Vida Inteira – Capítulo 29 (Vale a Pena Ler de Novo)

VIDA INTEIRA

escrita por:
GUILHERME SANTOS

CAPÍTULO 29

CENA 01. CASA DE MATHEUS. QUARTO DE MATHEUS. INTERIOR. DIA

Sonoplastia triste. Abre em Alice, chocada com o que ouviu, quase chorando, prestes a desabar. Matheus tenso com tudo, mas decidido.

MATHEUS – Foi tudo um plano, Alice! Eu sempre desconfiei, eu sempre te falei que tinha algo por trás dessa aproximação dele. Ele se aproximou não porque gosta de você, como parecia, e sim porque fazia parte de uma aposta!

ALICE – Eu não sei nem o que dizer… Eu estou sem chão.

MATHEUS – Você não precisa dizer nada. Eu nem imagino como você deve estar se sentindo.

ALICE – Eu não quero acreditar nisso, Matheus. (T) Por quê? Por que comigo? O Caio… Meu Deus… Ele não pode ter feito isso comigo.

MATHEUS – Acredita em mim, Alice. Eu não estaria dizendo uma coisa grave dessas por capricho, porque não gosto do Caio ou coisa do tipo. Eu ouvi eles conversando e o Renato disse com todas as letras que a aproximação do Caio em você era por causa de uma aposta suja!

FLASHBACK ON

Ao fundo, Matheus vindo do interior. Ele estaciona ao ver a cena. Então, se esconde e começa a espiá-los. Foco em Caio e Renato, de lado para o interior.

CAIO – Não é da sua conta o que eu vou fazer da minha vida, não é da sua conta as decisões que eu tomo! Otário!

RENATO – Nesse caso em questão é sim, Caio!

CAIO – Você é patético, Renato! A maior burrada que eu fiz foi ter trocado uma idéia contigo naquele dia!

RENATO – É, mas trocou, e a gente conversou bastante! Não só uma vez, mas muitas! O combinado foi feito, irmão!
Foco em Matheus, prestando atenção.

RENATO – Você transa com a Alice, grava, e ganha duas garrafas de whisky! A gente apostou, não foi? Então corre atrás do prejuízo, moleque!

FLASHBACK OFF

Alice boquiaberta, o mundo dela havia caído.

ALICE – Meu Deus… Eu não quero acreditar numa coisa suja dessas. Eu não posso ter sido tão idiota!

MATHEUS – Você não tem culpa de nada. Você é a vítima dessa história toda, Alice. Aqueles dois babacas tiraram proveito da sua inocência, do seu jeito doce! Eles são podres!

Alice se levanta, perambula pelo quarto. Ela passa as mãos em seu rosto, muito nervosa. Matheus a olha, preocupado.

MATHEUS – Você acredita em mim, Alice? Acredita em tudo que eu te disse? Por mais difícil que seja, é a verdade! É uma coisa horrível, eu sei, eles não tinham o direito de fazer uma coisa dessas.

Alice para, o olha.

ALICE – Eu acredito em você, Matheus. Eu devia ter aberto os meus olhos antes, fui uma burra, uma tonta, devia ter percebido o quanto eu estava sendo feita de idiota na mão do Caio. Mas eu fiquei cega… A minha paixão por ele não deixou eu enxergar mais nada.

Alice respira fundo, segura o seu choro.

ALICE – Eles acabaram comigo… Eu estou acabada…

Matheus se levanta e vai até ela, dando-lhe um forte abraço. Ela ainda segurando o choro, mas prestes a desabar. O abraço dura um por um longo tempo, até que eles se soltam, ficam se olhando.

ALICE – Ele nunca gostou de mim…

MATHEUS – Alice…

ALICE – Obrigada por abrir os meus olhos, Matheus. Obrigada.

Dito isso, ela dá as costas e se prepara para sair do quarto, mas Matheus a segura.

MATHEUS – Onde você vai?

ALICE – Pra minha casa. Eu preciso ficar sozinha.

Ela se solta dele e vai embora do quarto, abalada. Fecha em Matheus, preocupado.

CENA 02. RUA. EXTERIOR. DIA

Alexia e Rafael frente a frente, olho no olho. Ela neutra. Rafael um pouco nervoso.

ALEXIA – Também acho que chegou a hora da gente se entender, Rafael.

RAFAEL – Eu não consigo mais passar direto por você, sem falar o que eu estou sentindo. Eu me sinto um enorme babaca de ter duvidado de você naquela armação da Amora.

ALEXIA – Eu te disse que eu era inocente. Você não quis me escutar.

