Vida Inteira – Capítulo 18 (Vale a Pena Ler de Novo)

VIDA INTEIRA

escrita por:
GUILHERME SANTOS

CAPÍTULO 18

CENA 01. APARTAMENTO DE ROBERTA. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE

Continuação da última cena do capítulo anterior.

Abre em Beatriz. Ela fecha os olhos, mas segue ofegante, sem reagir. Festa continua do mesmo jeito, todos dançando, sem se importarem.

Ao fundo, Renato vem chegando, com um copo de água em mãos. Ele avista Beatriz rapidamente, ficando boquiaberto. Logo, joga o copo em algum canto e vai correndo até ela, se agachando, passando a mão no seu rosto.

RENATO – Beatriz! Fala comigo! Fala alguma coisa, Beatriz!

Nesse momento, muitas pessoas percebem o alvoroço e começam a se juntar, formando uma roda ali. Logo, Roberta se aproxima de Renato, abaixando-se, preocupada.

ROBERTA – Caraca! Ela apagou mesmo!

RENATO – Ela precisa ir pro hospital, está totalmente desacordada, fraca! Vomitou também, olha aí…

ROBERTA – Que hospital o quê, Renato! Ela só teve um PT, foi só isso, vai ficar bem na hora que vomitar tudo, não tem necessidade de médico.

RENATO – Não é só isso, Roberta. Eu vou chamar um taxi pelo aplicativo e levar a Bia pra um hospital.

ROBERTA – Vai melar tudo, Renato, melhor não mexer com isso.

RENATO – Tá decidido. Eu levo ela, a festa não precisa acabar, fica de boa.

Os dois se olham. Renato tira o celular do bolso, já chamado um táxi por um aplicativo. Foco em Beatriz, ainda de olhos fechados. Do nada, ela ergue um pouco a cabeça, vomitando repentinamente, surpreendendo todos.

RENATO – Meu Deus, mano! Ela vai vomitar mais.

ROBERTA – Isso que é bom, assim ela vai voltar mais rápido e nem precisa de hospital.

RENATO – Precisa sim, eu sei bem o que você deve ter dado pra Beatriz. Velho, você deu ecstasy pra ela, sendo que ela já estava totalmente bêbada?

Roberta não responde. Renato já entende. Ele segura a cabeça dela, a ajudando. Beatriz vomita mais. Roberta segura os cabelos dela. Ao terminar, Beatriz volta a deitar-se totalmente no chão, fechando os olhos novamente, ainda ofegante.

Renato vai mexer no celular de novo, olha o aplicativo.

RENATO – O carro vai chegar em cinco minutos, já vou ir descendo com ela.

ROBERTA – Você quem sabe. Manda notícias pra mim, por favor.

Renato concorda com a cabeça. Logo, ele se levanta, pega Beatriz no colo com cuidado e se dirige até a porta. Roberta pega a bolsa de Bia, corre até eles, entrega para Renato e abre a porta. Ele sai, sendo observado por todos.

CENA 02. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INTERIOR. NOITE

Hospital particular, com um certo luxo. Renato entra carregando Beatriz. Um enfermeiro se aproxima com uma cadeira de rodas, ajudando Renato a colocar Beatriz na mesma.

ENFERMEIRO – O que houve?

RENATO – A gente estava numa festa, na casa de uma amiga nossa. Ela acabou bebendo demais, misturou muita coisa, ficou totalmente fora de si. Além disso, eu tenho quase certeza de que ela ingeriu alguma coisa ilícita.

ENFERMEIRO – Nem precisa continuar, já entendi tudo. Chegam aqui pra gente várias garotas na idade dela na mesma situação. Bom, vamos levá-la para a observação direto. Ela tem o convênio daqui?

RENATO – Tem sim, eu mexi na bolsa dela e vi o cartão daqui, a identidade dela, está tudo certo.

O enfermeiro olha para Beatriz, jogada. Closes alternados dela e de Renato.

CENA 03. RUA. EXTERIOR. NOITE

Sofia e Rafael ainda frente a frente.

