Águas Passadas – Capítulo 27 (última semana – Vale a Pena Ler de Novo)

CENA 1
Rio de Janeiro, apartamento de Heloísa, interior, dia.

Daniel e Glória entram no apartamento. Heloísa caminha e eles a seguem.

HELOÍSA (para Glória): Nem sabe, amiga. Acabei de conhecer os pais da minha nora.

GLÓRIA: Ah é? Quem são?

Heloísa aponta para Raul e Francine.

HELOÍSA: Aqueles ali, ó. São de uma cidadezinha do interior chamada Bela Paisagem.

Glória olha para Raul e Francine e fica transtornada.

GLÓRIA: Não… não pode ser…

HELOÍSA: Ué, por que não? O que houve? O nome deles é…/

Heloísa é interrompida por Glória, que completa a frase:

GLÓRIA: Raul e Francine Maciel…

Ao ouvirem seus nomes, Raul e Francine olham para Glória, confusos.

GLÓRIA: …meus pais.

Close no rosto de Glória.

CENA 2
Rio de Janeiro, supermercado, interior, dia.

O homem de terno se abaixa e ajuda Jandira a juntar as mercadorias caídas.

HOMEM: Qual o seu nome?

JANDIRA: Jandira. E o seu?

HOMEM: Fábio. Fábio Cabrini. Sou o diretor executivo da Cabrini, fábrica de tecidos que você já deve ter ouvido falar.

JANDIRA: Claro que já! Todas as minhas roupas são da Cabrini! Que honra conhecer o senhor.

Fábio ri.

FÁBIO: Muito obrigado, Jandira. Eu gostei de você, sabia? Adorei esse seu jeito espontâneo de ser. O que acha de tomarmos um café?

JANDIRA: Eu ia adorar, mas agora infelizmente eu tenho que ir para uma festa da filha da minha patroa.

FÁBIO: Ah… que lástima.

JANDIRA: Fátima? Que Fátima? Bernardes? Adoro ela! Vejo o programa dela todo dia de manhã com a dona Ângela. Claro que a gengiva dela é um pouco saliente, mas isso não é problema pra mim.

FÁBIO: Não, não é Fátima. É lástima!

Confusa, Jandira olha para Fábio.

JANDIRA: Isso foi um espirro?

FÁBIO: Ah, esquece… eu quis dizer “que pena”. O que acha de nós sairmos hoje à noite então?

JANDIRA: Ih, foi mal, mas eu tô dura. Mal tenho dinheiro pra comprar fruta no mercado vou ter dinheiro para comer em restaurante…

FÁBIO: Eu pago.

JANDIRA: Que isso, não vou fazer você gastar comigo…

FÁBIO: Querida, a Cabrini é uma das maiores empresas de tecido do mundo e eu sou multimilionário. Uma jantinha não é nada para mim. Eu pago, fique tranquila.

Jandira sorri.

JANDIRA: Ok então.

FÁBIO: Às oito?

JANDIRA: Pode ser.

FÁBIO: Ok. Foi um prazer, Jandira.

JANDIRA: O prazer é todo meu.

~

CENA 3
Rio de Janeiro, apartamento de Heloísa, interior, dia.

Glória, Raul e Francine continuam se olhando.

LETÍCIA: Como assim “seus pais”? Eles são meus pais!

Ninguém responde.

FRANCINE: Glória… é você mesmo?

GLÓRIA (chorando): Depois de vinte anos… vocês não mudaram nada.

Francine se levanta do sofá, chorando, e corre para abraçar Glória. Uma lágrima escorre pelo rosto de Raul, mas ele permanece sentado.

GLÓRIA (para Francine): A senhora nunca quis que ele me expulsasse, né, mãe?

FRANCINE: Claro que não! Eu sempre fui contra, mas o que eu poderia fazer? Eu te amo muito, minha filha!

GLÓRIA: Eu também, mãe!

Glória e Francine ficam abraçadas por longos segundos, até que se soltam. Glória se vira para Raul.

GLÓRIA (para Raul): E você, pai? Ainda me odeia? Não sentiu saudades de mim?

Raul fica calado por alguns segundos, até que não se aguenta de emoção.

RAUL: É claro que senti, minha filha!

Raul se levanta e abraça a filha por um longo tempo.

RAUL: Me desculpe… me desculpe por tudo, minha filha… Se você soubesse o quanto eu me arrependo do que fiz…

Ele solta Glória.

RAUL: E você está até hoje com esse Daniel?

