Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 04

“Quanto mais Alex e Afrodite tentam se aproximar um do outro, mais a força invisível os arrasta para longe, fazendo com que aquele, que antes era um sonho lindo, se torne em um pesadelo feio, tenebroso e triste… A força invisível se torna em grades de cela de prisão; o azul do céu dá lugar a um cinzento nebuloso e a nuvens carregadas; as borboletas que antes eram coloridas, transformam-se em balas pedidas que a todo custo os perseguem, perfurando seus corações que, metaforicamente, faz com que o amor que eles sentem um pelo outro vaze, se misturando às águas de um lago que não é nada belo aos seus olhos, pois nesse lago só se enxerga coisas nada agradáveis como a inveja, o poder, a ambição e o ódio”…

(Assombrados pelo pesadelo, Alex e Afrodite acordam, no mesmo instante, assustados e suspiram aliviados ao perceberem que aquilo que tanto lhes causou mal em seus corações, havia se dissipado feito uma nuvem passageira)

AFRODITE: Ainda bem que tudo não passou de um pesadelo…

(Afrodite põe a mão no coração que bate violento e olha pela janela a madrugada gélida, que contrasta uma sensação de pura angústia; Triste, Afrodite deita sua cabeça no travesseiro e sem explicação alguma, deixa uma lágrima cair)

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(Alex também fica triste com o pesadelo)

ALEX: Que sonho mais horrível…

(Um barulho de bala perdida assusta Alex, que temeroso, põe a mão em seu coração que acelera imediatamente; Assim como a sua deusa do amor, Alex deita a sua cabeça no travesseiro e sem explicação alguma, também deixa uma lágrima cair)

“Ainda bastantes assustados e confusos com aquele sonho que se tornou em pesadelo, Alex e Afrodite pensam um no outro”

A cada lágrima que eles deixam cair em seus travesseiros, mais a madrugada demora a passar… Finalmente amanhece e nem sequer os olhos eles conseguiram pregar.

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Alex está na parte detrás da escola, grafando seu nome e o de Afrodite na “A.A.A” (A Árvore do Amor)… Afrodite aparece correndo e tapa os olhos de Alex com as suas mãos… Alex apalpa as delicadas mãos de Afrodite e logo um sorriso brota em seus lábios.

ALEX: Quem será? Hum… pelas mãos macias e pelo perfume doce… Só pode ser a minha deusa do amor. Acertei?

(Afrodite sorri, tira as mãos dos olhos de Alex, que se vira e a beija; Alex e Afrodite se abraçam fortemente)

AFRODITE: Ah, Alex… Como é bom poder te abraçar.

(Alex percebe a tristeza na voz de Afrodite)

ALEX: Aconteceu alguma coisa, Afrodite?… Você parece triste.

(Afrodite se aparta do abraço e vira-se de costas)

AFRODITE: Eu tive um sonho, Alex… Um pesadelo horrível. Horrível.

ALEX: Eu também tive…

(Afrodite se vira e com os olhos marejados, segura forte os braços de Alex)

AFRODITE: E eu não quero te perder, Alex, eu não quero ficar longe de você, não quero… Nem por um minuto, por nada.

(Carinhoso, Alex abraça Afrodite)

ALEX: Isso não vai acontecer, Afrodite… Nós nunca vamos nos separar. Nunca!

(Um raio e uma rajada de trovão cortam o céu nublado; Afrodite se assusta e agarra Alex)

AFRODITE: Me abraça, Alex… Eu tive um mau pressentimento.

(Alex pega as mãos de Afrodite e lentamente vai se afastando do abraço)

ALEX: Não ligue para os pressentimentos, Afrodite… Essas coisas de pressentimentos ruins não podem acabar com um amor tão bonito como o nosso. O nosso amor é eterno, Afrodite… E nada, nem ninguém há de nos separar. Entendeu?

(Alex seca a lágrima que Afrodite deixa cair e romântico, a beija lentamente; As águas frias da chuva escorrem sobre seus corpos que se incendeiam perante aquele beijo de amor)

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“Enquanto isso na sala de aula”…

(A professora está escrevendo na lousa, enquanto os alunos passam para o caderno; Frederick para de escrever e cochicha com Bruna)

FREDERICK: Bruna, você sabe da Afrodite?

(Bruna olha pra toda a sala, procurando-a)

BRUNA: Não… Estranho ela não estar aqui. Ela nunca falta… Será que aconteceu alguma coisa?