RAFAEL – Eu não tenho nada pra falar com você. E outra: nunca mais  me beije daquela maneira, você não vai conseguir mais nada comigo, Sofia!

SOFIA – Eu tenho muita coisa pra te falar, a gente tem pendências a resolver.

RAFAEL – Não tenho pendência nenhuma contigo.

SOFIA – Para com isso, Rafael!

RAFAEL – Você fez uma escolha um dia, está pagando por isso agora. Caramba, eu já te esqueci, nem lembro mais que a gente teve alguma coisa um dia. Vai viver a sua vida, porque é exatamente isso que eu tô fazendo. Me deixa em paz, cara.

SOFIA – Você não pode ser tão irredutível assim, meu Deus… Parece até que não sabe direito quem sou eu! Você me esqueceu tão rápido assim?

RAFAEL – Tão rápido quanto a forma que você me passou a perna? Talvez.

SOFIA – Eu sei que você está blefando, não deve ter esquecido de mim em nenhum momento. Eu fui a sua primeira namorada.

RAFAEL – E também foi a minha primeira decepção, tá bom pra você?

SOFIA – Eu francamente não entendo…

RAFAEL – Não entende como eu posso ter te esquecido? Não entende como eu posso ter seguido a minha vida numa boa? Você se acha demais.

SOFIA – Não entendo o que você vê de tão especial nessa Amora.

RAFAEL – Sofia, mesmo que eu não estivesse com a Amora, você acha que eu voltaria pra você ainda assim? Me ajuda aí…

Os dois se encaram firmemente. Tempo.

SOFIA – Eu estou sendo totalmente descartada por você. Então é isso?

RAFAEL – Sim… É isso.

SOFIA – Eu vou embora dessa cidade em breve mesmo. Acho que já não tem mais nada aqui que me interesse. Nem mesmo você.

Os dois se olhando. Sofia de cara fechada, assim como ele. E ela vai saindo dali, batendo o pé. Fecha em Rafael, grilado com tudo.

CENA 04. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE RAFAEL. INTERIOR. NOITE

Rafael entra no seu quarto, fecha a porta. Ele se senta na cama, cabisbaixo, pensativo. Se deita, soltando um suspiro.

CENA 05. HOSPITAL. SALA DE OBSERVAÇÃO. INTERIOR. NOITE

Sala um pouco cheia. Beatriz já tomando algo na veia, sentada em uma cadeira confortável. Renato de pé, ao lado, mexendo no celular. Um enfermeiro se aproxima dele, o cutucando.

ENFERMEIRO – Está tudo bem por aqui?

RENATO – Sim, suave. Ela vai ficar bem?

ENFERMEIRO – Vai, com certeza. Vai ter alta hoje mesmo, assim que o remédio que ela estiver tomando acabar, vou precisar colocar mais algumas doses. Vai levar um tempinho ainda, mas ela vai ser liberada hoje ainda, pela madrugada.

RENATO – E já vai sair daqui cem por cento?

ENFERMEIRO – Mais ou menos. Se ela chegar em casa, tomar um banho e acabar vomitando mais, é normal, sempre resta álcool no organismo, e no caso dela, que ingeriu algo ilícito, vai ser natural se ela sentir algumas dores ainda, mesmo medicada.

RENATO – Entendi.

ENFERMEIRO – Agora, eu peço que tomem mais cuidado. Vocês jovens têm a vida inteira pela frente, não podem ficar se arriscando desse jeito. Não vale a pena se gastar nessas festas fazendo tudo o que der vontade, a vida não é só curtição. Espero que sua amiga tenha aprendido a lição. (T) Enfim, daqui a pouco eu volto, ela deve acordar em breve.

Renato ouvindo tudo com um olhar sério. O enfermeiro sai. Tempo.

Foco em Beatriz. Ela vai abrindo os olhos bem aos pouquinhos. Renato atento, vê aquilo. Beatriz olha para todos os lados, um pouco confusa.

BEATRIZ – Eu vim parar num hospital?

RENATO – E já deve saber o motivo.

BEATRIZ – Não acredito… O que aconteceu?

RENATO – Você nem imagina o que aconteceu, Beatriz?

