Fantasma Vivo – Capítulo 01

CENA 01: SÃO PAULO/EXT./MANHÃ

Imagens de diversos pontos turísticos da cidade de São Paulo.

LETREIRO: “São Paulo, 1998”

CENA 02: CASA DE CARLOS ALBERTO/QUARTO DE VICENTE/INT./DIA

Uma criança ansiosa se agitava inquietamente dentro daquele quarto. A velha babá custa a distrai-lo com um carrinho de brinquedo.

SÔNIA – Vamos lá, Vicente vem brincar.

O garoto chuta o brinquedo com força, assustando Sônia.

VICENTE (elétrico) – Não quero!

SÔNIA – Você está muito impaciente.

VICENTE – É hoje! É hoje!

SÔNIA – Eu sei que é hoje, mas você precisa se acalmar.

VICENTE – Não, Sônia, eu não preciso me acalmar. Eu quero ver ele logo.

SÔNIA – Eles já estão chegando. Quando você menos esperar, eles aparecem.

Vicente se deita no chão, respira fundo. Ele já estava se acalmando quando ouve um barulho de motor de carro. Imediatamente, se levanta e sai correndo. Sônia apenas o observa sair do quarto em disparada.

CENA 03: CASA DE CARLOS ALBERTO/FACHADA/EXT./DIA

Elizabeth se aproxima da porta de entrada com algo repousado em seus braços. Vicente sai pela porta e se surpreende com o que vê.

VICENTE – É ele, mamãe?

ELIZABETH – Sim, meu querido. É o seu irmão.

Elizabeth se agacha na frente de Vicente e lhe mostra o recém-nascido, adormecido, envolto na coberta e repousado em seus braços. Vicente observa, maravilhado, mas se assusta ao ouvir o barulho da porta do carro.  Carlos Alberto se aproxima de cara fechada, assustando Vicente.

C. ALBERTO – É melhor entrarmos. Aqui fora não é lugar para “apresentações”.

ELIZABETH – Seu pai tem razão, Vicente. Vamos entrar?

Elizabeth vai entrando, cantarolando uma canção de ninar. Vicente se prepara para segui-la, mas Carlos Alberto o segura. Elizabeth também estaciona, estranhando.

C. ALBERTO – É melhor você não ficar muito perto do bebê. Ele ainda é muito pequeno. E como nasceu prematuro, todo cuidado é pouco.

ELIZABETH – Não seja infantil, Carlos Alberto, o Vicente não fará mal nenhum a ele. Venha, meu querido, venha conhecer seu irmãozinho.

Carlos Alberto fica indignado com a resposta de Elizabeth. Os três vão entrando.

CENA 04: CASA DE CARLOS ALBERTO/QUARTO DE ARTHUR/INT./DIA

Elizabeth põe o bebê dentro do berço. Vicente observa, animado.

ELIZABETH – Ele é lindo, não é?

VICENTE – É sim, mas eu acho que vai demorar um pouco pra gente jogar futebol juntos.

Elizabeth sorri e acaricia a cabeça de Vicente.

ELIZABETH – Quando você menos esperar, vocês estarão correndo juntos por aí e, quem sabe, disputando a mesma namorada.

VICENTE (indignado) – Isso nunca, mamãe. Eu não vou me casar NUNCA!

ELIZABETH – Você diz isso agora.

VICENTE – Posso pedir uma coisa?

ELIZABETH – Claro!

VICENTE – Posso tocar nele?

ELIZABETH – Que tolice é essa? É claro que pode tocar.

Vicente olha para o berço e, depois, para a porta do quarto: ele se assusta ao ver Carlos Alberto encostado na porta, de cara fechada.

VICENTE (tenso) – É melhor deixar pra outra hora.

Elizabeth também olha para Carlos Alberto.

ELIZABETH – Você não precisa ficar com medo, seu pai só estava brincando. Ele é seu irmão, esqueceu?

VICENTE – Claro que não.

Carlos Alberto observa apático. Vicente toca cuidadosamente a mãozinha do bebê, que imediatamente abre um olho e sorri para Vicente.

ELIZABETH – Parece que ele já gostou de você.

Vicente sorri fartamente.

ELIZABETH – Vicente conheça seu irmão mais novo, Arthur e Arthur conheça seu irmão mais velho, Vicente.

Arthur e Vicente sorriem um para o outro.

