Vida Inteira – Capítulo 27 (Vale a Pena Ler de Novo)

VIDA INTEIRA

escrita por:

GUILHERME SANTOS

CAPÍTULO 27

CENA 01. LANCHONETE. EXTERIOR. DIA

Abre em Matheus, chocado com tudo o que ouviu. Ele leva a mão ao rosto, ainda confuso, respira fundo. Mais a frente, Caio e Renato seguem a discussão, alterados, se encarando firmemente.

RENATO – E aí, Caio? Vai entregar fácil assim as duas garrafas de whisky que nós apostamos pela Alice?

CAIO – A vontade que eu tenho agora é de quebrar a sua cara, Renato!

RENATO – Não tenho medo de você não, mano. Pode vim, eu sei me defender. Fala logo, vai ou não vai transar com a esquisitona pra ganhar seu prêmio?

Renato gargalha, provoca. Caio ofegante, muito nervoso. Os dois se encaram mais um tempo, até que Caio sai dali, muito apressadamente. Renato o segue. Logo, os dois desaparecem.

O foco torna-se Matheus, surpreso, meio desnorteado. Ele perambula por ali.

MATHEUS – Não… Eu não consigo acreditar numa coisa horrível dessas!

Ele pega o seu celular, tecla rapidamente, super nervoso, atrapalhado. Instantes depois, o leva à orelha e fica um tempo.

MATHEUS – Atende, Alice! Atende esse telefone!

Mais um tempo, e nada. Ele desliga o celular e o guarda no bolso.

MATHEUS – Desligado… Logo agora. (T) Eu preciso avisar a Alice. Ela não pode… Não pode ser enganada dessa maneira horrorosa!

Tensão. Matheus então corre para fora do estabelecimento, totalmente desnorteado.

Logo, chega à calçada. Apressado, nervoso e afobado com a informação que tem, ele acaba colocando os seus pés na rua e se prepara para atravessar no maior desespero. Suspense.

SLOW: Matheus atravessa a rua, correndo muito, sem olhar pra os lados. Quando está quase na metade, ouve-se o forte barulho de uma buzina. A buzina de uma moto.

Ritmo: Matheus se vira para o lado esquerdo, enxerga a moto vindo em sua direção, fica boquiaberto. O motoqueiro freia, barulho insuportável do pneu no asfalto, mas é inevitável: Mesmo com velocidade mais reduzida, a moto atinge Matheus. Ele é atropelado, mesmo que levemente. O seu corpo vai ao chão na mesma hora, rolando um pouco o asfalto, até chegar do outro lado da rua.

Fecha em Matheus, jogado no chão. Tensão. A moto estaciona logo ao lado. Curiosos se aproximam, formam uma roda. Movimento. O motoqueiro tira o capacete e se aproxima rapidamente, empurrando as pessoas que estavam ali perto, se abaixando e vendo Matheus mais de perto.

Matheus não está desacordado, geme de dor.

MOTOQUEIRO – Eu não tive culpa! Você se jogou na minha frente, apareceu do nada!

MATHEUS – (com dificuldade) Eu preciso falar com uma pessoa..

MOTOQUEIRO – Eu vou ligar pra uma ambulância. E para os seus responsáveis. Você parece menor de idade, garoto. Me passa o telefone dos seus pais.

MATHEUS – (com dor) Tudo bem…

Matheus geme cada vez mais de dor, coloca a mão em seu braço e ombro. Close nele.

CENA 02. RUA. EXTERIOR. DIA

Caio andando o mais rápido que pode. Renato o alcança, encosta no ombro dele, o faz virar. Os dois se encarando.

RENATO – Não foge assim não! Coisa de covarde! Tão covarde quanto desistir da aposta!

CAIO – Eu desisti pelos meus motivos, eu faço da minha vida o que eu quiser! Eu nunca devia ter aceitado essa aposta idiota! Eu resolvo o problema te dando as porcarias das duas garrafas de bebida e pronto, me assumo como possível perdedor pra você.

RENATO – A graça da história toda seria o vídeo daquela garota estranha na cama, cara, você não entende isso? Eu não consigo entender por que você desistiu de ficar com ela assim, do nada. (T) Aliás, tenho uma ideia sim, como eu havia dito: cê tá apaixonado por ela nesse tempo todo, acabou se aproximando mais do que devia, perdeu tempo e se deixou levar. Fraco!