(Frederick fica preocupado; Alex e Afrodite entram contentes e molhados da cabeça aos pés; A classe toda os olha)

PROFESSORA: Isso são horas?

AFRODITE: Desculpa professora, isso não se repetirá mais.

ALEX: É… Podemos entrar?

PROFESSORA: Já estão dentro, né? Fazer o quê?

(Alex e Afrodite sorriem e se sentam em carteiras separadas)

BRUNA: (curiosa) Afrodite, o que houve?… Por que você e ele chegaram juntos e estão todos molhadinhos, hein?

(Bruna pergunta para Afrodite, que a ignora; Alex e Afrodite se olham e sorriem um para o outro; Frederick os observa, enciumado)

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“Na classe de Tânia”…

(A professora faz a chamada)

PROFESSORA: Talles Roberto!…

TALLES: Presunto!

(Talles brinca, fazendo toda a classe ri e a professora demonstra impaciência)

PROFESSORA: Ai, ai… Tânia!

TODOS: Faltou!

(Sem nem bater, Tina abre a porta e entra)

TINA: Posso falar com a minha irmã, a Tânia?… Tenho que entregar a caneta que ela esqueceu no meu estojo.

PROFESSORA: Bom dia pra você também, menininha… Mas a Tânia não veio hoje.

TINA: Como não? Ela veio sim. Foi ela que trouxe eu e meu irmão. Cadê ela?!

(Tina fica confusa)

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(Cansada de carregar seus livros pesadíssimos, Tânia sobe o morro correndo e bate na porta da casa de Quinho)

Quinho está dormindo na cama com Tati e escuta ao longe as batidas na porta.

QUINHO: Ah, deixa eu dormir só mais cinco minutinhos…

(Quinho resmunga ainda dormindo; Tati se vira na cama)

TÂNIA: (gritando) Quinho, sou eu… A Tânia!

(Ao ouvir tal frase, Quinho desperta rapidamente e cai da cama)

QUINHO: A Tânia?! Tati, acorda…  A Tânia, a Tânia tá aí.

(Quinho sacode Tati, que nem sequer abre os olhos)

TATI: Hã?

QUINHO: A Tânia, garota… Acorda agora!

(Quinho sacode tanto, que Tati cai no chão)

TATI: Ai, Quinho, que brutalidade… Não é assim que se acorda uma dama não, ainda mais depois de uma noite de amor.

(Tati vai para agarrar Quinho, que a empurra; Tânia bate mais forte na porta e continua gritando por Quinho)

QUINHO: Amor não… Sexo! E se esconde logo, que a Tânia tá batendo. Se esconde rápido.

TATI: Me esconder? Me esconder aonde?… Essa casa parece mais uma lata, nem tem espaço direito.

(Quinho vasculha a casa e em seguida, empurra Tati para debaixo da cama)

QUINHO: Fica aí… Quietinha.

TATI: Não!… Aqui tem traça, teia de aranha… Deve ter barata, rato também.

(Quinho faz sinal para Tati ficar quieta; Tati emburra a cara e se enoja com uma teia que gruda em seu cabelo; Quinho abre a porta)

QUINHO: (rindo forçadamente) Tânia, você aqui?

(Tânia entra)

TÂNIA: Ai, Quinho, eu estou chamando a mais de horas… E que cheiro é esse?

QUINHO: Cheiro? Que cheiro?… Eu não estou sentindo cheiro de nada.

TÂNIA: Um cheiro de perfume barato… É perfume de mulher!

QUINHO: (nervoso) Perfume de mulher?… Deve ser o seu, Tânia.

TÂNIA: Ei, meu perfume não é barato não, tá?… Mas eu não vim aqui pra falar de perfumes. Quinho, você não está chateado comigo, né? Está?

QUINHO: (dissimulado) Chateado?… Ah sim, estou muito. Por que você não apareceu ontem? Hã? Eu fiquei aqui te esperando, sozinho… Fiquei muito triste, tá?

(Em baixo da cama, Tati prende o riso)

TÂNIA: Ah, não fica assim, meu amor… É que a minha mãe me proibiu de sair ontem, mas de sábado não passa.

QUINHO: Sábado? Mas sábado é muito tempo, pô… Eu vou ter que ficar na seca até sábado?

(Quinho senta-se na cama e Tânia ajoelha-se em sua frente)

TÂNIA: O amor tudo suporta, Quinho, e sábado nem está tão longe assim… Agora eu que te pedirei uma prova de amor… Se você me ama, é capaz de esperar até sábado?