GLÓRIA: Pois é… nós tivemos alguns encontros e desencontros… o senhor estava certo quando me disse tudo aquilo, pai, mas agora ele é um homem sério e diferente. Ele está arrependido de tudo o que fez.

RAUL: Que bom. Que bom.

LETÍCIA: Espera aí, que palhaçada é essa? Você é filha dos meus pais?

GLÓRIA: É uma longa história.

RAUL: Sim, Letícia, ela foi adotada por nós, igual a você. Mas quando ela tinha a sua idade, ela acabou engravidando do Daniel e… e eu não aceitei. Eu a expulsei de casa e, desde então, nunca mais a vi.

FRANCINE: Falando nisso… cadê o nosso neto ou neta, Glória?

O sorriso que até então estava estampado no rosto de Glória desaparece.

DANIEL: A nossa filha… ela foi roubada logo após o parto.

Marcelo se levanta do sofá.

MARCELO: Acho que eu sou a pessoa mais indicada para contar essa parte… bem, quando você expulsou a Glória da sua casa, seu Raul, ela resolveu passar a noite na praia. Eu recém havia me separado da minha mulher, Taís, devido a uma traição dela, e por acaso naquela noite eu tinha ido para Bela Paisagem examinar uma paciente. Eu encontrei a Glória na praia e, como eu estava desolado graças ao fim do casamento, eu convidei a filha de vocês para ir morar comigo. Ela aceitou. A gente acabou se casando e ficamos assim por vinte anos até que… bem, ela se divorciou de mim para ficar com esse Daniel.

GLÓRIA: Eu nem me lembrava da existência do Daniel quando eu me separei de você, Marcelo! Eu me divorciei porque eu não te amava.

LETÍCIA: Mas “pera” aí… isso quer dizer que você é minha irmã adotiva, Glória?

FRANCINE: Sim. Quando a Glória saiu lá de casa, eu me sentia muito sozinha sem a minha filha. Eu amava ser mãe. Como eu não podia ter filhos, a gente adotou você, Letícia.

Letícia vai até Glória.

LETÍCIA: Bem, então… prazer, sou Letícia, sua irmã.

GLÓRIA: Prazer.

As duas se abraçam.

LETÍCIA: Mas por que vocês nunca me contaram essa história, pai e mãe?

RAUL: A gente queria esquecer que tinha tido a Glória. Eu estava furioso com ela porque eu sabia que esse Daniel era um traste e eu tinha avisado a ela para ficar longe dele… tudo bem que agora ele pode até estar mudado, mas naquela época ele era traficante. Mas mesmo assim, ela me desobedeceu e ainda engravidou dele.

HELOÍSA: Nossa, que história maluca… mas o que importa é que agora vocês se reencontraram e todos se perdoaram!

FRANCINE: Verdade. É uma bela ocasião. Mas, Glória, seu cabelo escureceu naturalmente ou você pintou? Porque você era loirinha quando mais nova…

GLÓRIA: Bem… nem um nem outro. É que eu estou usando uma peruca. Eu raspei o cabelo.

FRANCINE: Mas por quê?

GLÓRIA: Eu estou… eu estou com câncer. De mama.

Francine não consegue evitar que mais lágrimas saiam de seus olhos.

FRANCINE: Câncer? Logo agora que nós nos reencontramos?

GLÓRIA: Sim. Mas fica tranquila, mãe. Eu já estou praticamente curada, só falta uma cirurgia que eu vou fazer amanhã.

FRANCINE: Menos mal.

A campainha toca. Heloísa caminha até a porta e a abre. É Jandira.

JANDIRA: Parabéns, dona Heloísa!

HELOÍSA: Muito obrigada, Jandira.

As duas se abraçam rapidamente.

HELOÍSA: Pode entrar.

Jandira entra e abana para todos os convidados.

JANDIRA: Boa tarde a todos.

TODOS: Boa tarde.

Todos os convidados voltam a conversar.

HELOÍSA (sussurrando para Jandira): Vai até a cozinha, traz uma bandeja de salgados e oferece para os convidados, ok?

JANDIRA: Ok, dona Helô. – Jandira vai em direção à cozinha e fala para si mesma, rindo: – Me sinto em Salve Jorge falando assim!

Heloísa volta a dar atenção aos convidados, quando a campainha toca novamente. Ela vai até a porta, a abre e se surpreende ao ver que são dois policiais. Jandira, que está vindo da cozinha no instante em que a aniversariante abre a porta, arregala os olhos ao ver que são policiais. Marcelo e Breno fazem o mesmo.

HELOÍSA: Pois não?

POLICIAL: Heloísa Dornelles?

