CENA 1: Noite – Casa de Suzana – Quarto
Suzana está lendo, quando sente um cheiro estranho.
SUZANA: Aposto que o Eric vai deixar queimar a comida. Homem não sabe fazer nada direito.
Suzana percebe que o cheiro está ficando mais forte.
SUZANA: Meu Deus!
Suzana se levanta e sai correndo do quarto rumo a cozinha.
CENA 2: Noite – Casa de Suzana – Cozinha
Suzana entra correndo na cozinha, e vê Eric sentado com o telefone na mão. As panelas no fogo estão queimado.
Suzana desliga o fogo e colocas as panelas na pia.
SUZANA: Eric, o que aconteceu? Eric?
Eric fica imóvel.
SUZANA: Eric?
ERIC: O que? O que foi?
SUZANA: O que foi digo eu, você quase colocou fogo na casa.
ERIC: Desculpe, eu me distraí.
SUZANA: Se distraiu? E não sentiu o cheiro de queimado?
ERIC: Não, eu…
Felipe entra.
FELIPE: O que está acontecendo? A casa está pegando fogo?
SUZANA: Não, querido, está tudo bem, volte pra cama.
Felipe volta para o quarto.
SUZANA: Então, o que houve?
ERIC: Nada, amor, pode deixar que eu limpo essa bagunça.
SUZANA: Mas o que te distraiu? Eu ouvi o telefone tocando, quem era?
ERIC: Ninguém. Quero dizer, era engano.
SUZANA: Engano?
ERIC: Bem, na verdade não foi engano, foi um trote de algum idiota qualquer.
SUZANA: O que disseram?
ERIC: Nada, apenas bobagens.
SUZANA: Que bobagens? Algum tipo de ameaça?
ERIC: Não, de onde tirou isso?
SUZANA: Eu sou uma advogada, já defendi e acusei muita gente, não é raro advogados receberem ameaças.
ERIC: Não era nenhum tipo de ameaça, juro, eram apenas bobagens, aposto que coisa de adolescentes.
SUZANA: E isso te distraiu?
ERIC: Sim, eu fiquei imaginando o que leva as pessoas a fazerem essas brincadeiras, será que esses jovens não têm família, ninguém que os oriente?
SUZANA: Eu não sei. Tem certeza de que foi isso mesmo?
ERIC: Sim, querida, não foi nada demais. Volte pra cama e deixa que eu limpo tudo aqui.
SUZANA: Está bem.
Suzana volta pro quarto.
CENA 3: Manhã – Escola
Suzana chega com Felipe na escola.
SUZANA: Gostou de eu ter vindo te trazer hoje?
FELIPE: Sim, pena que você não faz isso todo dia.
SUZANA: Você sabe que sou muito ocupada, mas nas próximas semanas estarei menos atarefada.
FELIPE: Que bom.
Fred para o carro em frente à escola. Emma desce correndo e ajuda o pai a pegar a cadeira de Alex no porta malas
FRED: Obrigado, meu anjo.
FELIPE: Olha, mãe, é o Alex, o menino que me deu carona naquele dia que a Glória me esqueceu, ele agora é da minha sala.
Alex se aproxima.
ALEX: Oi.
SUZANA: Oi, o Felipe me falou de você.
EMMA: Você é a mãe do Felipe?
SUZANA: Sim, sou.
FRED: Oi, parece que nossos filhos ficaram amigos.
SUZANA: Sim. Desculpe, eu nem me apresentei. Sou Suzana.
FRED: Prazer, sou Fred.
O sinal toca e as crianças entram na escola. Felipe ajuda Alex com a cadeira.
FRED: Espero que meus filhos se enturmem logo, escola nova é sempre difícil.
SUZANA: Sim, o meu estuda aqui há anos e não costuma se enturmar muito, mas parece que ele gostou do seu filho.
FRED: Pois é. O Alex me contou que ele é superdotado, não é?
SUZANA: Sim, ele se dá melhor com os livros e máquinas do que as pessoas. E a sua esposa? Lembro que Felipe disse que quem deu carona pra ele foi uma mulher, não?
FRED: Sim, foi minha esposa Claudia. Ela morreu em um acidente há alguns meses.
SUZANA: Oh, desculpe, eu sinto muito. Nem devia ter perguntado.
FRED: Tudo bem.
SUZANA: Foi nesse acidente que o Alex…
FRED: Sim, ele fraturou a coluna. Os médicos disseram que não há chances dele voltar a andar, mas eu não perco a esperança.