CAIO – Cala essa boca!

RENATO – Alice fisgando o maior garanhão do colégio, quem diria… (ri) A esquisitona está ficando esperta.

Nesse exato momento, Caio fecha a mão, a ergue, e dá um forte soco na cara de Renato, que cai no chão, surpreso. Tensão.

CAIO – (grita) Você é um moleque!

Os dois se encaram. Caio dá as costas e vai saindo. Foco em Renato, canto da boca sangrando, revoltado.

CENA 03. CASA DE RAFAEL. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA

Rafael e Amora frente a frente. Ela abalada, enquanto ele segue com o semblante fechado.

AMORA – Me perdoa, Rafael…

Rafael respira fundo.

RAFAEL – Perdoar você?

AMORA – Eu sei que eu errei, cometi alguns deslizes, mas…/

RAFAEL – (corta) Alguns deslizes? Você tem coragem de chamar aquela barbaridade que você fez de deslizes, Amora?

AMORA – Foi um erro! Mas eu fiz aquilo por nós dois!

RAFAEL – Não. Você fez aquilo por você mesma! Por capricho! Pelo seu próprio bem, porque você é uma garota egoísta, Amora.

AMORA – Não…

RAFAEL – (grita) Egoísta sim! Você só pensa em você! Não pensou em nenhum momento no mal que você causaria na Alexia acusando a garota a troco de nada!

AMORA – (firme) Eu não fiz aquilo atoa, eu fiz com um objetivo!

RAFAEL – O seu objetivo era se livrar da Alexia da maneira mais suja que se pode imaginar. Era pior do que eu pensava… Você é muito pior do que uma patricinha mimada, que vive de alfinetar as pessoas. Dessa vez você passou totalmente de todos os limites, garota! Você foi longe demais!

AMORA – Eu só fiz aquilo porque eu gosto de você! Aquela ordinária estava me atrapalhando, se metendo no meu caminho, eu não ia ficar de braços cruzados!

RAFAEL – Para, para de falar que fez aquilo por minha causa! Eu não quero mais ouvir isso. Inclusive, eu não tô mais afim de ouvir as suas desculpas esfarrapadas.

AMORA – Você está sendo muito injusto!

RAFAEL – Como é que é? Eu estou sendo injusto?! Não seja ridícula! Você já fez um papelão no colégio, quer pagar mico pra mim agora? Você acabou, Amora. (T) A gente acabou.

AMORA – Não! Eu não aceito isso!

RAFAEL – Você não tem que aceitar coisa nenhuma, garota, se toca! (T) Você é a pessoa mais fria, calculista e perversa que eu já conheci. Foi capaz de subornar alguém pra falar mentiras a respeito de outra pessoa, pensou em tudo direitinho. Só que você se esqueceu de que a vida é justa, e mais dia ou menos dia você ia acabar sendo descoberta. Você queria ficar comigo a base de mentiras, de falsidades, é claro que isso teria prazo de validade desde que começou! Você não me engana mais, não, Amora.

Amora mal com tudo, o encara. Rafael firme.

AMORA – Para… Por favor, não fala assim! A gente pode resolver tudo isso. O que nós temos que fazer é…/

RAFAEL – (corta) Não, não tem nada de “nós”! Nem nunca teve! Eu fui burro o bastante pra acreditar nas suas armações, nas suas mentiras, e veja onde eu fui parar. Estou devastado. Eu estou detonado, por sua causa, porque fui o cara mais imbecil e idiota desse mundo por ter caído no seu papo! Eu não sou mais um fantoche na sua mão.

AMORA – Chega! Você não tem o direito de falar assim comigo! Não pode jogar fora o meu amor!

RAFAEL – Para de falar isso! Isso não é amor! Isso é loucura, Amora! (T) Acabou! Eu não quero mais ouvir nenhuma mentira, não quero mais te ver pintada de ouro! A gente termina aqui.

Amora chora, escandalosa, desesperada. Afobada, ela se aproxima de Rafael, passa as mãos nele. Ele de cara fechada, olhar sério.

AMORA – (chorando) Meu amor, não faz isso! A gente nasceu pra ficar junto! A gente tem que morrer juntos, ainda vamos pro altar, Rafael! Você não pode fazer isso comigo!

Rafael se estressa, pega as mãos dela, a empurra.

