Vida Inteira – Capítulo 19 (Vale a Pena Ler de Novo)

VIDA INTEIRA

escrita por:
GUILHERME SANTOS

CAPÍTULO 19

CENA 01. SHOPPING. SALA DE SEGURANÇA. INTERIOR. NOITE

Continuação da última cena do capítulo anterior.

Joelma e Douglas se encarando. Ela surpresa, ele decidido.

JOELMA – O que foi que você disse?

DOUGLAS – É isso mesmo, pô. Eu não quero mais ficar em segundo plano.

JOELMA – Você viu só o que você acabou de fazer, Douglas? Você me ameaçou.

DOUGLAS – Não, não foi bem assim.

JOELMA – Foi assim sim. Você disse em alto e bom som que se eu não largasse o Roger em vinte e quatro horas, cê iria falar toda a verdade pra ele, ia contar que somos amantes.

DOUGLAS – Falei sim, eu sei… (amolece) É que eu não quero mais que a gente fique assim por muito mais tempo, Joelma, tenta me entender. Eu gosto de você, muito.

JOELMA – E o que a gente tem não é bacana?

DOUGLAS – Mas a gente só se encontra aqui, com essa sua fantasia…

JOELMA – Se você acha que o problema é esse, a gente pode ir pra um motel.

DOUGLAS – Não é essa a questão, me entende. Eu quero você por completo.

JOELMA – Não me pede isso, Douglas, por tudo que é mais sagrado. Não me bota nessa situação. Me entenda você! Eu tenho tudo que eu posso querer casada com o Roger, se eu me separo dele não me resta mais nada.

DOUGLAS – Mais nada?! Você vem viver comigo e tudo fica numa boa.

JOELMA – Não, não vai ficar tudo numa boa e você sabe disso. Eu gosto de você, não estaria aqui agora se não sentisse alguma coisa, mas o Roger é meu marido e me dá tudo que eu preciso. Eu realmente achei que estivesse bom pra você do jeito que está, mas parece que eu não estou sendo o suficiente.

DOUGLAS – Não fala assim. Você pra mim é suficiente. É só essa situação que me deixa estressado.

JOELMA – Pois você vai ter que aguentar essa situação se quiser ficar comigo de verdade. E fique você sabendo que se você for mesmo contar tudo pro Roger, a primeira coisa que eu vou fazer depois disso é colocar a minha cabeça dentro de um forno e ligar o gás! Eu me mato, ouviu bem?

Douglas se assusta, se aproxima dela, afobado. Joelma força o choro.

DOUGLAS – Calma, Joelma…

JOELMA – Eu me esforço tanto pra gente ficar junto sempre, sabe? E é assim que você me agradece por eu deixar tudo que eu faço pra vim aqui te ver! Eu não mereço isso!

DOUGLAS – Foi mal, eu não devia ter falado contigo daquela maneira. Eu sei que você também está numa situação complicada, vou entender melhor isso.

Joelma o abraça, limpando suas lágrimas.

JOELMA – Isso, meu amor, tenta me entender melhor, faz um esforço. As coisas não são tão simples assim quanto você acha, quem dera fossem.

DOUGLAS – Tudo bem. Mas você me entende também?

Eles param o abraço e ficam se olhando.

JOELMA – Chega, chega… Vamos parar esse assunto? Não quero mais tocar nessa ferida, quero esquecer tudo isso que a gente conversou até porque não tem o menor fundamento.

DOUGLAS – Beleza… Pelo menos por agora eu esqueço isso tudo sim.

Sonoplastia:

É bom para o moral – Rita Cadilac

JOELMA – Eu vou ficar aqui mais tempo contigo hoje. Você merece. Agora… (se exibindo sensualmente) vamos ocupar nosso tempo com algo mais útil?

Douglas não resiste, faz uma cara maliciosa. Ele se aproxima dela e a empurra contra a parede, beijando seu pescoço.

JOELMA – Vem, meu segurança! Vem!

Eles se beijam, com ternura.

CENA 02. RUAS. EXTERIOR. DIA

Sonoplastia segue. Imagens de ruas e avenidas da cidade.

CENA 03. COLÉGIO VASCONCELOS. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA

Turma 3C.

Rodrigo passa uma matéria. Turma copia do quadro, atentos, silêncio total. Ao fundo, Milo e Gustavo copiam no caderno, enquanto conversam em voz baixa.