BEATRIZ – Minha cabeça está explodindo, meu corpo está pesado, parece que eu levei uma surra de alguém.

RENATO – Pois é, acontece.

BEATRIZ – Não lembro de quase nada, e prefiro nem me esforçar pra isso.

RENATO – (irônico) Não lembra não? (tom) Você bebeu demais, passou dos limites na resenha da Roberta. Deu o maior vexame.

BEATRIZ – Eu sei, vai. Vacilei demais, reconheço isso.

RENATO – É, ainda bem que você ao menos tem consciência do mico que você pagou. Tá andando muito com a Amora, não acha?

BEATRIZ – Para de fazer piada num momento desses, eu estou em coma alcoólico, respeita.

RENATO – Coma alcoólico, acho graça. Você também usou uma coisinha aí que eu estou sabendo. Lembra disso?

Beatriz olha para os lados, sem graça, quer fugir do assunto.

BEATRIZ – Eu não sei do você tá falando, meu filho.

RENATO – Ah, para com essa, pra cima de mim não rola. Você sabe sim muito bem do que eu tô falando.

Beatriz respira fundo, nervosa.

BEATRIZ – Tá bom! Eu assumo! Me lembro da Roberta me oferecendo uma coisinha sim e eu tomei, mas não achei que fosse dar isso tudo.

RENATO – E pelo que parece você não deu apenas uma perda total. Você deu uma crise brava, Beatriz, tem noção disso?

BEATRIZ – Já disse que vacilei, estou com vergonha até de me olhar no espelho. Tenho consciência do tamanho desse papelão. (T) Você não ligou para os meus pais, ligou? Pelo amor de Deus.

RENATO – Fica suave, eu sei que se seus pais soubessem que você foi parar no hospital a coisa ficaria séria pro seu lado.

BEATRIZ – Por um momento eu achei que eles estivessem aqui em algum lugar. Graças à Deus eles não sabem de nada, e se depender de mim não ficam sabendo nunca!

RENATO – Tô ligado, eu também ficaria pilhado só de imaginar que meus pais poderiam ter descoberto tudo. Eu estaria ferrado.

BEATRIZ – E amanhã… Aula nem pensar?

RENATO – Aí vai depender da sua disposição.

Os dois ficam se olhando, neutros. Beatriz vai se acalmando, olha Renato com suavidade, dando um leve sorriso.

BEATRIZ – Obrigada. Muito obrigada por ter me ajudado. Se não fosse você eu tenho certeza que me deixariam jogada no chão daquele apartamento. Valeu mesmo.

RENATO – Estamos aqui pra isso.

Nos dois, se olhando.

CENA 06. CASA DE ALICE. QUARTO DE ALICE. INTERIOR. NOITE

Alice deitada de lado na cama, pensamento longe. Close em seu rosto, ela sorrindo atoa.

FLASHBACK ON

CAIO (off) – Eu vou tentar mudar pra melhor. Tentar ser mais simples, ser mais eu e esquecer tudo que a popularidade pode dar… Quero viver de verdade, sabe? Promete que você também vai tentar fazer o mesmo?

ALICE (off) – A gente pode fazer isso juntos.

CAIO (off) – Viver mais? Eu vou fazer isso se você me prometer que vai se amar mais. Somos tão jovens, Alice… Vamos viver muito ainda, a hora da gente se reconhecer é agora!

ALICE (off) – Somos tão jovens…

CAIO (off) – Conhece uma música com esse trecho?

ALICE (off) – Claro… “Tempo Perdido”, não é?

CAIO (off) – Isso! Legião Urbana. Cara, eu sou meio que um fã da banda! (T/cantando) Então me abraça forte…

ALICE (off/cantando) – Me diz mais uma vez que já estamos distantes…

CAIO (off/cantando) – De tudo.

ALICE (off/cantando) – Temos nosso próprio tempo…

ALICE E CAIO (off/cantando) – Temos nosso próprio tempo…

FLASHBACK OFF

Alice sorri ainda mais, feliz.

ALICE – Será que eu estou sendo correspondida?

CENA 07. CASA DE CAIO. QUARTO DE CAIO. INTERIOR. NOITE

Caio na mesma, deitado de bruços. Nele, pensativo.