CENA 05: LISBOA/EXT./NOITE

Imagens de diversos pontos turísticos da cidade.

VICENTE (off) – Muita coisa aconteceu desde aquele dia. Resumidamente, eu me realizei profissionalmente no exterior. Me formei médico e ganhei o respeito de toda a Europa: mesmo tendo apenas 25 anos, sou referência em pesquisas e no tratamento de crianças com câncer em Portugal. Digamos que eu também me realizei pessoalmente, já namoro há um ano com a Riely. Mas… bom, deixa pra lá…

LETREIRO: “Lisboa, 2017”

CENA 06: APARTAMENTO DE RIELY E VICENTE/SALA/INT./NOITE

Vicente sentado numa poltrona, observando a paisagem pela enorme janela de vidro. Pensativo e choroso, ele se surpreende ao sentir-se abraçado por trás. É Riely, que ri da reação do namorado.

RIELY – O que estás a fazer, amor meu?

VICENTE – Estou a pensar…

RIELY – Em mim, suponho?

Vicente sorri levemente.

VICENTE – Também.

RIELY – Já sei, estás a pensar na nossa viagem ao Brasil.

Vicente se levanta, indo em direção à cozinha. Riely o segue.

VICENTE – Estou com fome. Queres alguma coisa, Riely?

RIELY – Não adianta despistar, Vicente, eu sei que tua volta ao teu país mexe contigo.

CENA 07: APARTAMENTO DE RIELY E VICENTE/COZINHA/INT./NOITE

Vicente chega à cozinha, seguido por Riely. Ele para de andar e se vira de frente para a namorada.

VICENTE – Sim, eu estou preocupado, mas estaria mais se tu não estivesses comigo. A tua companhia me acalma.

RIELY – Tu não sabes como eu fico feliz em ouvir isso.

VICENTE – De todo modo, não existe lugar melhor do que a nossa casa, Riely.

RIELY – Mas lá é a tua casa, Vicente, não a minha.

VICENTE – Mas será a nossa. Tu vai ver o quanto nós seremos felizes juntos lá. Apesar da forma como eu tive que deixar o Brasil, aquele país sempre vai ser o meu lar.

RIELY – Por falar nisso, você nunca me falou o que te motivou a deixar teu país.

VICENTE – Bom, se eu nunca falei, deve existir uma razão, né?!

RIELY – Ok, não irei insistir.

Riely abraça Vicente e lhe dá um beijo.

VICENTE – Tu me amas, Riely? De verdade? Estás disposta a abandonar tudo para ficar comigo?

RIELY – Nada me faria mais feliz. Desde que meus pais se foram, eu não tenho mais ninguém além de ti.

Eles se beijam novamente.

RIELY – O que me diz de irmos até a casa de banho e tomarmos um banho bem gostoso juntos?

Riely invade timidamente a camisa de Vicente, encarando-o com um olhar provocante, mas ele se esquiva.

VICENTE (tenta imitar Riely) – Eu já me banhei. Que tal tu ires até a casa de banho ficar bem cheirosinha enquanto eu preparo o nosso jantar?

RIELY (ri) – Teu sotaque é péssimo, Vicente.

VICENTE – Tu sabes que eu me esforço.

Riely vai embora, com cara de poucos amigos. A sós em cena, Vicente vai até a gaveta de colheres e tira de lá uma fotografia antiga.

Foco na fotografia: são Arthur e Vicente juntos no jardim de casa.

FLASH!

CENA 08 [FLASHBACK] CASA DE CARLOS ALBERTO/JARDIM/EXT./DIA

Arthur e Vicente brincando de futebol no jardim. O mais novo encontra dificuldades em chutar a bola. Carlos Alberto e Elizabeth observam ao fundo.

LETREIRO: “São Paulo, 2004”

VICENTE – Vamos lá, Arthur, você consegue!

Arthur tenta chutar a bola, mas acaba tropeçando e caindo. Carlos Alberto nega com a cabeça.

C. ALBERTO (indignado) – Esse menino não consegue fazer nada direito. Que menino de seis anos não consegue chutar uma bola?

ELIZABETH – Não fale assim, meu amor. Dê tempo a ele, uma hora ele vai conseguir.

C. ALBERTO – Eu espero que ele consiga logo, antes que vire aquela coisa.

ELIZABETH – Do que você está falando?

C. ALBERTO – Sabe muito bem do que eu estou falando.

Ele sai furioso, deixando Elizabeth ali sozinha. Vicente ajuda Arthur, que chora.