RAFAEL – Eu não queria acredita que a Amora tivesse armado aquilo tudo, preferi fechar os meus olhos. Mas agora tudo mudou. Eu sei bem do que ela é capaz, os meus olhos já estão bem abertos. E se você soubesse o quanto eu estou arrependido de não ter ficado do teu lado, Alexia… Eu sei que você sofreu bastante, foi suspensa, tudo a troco de nada, e eu não estava do teu lado pra oferecer o meu ombro amigo. (T) Me perdoa, Alexia?

ALEXIA – Tudo bem, Rafael. No fundo você não teve culpa. Foi manipulado, assim como muitas pessoas foram. Eu senti falta de você nesse tempo em que passei sendo acusada de algo que não fiz. Senti muito a sua falta.

RAFAEL – Eu também. Eu pensei em todos os momentos que a gente já tinha passado junto. O passeio de bicicleta, as nossas conversas… A minha vontade era correr atrás de você pra esclarecer tudo entre a gente, mas eu fui um banana, um frouxo. Preferi ficar do lado de uma pessoa que não valia nada.

ALEXIA – É bom ver você dizendo tudo isso agora. E eu vejo pelos seus olhos que você está sendo verdadeiro.

RAFAEL – Eu rompi tudo com a Amora, cortei qualquer tipo de relação com ela. Eu não sei nem se eu consigo perdoar ela um dia depois de tudo que ela aprontou com você.

ALEXIA – E muito do que motivou ela foi a nossa aproximação.

RAFAEL – Eu me sinto culpado às vezes. Ma agora eu terminei tudo com ela, quero me afastar cada vez mais. A gente acabou. E eu estou aqui, livre, despedido pra vida. Quero viver uma nova história e me redimir.

ALEXIA – Essa história inclui alguém especial?

Rafael respira fundo, não tira os olhos dela e dá um leve sorriso.

RAFAEL – Você vai saber muito em breve, se aceitar me encontrar hoje à noite naquela pracinha.

ALEXIA – Um encontro?

RAFAEL – Você não vai se arrepender, eu garanto. O precioso tempo da senhorita será bem gasto.

Eles dão leves risadas, descontraídos. Logo, voltam a se olhar, sérios, cumplicidade.

ALEXIA – Eu topo. A gente vai se falando.

RAFAEL – É muito bom ouvir isso. Muito.

Eles aproximam os seus rostos.

ALEXIA – Nos vemos mais tarde.

RAFAEL – Eu vou ficar contando os minutos.

Ele sorri, assim como Alexia. Tempo neles. Alexia dá as costas e vai embora, segue seu caminho. Close em Rafa, a observando, radiante.

CENA 03. LANCHONETE. INTERIOR. DIA

Gustavo e Milo sentados frente a frente, tomam uma vitamina.

GUSTAVO – Eu estou adorando fazer meus lanches aqui depois da aula. Valeu por me apresentar esse lugar.

MILO – Eu venho aqui sempre, tem tantas coisas boas. Mas, me diz, está curtindo o colégio ainda ou já mudou um pouco de opinião?

GUSTAVO – Sigo com a mesma opinião. Estou gostando de tudo, a galera é muito gente boa.

MILO – Isso porque você não conheceu todo o resto.

GUSTAVO – Ah, mas se todas as pessoas foram iguais à você, eu estou muito satisfeito.

Sonoplastia:
XO – Beyoncé

Milo dá um leve sorriso, tímido. Gustavo também sorrindo.

MILO – Eu gosto de ver você falando assim de mim, me elogiando… Como se gostasse de ficar do meu lado.

GUSTAVO – E eu gosto, Milo. Gosto se ficar perto de você, gosto do que a gente conversa, da nossa sintonia. Nós nos damos muito bem logo de cara.

MILO – Eu sinto uma sensação boa quando estou contigo, Gustavo. De verdade. Pode parecer estranho, mas…

GUSTAVO – Mas?

MILO – Deixa pra lá. Você vai me achar um idiota, não bom que eu fale isso. Nem pra mim.

GUSTAVO – Por que não? Pode falar!

MILO – Eu não tenho coragem. E também, seria estranho eu falar isso com você, vai parecer que eu estou interessado em algo a mais. (ri) Não quero parecer um tarado, alguém que queira aplicar a cura hetero.

GUSTAVO – Cura hetero? (ri) Eu não preciso disso, não. Eu sou muito mente aberta. Por isso, você pode me fala tudo aquilo que tiver vontade. Tô aqui pra ouvir e ser ouvido.

Milo traz um olhar sério, respira fundo.

MILO – Eu posso te fazer uma pergunta?