CAIO – Não é possível… Eu e a Alice?! Não… Eu nunca senti uma coisa assim.

Fecha nele, muito confuso.

CENA 08. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE NORMA E PEDRO. INTERIOR. NOITE

Norma e Pedro já deitados na cama. Ela lendo um livro e ele no celular.

PEDRO – Acredita que até eu recebi o vídeo da Amora levando um banho de tinta?

NORMA – Bem que o Rafa falou que essas coisas se espalham rápido demais.

PEDRO – Que mico que essa garota pagou, pelo amor de Deus. Da laia do Rafael mesmo.

NORMA – Vai começar, Pedro? Não estou afim de brigar hoje, já está muito tarde pra isso.

PEDRO – Bom, quem sou eu pra escolher as pessoas que ele namoram, não é? Se ele quer ficar com essa garota que recebe um banho de tinta rosa em plena festa de aniversário, o problema é todo dele.

NORMA – O que fizeram com a Amora não tem nome. Foi uma tremenda injustiça fazerem aquilo com ela, tem que ser uma pessoa muito covarde mesmo.

Tempo neles.

CENA 09. RUAS. EXTERIOR. DIA

Amanhece sob imagens de ruas e avenidas da cidade.

CENA 10. COLÉGIO VASCONCELOS. INTERIOR. DIA

Sonoplastia:

XO – Beyoncé

Os pés de um garoto são mostrados, caminhando muito lentamente em meio à outros alunos. CAM sobe lentamente: calça jeans rasgada, blusa listrada comum, sem uniforme, de mochila. Logo, seu rosto é mostrado: pele branca, olhos claros, cabelos cacheados. É Gustavo. Ele anda mais um pouco, olhando tudo ao redor, admirado, sorrindo levemente às vezes, mas sempre lançando um olhar meio assustado, com receio. Ele para. Alunos vem e vão.

Ao fundo, Milo vem vindo, apressado, com fones de ouvido. Gustavo vai caminhar novamente, mas quando dá dois passos, acaba esbarrando em Milo, que retira os fones. Os dois, olho no olho, se observando por um tempo. Segundos depois, voltam a si.

GUSTAVO – Me desculpa… Eu não vi você chegar.

MILO – Tudo bem. Acontece.

Eles sorriem. Milo com os olhos brilhando, admirado com a beleza do outro.

MILO – Você é novo aqui?

GUSTAVO – Está muito na cara? Eu imagino que sim.

MILO – É, você está sem uniforme, parece meio perdido. Posso ajudar em alguma coisa?

GUSTAVO – (ri) Ainda bem que você me perguntou isso. Quero ajuda pra encontrar a minha turma.

MILO – E qual é?

GUSTAVO – A 3C.

MILO – (surpreso) 3C?! É a minha turma!

GUSTAVO – (sorri) Ah, sério?! Poxa, isso é ótimo! Pelo menos eu já conheço uma pessoa, e pelo visto você é muito gente boa.

MILO – Você também, é muito simpático! (T) Qual é o seu nome?

GUSTAVO – Gustavo. (ergue a mão) Muito prazer.

Milo olha para a mão dele, sorrindo.  Logo, ergue a sua e eles trocam um sincero cumprimento.

MILO – Milo. O prazer é todo meu. (T) Seja bem vindo.

Eles ficam se olhando, trocando sorrisos. Closes alternados dos dois.

Corta para:

Alice e Matheus sentados num banco, conversando.

MATHEUS – A gente precisa falar sobre algo meio sério, não acha?

ALICE – Eu sei que devia ter estudado ontem contigo. É sobre isso?

MATHEUS – Também. Mas o foco principal é outro, porém não deixa de envolver o que você citou.

ALICE – Não estou entendendo direito.

MATHEUS – (direto) Alice, você percebeu que desde que esse Caio resolveu se aproximar do nada de você dessa maneira, você ficou ainda mais boba do que já era por ele?! Está me deixando sempre pra segundo plano, sempre!

