Lua Negra – Capítulo 10

CENA 1: Noite – Casa de Suzana – Quarto

Suzana está lendo, quando sente um cheiro estranho.

SUZANA: Aposto que o Eric vai deixar queimar a comida. Homem não sabe fazer nada direito.

Suzana percebe que o cheiro está ficando mais forte.

SUZANA: Meu Deus!

Suzana se levanta e sai correndo do quarto rumo a cozinha.

CENA 2: Noite – Casa de Suzana – Cozinha

Suzana entra correndo na cozinha, e vê Eric sentado com o telefone na mão. As panelas no fogo estão queimado.

Suzana desliga o fogo e colocas as panelas na pia.

SUZANA: Eric, o que aconteceu? Eric?

Eric fica imóvel.

SUZANA: Eric?

ERIC: O que? O que foi?

SUZANA: O que foi digo eu, você quase colocou fogo na casa.

ERIC: Desculpe, eu me distraí.

SUZANA: Se distraiu? E não sentiu o cheiro de queimado?

ERIC: Não, eu…

Felipe entra.

FELIPE: O que está acontecendo? A casa está pegando fogo?

SUZANA: Não, querido, está tudo bem, volte pra cama.

Felipe volta para o quarto.

SUZANA: Então, o que houve?

ERIC: Nada, amor, pode deixar que eu limpo essa bagunça.

SUZANA: Mas o que te distraiu? Eu ouvi o telefone tocando, quem era?

ERIC: Ninguém. Quero dizer, era engano.

SUZANA: Engano?

ERIC: Bem, na verdade não foi engano, foi um trote de algum idiota qualquer.

SUZANA: O que disseram?

ERIC: Nada, apenas bobagens.

SUZANA: Que bobagens? Algum tipo de ameaça?

ERIC: Não, de onde tirou isso?

SUZANA: Eu sou uma advogada, já defendi e acusei muita gente, não é raro advogados receberem ameaças.

ERIC: Não era nenhum tipo de ameaça, juro, eram apenas bobagens, aposto que coisa de adolescentes.

SUZANA: E isso te distraiu?

ERIC: Sim, eu fiquei imaginando o que leva as pessoas a fazerem essas brincadeiras, será que esses jovens não têm família, ninguém que os oriente?

SUZANA: Eu não sei. Tem certeza de que foi isso mesmo?

ERIC: Sim, querida, não foi nada demais. Volte pra cama e deixa que eu limpo tudo aqui.

SUZANA: Está bem.

Suzana volta pro quarto.

CENA 3: Manhã – Escola

Suzana chega com Felipe na escola.

SUZANA: Gostou de eu ter vindo te trazer hoje?

FELIPE: Sim, pena que você não faz isso todo dia.

SUZANA: Você sabe que sou muito ocupada, mas nas próximas semanas estarei menos atarefada.

FELIPE: Que bom.

Fred para o carro em frente à escola. Emma desce correndo e ajuda o pai a pegar a cadeira de Alex no porta malas

FRED: Obrigado, meu anjo.

FELIPE: Olha, mãe, é o Alex, o menino que me deu carona naquele dia que a Glória me esqueceu, ele agora é da minha sala.

Alex se aproxima.

ALEX: Oi.

SUZANA: Oi, o Felipe me falou de você.

EMMA: Você é a mãe do Felipe?

SUZANA: Sim, sou.

FRED: Oi, parece que nossos filhos ficaram amigos.

SUZANA: Sim. Desculpe, eu nem me apresentei. Sou Suzana.

FRED: Prazer, sou Fred.

O sinal toca e as crianças entram na escola. Felipe ajuda Alex com a cadeira.

FRED: Espero que meus filhos se enturmem logo, escola nova é sempre difícil.

SUZANA: Sim, o meu estuda aqui há anos e não costuma se enturmar muito, mas parece que ele gostou do seu filho.

FRED: Pois é. O Alex me contou que ele é superdotado, não é?

SUZANA: Sim, ele se dá melhor com os livros e máquinas do que as pessoas. E a sua esposa? Lembro que Felipe disse que quem deu carona pra ele foi uma mulher, não?

FRED: Sim, foi minha esposa Claudia. Ela morreu em um acidente há alguns meses.

SUZANA: Oh, desculpe, eu sinto muito. Nem devia ter perguntado.

FRED: Tudo bem.