GUSTAVO – Claro.

MILO – Você prefere ficar mais perto de garotas ou de garotos?

GUSTAVO – Eu gosto de ficar perto de quem me faz bem. (T) Você me faz bem. E eu estou curtindo ficar aqui com você.

MILO – Ouvir isso me faz bem. (T) Você não sabe o quanto.

GUSTAVO – Que bom. Que bom que eu estou te fazendo bem, Milo.

MILO – (brinca) Eu espero que você não comece a se envolver com alguma garota do colégio e se esqueça de mim.

GUSTAVO – Me esquecer de você? Primeiro que eu nunca me relacionei com nenhuma garota, e não vai ser agora que isso vai acontecer. E mesmo que eu ficasse com uma, eu não me esqueceria de você.

MILO – Espera aí, você nunca ficou com nenhuma garota?

GUSTAVO – Beijar sim, acontece. Eu acho que já conversamos sobre isso algum dia. (T) Pois é… Eu não consigo ficar nem muito perto das garotas. Elas querem ficar muito em cima de mim e eu não gosto disso, sempre me afasto. O que eu quero mesmo nessa vida é me descobrir, Milo. Saber quem eu sou.

Os dois se olhando, neutros.

CENA 04. CASA DE ALICE. QUARTO DE ALICE. INTERIOR. DIA

A porta se abre. Alice entra no quarto, vai até o canto dele e explode num choro. Lágrimas e mais lágrimas que ela estava segurando caem sem parar. Ela coloca a mão em sua boca, mostrando-se boquiaberta e ainda chocada com tudo. Tempo nela, chorando bastante, desolada, sem chão.

CENA 05. LOJA. INTERIOR. DIA

Pouco movimento. Esther se prepara para sair da loja, com sua bolsa, caminhando lentamente para a saída. Juca aparece atrás dela, corre para alcança-la.

JUCA – Ei! Esther!

Ela para, se vira para trás e vê Juca, que se aproxima.

ESTHER – Pois não, seu Juca? Eu estava indo fazer o meu horário de almoço.

JUCA – É, eu sei. Por isso vim aqui atrás de você.

ESTHER – Me desculpa, eu não estou entendendo.

JUCA – Eu quero que você vá almoçar comigo. Não precisa ir nesses restaurantes baratos.

Esther respira fundo, um tanto surpresa. Juca sorrindo.

ESTHER – Almoçar com você?

JUCA – Sim, é um convite carinhoso da minha parte, um almoço inofensivo. Eu vou me sentir muito ofendido se você recusar.

ESTHER – Eu…/

JUCA – (corta) Aceita, não é?

Ele sorrindo. Em Esther, pensativa.

Corta rápido para:

CENA 06. RESTAURANTE. INTERIOR. DIA

Lugar cheio, classe média. Em meio a tantos lugares, o foco torna-se uma mesa onde Juca e Esther estão, sentados frente a frente, já com pratos de comida à mesa.

JUCA – Gostando?

ESTHER – Sim, está tudo perfeito.

JUCA – Você merece esse almoço que eu estou te dando. Uma mulher bonita como você merece muito mais do que uma coisa simples dessas.

Esther respira fundo, ignora.

ESTHER – Muito obrigada pelo convite.

JUCA – Não precisa agradecer, minha querida. Deixa pra me agradecer hoje à noite.

ESTHER – Como assim? Eu não entendi.

JUCA – É que eu tenho um segundo convite pra você além esse almoço.

ESTHER – Outro convite?

JUCA – É, mas dessa vez é pra falar do trabalho. Eu tenho uma proposta pra te fazer, mas só vou falar o que é num jantar, aqui nesse mesmo restaurante, hoje à noite. Aceita?

Esther surpresa, sem jeito.

ESTHER – Eu acho melhor não.

JUCA – Se eu fosse você, não recusaria tal convite. Vai ser algo pro seu bem, Esther. A gente conversa um pouco e você ficará sabendo de uma grande oportunidade que eu estou prestes a te dar. O que você acha?

Esther o olha, pensativa, respira fundo.

ESTHER – Tudo bem. Eu aceito.

Voz pouco confiante. Juca sorri, a olha maliciosamente.

JUCA – Você não vai se arrepender.

Esther tenta passar neutralidade, volta a comer. Juca a olhando. Fecha em Esther.

CENA 07. MANSÃO VASCONCELOS. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA

Joelma em pé, diante de uma mulher, de aproximadamente cinquenta anos de idade, cabelos grisalhos, longos, preso num rabo de cavalo, pessoa simples. É a nova empregada da mansão.