ALICE – Não, Matheus, não é assim também… Eu só não fui estudar contigo ontem porque o Caio já havia me chamado pra fazer um lanche com ele depois da aula. (T) Você é meu amigo ou não é?

MATHEUS – É claro que eu sou.

ALICE – Então devia estar feliz por mim. Não reparou o quanto eu venho sorrindo mais de uns tempos pra cá? Pode ter sido uma melhora bem pequena na minha autoestima, mas foi uma melhora sim.

MATHEUS – Você não pode controlar a sua autoestima de acordo com aquele garoto, Alice! Quer dizer então que se ele te tratar com ignorância e jogar umas verdades na sua cara a sua autoestima vai pro fundo do poço?

ALICE – Verdades? Que verdades são essas?

MATHEUS – Você sabe. O cara mais popular da escola se envolver com a que consideram mais esquisita? Tem alguma coisa errada.

Alice o encara, frustada.

ALICE – Não fala mais isso. Por favor. Quem está acabando com a minha autoestima agora é você, Matheus. Essa conversa tem fim aqui, não quero brigar contigo.

Os dois se olham. Por fim, Matheus se levanta, irado, e vai saindo dali. Alice cabisbaixa. De repente, Caio aparece ali e se senta ao lado dela, que percebe e ergue a cabeça.

CAIO – Oi. Que carinha é essa? Aconteceu alguma coisa?

ALICE – Eu me desentendi um pouco com o Matheus. Infelizmente, parece que isso vai estar se tornando diário em breve, se é que já não se tornou.

CAIO – É, pelo visto ele não vai muito com a minha cara. Tem ciúmes de você.

ALICE – Ele é o meu melhor amigo, não quero ficar num clima chato com ele.

CAIO – Alice, sobre ontem, eu…/

ALICE – (corta) Me desculpa, mas prefiro não falar sobre isso.

CAIO – Beleza, eu respeito. (T) Eu só queria saber se você gostou…

Alice desconcertada, mexe nos óculos.

ALICE – Eu preciso ir…

Ela se levanta, saindo dali correndo. Caio a observando, dá um leve sorriso.

CENA 11. COLÉGIO VASCONCELOS. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA

Turma 3C.

Gustavo e Milo entram na sala. Gustavo vê um lugar vago, bem na frente, segunda fileira, e vai se sentando.

MILO – (ri) Bom, esse lugar é da minha amiga, Alexia.

Gustavo se levanta, sem graça.

GUSTAVO – Nossa, foi mal.

MILO – Tudo bem. Tem um lugar bem perto de mim, mais no fundo, se você quiser.

GUSTAVO – Ah, ótimo então.

Nesse momento, Alexia entra na sala. Ela cumprimenta Milo com um abraço, e acena para Gustavo, que sorri timidamente.

ALEXIA – Temos outro novato aqui?

GUSTAVO – Outro?

ALEXIA – É, eu não sou nenhuma caloura aqui. Cheguei a pouquíssimo tempo, sei como você deve estar se sentindo.

MILO – Alexia, esse daqui é o Gustavo.

ALEXIA – Prazer, Gustavo. O Milo já deve ter falado de mim pra você.

MILO – Não muito, mas tenho certeza que vocês vão se dar super bem. A Alexia é a melhor pessoa dessa escola, felizmente.

Alexia ri, Gustavo também.

GUSTAVO – Muito prazer em te conhecer, Alexia.

Rafael entra apressado. Cumprimenta todos.

MILO – (p/Gustavo) E esse aqui é o Rafael.

RAFAEL – Olá!

MILO – Rafael, esse é o Gustavo, aluno novo aqui no Vasconcelos.

RAFAEL – Ah, sim, seja muito bem vindo, cara! Espero que você goste de tudo aqui. Se precisar da minha ajuda, pode contar comigo.

GUSTAVO – Muito obrigado! (T) Poxa, é tão bom ter essa recepção toda. Valeu, gente, de verdade.

MILO – Agora sim estão todos devidamente apresentados!

Todos sorriem. Rafael e Alexia se olham. Milo e Gustavo se observando.

Então, Rodrigo entra na sala, já fechando a porta. Milo e Gustavo vão para o fundo da sala, se sentam um do lado do outro. O foco torna-se Alexia e Rafael.