RAFAEL – (grita) Para com isso! Para!!! Eu vou viver a minha vida de verdade agora, com um amor puro e verdadeiro de ambas as partes! Eu não vou deixar de ser feliz por sua causa, você não vai me tirar isso!

Amora limpa as suas lágrimas, o encara firmemente.

AMORA – Você não está pensando em procurar a Alexia depois de tudo, está? Ela vai fazer de tudo pra ficar contigo, você não pode me trocar por aquela vadia! Vagabunda!!!

RAFAEL – O que eu vou fazer da minha vida a partir de agora não é mais da sua conta. Esqueceu? A gente não tem mais nada um com o outro.

Amora volta a chorar, dramática. Os dois se encarando. Tempo, tensão. Então, Amora começa a gritar, e avança em Rafael, despejando tapas e socos nele, em seu peitoral.

RAFAEL – Para, Amora! Para!

Ela segue a gritar e agredir Rafael, que tenta se desvencilhar sem machuca-la. Rafa pega os braços dela e segura-os com truculência.

RAFAEL – Vai embora! A gente não tem mais nada pra conversar!

Amora se solta dele. Os dois ficam se encarando.

AMORA – Você não vai ser feliz sem mim! (grita) Não vai!!!

E ela sai dali correndo. Abre a porta, vai embora e depois a bate com força. Fecha em Rafael, mal com tudo.

CENA 04. APARTAMENTO DE SANDRA. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA

Porta entreaberta. Logo, uma mão a empurra levemente. É Rodrigo, que adentra o local a lentos passos.

RODRIGO – Sandra?

Nada é ouvido, silêncio total. Ninguém por ali. Ele fecha a porta, estranha. Então, vai caminhando até o corredor, afim de ir ao quarto de Sandra, a procurando.

CENA 05. APARTAMENTO DE SANDRA. QUARTO DE SANDRA. INTERIOR. DIA

A porta se abre. Rodrigo entra, ficando surpreso com o que vê: havia pétalas e mais pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão e pela cama. Ao fundo, som ligado, com trilha sensual. Ele leva seu olhar à cama e encara: Sandra, de camisola curta, totalmente sensual, sorrindo para ele.

Rodrigo se aproxima lentamente.

RODRIGO – Eu posso saber o que significa isso?

Sandra fica de joelhos na cama.

SANDRA – Uma surpresinha… Vai me dizer que não gostou? Preparei tudo com bastante cuidado e carinho.

RODRIGO – Isso é uma palhaçada mesmo…

Ele fecha a cara e se prepara para sair dali, mas Sandra pula da cama e corre até a porta, a fechando-a e trancando-a.

SANDRA – Agora que você já está aqui, vai ter que ficar. A gente não tinha combinado de conversar?

RODRIGO – E você me prepara uma coisa dessas… Você é louca, me dá essa chave, eu vou embora agora.

Sandra coloca a chave entre os seios dela, provocando.

SANDRA – Pega a chave então. Pega que eu deixo você ir.

RODRIGO – Para com isso, Sandra! Eu já disse que não vamos ter mais nada, nosso caso acabou, tenta entender isso de uma vez por todas!

SANDRA – Eu tento, mas não consigo. (T) Eu só te peço uma última transa. Uma última vez, pra me despedir. Juro que depois disso eu te deixo em paz.

Ela se aproxima dele lentamente, que permanece imóvel, e morde o seu pescoço. Rodrigo fecha os olhos, começa a se envolver.

SANDRA – Eu preciso urgentemente sentir o teu cheiro, o teu corpo… Preciso de você comigo! Uma última vez.

Os dois se olham. Sandra então tira lentamente a sua camisola, fica totalmente nua. Rodrigo observa o seu corpo, de cima a baixo. Logo, a olha novamente. Clima.

Sandra se joga em Rodrigo, o beijando fogosamente. Rodrigo se deixa levar, começa a tirar a sua roupa. Os dois vão para a cama.

CENA 06. RUA. EXTERIOR. DIA

Matheus já deitado numa maca e sendo colocado dentro de uma ambulância. O seu pai, alto, magro, cabelos negros, do lado esquero da maca e sua mãe, morena, alta, bonita, ao lado direito. Ambos dão a mão ao filho, preocupados. Movimentação ali. Enfermeiros enfim colocam Matheus dentro da ambulância e a porta se fecha. A sirene é ligada, barulho ensurdecedor. O veículo vai embora dali.