QUINHO: Fazer o quê, né, Tânia? Eu te amo, minha pitchula, eu fico na vontade até sábado…

(Tânia sorri e beija Quinho; Tânia olha para seu relógio)

TÂNIA: Ih, tenho que voltar pra escola… Estou mais do que atrasada.

(Tânia ia saindo, mas Quinho a puxa pela cintura)

QUINHO: De sábado não passa, né?

TÂNIA: Sábado… Sábado estarei aqui para ser sua.

(Quinho beija a nuca de Tânia, que se arrepia e sai correndo, feliz)

QUINHO: Sábado…

(Quinho sorri, pensativo; Tati sai debaixo da cama)

TATI: Ai, como a Tânia é bobinha… Se apaixonar por um cachorro como você.

(Quinho ri)

TATI: Ela é virgem, né? Só pode!

QUINHO: Claro que é, dá pra ver na cara dela… Mas assim que é bom. Enquanto eu não pego a virgem, eu me divirto com a biscateira.

(Tati sorri maliciosamente para Quinho e range os dentes, imitando, assim, uma felina; Quinho pega na perna de Tati, roçando-a na sua e grotescamente a joga contra a cama, beijando-a sem romantismo algum; Os gemidos de Tati e o barulho da cama se misturam com o som da tempestade que cai lá fora)

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No final do dia, Tânia e seus irmãos, Tina e Tico, estão de regresso para casa.

TINA: Tânia, hoje cedo eu fui lá na sua classe e você não estava…

TÂNIA: O que você foi fazer lá?!

TINA: Fui te entregar a sua caneta… Tânia, mas onde você estava? A mamãe não vai gostar nadinha de saber disso.

TÂNIA: Tina, eu te imploro, não conta nada pra mamãe… Por favor! Te imploro!

TINA: Só por uma condição.

TÂNIA: Qual?

TINA: Você vai me dar a sua maquiagem.

TÂNIA: Ah, não… Tudo menos a minha maquiagem.

TINA: É pegar ou largar.

TÂNIA: Ok, eu te dou a minha maquiagem… Mas nada de abrir o bico pra mamãe, tá bom?

(Contente, Tina concorda com a cabeça; Tânia fica com raiva)

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(Alex e Afrodite saem de mãos dadas; Frederick e Bruna se aproximam)

FREDERICK: Afrodite, quando iremos ensaiar de novo? A sua festa já está bem próxima. Eu estava pensando… Que tal se a gente ensaiasse sábado lá na sua casa? Pode ser?

AFRODITE: Ah não, sábado não dá… O Alex vai lá na minha casa pra me pedir em namoro pro meu pai.

FREDERICK: O quê? Vocês…

AFRODITE: Sim Frederick, eu e o Alex estamos namorando.

“Alex sorri mais alegre do que nunca… Sorridente também, Afrodite olha para Alex e eles se beijam, frente a todos. Surpresa, Bruna fica boquiaberta e Frederick olha aquele beijo com raiva… Lentamente, Alex e Afrodite vão parando de se beijar e apaixonados, sorriem um para o outro”

“Alex e Afrodite continuam a se olhar estagnados, feito duas estátuas que se enamoram, admirando-se, enxergando o coração um do outro só pela magia do olhar… Ah, que doce sensação essa… Quem não gosta nada dessa cena é Frederick, que não consegue disfarçar a sua revolta”.

FREDERICK: Como assim vocês estão namorando, Afrodite? Vocês já se conheciam por acaso?

AFRODITE: Não… Nós nos conhecemos quando começaram as aulas

(Afrodite responde, ainda olhando para Alex; Frederick conta nos dedos)

FREDERICK: Mas… Não faz nem cinco dias que vocês se conhecem e…

BRUNA: (resmungando) Rapidinha, hein… De boba essa sonsa não tem nada.

FREDERICK: Afrodite, você não pode namorar um qualquer que mal conhece… Isso não é atitude de uma menina de família como você.

AFRODITE: Foi amor à primeira vista, Frederick… Um amor que nasceu sem explicação. Um amor que nasceu do nada, mas que agora se tornou tudo… Um amor eterno, que nunca se acabará.

ALEX: Um amor eterno… Pra sempre!

