

Lucília: Acho que ela pode ter sido levada a força dessa cidade.

Paulino e Rodolfo olham fixamente para a moça, assimilando sua teoria.

Paulino: Você acha que a Taís foi sequestrada?! 

Lucília concorda.

Lucília: E creio que todos nós sabemos quem pode ter feito isso.

Paulino fica pensativo, considerando a hipótese.

Paulino: Lucília, por favor. Você é a pessoa mais próxima da Taís. Você não sabe em que local do Rio de Janeiro ela morava?

Lucília: No momento eu não me recordo… talvez se eu parar para pensar, consiga me lembrar.

Paulino: Pense! Precisamos colher informações. Se preciso for, irei atrás de Taís no Rio de Janeiro.

Lucília concorda e Rodolfo observa em silêncio.

Cena 9: Rio de Janeiro/ Casa de Dário e Taís/ Entrada, Noite

A porta se abre e Dário adentra, com Taís em seu colo, desacordada. Provavelmente, ele fez a mulher desmaiar outras vezes durante a viagem. Ele a coloca deitada no sofá, e fecha a porta. Após, Dário volta sua atenção para Taís, se ajoelhando em frente a ela. Ele beija boca da mulher, que permanece inerte.

Dário: Ah, Taís… Como é bom ter você aqui novamente. Não consigo viver sem sua presença.

Ele sorri e passa as mãos pelos cabelos da esposa. De repente, Taís começa a recobrar os sentidos, abrindo os olhos. Ela avista a figura de Dário à sua frente, mas sua visão está turva, e ela não o reconhece. Mas isso é por poucos segundos. Sua visão volta ao normal e ela reconhece o marido, se assustando.

Taís (assustada):  Dário?! Onde eu estou?!

Ela olha ao redor, reconhecendo o local, e se desespera. Dário abre um largo sorriso.

Dário: Bem vinda ao lar, meu amor. Você voltou para o lugar de onde jamais devia ter saído.

O desespero de Taís aumenta a cada instante. Ela percebe que está presa novamente, naquela cadeia sem grades.

A imagem congela no rosto apavorado de Taís, em um tom amarelado. Aos poucos, a sombra de uma grade se forma sobre a mulher.