RAFAEL – Boa aula…

ALEXIA – Pra você também, Rafa.

Eles dão um sorriso um para o outro.

RODRIGO – Bom dia, galera. Abram a apostila de história na unidade dois, por favor!

Todos os alunos vão se acomodando na sala.

CENA 12. COLÉGIO VASCONCELOS. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA

Turma 3A.

Beatriz de óculos escuros, sentada em seu lugar, cansada. Amora também em seu devido lugar.

AMORA – Tira esse óculos, Beatriz, Deus me poupe, não quer pagar um mico durante o dia todo hoje, quer? Nunca vi isso, usar óculos escuros na sala de aula.

BEATRIZ – Você não sabe o motivo de eu estar usando isso, não é à toa, não. Meu corpo está todo esquisito, estou muito mal, não ouviu o áudio que te mandei, não? Eu só queria dormir o dia todo.

AMORA – Escutei metade, você fala demais. Mas entendi que você se meteu numa roubada na tal festa que você foi ontem. Passou mal, é isso?

BEATRIZ – E muito. Só vim pra esse colégio hoje porque não queria que meus pais desconfiassem de nada, já levei esporro por chegar absurdamente tarde em casa, e sem avisar. Se eu faltasse, iam acabar desconfiando de alguma coisa, ainda mais porque eu não sou de perder aula.

AMORA – Ai, ok, Beatriz, chega desse papo. (T) Preciso da sua ajuda.

BEATRIZ – O que você não me pede rindo que eu faço chorando? Diz, amiga.

AMORA – Eu queria que você ficasse de olhos bem abertos no Rafael pra mim. Estou avisando muito estranho essa defesa toda dele pra cima da Alexia, muito suspeito isso tudo.

BEATRIZ – Se eu souber de alguma coisa, sabe que te falo na hora.

AMORA – Ótimo.

BEATRIZ – Ai, preciso ir no banheiro lavar o rosto, antes que eu durma no meio da aula.

Ela se levanta e vai saindo. Fecha em Amora, a observando.

CENA 13. COLÉGIO VASCONCELOS. BANHEIRO FEMININO. INTERIOR. DIA

Beatriz sem os óculos escuros, lavando o rosto. Ela fecha a torneira e se prepara para ir embora. De repente, a porta se abre e Roberta aparece ali. As duas se olham

ROBERTA – Matando aula?

BEATRIZ – Eu não, mas você com certeza, não é, amada?

ROBERTA – Agora é aula de educação física, tá tranquilo, a Sandra é muito de boa.

BEATRIZ – Tá bom, já eu eu preciso ir, não estou aqui para matar aula, se você me der licença.

Ela vai sair, mas Roberta a segura.

ROBERTA – Calma aí, ainda tem muito tempo de aula. Quero saber se você está bem depois da festa, já que passou mal e teve que ir pro hospital e tudo…

BEATRIZ – É, eu devo ter sido o assunto da noite, mais do que a própria festa. Enfim, estou bem melhor sim.

ROBERTA – Achei que não te veria hoje no colégio.

BEATRIZ – Precisei aparecer aqui nesse lugar, mesmo com essa cara de derrota. Preferi não arriscar, não quero dar motivos pros meus pais desconfiarem de mim. (T) E quanto à você, querida, nunca mais chegue perto de mim com aquelas malditas balinhas.

ROBERTA – (ri) Ah, mas quando a onda bateu bem que você estava curtindo pra caramba.

BEATRIZ – Não sei do que você está falando.

ROBERTA – Tranquilo, vou fingir que acredito. (T) E me diz… Você gostou do beijo?

Sonoplastia:

Bom – Ludmilla

BEATRIZ – (nervosa) Que beijo?

ROBERTA – Ah, você sabe do que eu estou falando. Tô falando do nosso beijo.

BEATRIZ – (afobada) Fala baixo, quer que alguém escute?

Roberta se aproxima dela, acariciando o seu rosto, sorrindo. Beatriz tensa, fecha os olhos, se deixando levar.