GUSTAVO – Eu devo ter perdido tanta coisa, tantas matérias…

MILO – Eu acho que eu tenho tudo completo. Quer que eu te empreste meu caderno?

GUSTAVO – Ah, vou querer sim, se não for te atrapalhar muito.

MILO – Não, tranquilo, eu posso te explicar algumas coisas que foram passadas também.

GUSTAVO – Muito obrigado, vai ser muito útil. E os professores daqui? Como são?

MILO – Olha, alguns são piores do que os outros, como em todo colégio. E em alguns dias, os menos piores são os mais chatos.

GUSTAVO – É, eu sei como é. Já me chamaram a atenção por eu estar sem uniforme.

MILO – Acho que imagino quem deve ter sido. O Altamir.

GUSTAVO – É, acho que esse é o nome dele mesmo. Chegou com aquele apito pra cima de mim, quase me deixou surdo, tudo pra falar que era proibido circular pelo colégio sem o uniforme.

Eles dão risada.

MILO – O Altamir é assim mesmo, acostume-se.

GUSTAVO – De qualquer forma eu já irei providenciar o uniforme amanhã mesmo. Não quero ter que ouvir aquele apito pro meu lado tão cedo.

Eles riem mais. Rodrigo para de copiar e se vira, escutou aquele cochicho todo. O professor olha diretamente para Milo e Gustavo, que param de rir na hora e ficam sérios.

RODRIGO – A conversa aí está demais, não acham? Não quer dividir o que estava falando com a gente, Camilo?

RENATO – (grita) Ah, não, professor, ninguém quer saber de diva pop, não!

Alguns alunos dão risada. Milo o encara, incomodado. Gustavo sério. Alexia e Rafael também incomodados.

RODRIGO – Não teve graça nenhuma, podem parar! Vou passar um dever pra vocês fazerem em casa, vão ter com o que se ocupar.

RENATO – (grita) Passa rápido porque o intervalo vai ser agora.

Nesse momento, o sinal bate. Na hora, todos os alunos começam a guardar os seus materiais, alguns já levantando e saindo apressadamente.

RODRIGO – Vocês não me escapam na próxima aula.

Rodrigo vai arrumar suas coisas. Foco em Milo e Gustavo, já se levantando e caminhando para fora da sala.

GUSTAVO – A hora que eu mais temia…

MILO – O intervalo?

GUSTAVO – Tenho medo de ficar mais perdido ainda, sem ninguém. É estranho.

MILO – Eu sei bem como é. Passa o intervalo comigo, a gente deve ter muito o que conversar.

Os dois se olham, trocam um sorriso. Logo, já estavam na frente do lugar de Alexia, que não se levanta.

MILO – Alexia, não vai sair pro intervalo?

ALEXIA – Não, eu vou terminar de resolver aqueles exercícios atrasados, se sobrar um tempinho eu apareço lá!

MILO – Tudo bem!

Gustavo sorri para ela, que retribui. Em seguida, ele e Milo saem da sala. Segundos depois, Rafael aparece perto dela.

Sonoplastia:

Tua – Anavitoria

RAFAEL – Desculpa, eu ouvi o que você disse pro Milo, de uns exercícios atrasados. Qual a matéria?

ALEXIA – Biologia.

RAFAEL – Caramba, eu também estou totalmente atrasado na apostila, sou lento, infelizmente. Posso ficar copiando contigo? Bom que te faço companhia!

ALEXIA – Eu confesso que seria ótimo, é horrível ficar sozinha, ainda mais pra copiar exercícios.

RAFAEL – Verdade. A gente pode inclusive tornar isso mais divertido.

Ela sorri, assim como ele. Então, ele se senta num lugar ao lado dela e aproxima sua cadeira à mesa dela. Os dois se olham, com cumplicidade.

ALEXIA – Então… Ao trabalho.

Eles trocam sorrisos.

CENA 04. COLÉGIO VASCONCELOS. CORREDOR. INTERIOR. DIA

Caio caminhando, sozinho, pensativo. Renato aparece.

RENATO – Que cara é essa, meu chegado?

CAIO – Tô normal.

RENATO – Normal, sei… E como está indo aquele lance lá com a mina?

Caio para de andar, suspira. Renato também para e o olha.

CAIO – Lá vem você falar de novo disso.

RENATO – Não estou te entendendo, você parece estranho. Não quer falar disso por que?