HELOÍSA: Eu mesma.

O policial entrega um papel a Heloísa.

POLICIAL: O seu ex-marido, Juarez Martinelli, foi encontrado morto na banheira do apartamento dele hoje pela manhã. Quem comunicou a polícia foi o vizinho de baixo quando viu que a água estava infiltrando no teto do apartamento dele. Quando ele entrou no apartamento do seu Juarez, ele viu que estava tudo alagado já que ele foi assassinado com um facão enquanto o chuveiro estava ligado. A senhora e o seu filho, Breno Martinelli, estão sendo intimados a depor na delegacia amanhã.

Assustada e apreensiva, Heloísa lê a intimação.

 ~

CENA 4
Rio de Janeiro, casa de Gumercindo, interior, dia.

Vitória está sentada no seu quarto, lendo o guia telefônico.

VITÓRIA: Ginecologista… ginecologista… ginecologista… Ah, aqui! Daniel Fagundes… parece ser bom.

Ela tira seu celular de dentro do bolso e disca alguns números, olhando para o guia.

*TELEPHONE ON*

TATIANA: Consultório do Dr. Daniel Fagundes, boa tarde.

VITÓRIA: Boa tarde, eu gostaria de marcar uma consulta com o dr. Daniel.

TATIANA: Pois não. Qual seria a data?

VITÓRIA: Pode ser amanhã à tarde?

TATIANA: Pode sim. Eu tenho horário vago às três e às cinco.

VITÓRIA: Pode ser às três.

TATIANA: Então está marcado. Amanhã às três da tarde.

VITÓRIA: Ok. Obrigada. Tchau.

TATIANA: Tchau.

*TELEPHONE OFF*

Vitória desliga o telefone e deita-se na cama.

 ~

CENA 5
Rio de Janeiro, paisagens, noite.

Anoitece.

~

CENA 6
Rio de Janeiro, pizzaria, interior, noite.

Jandira e Fábio estão jantando na pizzaria.

JANDIRA: Eu “tava” servindo os salgadinhos lá na festa quando, de repente, o policial arrombou a porta do apartamento da dona Heloísa, apontando um fuzil em direção a todo mundo. Ele disse: “Todo mundo se abaixa se não quiser morrer”! Todo mundo se abaixou, mas eu, muito esperta, me escondi atrás da parede, né… daí, quando ele estava prestes a balear todos os convidados, eu me atirei por cima dele, roubei a arma e fiquei apontando para a cabeça dele. Daí eu disse: “Fala logo o que tu quer aqui e cai fora!”, daí ele entregou a intimação pra dona Heloísa falando do assassinato do seu Juarez e eu mandei ele picar a mula. Quem ele pensa que é para ficar invadindo a casa dos outros assim? Depois a dona Heloísa até me pagou um cachê de três mil reais por ter salvado a vida dela. Se não fosse eu, aquele policial bandido tinha estourado os miolos dela!

Fábio ri.

FÁBIO: Claro, tenho certeza de que foi bem assim mesmo que aconteceu. Mas, Jandira, você tem alguma coisa a ver com o assassinato desse tal de Juarez?

Jandira fica nervosa e começa a tremer. Ela fala de um jeito muito suspeito.

JANDIRA: Eu?! Que isso? Não viaja! Deus me livre estar metida em assassinato. Mas por que a desconfiança? Tá na minha cara?

FÁBIO: Não, não… é só que você não parou de falar na morte dele desde que nós chegamos.

JANDIRA (nervosa): Ah, foi só porque eu fiquei traumatizada com tudo isso, sabe…

FÁBIO: Ah, sim. Claro. Mas eu gostaria de te fazer um pedido agora, Jandira…

JANDIRA: Faça.

FÁBIO: Bem, a gente é muito diferente e tal, mas pelo pouco tempo que eu passei com você, eu vi que você é uma mulher incrível. (Jandira sorri) Jandira de Pádua, aceita namorar comigo?

JANDIRA: Claro que sim! É tudo que eu mais quero!

Jandira e Fábio se beijam. Quando eles se desencostam, Fábio faz um sinal para o garçom.

FÁBIO: A conta, por favor.

~

CENA 7
Rio de Janeiro, restaurante “Água na Boca”, exterior, noite.

Glória e dona Bianca, a cozinheira do restaurante, estão saindo do estabelecimento. Glória começa a trancar as fechaduras da porta de entrada.

BIANCA: Nossa, que triste isso que aconteceu com o seu Juarez, né?