CENA 07. MANSÃO VASCONCELOS. QUARTO DE AMORA. INTERIOR. DIA

Amora andando de um lado para o outro, estressada. A porta se abre, Joelma entra.

JOELMA – Você chegou feito um furacão, não falou com ninguém. Como é que foi a conversa com o Rafael.

Joelma se aproxima dela. As duas se olham.

AMORA – Eu acho que perdi o Rafael de vez, Joelma.

Nas duas, se olhando.

CENA 08. APARTAMENTO DE SANDRA. QUARTO DE SANDRA. INTERIOR. DIA

Silêncio. Abre em Rodrigo, deitado na cama, dormindo tranquilamente,  totalmente nu, partes íntimas cobertas por um lençol branco. A cama toda bagunçada.

Sandra de camisola, em pé, o olhando, de frente para a cama. Ela dá um sorriso. De repente, ergue a mão esquerda e CAM detalha: ela estava segurando um celular. Suspense.

Ela começa a teclar ali e rapidamente podemos perceber que ela acessa à câmera do aparelho. CAM mostra a tela do celular: câmera posicionada em Rodrigo na cama, o focando.

Então, Sandra começa a tirar fotos e mais fotos de Rodrigo em sua cama, naquela situação. Olhar decidido, dentes cerrados. Em seguida, ela abaixa um pouco a alça de sua camisola, se deita ao lado dele cuidadosamente, ergue o celular novamente, sorri e tira uma selfie dos dois juntos. Tempo.

E ela fica a fotografar aquele momento íntimo, decidida.

CENA 09. PRAÇA. EXTERIOR. DIA

Gustavo e Milo sentados na grama, de pernas cruzadas e com apostilas apoiadas nas pernas, frente a frente. Eles conversam.

GUSTAVO – Valeu pelo convite, Milo. Estava precisando mesmo botar as matérias atrasadas em dia, estou perdido em tanta coisa.

MILO – Estudar ao ar livre é uma maravilha. Fica menos estressante, e eu consigo me concentrar da mesma maneira de quando estudo sozinho no meu quarto.

GUSTAVO – Estou experimentando estudar numa praça pela primeira vez com você.

Eles dão risada, descontraídos.

MILO – Eu amo ficar aqui de bobeira. Essa praça é imensa, um lugar tranquilo, cheio de verde.

GUSTAVO – É linda mesmo.

Gustavo volta a ler sua apostila. Milo desvia o olhar, encara-o, tentando disfarçar. Então, ele respira fundo, pensativo.

Sonoplastia:

XO – Beyoncé

MILO – (nervoso) É… Gustavo…

Gustavo ergue a sua cabeça, o olha.

MILO – Eu preciso deixar uma coisa clara contigo, e devia ter conversado com você sobre isso faz tempo.

GUSTAVO – O que é, Milo? Pode falar.

Milo respira fundo, se prepara.

MILO – Eu sou gay.

Reação de Gustavo, neutro.

MILO – É isso. Eu acho melhor deixar isso claro por agora, já que a nossa amizade está crescendo cada vez mais. Vai que você não se dá bem com isso, sei lá, passam mil coisas na minha cabeça. Prefiro ser sincero, e também não faço questão de esconder.

GUSTAVO – Não tem o menor problema nisso.

MILO – Não?

GUSTAVO – (ri) É claro que não. (tom) No que isso vai mudar? Cê pensou que eu me afastaria de você por causa disso?

Milo sem graça, dá uma leve risada.

MILO – É que eu quase não tenho amigos homens, não me dou muito bem com a maioria, tudo por conta do preconceito vindo deles, sabe? Felizmente não fazem falta, estou bem do jeito que eu estou. Ainda bem que eu me dei bem com você logo de cara.

GUSTAVO – Eu acho ridículo as pessoas se afastarem de outra por causa da condição sexual.

MILO – Falou bonito. (T) Você é muito bacana, Gustavo.

Eles se olhando, com cumplicidade.

GUSTAVO – Você é mais bacana ainda. Me acolheu de primeira, foi muito legal comigo. (T) Sabe… Eu gosto de você, Milo.

Milo enche os olhos, deixa-os brilhando, dando um leve sorriso. Gustavo idem.