CAIO – Porque eu não vejo muita necessidade, cara.

RENATO – Mas a gente não apostou? Parece até que está com medinho de não conseguir ficar com aquela esquisita.

CAIO – Aí, Renato, na boa, para de falar assim dela! Não tem necessidade! Deu, mano! Já deu esses apelidos idiotas.

Renato estranha. Caio o encara mais um pouco, até que sai dali, apressado. Em Renato, o observando.

CENA 05. COLÉGIO VASCONCELOS. BIBLIOTECA. INTERIOR. DIA

Milo e Gustavo caminhando pelas prateleiras, observando alguns livros.

MILO – Me conta mais de você. Como veio parar aqui no colégio?

GUSTAVO – Eu era de uma cidade vizinha, mas meu pai foi designado para dirigir aqui na capital uma das unidades da empresa que ele trabalha. Eu vim com ele, somos só nós dois no mundo, acabei tendo que sair do meu outro colégio. Mas, sinceramente, não fez muita falta.

MILO – E sua mãe? Não mora com ela?

GUSTAVO – Ela morreu, acidente de carro, eu era bem pequeno ainda.

MILO – Eu sinto muito…

GUSTAVO – Tudo bem, eu não me importo de falar disso, já superei.

MILO – Quais foram as suas primeiras impressões aqui do colégio? Está gostando?

GUSTAVO – Graças à você e os seus amigos, que me receberam super bem, eu estou me sentindo bem mais à vontade do que eu pensei que ficaria. Está tranquilo.

MILO – Ah, que bom! Espero que a gente possa criar uma amizade bacana a partir de hoje. Pode contar comigo. 

Eles sorriem um para o outro, com cumplicidade. Logo, uma garota, muito bonita por sinal, se aproxima, ficando perto de Gustavo, o olhando fixamente, com um sorriso.

GAROTA – Oi! Você é novato, não é? Sou lá da sua turma, 3C.

GUSTAVO – Sou sim!

GAROTA – Me desculpa por ser tão direta, mas muitas garotas te acharam uma gracinha, sabia? Inclusive eu. Te achei um gatinho.

Milo fecha um pouco a cara, a encarando. Gustavo muito sem graça.

GUSTAVO – (perdido) Bom… Eu nem sei o que falar. Valeu.

GAROTA – Ai, que fofo! Esse seu cabelo, os seus cachinhos, são tão bonitos!

Ela passa a mão no cabelo dele. Gustavo sorri, tímido. Milo na mesma.

GAROTA – Mais uma vez me desculpa por ser tão direta! A gente se vê mais por aí…

Ela se aproxima e dá um longo beijo no rosto dele, que não reage. Logo, se levanta e sai. Milo cabisbaixo, ergue a cabeça e olha para ele.

MILO – Você sempre fez sucesso entre as garotas?

GUSTAVO – Que nada… Eu nem nunca namorei ou fiquei sério com alguém. Mas claro, já fiquei com algumas meninas, mas só beijo mesmo.

MILO – Nunca passou de beijo?

GUSTAVO – Não. Sei lá, eu devo ter algum problema com isso…

Nos dois, se olhando. Fecha em Gustavo.

CENA 06. COLÉGIO VASCONCELOS. PÁTIO. INTERIOR. DIA

Amora e Beatriz sentadas num banco.

AMORA – O Rafael está demorando demais, não acha?

BEATRIZ – É, também estou estranhando.

De repente, Roberta aparece ali, aproximando-se de Beatriz, que se assusta. Amora sem entender.

ROBERTA – Olá a todas!

AMORA – O que é isso? Eu te conheço?

ROBERTA – Você não, mas eu te conheço sim. Aliás, geral te conhece bem por causa do vídeo de você tomando um banho de tinta. Ficou igual a pantera cor de rosa.

Amora se levanta, irritada.

AMORA – Quem você pensa que você é, garota?! (P/Beatriz) Conhece essa daí por acaso?

BEATRIZ – (sem graça) Eu… Eu conheço sim, já vi ela.

Roberta ri.

AMORA – Reveja suas amizades, Beatriz!

BEATRIZ – Não, mas ela não é nada minha!

AMORA – Eu vou procurar o Rafael, melhor coisa que eu faço, não vou ficar aqui pra escutar baboseira de uma ninguém!

Amora encara Roberta. Logo, vai saindo dali, raivosa. Beatriz se levanta, estressada, e puxa Roberta pelo braço até uma pilastra.