SUZANA: Foi nesse acidente que o Alex…

FRED: Sim, ele fraturou a coluna. Os médicos disseram que não há chances dele voltar a andar, mas eu não perco a esperança.

SUZANA: Claro, milagres acontecem.

FRED: Por isso viemos morar aqui no centro, é onde tem os melhores médicos, clínicas de fisioterapia, hidroginástica enfim tudo o que ele precisa.

SUZANA: Entendo. Eu também perdi meu primeiro marido em um acidente, mas felizmente encontrei um homem maravilhoso e me casei de novo.

WILLIAM: Que bom, mas eu acho que jamais vou conseguir amar novamente

SUZANA: Vai sim, o tempo cura tudo.

CENA 4 : Manhã – Casa de Suzana – Sala

Eric pega o telefone e liga para o escritório de Engenharia “ConstruEasy”.

ERIC: Oi, gostaria de falar como engenheiro William, ele já chegou?

Eric aguarda uns instantes.

ERIC: Entendo, ele vai passar na obra do novo shopping. Ok, eu ligo mais tarde.

Eric desliga o telefone e sai.

CENA 5:  Manhã – Escola – Recreio

O sinal toca. Todos os alunos saem, menos Alex. Felipe volta.

FELIPE: Não vai lanchar?

ALEX: Não estou com fome.

FELIPE: O que houve com você?

ALEX: Nada, por quê?

FELIPE: Naquele dia em que nos encontramos pela primeira vez você era falante, eu inclusive o achei muito irritante. Agora você é tão quieto, sempre sozinho num canto.

ALEX: Você também está sempre sozinho.

FELIPE: Mas eu sempre fui assim, diferente de você.

ALEX: Bom, minha vida não é mais a mesma. Perdi minha mãe e ainda estou preso nessa droga de cadeira.

FELIPE: Entendo, mas acho que sua mãe não ia gostar de te ver deprimido assim.

ALEX: É, acho que não. Mas eu não tenho amigos nessa escola.

FELIPE: Posso ser seu amigo, se você quiser.

ALEX: Sério? Isso pode ser bom

FELIPE: Na verdade eu não tenho nenhum amigo, mas acho você um garoto legal.

ALEX: Também te acho legal. Aceito ser seu amigo.

FELIPE: Vou comprar um chocolate, quer vir comigo? O chocolate possui a capacidade de liberar Serotonina que é o hormônio do bom humor sabia?

ALEX: Como você sabe tanta coisa?

FELIPE: Eu leio muito. E tenho ótima memória.

ALEX: Legal, queria ser assim.

FELIPE: Eu às vezes queria me interessar mais por coisas da minha idade, pra poder me enturmar, mas não consigo. Então, vai querer o chocolate?

ALEX: Claro. Chocolate não se recusa.

CENA6 : Manhã – Canteiro de obras

William está supervisionando o andamento da obra. Ele para numa mesa e começa a observar a planta da construção. Um adolescente se aproxima dele.

RODRIGO: Oi, o senhor é o pai da Emily, não é?

WILLIAM: Sim, e quem é você?

RODRIGO: Meu nome é Diego, meu pai está trabalhando nessa obra também. Eu estudava com Emily, é realmente muito triste o que aconteceu.

WILLIAM: Sim, ainda estamos tentando superar.

RODRIGO: O senhor me parece bem.

WILLIAM: Preciso me manter forte, ainda tenho um filho pequeno.

RODRIGO: É, eu sei. E a sua esposa, como está? Lembro que ela ficou muito abalada na época.

WILLIAM: Sim, a Lívia era muito apegada à filha. Ela ainda sofre muito.

RODRIGO: Mas ela está bem?

WILLIAM: Mais ou menos, ela quase não sai de casa, ainda está muito deprimida. Já tentei de tudo, mas não consigo tira-la do luto.

RODRIGO: Entendo. Lembro que ela tinha a ideia fixa de provar que o professor era o culpado, ela ainda pensa nisso?

WILLIAM: Acho que não. Durante os primeiros meses, ela tentou mesmo encontrar provas que o incriminassem, mas como não conseguiu acabou se deprimindo mais.

RODRIGO: O senhor acha que ele é culpado?

WILLIAM: Não. Acho que ele é apenas um pobre infeliz.

William ouve chamarem seu nome.

WILLIAM: Desculpe, preciso ir.

RODRIGO: Claro, não quero atrapalhar.

William sai. Rodrigo vai até o outro lado da rua, vira a esquina e encontra Eric.

Continua…

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