VICENTE – Você está bem?

ARTHUR – Eu nunca vou conseguir fazer isso!

Vicente enxuga as lágrimas do irmão.

VICENTE – Claro que vai. Eu, na sua idade, não era tão bom também.

ARTHUR (surpreso) – Jura? Então, quando eu tiver 12 anos, eu vou jogar como você?

VICENTE (sorri) – Claro! Você só precisa praticar muito.

ARTHUR – Então é melhor eu começar.

Empolgado, Arthur se levanta e vai até a bola. Respira fundo e manda um chute certeiro na bola: ele sorri fartamente ao ver que conseguiu atingir a trave. Vicente vibra em comemoração e Arthur corre para abraçá-lo.

ARTHUR – Você é o melhor irmão do mundo!

Elizabeth se aproxima, emocionada, com uma câmera fotográfica em mãos.

ELIZABETH – Que cena mais linda! Que tal a gente registrar esse momento?

Os dois posam para a câmera, lado a lado e sorridentes.

ELIZABETH – Que lindos. Digam xis.

FLASH!

Vicente fecha a gaveta. Ele fecha os olhos, deixando uma lágrima rolar pelo seu rosto. Da porta da cozinha, Riely observa a cena com estranheza.

CENA 09: SÃO PAULO/EXT./NOITE

Imagens de diversos pontos turísticos da cidade.

VICENTE (off) – No Brasil, eu sou conhecido como filho do poderoso Carlos Alberto Toledo. Meu pai é um empresário bem conhecido e influente por lá… não podia deixar de ser, afinal ele comanda uma organizadora de eventos bem requisitada. Mas minha relação com ele não é das melhores, afinal ele não tá nem aí pra mim. Enfim, eu sinto o mesmo por ele, apesar dele ser meu pai, não o vejo como tal e suspeito que ele esteja escondendo alguma coisa, mas eu ainda não sei bem o quê.

Imagens da fachada da Eventos Toledo.

CENA 10: EVENTOS TOLEDO/ESCRITÓRIO DE CARLOS ALBERTO/INT./NOITE

Carlos Alberto sentado em sua escrivaninha, concentrado. Batem à porta, que abre para a entrada da secretaria.

SECRETÁRIA – Com licença, seu Carlos Alberto. Eu já estou de saída.

C. ALBERTO – Ok. Amanhã eu lhe espero no mesmo horário.

SECRETÁRIA – Sim senhor. Até amanhã.

Ele não responde e espera a saída da mulher. Uma vez a sós em cena, ele vai até o telefone fixo.

C. ALBERTO – Ela já saiu. Podem entrar.

Assim que encerra a ligação, Carlos Alberto tira o blazer.

C. ALBERTO – Hora de me divertir um pouco.

Batem à porta, que abre para a entrada de Solange uma mulher bem vestida, acompanhada de uma bela adolescente trazida especialmente para satisfazer sexualmente Carlos Alberto.

SOLANGE – Achei que ela não iria embora.

C. ALBERTO – Tivemos muito trabalho hoje.

ADOLESCENTE (maliciosa) – Espero não lhe dar muito trabalho hoje.

C. ALBERTO (malicioso) – Você nunca me dá trabalho, minha princesinha.

Carlos Alberto tira o cinto enquanto Suelen tira sua camiseta.

SOLANGE – Vou deixá-los a sós.

Carlos Alberto se aproxima da jovem, que leva a mão ao volume em sua calça e sorri maliciosamente.

ADOLESCENTE – Parece maior a cada dia.

Solange se retira, com um sorriso malicioso, e fecha a porta.

CENA 11: SÃO PAULO/EXT./NOITE

TRILHA SONORA: Ride – Lana Del Rey

Amanhece na cidade de São Paulo.

Imagens da fachada de uma universidade e do movimento em alguns pontos do espaço, foco em Arthur sentado em um canto afastado, ele escreve numa espécie de diário.

ARTHUR (off) – Nesses meus 19 anos de vida, eu tive poucos momentos de felicidade, a verdade é que depois que o Vicente me abandonou eu não tive mais razão para sorrir ou para me divertir. Além disso, sou desprezado pelo meu pai que odeia o jeito que eu me visto, o jeito que eu falo, no geral ele me odeia por completo. Enquanto isso a minha mãe até tenta ser próxima, mas ela está mais preocupada em chamar a atenção do meu pai do que olhar para mim. É já deu pra perceber que a solidão é a minha única companhia, quer dizer ela e o Túlio, meu melhor amigo. Melhor dizendo, meu único amigo.