MILO – Eu também gosto de você, Gustavo.

Eles sorriem. Gustavo tímido, Milo também. Closes alternados.

CENA 10. CASA DE ALICE. QUARTO DE ALICE. INTERIOR. DIA

Alice sentada, de frente para sua escrivaninha, mexendo no notebook. O seu celular começa a tocar. Ela o pega ao lado, vê quem era, sorri e atende.

ALICE – (ao cel) Caio… Que surpresa a sua ligação.

CAIO – (off) Eu estava querendo te encontrar agora, quero te ver. Será que tem como? Onde você está?

ALICE – (ao cel) Estou em casa agora, os meus pais estão trabalhando.

CAIO – (off) Eu posso ir aí te encontrar? (T) Queria conversar em particular contigo, se for possível.

ALICE – (ao cel) Em particular? (nervosa) Eu não sei… Qual é o assunto?

CAIO – (off) Você vai saber na hora certa. E então… Posso ir até a sua casa?

Fecha em Alice, pensativa, muito tensa.

ALICE – (ao cel.) Tudo bem. Anota o endereço.

Fecha nela, nervosa.

CENA 11. HOSPITAL. SALA. INTERIOR. DIA

Matheus deitado numa cama, já com uma cara melhor. Sua mãe, que atende pelo nome de Vanessa,  ao lado.

VANESSA – Está se sentindo melhor mesmo, filho?

MATHEUS – É claro que eu tô. Ainda não entendi porque eu tenho que ficar aqui, não foi nada grave.

VANESSA – Você vai ter que fazer alguns exames de rotina, eu mesma quem pedi. Depois desse atropelamento quero você fazendo todos os exames possíveis.

MATHEUS – Mãe, não precisa de tudo isso, eu estou bem. Você sempre exagerando…

VANESSA – Eu só quero me certificar que sua saúde está cem por cento, só isso. O seu pai teve que voltar pro trabalho, então eu vou ficar contigo.

Nesse momento, a porta se abre e um médico entra, se aproximando deles.

MÉDICO – (p/ Vanessa) Vejo que ele está com uma cara ótima agora.

VANESSA – É, as dores estão passando depois do atendimento na ambulância, graças à Deus.

MATHEUS – E quando eu vou voltar pra casa?

MÉDICO – Bom, sua mãe pediu uma bateria de exames, quer saber se está tudo bem.

MATHEUS – Isso é desnecessário.

MÉDICO – Nós faremos o raio-x, pra ver se está tudo bem mesmo. Como foi um atropelamento e você foi jogado no chão, não sabemos com toda certeza se você quebrou alguma coisa, só através do exame mesmo.

MATHEUS – E quanto essa bateria de exames acaba? Eu não tô afim de ficar aqui muito tempo, detesto hospital.

MÉDICO – Eu aconselho que você passe a noite em observação. Você vai tomar algumas coisas na veia, isso demora. É bom passar essa noite no hospital, sendo observado pelos enfermeiros, pra ver se você terá uma futura reação à alguma coisa ocasionada pelo acidente.

Matheus surpreso, fecha a cara.

MATHEUS  – Não, eu não posso e nem quero passar a noite aqui, eu preciso ir pra casa.

VANESSA – Não é você quem decide isso, Matheus.

MATHEUS – (afobado) Eu preciso falar com a Alice! É urgente, eu não posso ficar enfiado nesse hospital!

VANESSA – Você conversa com a Alice todos os dias, meu filho, ela pode esperar.

MATHEUS – Cadê o meu celular? Deixa eu ao menos ligar pra ela, pedir pra ela me encontrar.

VANESSA – Mas que desespero é esse, Matheus? O seu celular está confiscado, deixei com o seu pai. Você precisa é descansar agora. Se é tão urgente assim, me fala que eu mando o recado pra Alice.

MATHEUS – Não, você não entende! Eu preciso ver ela, conversar pessoalmente!

MÉDICO – Calma, você está ficando muito alterado. Amanhã você vai ter alta e aí poderá conversar com a sua amiga tranquilamente. Pensa em você agora. (T) Em breve um enfermeiro irá te buscar para fazer os exames. Com licença

O médico sai da sala, fecha a porta. Close em Matheus, irado.

CENA 12. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE RAFAEL. INTERIOR. DIA

Sonoplastia:

Tua – Anavitória

Rafa sentado no chão, encostado num canto do quarto, pensativo, com uma cara triste. Tempo nele.