GLÓRIA: Pois é. Tem que ser alguém muito cruel para assassinar uma pessoa desse jeito. Espero que descubram quem foi o criminoso. O Juarez tinha lá seus tropeços de caráter, mas ele me ajudou muito nessa reta final da vida dele. Graças a ele eu descobri que minha filha pode estar viva.

BIANCA: Pois é. E a senhora está conseguindo dar conta de tudo sozinha?

GLÓRIA: Estou sim, ainda bem.

BIANCA: Que bom. Dona Glória, a senhora poderia me dar uma carona até minha casa, por favor? Hoje o serviço foi até mais tarde e o próximo ônibus é só daqui a uma hora.

GLÓRIA: Claro, dona Bianca, eu dou sim.

Glória termina de trancar a porta e as duas começam a caminhar em direção ao carro de Glória, que está estacionado ao lado da floresta. Chegando lá, Glória se assusta quando Bianca dá um grito alto e estridente.

BIANCA: AAAAAAAAHHHHHH!!!

GLÓRIA: Meu Deus, dona Bianca, o que houve?

Bianca, tremendo, aponta para a floresta.

BIANCA: Tem alguém deitado lá dentro da mata, dona Glória!

A câmera dá um close na silhueta de um corpo caído no meio da floresta.

GLÓRIA: Meu Deus! Eu vou lá. Fique aqui, dona Bianca.

BIANCA: Não, dona Glória, é perigoso!

GLÓRIA: Shhh! Confia em mim, vai dar tudo certo.

Glória começa a caminhar pela mata, enquanto Bianca a observa, assustada. Glória se aproxima cada vez mais daquele corpo imóvel, até que chega bem perto dele e reconhece que quem está ali é Waldomira, morta e com o peito todo ensanguentado.

GLÓRIA: Não… não pode ser… Waldomira…

BIANCA: O que houve, dona Glória? Quem é?

GLÓRIA: Liga para a polícia, dona Bianca! Agora!

Close no rosto assustado de Glória.

~

CENA 8
Rio de Janeiro, paisagens, dia.

Amanhece.

~

CENA 9
Rio de Janeiro, mansão de Marcelo, escritório, interior, dia.

Marcelo está organizando alguns papéis em seu escritório.

MARCELO (falando sozinho): Pronto, agora só falta eu fazer a checagem dos materiais que vou precisar essa semana. (Marcelo começa a ler um papel.) Tesoura… aqui. Pinça… aqui. Afastador… aqui. Bisturi…

Marcelo começa a procurar o bisturi pelo escritório, mas não o encontra.

MARCELO: Merda! Perdi meu bisturi. Mas eu vou precisar usá-lo amanhã… e agora? Já sei! Vou pedir para o Felipe. Virei amiguinho dele ontem, ele não vai se recusar em me emprestar um bisturi.

Marcelo pega seu celular, disca alguns números e o aproxima do ouvido.

*TELEPHONE ON*

MARCELO: Alô, Felipe?

FELIPE: Opa! Como vai, Marcelo?

MARCELO: Bem e você?

FELIPE: Bem, também.

MARCELO: Bom, Felipe, eu estou te ligando porque eu acabei de perceber que perdi meu bisturi. Você poderia me emprestar o seu, por favor?

FELIPE: Claro, posso sim. Para quando você precisa?

MARCELO: Para amanhã.

FELIPE: Eu posso passar aí hoje à noite para te entregar?

MARCELO: Perfeito, pode sim! Muito obrigado, cunhado.

FELIPE: De nada. Até de noite, então.

MARCELO: Até. Tchau.

FELIPE: Tchau.

*TELEPHONE OFF*

Marcelo desliga o telefone e segue organizando suas coisas.

~

CENA 10
Rio de Janeiro, apartamento de Daniel, quarto, interior, dia.

Glória e Daniel estão deitados na cama de Daniel, dormindo. De repente, o despertador de Daniel começa a tocar e ele o desliga, já acordado.

GLÓRIA: Bom dia, meu amor.

DANIEL: Bom dia, querida.

Os dois se levantam.

DANIEL: Glória, eu estava sonhando ou ontem quando você chegou aqui você me disse que tinha ido à polícia?

GLÓRIA: Não, você não estava sonhando. Eu não quis te perturbar muito porque você merecia uma noite bem dormida, mas eu e a dona Bianca encontramos a Waldomira morta lá na floresta ao lado do restaurante.

DANIEL: O quê?! A Waldomira?