(Alex e Afrodite sorriem emocionados, olhando um nos olhos do outro e se beijam, amorosamente; Tomado pela raiva e o ódio, Frederick sai e Bruna corre atrás dele, tentando alcançá-lo; Alex e Afrodite vão parando se beijar aos poucos

ALEX: Sábado…

(Alex sussurra no ouvido de Afrodite, que sorri)

AFRODITE: Sábado… Será o dia mais feliz da minha vida.

ALEX: Das nossas vidas.

(Alex e Afrodite se beijam apaixonadamente e todos aplaudem; Afrodite se aparta do beijo e sorri, envergonhada; Alex beija demoradamente a bochecha de Afrodite, que meiga, demonstra um sorriso meio acanhado)

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“O tão cobiçado sábado finalmente chega”…

Alex está em seu quarto, se preparando para ir à casa de sua amada para enfim oficializar o namoro… Alex passa dois dedos de seu perfume misturado com água e espirra uma gota de aromatizante de menta em sua boca.

MARIA DAS DORES: Tá feliz, né, meu filho? Dá pra ver a felicidade nos seus olhos.

(Orgulhosa, Maria das Dores comenta com o filho, ao ajeitar a gola da sua camisa)

ALEX: Tô sim, mãe… Mas, só que estou um pouco nervoso. Nem sei o que eu vou falar direito…

MARIA DAS DORES: Ah… Fale de todo amor que você sente por ela, meu filho. Deixe seu coração falar por você… E não se esqueça de ser sempre educado, hein.

(Alex sorri)

ALEX: Mãe, esses dias eu tive um pesadelo tão estranho…

MARIA DAS DORES: Pesadelo? Qual, meu filho?

(Enquanto Alex explica o tal pesadelo, Maria das Dores arruma as roupas de Alex)

ALEX: […] E foi assim, mãe… Foi tudo muito real, deu pra sentir a dor… Eu até fiquei chorando depois.

(Maria das Dores fica pálida e deixa cair no chão o frasco de perfume que iria guardar)

ALEX: Mãe… O que houve? A senhora está bem?

(Alex se abaixa para catar os cacos de vidro e atônita, Maria das Dores senta-se na cama)

MARIA DAS DORES: Esse seu pesadelo, meu filho… Me deu um arrepio na alma.

ALEX: Arrepio na alma? Que história é essa, mãe? Não sabia que existia arrepio em almas.

(Alex ri, descontraindo)

MARIA DAS DORES: Alex… Esse seu pesadelo pode ser um sinal.

(Alex deixa os cacos de lado e senta-se ao lado da mãe)

ALEX: Sinal? Mas eu não acredito nisso, mãe… O que pode acontecer de ruim? Eu vou me oficializar com a menina que eu amo, mãe. Nada de ruim vai estragar esse momento. Nada!

(Alex se levanta e pega um embrulho que está sobre o guarda-roupa)

ALEX: Mãe, eu não vou poder catar os cacos, senão eu me atraso, ela mora longe.

MARIA DAS DORES: Deixa que eu cato, filho… Pode deixar.

(Maria das Dores se abaixa ante aqueles cacos e os junta)

ALEX: Tchau, mãe!

(Alex beija a cabeça de Maria das Dores e sai, feliz, levando o embrulho embaixo do braço; Aflita, Maria das Dores põe a mão no coração)

MARIA DAS DORES: Senhor, proteja o meu filho…

(Maria das Dores fecha seus olhos e eleva seu coração em oração)

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Alex desce o morro todo “pomposo” e o policial Almeida se aproxima cheio de autoridades.

POLICIAL ALMEIDA: Ei, parado, você aí!

ALEX: Quem? Eu?

POLICIAL ALMEIDA: É, você mesmo. Vai pra onde?

ALEX: Visitar a minha namorada.

POLICIAL ALMEIDA: E que pacote é esse aí… É droga?

ALEX: Não senhor.

POLICIAL ALMEIDA: É arma?

ALEX: Não.

POLICIAL ALMEIDA: Não? Então o que é, então?

ALEX: É só um livro, senhor.

POLICIAL ALMEIDA: Livro? Por que é que eu acho que você está mentindo?… Me passa esse pacote aqui agora!

(Lentamente, Alex estende o pacote para o policial Almeida, que bruscamente, o pega com força; Policial Almeida encara Alex, que está com medo, feito um gatinho de rua)

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“Mansão dos Smith; Quarto de Afrodite”…

(Afrodite pega um vestido do guarda-roupa e estende sobre o seu corpo)

AFRODITE: O que acha desse vestido, Cidinha?