Ele retira o seu celular do bolso da bermuda e começa a mexer nele por um tempo, mandando uma mensagem, fica ali por um tempo. Ao terminar de digitar, ele encara a tela do aparelho, pensativo. Ligo, clica em enviar, decidido. Em seguida, guarda o celular no bolso novamente, e fica olhando para o nada.

CENA 13. CASA DE ARLETE. QUARTO DE ALEXIA E ESTHER. INTERIOR. DIA

Sonoplastia ON.

Alexia deitada na cama, lendo um livro. O seu celular apita, recebe uma notificação. Ela fecha o livro, o deixa de lado e pega o celular, que já estava por perto. Fica mexendo nele, e fica surpresa ao ver a mensagem que acabara de receber.

O foco torna-se o visor do celular, onde destaca-se a mensagem que Alexia havia recebido e a foto da pessoa que havia mandado em um pequeno ícone acima da mensagem: Rafael. Alexia lendo aquilo com atenção.

RAFAEL – (off) Eu não paro de pensar em você, Alexia. Preciso te encontrar, te dar um abraço, e falar tudo o que eu estou sentindo. Me dá essa chance.

Alexia termina de ler e joga o celular na cama. Fica pensativa, dando leves sorrisos. Close nela. Tempo.

CENA 14. RUAS. EXTERIOR. DIA

Sonoplastia continua. Imagens diferenciadas das praias da cidade e de jovens se divertindo nela, jogando algum esporte, correndo, conversando.

CENA 15. CASA DE ALICE. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA

A campainha toca. Alice sai do corredor, vai até a porta. Ela está nervosa, morde os lábios, tensa. Fica encarando a porta por um tempo, pensativa, até que enfim a abre.

Quem está bem à sua frente é Caio. Os dois ficam se olhando, seriamente. Fecha em Alice.

CENA 16. APARTAMENTO DE SANDRA. QUARTO DE SANDRA. INTERIOR. DIA

Rodrigo ainda dormindo. Sandra sentada numa cadeira, o observando, não muito longe.

Aos poucos, Rodrigo vai despertando do sono. Ele enfim abre os olhos e fica sentado na cama, se espreguiçando. Ao encarar Sandra, ele se levanta rapidamente e já começa a vestir sua roupa, apressado.

RODRIGO – Isso não devia ter acontecido.

Sandra segue em seu lugar, neutra.

SANDRA – Mas aconteceu.

RODRIGO – Eu preciso voltar pra casa o mais rápido possível. A Daniele vai estranhar essa minha demora, eu tinha dito que iria encontrar um amigo antigo pra um almoço.

SANDRA – Suas desculpas estão cada vez mais esfarrapadas.

Então, ele termina de se vestir, se senta na cama e vai colocando os sapatos, com rapidez.

SANDRA – Você volta?

RODRIGO – Só se eu fosse louco. Eu nunca mais vou voltar aqui. E se não fosse por causa do colégio, eu não ia te ver mais.

Sandra sorri, vitoriosa, sabe da sua carta na manga. Rodrigo se levanta, pronto para ir embora, e a encara.

RODRIGO – Que sorriso é esse no seu rosto?

SANDRA – Nada…

RODRIGO – Eu prometo pra mim mesmo que eu nunca mais vou cair no seu jogo. Essa foi a última vez que a gente ficou junto.

SANDRA – Tudo bem.

Ela se levanta, enquanto ele se prepara para abrir a porta.

SANDRA – Espera, Rodrigo.

Sandra fecha o semblante, firme. Rodrigo a olha.

RODRIGO – O que foi?

SANDRA – Eu tenho uma coisa pra te mostrar antes de você ir embora.

Suspense. Closes alternados dos dois se olhando. Fecha em Sandra.

CENA 17. MANSÃO VASCONCELOS. QUARTO DE AMORA. INTERIOR. DIA

Amora deitada na cama, pensativa. A porta do quarto se abre e Roger, com uma cara péssima, adentra o local. Amora vê aquilo, se levanta rapidamente. Ele fecha a porta e se aproxima da filha. Os dois cara a cara.

AMORA – Eu não esperava te ver agora.

ROGER – Saí mais cedo do colégio. Mal conseguia trabalhar pensando em tudo que você fez.