CENA 12: UNIVERSIDADE/REFEITÓRIO/INT./DIA

Túlio chega perto de Arthur e percebe a feição triste do amigo.

TÚLIO – De novo essa cara, Arthur?

ARTHUR (irritado) – É a única que eu tenho.

Arthur pega o celular, põe os fones de ouvido e coloca uma música. Túlio irritado se aproxima e lhe toma o celular.

TÚLIO – Eu não tenho culpa dos seus problemas, não precisa descontar em mim.

ARTHUR – Eu não estou descontando nada em ninguém, só tô de mau humor.

TÚLIO – Mau humor esse que já dura semanas, meses a fio.

ARTHUR – Esse é o meu jeito. Se você está incomodado, é melhor não andar comigo.

Arthur se levanta, recupera o seu celular e se prepara para ir embora, mas Túlio o segura.

ARTHUR – Me solta, Túlio.

Arthur puxa o braço e vai embora, colocando os fones de ouvido. Túlio observa o amigo se afastar.

TÚLIO – Só espero que você não esteja fazendo o que eu estou pensando.

Ao fundo, alguém observa a cena minuciosamente.

CENA 13: FACULDADE/BANHEIRO MASCUILINO/INT./DIA

Depois de lavar o rosto, Arthur encara com raiva o seu reflexo no espelho.

ARTHUR – Seu idiota! Ele não tem culpa.

Um rapaz entra no banheiro: atlético, musculoso, olhos azuis e corte de cabelo militar, Yago, sorri para o reflexo de Arthur.

YAGO – Ora, ora, ora… se não é o Arthurzinho?!

Arthur imediatamente fecha os olhos ao vê-lo.

YAGO (irônico) – Quê isso? Não vai falar com o seu crush?

ARTHUR – Eu não tenho nada para falar com você.

YAGO (sarcástico)- Você não sabe como isso me ofende?!

Arthur tenta sair, mas Yago se põe em sua frente.

ARTHUR – Você quer me dar licença?

YAGO – Ai, Arthur, nós estamos sozinhos aqui. Que tal a gente relembrar aquele dia?

Irado, Arthur acerta um soco no rosto de Yago que quase vai ao chão.

ARTHUR – Se você encostar em mim, vai se arrepender.

Cobrindo a face agredida com a mão, Yago encara Arthur furiosamente.

YAGO – Você vai pagar caro por isso.

Yago fecha o punho e tenta levá-lo contra o rosto de Arthur, mas se surpreende com a chegada de Túlio.

TÚLIO – O que está acontecendo aqui?

ARTHUR (seco) – Nada.

Arthur sai. A sós, Yago e Túlio se encaram.

YAGO – Esse louco suicida vai se arrepender do que fez.

TÚLIO – Do que você está falando, Yago?

YAGO – Vai me dizer que você não sabe que o seu namoradinho gosta de se cortar?

Túlio se assusta com o que ouve.

YAGO (sorriso sarcástico) – É, eu vi as cicatrizes dele, estão por todo o corpo.

TÚLIO (surpreso) – Como você…

YAGO – Digamos que eu e o Arthurzinho já tivemos alguma coisa.

Yago simula um ato sexual na frente de Túlio.

TÚLIO (chocado) – Isso não pode ser verdade.

YAGO – Eu tentei fazer do jeito fácil, mas ele não colaborou. Então vai ser do jeito difícil.

Yago vai até a pia e lava o rosto, limpando o sangue no canto da boca.

TÚLIO – O que você vai fazer?

YAGO – Espere e verá. Mas de uma coisa pode ter certeza, isso não vai ficar barato.

Yago sai com a mão no rosto.

TÚLIO (intrigado) – O que foi que você fez Arthur?

CENA 14: CASA DE CARLOS ALBERTO/SALA DE JANTAR/INT./DIA

Carlos Alberto e Elizabeth tomando café da manhã juntos. Ela visivelmente desanimada, ele de cara fechada.

ELIZABETH – Que milagre você tomar café em casa. Além do mais, está atrasado pro trabalho.

C. ALBERTO – Eu dormi muito tarde ontem, precisava descansar.

ELIZABETH – Você chegou tarde ontem. Muito trabalho?