CIDINHA: Muito bonito! Lindo!

(Cidinha responde, sentada na cama, olhando para Afrodite; Afrodite sorri)

AFRODITE: Então vou colocá-lo.

(Cidinha sorri; Afrodite olha para o relógio de parede) 

AFRODITE: Ihh, tenho que me arrumar depressa… O Alex já deve estar chegando.

(Afrodite se apressa; Cidinha se levanta e se aproxima de Afrodite)

CIDINHA: Afrodite, eu não quero ser pé-frio, mas… Você não acha que está sendo muito precipitada não?

AFRODITE: Como assim, Cidinha?

CIDINHA: Você mal conhece esse rapaz, não sabe praticamente nada dele e ainda teve aquele pesadelo horroroso que só de lembrar, me dá um calafrio… Afrodite, você não acha melhor ir com mais calma? Conhecer ele melhor? Saber das verdadeiras intenções dele?

AFRODITE: Pra que esperar, Cidinha? Eu confio inteiramente nas intenções do Alex e tenho certeza que ele me ama de verdade… Eu penso até em me casar com ele, Cidinha.

CIDINHA: Casar?!

AFRODITE: Não agora… Mas no futuro, sim. Eu sinto, eu sei que fomos feitos um para o outro.

CIDINHA: Se você acha, quem sou eu para contrariá-la, né?… Torço para que vocês sejam muito felizes!

(Afrodite sorri e abraça Cidinha)

AFRODITE: Ah, Cidinha… A senhora é um amor de pessoa!

(Afrodite beija a bochecha de Cidinha e a abraça fortemente)

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Encurralado pelo policial, o que mais Alex quer é sair dali correndo…

POLICIAL ALMEIDA: Livro? Você tem lá tem cara de quem ler livro? Um faveladinho desse vai perder tempo lendo livro…

ALEX: É um livro sim, seu policial… É um presente pra minha namorada. Pode conferir se o senhor quiser.

POLICIAL ALMEIDA: Hum… Vou conferir.

(O policial Almeida tira o embrulho e se surpreende ao ver um grosso livro de páginas amareladas)

POLICIAL ALMEIDA: “Contos, poemas e poesias de sentimento chamado amor”… Então é só um livro mesmo.

(O policial lê o título do livro e o dá para Alex, que o embrulha novamente)

POLICIAL ALMEIDA: Eu… Até me sinto envergonhado, mas… Você sabe como que é, né? Esse é meu trabalho.

ALEX: Tudo numa boa, seu policial.

(O policial sorri; Alex ia saindo)

POLICIAL ALMEIDA: Espera aí, rapazinho.

ALEX: O que foi?

POLICIAL ALMEIDA: (sacana) Tá apaixonadinho, é? Livrinho de amor… Hoje tem, né?

(Alex ri)

ALEX: Deixa eu ir, seu policial… Hoje eu vou pedir a menina que eu amo em namoro.

POLICIAL ALMEIDA: Boa sorte, amigão!… Posso te chamar de amigo, né?

(O policial estende a mão para Alex)

ALEX: Claro, claro… Muito obrigado!

(Alex aperta a mão do policial)

ALEX: Tchau, amigão!

(Alex sai correndo contente e o policial Almeida fica rindo sozinho; Involuntariamente, policial Almeida olha para o lado e vê um bando de rapazes “cheirando”, na encolha)

POLICIAL ALMEIDA: Ei, vocês aí!… Parados como estão!

(Os moleques fogem e o policial Almeida corre atrás deles)

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“Longe dali, na casa de Maria das Graças”…

(Tico está sentado no chão do quarto, brincando com seu ‘ônibus’ de madeira; Tina entra correndo)

TINA: Tânia e Tico, a mamãe está chamando para jantar… Ué, cadê a Tânia, Tico?

TICO: Saiu pela janela e disse que era pra gente falar que ela está dormindo e que não vai comer, entendeu?

TINA: Ah, mas eu vou contar tudo pra mamãe… Essa é a minha oportunidade de ferrar a Tânia de vez.

(Tina ia saindo correndo e Tico se levanta, nervoso)

TICO: Não, Tina, não faça isso com a nossa irmã!

TINA: Vou fazer sim… Vou contar tudo pra mamãe agora mesmo.

(Tina sai correndo contente e Tico vai atrás, preocupado) 

Na sala, Maria das Graças e Bené estão sentados à mesa, jantando.