ROBERTA – Cê vai me machucar desse jeito, calma aí.

BEATRIZ – O que você quer comigo, Roberta? Não quero você aparecendo assim do nada enquanto eu estiver com os meus amigos, principalmente com a Amora! E ainda teve a audácia de zoar com a cara dela.

ROBERTA – O que eu posso fazer se sua amiga está sendo chamada de pantera cor de rosa? Não tenho culpa.

BEATRIZ – Para de tentar inverter a situação, você sabe muito bem que o que você queria se aproximando aqui era me constranger!

ROBERTA – E você morre de vergonha por que, posso saber? A vida é sua, você não deve nada pra ninguém.

BEATRIZ – E eu teria vergonha de alguma coisa por qual motivo? Você realmente ainda está achando que eu sou lésbica, não é? Já disse mil vezes que não gosto de mulher, e pro seu governo, eu te dei um beijo por pura curiosidade!

ROBERTA – Começa na curiosidade.

BEATRIZ – Olha aqui, você que não tente me deixar constrangida de novo na frente de quem quer que seja! Me deixa em paz!

As duas se encaram. Beatriz sai dali, furiosa. Fecha em Roberta, a olhando.

CENA 07. COLÉGIO VASCONCELOS. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA

Turma 3C.

Alexia e Rafael sentados, lado a lado, com as apostilas abertas, aos risos.

ALEXA – Eu não consegui me concentrar em quase nada, Rafa! Não parava de rir.

RAFAEL – As minhas piadas eram tão engraçadas assim?

ALEXIA – Não só as piadas, mas o seu jeito de contar as coisas! Não conhecia esse seu lado mais voltado pro humor.

RAFAEL – Tá vendo só? Ficamos dez minutos mais próximos e já conhecemos mais um do outro.

Eles cessam a risada e se olham, firmes.

RAFAEL – Talvez devêssemos conhecer mais um do outro.

ALEXIA – Eu acho uma boa ideia.

Clima. Tempo neles se olhando. Alexia se levanta, rapidamente, desajeitada, voltando a si. Rafael faz o mesmo.

ALEXIA – Acho melhor a gente descer para o pátio e tentar aproveitar o que nos resta do intervalo.

RAFAEL – Verdade.

Eles guardam as apostilas em suas mochilas. Logo, ficam lado a lado, se olhando. Se preparam para ir embora, e quando vão dar o primeiro passo, Amora entra na sala e dá de cara com os dois, sozinhos. Tensão. Amora fecha a cara, os encarando.

AMORA – Posso saber que festa é essa que está acontecendo aqui?

Closes alternados dos três.

CENA 08. SHOPPING. SALA DA SEGURANÇA. INTERIOR. DIA

Sonoplastia:

É bom para o moral

Joelma e Douglas no maior amasso, deitados no chão. Ele de cueca preta, por cima dela, que está nua, a beijando.

JOELMA – Meu Deus… Hoje você está insaciável.

DOUGLAS – Nada depois do que fazer o que estamos fazendo depois de uma discussão.

JOELMA – Confesso que está tudo maravilhoso! Infelizmente vou ter que ir embora daqui a pouco, já estou sofrendo por antecedência. Logo hoje que você está com esse fogo todo.

DOUGLAS – Eu estou apenas reafirmando o quanto eu gosto de você.

JOELMA – Essa reafirmação está maravilhosa.

DOUGLAS – Está, é? Está gostando?

JOELMA – Adorando. Reafirma de novo, meu segurança. Reafirma quantas vezes você quiser!

DOUGLAS – Pode deixar.

E eles voltam a se beijar, apaixonados. Joelma gargalha.

CENA 09. COLÉGIO VASCONCELOS. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA

Turma 3c.

Clima tenso. Amora no meio de Rafael e Alexia, os encarando.

AMORA – O que você está fazendo aqui sozinho com essa coisa ridícula, Rafael?

ALEXIA – Não fala assim…

RAFAEL – Calma, Amora. Meça as suas palavras. Ninguém aqui estava fazendo nada demais, somos da mesma turma.

AMORA – E daí que são da mesma turma, todos os alunos já foram pro intervalo e só restou você e essa mineirinha abusada!

Alexia respira fundo, tensa. Ela vai ir embora, mas Amora segura o seu braço com força.