C. ALBERTO – Sim. Você nem imagina a quantidade de eventos que a empresa está organizando.

ELIZABETH – Então, suponho que você não terá tempo para sair para jantar hoje?

C. ALBERTO – Impossível. Essa semana eu estou muito atarefado.

ELIZABETH – Faz tanto tempo que nós não saímos juntos, às vezes eu me sinto tão sozinha nessa casa. Se você pelo menos me deixasse trabalhar, talvez eu…

C. ALBERTO (austero) – Nós já conversamos sobre isso e não está mais em questão.

ELIZABETH – Ok!

Elizabeth abaixa a cabeça. Carlos Alberto amolece um pouco.

C. ALBERTO – Não fique assim. Convide o Arthur, quem sabe ele não sai com você.

ELIZABETH – Vou tentar. Ele anda tão estranho ultimamente.

C. ALBERTO – Reflexos da adolescência.

ELIZABETH – Não acho que seja isso. Ele já tem 19 anos, essa fase já passou.

C. ALBERTO – Será mesmo? Pra mim ele ainda age como um adolescente rebelde.

ELIZABETH – O Arthur não é assim. Ele é diferente dos outros, mais sensível e…

C. ALBERTO (alterado) – Não vem com esse papinho de sensível que eu não criei filho veado. Já basta a decepção que eu tive com aquele outro.

ELIZABETH – Aquele outro tem nome, sabia? Ele é seu filho também.

C. ALBERTO – Deixou de ser a muito tempo.

Carlos Alberto limpa a boca com o guardanapo e se levanta.

C. ALBERTO – Estou indo. Tenha um bom dia.

Carlos Alberto sai, deixando Elizabeth sozinha em cena.

ELIZABETH – Um beijo pelo menos seria bom.

CENA 15: LISBOA/AVENIDA/CARRO DE VICENTE/INT./DIA

Vicente dirigindo, Riely no banco do acompanhante. Os dois se encaram.

VICENTE – Tu me encaras demasiadamente…

RIELY – Estou um pouco frustrada.

VICENTE – Frustrada.

RIELY – Sim, frustrada. Fui dormir na tua casa na esperança de que déssemos um passo a mais em nossa relação, mas infelizmente tu não cooperaste.

VICENTE – Eu já falei, ainda não chegou a hora.

RIELY – E quando ela vai chegar, Vicente? Poxa, já estamos juntos há quase um ano e nunca tran… ah!, tu sabes.

VICENTE – Eu não quero precipitar-me. Vamos com calma, sim?

RIELY – Ok compreendo-te. Mas espero que isso não tenha nada a ver com aquela fotografia.

VICENTE – Fotografia?

RIELY – Sim, a fotografia que tu encontraste ontem. Depois que a viste, tu ficaste todo estranho e…

VICENTE (alterado) – Olha só, Riely, não tem nada a ver com aquela foto. E, por favor, não toque mais nesse assunto.

RIELY – Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

Vicente estaciona em frente a um prédio.

RIELY – Agradeço pela boleia.

VICENTE – Quê isso, é meu dever dar uma CARONA para a minha namorada.

RIELY – Aff, tu entendeste.

Riely sorri e desce do carro.

VICENTE – Te vejo mais tarde. Beijos.

RIELY – Beijinhos, amor meu.

CENA 16: LISBOA/APARTAMENTO DE RIELY/SALA/INT./DIA

Riely entra no apartamento e logo é surpreendido pela pegada de um homem só de cueca. Os dois se beijam voluptuosamente e se separam ofegantes.

RIELY – Louco. O que estás a fazer aqui, Anthony?

ANTHONY – Esqueceste que eu tenho a chave?

RIELY – E se eu estivesse com o Vicente?

ANTHONY – Esquece aquele otário e me beije, cachorra.

Riely fecha a porta e se joga no colo de Anthony, já tirando a blusa.

RIELY – Estou a precisar mesmo. Aquele idiota não quis nada comigo de novo, e tu sabes que eu não fico uma noite sem sexo.

ANTHONY – Que homem que se preze se recusa a isto?

Anthony beija os peitos de Riely.

RIELY – O tipo que é rico e vai nos tirar daqui.

Anthony joga Riely na cama, onde os dois se beijam.

CENA 17: CASA DE CARLOS ALBERTO/SALA/INT./DIA

Arthur entra, com olhos e rosto avermelhados. Elizabeth estranha.