BENÉ: Hum… Esse frango está bom!

(Bené exclama, deliciando-se com uma coxa de frango)

MARIA DAS GRAÇAS: É por causa do molho especial que eu fiz, porque o frango sem o meu molho não seria nada, né?…

(Bené ri e continua comendo a coxa de frango com a mão; Tina e Tico aparecem correndo)

MARIA DAS GRAÇAS: Que histeria é essa, crianças?… Onde está a Tânia?

TINA: A Tânia…

(Tico e Tina se entreolham)

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(Em sua casa, Quinho acaba de sair do banho e se seca; Batem na porta, constantemente)

QUINHO: Deve ser ela?

(Quinho fica todo animadinho, enrola-se na toalha e então abre a porta; Quinho abre um largo sorriso)

TÂNIA: Aqui estou, Quinho… Pronta para ser sua.

(Quinho e Tânia sorriem, olhando um nos olhos do outro)

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“Contente, mesmo depois de algumas horas de viagem em um ônibus lotado, Alex finalmente chega à mansão e admirado, olha abobado aquela morada que mais parece um castelo de verdade”…

ALEX: Nossa, mas como é grande a casa da Afrodite… Parece um palácio!

(Alex sorri, maravilhado com aquele “monumento”; Alex bate palmas, tentando chamar Afrodite)

ALEX: (gritando) Afrodite! Afrodite!

(Alex grita em vão, pois não há ninguém ali para recepcioná-lo; Educadamente, Adamastor sai do carro e pousa sua mão sobre o ombro de Alex)

ADAMASTOR: Deseja alguma coisa, rapazinho?

ALEX: Quero falar com a Afrodite, a minha…

(Alex vira-se e Adamastor se assusta ao vê-lo)

ADAMASTOR: (surpreso) O que você está fazendo aqui, Alex?

ALEX: Oi, seu Adamastor! Vim para pedir a mão da Afrodite ao pai dela… Mas, o que o senhor está fazendo aqui? É aqui que o senhor trabalha?

ADAMASTOR: Sim… Eu saí do morro pra trabalhar aqui.

ALEX: Ah… Sentimos a sua falta lá no morro.

(Adamastor sorri e aperta o ombro de Alex)

ALEX: (feliz) O senhor poderia chamar a Afrodite? Estou doido para vê-la.

ADAMASTOR: Alex, desculpa estragar a sua alegria, mas… O seu Ruez sabe quem você é? Sabe que você veio do Morro da Paz?

ALEX: Não sei… Eu acho que não, porque nunca falei isso pra Afrodite. Mas o que é que tem isso, seu Adamastor?

ADAMASTOR: Alex, eu conheço bem o patrão que tenho. O doutor Ruez é muito ganancioso, interesseiro… Ele é incapaz de deixar a princesinha dele namorar um plebeu favelado como você.

(Alex fica desolado)

ALEX: Então quer dizer que eu e a Afrodite… Não vamos poder namorar?

ADAMASTOR: Nem tudo está perdido, Alex… Eu tenho uma ideia que poderá ajudá-lo!

ALEX: (animado) Qual?

ADAMASTOR: Você vai ter que se passar por um alguém que você não é.

ALEX: Como assim, seu Adamastor? Eu não estou conseguindo entender aonde o senhor quer chegar.

ADAMASTOR: Você vai ter que fingir ser rico, Alex, pois só assim impressionará o seu sogro.

ALEX: Não, seu Adamastor, eu seria incapaz de mentir… Ainda mais me passar por uma coisa que não sou. Eu me orgulho muito de ser pobre e acho que isso não interferirá em nada no meu amor com a Afrodite.

ADAMASTOR: Eu sei, meu filho, mas o doutor Ruez é um homem muito mesquinho, inescrupuloso… Se você ama a Afrodite de verdade e deseja lutar por ela, você vai ter que mentir. Essa será a única saída. Então?

ALEX: Se for pela Afrodite e pelo meu amor que sinto por ela, eu concordo sim!

ADAMASTOR: Sei que não é o certo, mas isso mostra que você é verdadeiramente apaixonado pela menina Afrodite… Está de parabéns, Alex.

“Adamastor aperta a mão de Alex, que sorri, não um sorriso verdadeiro, mas sim um sorriso apreensivo, pois seu coração está inteiramente dividido entre a verdade e o amor que sente por Afrodite, a sua deusa do amor”

(A imagem se congela num tom preto-e-branco)

Continua…

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