SUZANA: Claro, milagres acontecem.
FRED: Por isso viemos morar aqui no centro, é onde tem os melhores médicos, clínicas de fisioterapia, hidroginástica enfim tudo o que ele precisa.
SUZANA: Entendo. Eu também perdi meu primeiro marido em um acidente, mas felizmente encontrei um homem maravilhoso e me casei de novo.
WILLIAM: Que bom, mas eu acho que jamais vou conseguir amar novamente
SUZANA: Vai sim, o tempo cura tudo.
CENA 4 : Manhã – Casa de Suzana – Sala
Eric pega o telefone e liga para o escritório de Engenharia “ConstruEasy”.
ERIC: Oi, gostaria de falar como engenheiro William, ele já chegou?
Eric aguarda uns instantes.
ERIC: Entendo, ele vai passar na obra do novo shopping. Ok, eu ligo mais tarde.
Eric desliga o telefone e sai.
CENA 5: Manhã – Escola – Recreio
O sinal toca. Todos os alunos saem, menos Alex. Felipe volta.
FELIPE: Não vai lanchar?
ALEX: Não estou com fome.
FELIPE: O que houve com você?
ALEX: Nada, por quê?
FELIPE: Naquele dia em que nos encontramos pela primeira vez você era falante, eu inclusive o achei muito irritante. Agora você é tão quieto, sempre sozinho num canto.
ALEX: Você também está sempre sozinho.
FELIPE: Mas eu sempre fui assim, diferente de você.
ALEX: Bom, minha vida não é mais a mesma. Perdi minha mãe e ainda estou preso nessa droga de cadeira.
FELIPE: Entendo, mas acho que sua mãe não ia gostar de te ver deprimido assim.
ALEX: É, acho que não. Mas eu não tenho amigos nessa escola.
FELIPE: Posso ser seu amigo, se você quiser.
ALEX: Sério? Isso pode ser bom
FELIPE: Na verdade eu não tenho nenhum amigo, mas acho você um garoto legal.
ALEX: Também te acho legal. Aceito ser seu amigo.
FELIPE: Vou comprar um chocolate, quer vir comigo? O chocolate possui a capacidade de liberar Serotonina que é o hormônio do bom humor sabia?
ALEX: Como você sabe tanta coisa?
FELIPE: Eu leio muito. E tenho ótima memória.
ALEX: Legal, queria ser assim.
FELIPE: Eu às vezes queria me interessar mais por coisas da minha idade, pra poder me enturmar, mas não consigo. Então, vai querer o chocolate?
ALEX: Claro. Chocolate não se recusa.
CENA6 : Manhã – Canteiro de obras
William está supervisionando o andamento da obra. Ele para numa mesa e começa a observar a planta da construção. Um adolescente se aproxima dele.
RODRIGO: Oi, o senhor é o pai da Emily, não é?
WILLIAM: Sim, e quem é você?
RODRIGO: Meu nome é Diego, meu pai está trabalhando nessa obra também. Eu estudava com Emily, é realmente muito triste o que aconteceu.
WILLIAM: Sim, ainda estamos tentando superar.
RODRIGO: O senhor me parece bem.
WILLIAM: Preciso me manter forte, ainda tenho um filho pequeno.
RODRIGO: É, eu sei. E a sua esposa, como está? Lembro que ela ficou muito abalada na época.
WILLIAM: Sim, a Lívia era muito apegada à filha. Ela ainda sofre muito.
RODRIGO: Mas ela está bem?
WILLIAM: Mais ou menos, ela quase não sai de casa, ainda está muito deprimida. Já tentei de tudo, mas não consigo tira-la do luto.
RODRIGO: Entendo. Lembro que ela tinha a ideia fixa de provar que o professor era o culpado, ela ainda pensa nisso?
WILLIAM: Acho que não. Durante os primeiros meses, ela tentou mesmo encontrar provas que o incriminassem, mas como não conseguiu acabou se deprimindo mais.
RODRIGO: O senhor acha que ele é culpado?
WILLIAM: Não. Acho que ele é apenas um pobre infeliz.
William ouve chamarem seu nome.
WILLIAM: Desculpe, preciso ir.
RODRIGO: Claro, não quero atrapalhar.
William sai. Rodrigo vai até o outro lado da rua, vira a esquina e encontra Eric.
Continua…