ELIZABETH – Filho? Chegou cedo… tá tudo bem?

ARTHUR – Sim, mamãe. Só estou com um pouco de dor de cabeça. Acho que vou dormir um pouco.

ELIZABETH – Tem certeza? Você está com uma cara péssima. Quer que eu ligue pro Dr. César?

ARTHUR – Não precisa, mamãe, eu estou bem. Só preciso descansar.

Arthur vai para o seu quarto. Elizabeth preocupada.

CENA 18: CASA DE CARLOS ALBERTO/QUARTO DE ARTHUR/INT./DIA

Arthur tranca a porta e se afasta. Ele se senta no chão e desata a chorar, logo lembranças dolorosas voltam à tona.

FLASH!

[FLASHBACK] FACULDADE/ESTACIONAMENTO/INT./DIA

Yago aborda Arthur, que se assusta, mas logo relaxa ao ver de quem se trata.

LETREIRO: “Algumas semanas atrás”

YAGO – Ouvi dizer que você é o gênio da Matemática, é verdade?

Arthur dá um sorrisinho bobo.

ARTHUR (acanhado) – Só um pouquinho.

YAGO – Será que você pode me ajudar em um trabalho que está acabando comigo?

ARTHUR – Ah, não sei… eu tenho algumas coisas pra fazer e…

YAGO – Poxa, você não vai me fazer essa desfeita, né?! Eu vou estar sozinho em casa.

FLASH!

Arthur levanta a cabeça, encharcada de lágrimas.

ARTHUR – Como eu fui idiota em cair naquela historinha.

Ele solta um grito de raiva e se levanta, indo até o banheiro.

CENA 19: CASA DE CARLOS ALBERTO/QUARTO DE ARTHUR/BANHEIRO/INT./DIA

Arthur encara o seu reflexo no espelho. A raiva lhe sobe à cabeça e ele acerta um soco no espelho, que se estilhaça e lhe corta a mão. Ele observa atentamente o sangue pingar.

FLASH!

[FLASHBACK] CASA DE ARTHUR/QUARTO/INT./NOITE

Arthur e Yago sentados em uma mesa, com folhas de papel, livros e cadernos. Arthur está concentrado, e se assusta ao sentir a mão de Yago alisar-lhe as costas.

ARTHUR (tenso) – O que você está fazendo?

YAGO – Você acha mesmo que eu te chamei até aqui para estudar?

Yago avança em Arthur, beijando-o. Ele se afasta, analisando a reação surpresa de Arthur com um sorriso no rosto.

ARTHUR – Por essa eu não esperava.

YAGO – E por essa, você esperava?

Yago tira a camisa e leva a mão de Arthur até o volume de sua calça. Imediatamente, Arthur recolhe a mão, assustado, e se levanta da mesa.

ARTHUR – Não, eu não sou assim.

YAGO – Mas eu sou.

Yago se levanta da mesa e agarra Arthur a força, empurrando-o em direção à cama.

YAGO – Você vai ser minha putinha agora.

Yago vira Arthur de bruços, que começa a gritar e se debater.

ARTHUR (desesperado) – PARA! ME SOLTA, POR FAVOR!

Arthur se solta e tenta fugir, mas Yago o detém e lhe acerta um forte soco. Atordoado, Arthur cai inerte em cima da cama.

YAGO – Agora sim! Eu gosto de vadia calminha.

Yago reposiciona Arthur na cama. Ele abaixa as calças e monta em cima de Arthur.

Foco em Arthur, imóvel, apenas as lágrimas escorrendo.

FLASH!

Foco em Arthur caído no chão, chorando incontrolavelmente, seu rosto está vermelho e ele bate sua cabeça contra a parede ao lembrar aquele dia.

ARTHUR (off) – Aquela risada imunda, nunca vai sair da minha mente, como eu pude ser tão tolo, por que eu deixei fazer aquilo comigo? Por que eu fiquei lá parado como uma estátua enquanto ele abusava de mim? Por quê? Porque eu sou um idiota mesmo, que não merece estar vivo.

Arthur levanta solta mais um grito de raiva e rasga sua camisa, em um ataque de fúria. Começa a andar deum lado para o outro, quando olha no criado-mudo a mesma foto que Vicente guardava em uma gaveta da cozinha. Ele pega a foto e chora ao lembrar do irmão.