BEATRIZ – Não… Eu não gosto de mulher, não sou lésbica, não sei o que está acontecendo comigo…

ROBERTA – Gostou ou não gostou do beijo?

BEATRIZ – Eu nem lembro disso, garota!

ROBERTA – Ah, não lembra, não? Então eu vou te lembrar e é agora.

Nesse momento, sem que Beatriz pudesse reagir, Roberta se joga nela e lhe dá um beijo de tirar o fôlego. Beatriz envolvida. Aos poucos, elas param o beijo. Beatriz ofegante, super nervosa.

BEATRIZ – Você é completamente louca! Alguém poderia ter visto, sabia?!

ROBERTA – Quanto mais perigoso e arriscado, melhor é.

Elas se olhando. Logo, Beatriz se aproxima.

BEATRIZ – Beijo é beijo, não é? Creio que isso não me torne lésbica… É só um beijo.

ROBERTA – É. É só um beijo.

As duas vão se aproximando lentamente. Não demora e outro beijo é dado. Elas vão se encaminhando para uma das cabines do banheiro, se trancando lá.

CENA 14. SHOPPING. INTERIOR. DIA

Joelma lotada de sacolas de compras, andando pelo shopping. Ela para em frente à uma vitrine, que faz parte de uma das lojas dali, e fica a observar um vestido através do vidro. Logo, Douglas aparece ali, discretamente, encostando em seus ombros. Ela se vira lentamente.

DOUGLAS – Bom dia.

JOELMA – Posso ajudar?

DOUGLAS – Medidas de segurança. Poderia me acompanhar até a sala de segurança para uma revista de rotina?

JOELMA – Eu? Ser revistada? Ficou maluco?

DOUGLAS – São medidas de segurança. Acontece que você está sendo suspeita de furtar uma dessas peças que tem em uma das suas sacolas.

JOELMA – Gente, mas que absurdo é esse?

DOUGLAS – Vamos, siga-me, eu preciso te revistar toda.

JOELMA – Se você insiste tanto, seu segurança…

Ela sorri. Douglas começa a caminhar, e ela o segue.

CENA 15. SHOPPING. SALA DE SEGURANÇA. INTERIOR. DIA

Joelma entra na sala. Douglas fecha e tranca a porta. Ela joga todas as suas sacolas e se preparar para tirar a roupa.

DOUGLAS – Espera…

Douglas com um olhar sério. Joelma para de tirar a sua roupa.

JOELMA – O que foi, seu segurança? Não vai me revistar pra tentar achar o que eu supostamente roubei?

DOUGLAS – Joelma, é sério. Chega dessa fantasia um pouco.

Joelma estranha, se aproxima dele, que está um tanto quanto nervoso.

JOELMA – O que foi, Douglas? Não estou te reconhecendo.

DOUGLAS – A gente precisa conversar, e muito.

JOELMA – Conversar? Meu amor, pra quê isso? A gente não pode perder tempo, vamos logo ao que interessa.

DOUGLAS – Hoje não vai rolar nada. Esquece. Eu não aguento mais essa situação toda.

JOELMA – Que situação? Do que você tá falando?!

DOUGLAS – De nós dois. Não aguento mais ter que fazer tudo escondido, como se eu fosse um michê, um gigolô, e eu não sou isso. (T) Joelma, não é de hoje que eu quero ter esse papo sério contigo. Eu tenho valor e vou me dar esse valor, queira você ou não.

Joelma tensa, sem entender. Douglas firme.

JOELMA – O que você quer dizer com isso? Fala logo, não enrola.

DOUGLAS – Muito bem. Joelma, você tem vinte e quatro horas para largar seu marido e me assumir, senão eu vou atrás dele e conto toda a verdade! Boto a boca no trombone e revelo nosso caso até pra quem não quiser ouvir!

Suspense. Joelma extremamente chocada, sem saber o que fazer. Douglas decidido, olhar fixo. Os dois se encarando. Closes alternados, até fechar em Joelma.

Congela em JOELMA, numa mistura dos tons rosa e roxo, e o seu rosto se torna a capa de um caderno escolar, marcando o FIM DO 18º CAPÍTULO.

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