GLÓRIA: Pois é. A gente viu o corpo dela lá no meio da mata e eu fui verificar. Eu quase levei um choque, ela estava toda ensanguentada no peito. Foi horrível. A gente chamou a polícia e eles foram lá, levaram o corpo dela para análise, mas está claro que foi assassinato. Nós fomos até a delegacia prestar depoimento, mas logo depois de a gente contar o que aconteceu, já fomos liberadas.

DANIEL: Nossa… eu não amava a Waldomira, mas ela não era uma pessoa má.

GLÓRIA: Pois é. Primeiro o Juarez, depois a Waldomira… que estranho, dois crimes contra gente próxima de mim um atrás do outro.

DANIEL: Você acha que os dois crimes têm relação? Que foi a mesma pessoa que matou os dois?

GLÓRIA: Olha, eu não posso garantir, mas é bem provável que sim.

Intrigados, Glória e Daniel se olham.

~

CENA 11
Rio de Janeiro, casa de Gumercindo, interior, tardezinha.

Vitória e Gumercindo estão sentados no sofá da sala de estar da casa, quando o celular de Vitória começa a tocar e ela o desliga.

GUMERCINDO: Quem era?

VITÓRIA: Era o meu despertador para lembrar de que agora eu tenho a consulta com o ginecologista. Você me leva?

GUMERCINDO: Claro, levo sim. Vamos.

Gumercindo e Vitória se levantam e saem da casa.

~

CENA 12
Rio de Janeiro, gráfica Montenegro, interior, dia.

Marilene está sentada no balcão da gráfica, lendo um jornal. Ela vê, na capa, uma manchete com o título “Homem é assassinado misteriosamente a facadas enquanto está no banho”. Logo abaixo da manchete, há uma foto de Juarez.

MARILENE (falando sozinha): Ei! Esse é aquele homem que veio aqui e deu a confusão das fotos dele entrando no motel com uma mulher… ele falou que ia tirar satisfações com o dr. Marcelo…

De repente, a patroa de Marilene e dona da gráfica aparece.

PATROA: Falando sozinha, Marilene?

MARILENE: Sim, eu estou intrigada! Esse homem que diz aqui no jornal que foi assassinado ontem, ele passou aqui na gráfica esses dias para imprimir uns panfletos… e ele acabou achando, no chão, uma foto de ele entrando em um motel com uma moça. E o pior é que quem involuntariamente deixou essa foto cair foi o meu ginecologista, o dr. Marcelo Dornelles. Foi ele quem revelou essas fotos!

PATROA: Ih… isso não está me cheirando bem. Eu, se fosse você, iria até a polícia.

MARILENE: Será?

Close no rosto indeciso de Marilene.

~

CENA 13
Rio de Janeiro, clínica de Daniel, exterior, dia.

O carro de Gumercindo estaciona em frente à clínica. Vitória desce do automóvel e entra na clínica.

VITÓRIA: Boa tarde.

TATIANA: Boa tarde.

VITÓRIA: Meu nome é Vitória Viana, eu tenho uma consulta marcada com o dr. Daniel para as cinco.

TATIANA: Ok. Só aguarde um instante que o doutor já te chama.

VITÓRIA: Ok.

Vitória se senta em uma das cadeiras da sala de espera. Alguns segundos depois, Daniel abre a porta do consultório e sai uma mulher.

DANIEL: Então ligue para cá daqui a um mês para marcar uma revisão, ok?

MULHER: Ok.

A mulher vai embora.

DANIEL: Próxima!

VITÓRIA: Acho que sou eu.

DANIEL: Pode entrar.

Vitória entra no consultório.

DANIEL: Sente-se.

Vitória se senta na cadeira.

DANIEL: Pode falar.

VITÓRIA: Então, é… eu ando sentindo umas cólicas muito fortes na barriga e não sei o que é.

DANIEL: Você já transou alguma vez?

VITÓRIA: Não.

DANIEL: Bebe?

VITÓRIA: Não.

DANIEL: Fuma?

VITÓRIA: Também não.

DANIEL: Ok. Siga-me, por favor.

Daniel caminha até uma espécie de maca e Vitória o segue.

DANIEL: Tire todas as suas roupas e fique só de lingerie, por favor, para eu poder te examinar.

VITÓRIA: Ok.

Vitória tira suas roupas e se deita na maca. Daniel fica surpreso ao olhar para Vitória e ver uma mancha em sua coxa. Uma mancha exatamente igual à que ele tem no mesmo lugar. Uma pequena luz de esperança de que Vitória seja sua filha invade a mente de Daniel, e é com essa imagem que a tela começa a escurecer lentamente, até que fica completamente negra.

Deixe um comentário