AMORA – Pai, eu…/

ROGER – Por que, Amora? Como você teve coragem de fazer isso comigo?

AMORA – Com você?

ROGER – Você pensa o quê? Que é fácil saber que a minha filha fez uma coisa horrorosa? Eu estou sem chão, Amora. Você não podia ter feito aquilo, foi longe demais!

AMORA – Eu sei dos meus motivos, doutor Roger! Eu não fiz o que fiz atoa!

ROGER – Nada justifica, minha filha! Nada! Você está errada e pronto!

AMORA – Isso é o que você diz! Você como meu pai deveria procurar me entender, mas não… Veio aqui pra me apedrejar, não é?

ROGER – Eu não acredito, você ainda acha que tem razão em alguma coisa, Amora?! (T) Eu sempre imaginei que você humilhasse as pessoas de vez em quando, se aproveitasse da minha posição no colégio pra subir em cima de quem quer que seja, eu sempre soube que você havia se tornado uma patricinha mimada e mal criada, só não queria enxergar!

Amora firme, segue o encarando. Roger entristecido com tudo, mas não baqueia.

ROGER – Eu errei com você, Amora! Errei muito, só preciso enxergar onde a coisa desandou de vez!

AMORA – (grita) Você não tem o direito de me tratar desse jeito!

ROGER – Olha aí… Você acha mesmo que pode subir o tom de voz pra cima do seu pai? Eu tenho direito sim de falar como eu quiser contigo, Amora, porque eu sou o seu pai! Sou eu que mando em você, não o contrário!

AMORA – Eu estou cansada de me humilhar para as pessoas que eu gosto e ficar pedindo perdão! Não adianta! Ninguém vai me entender nunca, jamais! Eu estou sendo a vilã disso tudo porque vocês fecham os olhos para as minhas razões! Eu não sou mulher de ficar de braços cruzados vendo alguém tentar me destruir! Fiz aquilo sim com a Alexia, consegui provocar a expulsão dela, e faria tudo de novo, não me arrependo de nada! (T) Pronto… Era isso que você queria ouvir,  papai?

ROGER – Eu não consigo acreditar. Como é que você se transformou nisso, Amora?

AMORA – E quando foi que você resolveu ficar do lado de uma estranha, de uma vadia, e não escolher defender a sua única filha?!

Os dois gritam, alteram o tom de voz. Muita tensão ali. Amora perdendo a cabeça, assim como Roger.

ROGER – Cala a boca! Não fala mais assim! Quem você pensa que é, sua mimada?! Eu errei feio com você, mas sempre está em tempo de corrigir os erros do passado!

AMORA – Você vai fazer o quê? Me espancar? Acha que consegue? Eu sou maior de idade! Se você encostar um dedo em mim eu te denuncio, fujo dessa casa pra nunca mais voltar e você vai acabar sozinho!

ROGER – Não fala assim comigo! Eu sou o seu pai, você me deve respeito! Você está passando de todos os limites, Amora!!!

AMORA – Eu não queria ter que falar isso, mas se você não ficar do meu lado, é isso que você vai ouvir da minha boca sempre!

ROGER – Não mesmo! Você está pensando o quê? Que é maior do que eu?! Abaixa o tom de voz agora e me peça desculpas, ou eu…/

AMORA – (corta) Ou o quê? Estou esperando você fazer alguma coisa comigo!

Roger a encara, cada vez mais raivoso. Amora fora de si, explode.

AMORA – Você não vai fazer nada! Você não consegue mandar em nada nem no colégio onde você é dono e diretor, quem dirá aqui dentro dessa casa! (T) Eu sou a sua única filha! Você devia erguer as mãos e agradecer aos céus por eu estar te aturando até hoje sem te enfrentar como você merece! Se você não ficar do meu lado, vai acabar sozinho, sem ninguém, velho e acabado!!! Eu esqueço que eu sou a sua filha!!!

Nervoso, Roger levanta a sua mão e dá um tapa na cara de Amora, deixando-a chocada. Ela coloca a mão na face atingida, e o encara, com lágrimas nos olhos. Roger com os olhos marejando, vermelhos. Os dois se encarando por um longo tempo.

Congela em AMORA, numa mistura dos tons rosa e roxo, e o seu rosto se torna a capa de um caderno escolar, marcando o FIM DO 27º CAPÍTULO.

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