AMORA – Pra quê a pressa? Só porque a namorada dele chegou a tempo de impedir que você continuasse a dar em cima dele, sua…/

ALEXIA – (corta) Eu não estava dando em cima de ninguém! Agora me solta! Me solta porque eu quero ir embora!

Alexia se desfaz das mãos dela, nervosa. Elas se encaram firmemente por muito tempo, e por fim, Alexia sai da sala.

Rafael se senta numa cadeira, incomodado. Amora se senta ao lado dele.

AMORA – Estou esperando uma explicação, Rafael.

RAFAEL – Ninguém aqui estava fazendo nada demais. Você está passando dos limites com esse ciúmes todo.

AMORA – E você passando dos limites com toda essa defesa pra cima daquela infeliz!

RAFAEL – Amora!

AMORA – Meu amor, ela sabotou a minha festa, e você ainda acha que ela tem alguma razão nessa história toda, Rafael? Se coloca no meu lugar! Como você acha que eu me sinto vendo essa garota se aproximando de você cada vez mais?!

RAFAEL – Tira isso da sua cabeça! A Alexia não jogou aquela tinta toda em você, ela não fez nada, tenho certeza disso!

AMORA – Que certeza toda é essa? Eu sabia… Sabia que ela ia acabar te enganando com aquela carinha de santa! Mas eu vou provar que ela é uma mau caráter.

RAFAEL – Pelo pouco que eu conheço a Alexia, eu sinto que ela tem um bom coração. Você devia dar uma oportunidade para a aproximação de vocês duas.

AMORA – Só se eu fosse completamente louca!

RAFAEL – Tá legal, Amora, já vi que você está totalmente irredutível quando o assunto é a Alexia.

AMORA – Cada um com a sua opinião, não é assim que funciona?

RAFAEL – Não quero ficar discutindo com você… Vamos zerar isso. Por favor. Minha vida às vezes já vira de cabeça pra baixo, vamos ficar tranquilos e tentar ter um relacionamento saudável. Tenta fazer a sua parte.

Eles ficam se olhando por um tempo. Logo, dão um abraço.

CENA 10. COLÉGIO VASCONCELOS. PÁTIO. INTERIOR. DIA

Alexia terminando de descer a rampa de acesso ao pátio. Ela vai caminhando, nervosa. Milo se aproxima, fazendo-a parar.

MILO – Que cara é essa?

ALEXIA – Eu estava indo te procurar agora.

MILO – Eu estava na biblioteca, saí de lá faz pouco tempo. Aconteceu alguma coisa?

ALEXIA – Aconteceu o de sempre. A única coisa que me deixa com essa cara no colégio.

MILO – A Amora… O que ela fez dessa vez? Garota insuportável, ela não cansa, não?

ALEXIA – Deu um show lá na sala porque me viu com o Rafael. Você sabe, Milo, a gente não estava fazendo nada demais!

MILO – Eu te conheço, sei disso, nem precisa se justificar.

ALEXIA – No momento eu estou com muita raiva dela. Estou cansada de ter que passar por isso quase todo dia. (respira, T) Cadê o Gustavo? Achei que ele estaria com você.

MILO – E estava, foi comprar um lanche.

Milo sorri. Alexia também.

ALEXIA – Que sorriso foi esse só de tocar no nome dele?

MILO – Está tão na cara assim?

ALEXIA – Talvez. O que você achou dele?

MILO – Ele é lindo. E muito educado. E você sabe, eu sou gay, mas vai saber se ele é ou não. Enfim, isso não importa agora.

ALEXIA – É, eu sei disso. Parece ser um garoto do bem.

MILO – Pelo pouco que conversamos, acho que vamos nos dar muito bem durante o ano.

ALEXIA – Tomara. Talvez esse seu coraçãozinho bata mais forte por ele.

MILO – Para, Alexia! Nada a ver…

Eles dão risada, descontraídos.

CENA 11. RUAS. EXTERIOR. DIA

Passam-se as horas sob imagens de algumas ruas e avenidas da cidade.

CENA 12. LOJA DE CALÇADOS. INTERIOR. DIA

Esther arrumando algumas coisas ali, organizando algumas caixas. Loja vazia. Uma das funcionária se aproxima dela.

FUNCIONÁRIA – Esther, o chefe disse pra você comparecer à sala dele depois que acabar de arrumar isso tudo.

ESTHER – Tudo bem.