ARTHUR (off) – Por que você me abandonou Vicente? Por que você me deixou sozinho? Você era o único que me entendia. A minha única companhia… (Pausa) Eu sei por que você fez isso. Você deve ter percebido o quão fracassado eu era, não foi isso? Agora você está lá vivendo sua vidinha perfeita, enquanto eu fico aqui, sentindo a droga da sua falta.

Num acesso de raiva, Arthur joga o porta-retratos na parede que se estilhaça em vários pedaços. Ao ver o que fez, logo se arrepende e pega a fotografia de volta.

ARTHUR (silenciosamente) – Desculpa.

Ele recoloca o porta-retratos no criado-mudo, mesmo em estilhaços. Ao ver um pedaço de vidro no chão, ele ajunta e encara clinicamente o estilhaço de vidro, ele consegue ver o reflexo de seu olhar depressivo.

Mesmo relutante, Arthur leva o vidro até o seu antebraço e começa a fazer um pequeno corte na pele, não muito profundo, mas o suficiente para que o sangue comece a escorrer. Ele sente a dor, mas sorri aliviado enquanto observa seu braço ser consumido pelo tom vermelho.

CENA 20: CASA DE CARLOS ALBERTO/QUARTO DE ARTHUR/INT./NOITE

TRILHA SONORA: Born to Die – Lana Del Rey

Arthur enfaixa seu braço e veste uma camisa de manga comprida. Ele se deita na cama, entregue à música. Túlio entra e observa Arthur.

ARTHUR – Oi?

TÚLIO – Oi. Como você está? Sumiu da faculdade hoje.

ARTHUR – Não estava no clima para aula.

TÚLIO – Por causa do Yago?

Imediatamente, Arthur se senta.

ARTHUR – Não sei do que você está falando.

TÚLIO – Não adianta disfarçar. Eu já sei que aquele otário te fez mal.

ARTHUR – Claro que não. Por que você acha isso?

TÚLIO – Ele sabe das suas cicatrizes que você tanto esconde. E vocês quase fizeram daquele banheiro um ringue de UFC. Além disso, você está estranho há muito tempo, sem contar que voltou a se cortar.

ARTHUR – Você só pode estar louco. Eu já me recuperei daquilo, foi só uma fase que eu já me arrependi de ter te contado.

TÚLIO – Ah, é? Então me explica isso.

Túlio vai até Arthur, levantando a manga da camisa e expondo o antebraço enfaixado.

TÚLIO – Olha, Arthur, você tem que entender que eu sou seu amigo, você tem que confiar em mim. Eu posso te ajudar, Arthur, basta você querer.

Arthur fica sem graça e puxa a manga de volta.

ARTHUR (acanhado) – Eu… eu…

TÚLIO – Eu estou aqui e você pode contar comigo pra tudo. Nós vamos vencer essa barra juntos.

Túlio chega perto de Arthur e lhe abraça fortemente. Não demora muito para que Arthur se acomode nos braços de Túlio e comece a chorar.

Carlos Alberto entra de uma vez e fica possesso ao ver Arthur e Túlio abraçados.

C. ALBERTO – O QUE SIGNIFICA ISSO?

Arthur e Túlio se afastam, assustados, e encaram Carlos Alberto.

A cena congela em efeito preto-e-branco e é amassada.

                                                                                                                       CONTINUA…

31 thoughts on “Fantasma Vivo – Capítulo 01

  1. Minhas suspeitas se confirmaram: o protagonista é o Vicente, mas o personagem central é o Arthur.

    O Arthur é cheio de problemas. O primeiro deles é o fato de ter nascido prematuro, o que claramente deve ter afetado a sua coordenação motora. Por isso ele desenvolveu esse complexo de inferioridade, passou a se ver como um ser inútil e coisa e tal. Agravante 1: nunca se sentiu amado pelo pai, tal qual o Vicente. Agravante 2: se sente preterido pela mãe, que parece se importar mais com o marido do que com o filho. Agravante 3: Vicente foi obrigado a se mudar para Portugal de uma hora pra outra, fazendo-o imaginar que o irmão o abandonou, se livrou dele; o Arthur perdeu o porto seguro dele. Agravante 4: aparentemente desenvolveu uma paixonite pelo Yago, mas caiu em desgraça depois que ele o estuprou.