A mulher sai. Fecha em Esther, que respira fundo, olhando para o nada.

CENA 13. LOJA DE SAPATOS. SALA  DA DIREÇÃO. INTERIOR. DIA

Esther entra e fecha a porta. Juca sentado em seu lugar.

JUCA – Esther! Sente-se, faz o favor.

Esther caminha lentamente e se senta na frente dele, com uma mesa os separando.

ESTHER – O senhor mandou me chamar…

JUCA – Ah, sim, claro. Como está indo o movimento da loja hoje?

ESTHER – Até agora a pouco estava vazio, mas está cedo ainda, costuma lotar mais depois do horário de almoço.

JUCA – Tem razão.

ESTHER – O senhor me chamou só pra perguntar isso?

JUCA – Não. Eu queria te dar uma notícia também.

ESTHER – E qual seria?

Juca se levanta, caminhando lentamente pela sala. Esther em seu lugar, imóvel.

JUCA – Bom, como você sabe, eu sempre coloco uma meta mensal para as minhas funcionárias. Esse mês, que é o seu primeiro na loja, sendo uma funcionária novata, eu decidi abaixar a sua meta em relação às metas das demais funcionárias.

ESTHER – Mas… Assim do nada?

Ele se aproxima dela, ficando atrás de sua cadeira e colocando a mão em seus ombros.

JUCA – Você não devia ficar questionando, minha querida. Estou aliviando o seu lado.

ESTHER – Sim, está certo.

JUCA – E você sabe que, se atingir a meta, ganha um bônus salarial. É pra isso que todas estão se dedicando tanto. E com você vai ser mais fácil, resolvi te dar essa colher de chá. Sem questionamentos.

ESTHER – Eu agradeço muito, seu Juca. Muito mesmo.

JUCA – Tranquilo… Eu prezo pelo bem das minhas funcionárias, quero sempre ajudar. E além do mais, eu vejo um enorme potencial em você. Se você se der bem comigo como eu imagino que possa ser, você vai longe.

Ele sorri, cínico. Esther neutra.

ESTHER – Eu agradeço.

JUCA – Pode voltar ao trabalho agora.

Esther se levanta, apressada, e já vai em direção à porta.

JUCA – Espera.

Esther para, se vira para ele, o olhando.

ESTHER – Pois não.

JUCA – Eu não sei se eu te elogiei hoje. Você está linda, Esther. Você é muito bonita…

Tensão em cena. Closes alternados dos dois. Ele, com um olhar maliciosa. Fecha em Esther, incomodada.

CENA 14. MANSÃO VASCONCELOS. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA

A porta se abre. Joelma entra, joga todas as suas compras no sofá.

JOELMA – (grita) Arlete!

Em segundos, Arlete aparece na sala, saindo da cozinha.

ARLETE – Pode falar, dona Joelma.

JOELMA – Eu vou subir pro meu quarto, quero descansar um pouco, não sei se o Roger vem almoçar em casa hoje. Leva essas sacolas pra mim depois, enquanto eu tomo um banho.

ARLETE – Sim senhora.

JOELMA – Ah, e prepara também aquele suco de luz que te ensinei, agora mesmo. Estou precisando me espiritualizar.

ARLETE – Pode deixar. Licença.

Arlete volta para a cozinha. Joelma respira fundo, senta-se no sofá e vai ver as roupas que comprou, sorrindo. Observa cada peça durante um tempo. Segundos depois, se levanta e caminha em direção à escada. Sobe alguns degraus. De repente, a campainha toca.

Joelma fecha a cara, desce cada degrau de novo, e anda até a porta. 

JOELMA – Mas quem é que pode ser logo agora?

Rápida, ela enfim abre a porta. Suspense. Seu semblante fechado aumenta. Fica boquiaberta, muito chocada ao ver quem estava à sua frente.

JOELMA – Não acredito no que eu tô vendo.

Enfim, revela-se quem era: uma mulher, já de certa idade, cabelos lisos e bem cuidados, fios claros, pele branca, maquiagem marcante, roupa bem extravagante. No chão, algumas malas. É Lady Machadão.

LADY MACHADÃO – Não vai dar um abraço na sua mãe, filha?

Ela sorri. Joelma chocada. Closes alternados das duas.

Congela em JOELMA, numa mistura dos tons rosa e roxo, e o seu rosto se torna a capa de um caderno escolar, marcando o FIM DO 19º CAPÍTULO.

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