    Dá pra entender porque o Arthur não se abre com o Túlio. Ele não quer jogar os problemas dele nas costas do Túlio, não quer incomodá-lo com os seus problemas. Ou então, ele simplesmente não se sente à vontade, não o considera como o seu melhor amigo: porque o melhor amigo do Arthur o abandonou e está vivendo num paraíso europeu.

    Apesar dessa mágoa, o Arthur ainda mantém o Vicente no alto da sua consideração. Vimos isso quando ele quebrou o retrato com uma foto dele com o Vicente. Então, é de se esperar que o Vicente não tenha muitas dificuldades para resolver seus mal entendidos com o irmão. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

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    • Obrigado 😍 Sua análise é bastante plausível, vc entendeu de fato todos os artifícios que levaram Arthur a depressão.. O papel de Túlio é de ser o único amigo de Arthur a única pessoa que ele pode confiar, mas essa relação poderá ser abalada.
      Arthur é Vicente tinham uma relação muito linda, mas que foi destruída.. o que será mostrado em breve.
      Mais uma vez obrigado pela sua opinião, conta muito pra mim.. e

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  2. De início não tinha me interessado pela trama, sendo sincero. Mas lendo o capítulo fui surpreendido. Foi a mesma coisa com Segredos da Paixão, não botava fé nela e fui surpreendido de maneira positiva.

    Não acompanhei sua trama anterior, mas li um capítulo e comparando com essa estréia, sua escrita deu uma boa melhorada e a história criada também. Apesar de abordar assuntos delicados, a história geral da web é bem interessante.

    O drama de Arthur foi o que mais me despertou atenção. Um jovem que sofre problemas apesar de tudo. Carlos Alberto promete causar muita dor de cabeça pra nós, hein?

    “Fantasma Vivo” é uma web adulta. Não pelo fato de ter assuntos polêmicos e sexo, isso é o de menos. Mas sim por obter um contexto bem maduro.

    Parabéns pela estréia, José! 😉 E que música maravilhosa no tema de abertura, hein? Curti!

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    • Muito obrigado por ter me dado essa oportunidade apesar de não ter lhe chamado atenção nas chamadas.. Que bom que vc mudou de opinião e isso significa muito pra mim.
      O drama de Arthur será realmente o foco dá web e em breve vc entenderá melhor.. Carlos Alberto é um monstro mesmo 😑
      A abertura em si ficou muito linda.. e essa música reflete muito a web.
      Que bom que vc gostou. Lhe aguardo na quarta.. 😍

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  3. Primeiramente essa abertura fico um show.
    Pensei que não teria um capitulo um capitulo tao bom para ler como foi este.
    Qual e essa imagem do logo? Ela parece bem enigmatística.
    Essa e sua segunda web?
    Parabéns!!

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    • Obrigado.. A abertura ficou maravilhosa mesmo.. que bom que gostou.. 😍 O logo meio que representa as partes dos cortes de Arthur, asimm como o turbilhão de sentimentos que ele sente.
      E sim essa é a minha segunda web.. a primeira foi Natureza Proibida exibida ano passado..

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  4. Este capítulo serviu como uma ótima introdução da trama, não tenho muito a dizer sobre os personagens, ainda estou conhecendo cada um, Riely não é o tipo de personagem que parece despertar ódio.
    Já sobre Arthur, preciso de tempo para digerir a maneira como ele lida com seus problemas.
    Parabéns José 😀

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    • Obrigado Hivan… 😍 Ainda é cedo pra dizer isso sobre Riely.. rsrs Já sobre Arthur bem, vou lhe dar tempo pra “digerir” kk

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  5. E assim dou início a minha segunda trama no horário adulto.. Dessa vez optei por abordar temas bem polêmicos mas de uma forma um pouco mais leve, não priorizando o erotismo mas sim a forma tensa como os problemas atingem as pessoas… O que posso dizer é que procurei corrigir os erros cometidos em Natureza Proibida e estou me esforçando ao máximo pra agradar o público. Agradeço em especial ao Hivan por ter me dado uma nova oportunidade e confiado em mim.
    Bom, espero que gostem e possam opinar sinceramente sobre o decorrer da trama..😍😎

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  6. Parabéns! do Arthur, desprezado pelopai e ainda ser abusado.
    Por quê será que o CAlberto implica com o Vicente desde criança?
    Ansioso pelo próximo capítulo!

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    • Obrigado.. 😁 Quanto a sua pergunta. Só tenho a dizer.. Aguarde! Em breve será respondida.. rs
      E aguardo vc na quarta 😘

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