JOELMA – Bom, eu acho que está tudo certo. Conversamos tudo que tínhamos pra conversar e espero que estejamos entendidas, Emília.

EMÍLIA – Estamos sim senhora.

JOELMA – Seja bem vinda, e eu espero que pegue firme no batente, começando por hoje já. Gostei do seu perfil, não me decepcione.

EMÍLIA – Pode deixar. E obrigada pela oportunidade do emprego, eu estava muito precisada.

JOELMA – Sem drama, querida. Faça o seu trabalho direitinho e pronto.

Emília já de uniforme, a olha neutra, respeitosa. De repente, Lady Machadão aparece ali, para ao lado de Joelma.

LADY MACHADÃO – Você é rápida, filha. Já contratou uma nova empregada?

JOELMA – Sim, mamãe. Não dava pra ficar aguentando lasanha da senhora todos os dias.

LADY MACHADÃO – Senhora está no céu, querida. E você bem que gostava da lasanha que eu sei.

JOELMA – (p/ Emília) Essa aqui é a minha mãe, dona Cleonice Machado.

LADY MACHADÃO – Mais conhecida como Lady Machadão. Me chame apenas por esse nome, querida.

Emília assente com a cabeça. A campainha toca. Joelma a encara.

JOELMA – Anda, vai atender. O seu trabalho começa agora.

Prontamente, Emília caminha apressadamente até a porta e a abre. É Beatriz, que vai entrando. Joelma se aproxima dela, ambas sorrindo. Lady Machadão atrás.

JOELMA – Bia, que surpresa boa, querida!

BEATRIZ – Oi, Joelma, boa tarde! (P/Lady Machadão) Olá.

Lady sorri. Joelma sem jeito.

JOELMA – Ah, essa daqui é a minha mãe, Bia. Veio passar uns dias aqui com a gente.

LADY MACHADÃO – Boa tarde, garotinha.

BEATRIZ – (p/ Machadão) É um prazer te conhecer. (T) Bom, eu vim aqui falar com a Amora, ela está no quarto?

JOELMA – Está, está sim, pode ir lá, fica à vontade.

Beatriz sorri, vai até as escadas e começa a subir os degraus, com pressa.

CENA 08. MANSÃO VASCONCELOS. QUARTO DE AMORA. INTERIOR. DIA

Amora e Beatriz sentadas na cama.

BEATRIZ – Como você está, Amora?

AMORA – Não tá vendo a minha cara? Eu tô péssima!

BEATRIZ – E o seu pai? Pegou pesado?

AMORA – Bota pesado nisso. Cortou a minha mesada, meu cartão de crédito, fiquei sem nada. Fora a bronca, o sermão. Ele acabou comigo.

BEATRIZ – Era de se esperar. Mas e o Rafael? Já conversaram?

AMORA – Aquele garoto terminou tudo comigo, você acredita nisso?

BEATRIZ – Eu imaginei que ele fosse querer romper com você…

AMORA – Ele não podia ter feito isso. E eu já sei muito bem por quem ele vai me trocar. Mas deixa estar… Eu ainda tenho inteligência pra pensar em alguma coisa. Eu não vou deixar isso barato, mas não vou mesmo.

BEATRIZ – Vai com calma, Amora… Já basta o que você passou na frente do colégio todo sendo desmascarada.

AMORA – Mas agora o meu foco vai ser outro. Se acontecer o que eu estou imaginando e o Rafael ficar com a Alexia pra valer, eu juro que vou fazer da vida deles um inferno. Eu não vou sair de mãos abanando dessa história.

BEATRIZ – E você vai voltar pro colégio quando? Faltou à aula hoje.

AMORA – No dia que eu tiver disposta eu apareço lá. Vou dar um tempo pra poeira abaixar um pouco, descansar a imagem. Mas quando eu voltar… Eles que se preparem.

As duas se olhando. Fecha em Amora, olhar sério.

CENA 09. RUAS. EXTERIOR. NOITE

Anoitece, com imagens de ruas e avenidas da cidade.

CENA 10. CASA DE ALICE. QUARTO DE ALICE. INTERIOR. NOITE

Alice encolhida na cama, com os olhos vermelhos de tanto chorar, cabelo bagunçado. Ela olha para o nada, olhar triste, cabisbaixa.

ALICE – Por que você fez isso comigo, Caio? Por que?

Ela permanece ali, pensativa, muito mal com tudo.

CENA 11. CASA DE ARLETE. QUARTO DE ALEXIA E ESTHER. INTERIOR. NOITE

Alexia com um vestido estampado, simples, e com uma sapatilha também simples. De pé, se olha no espelho que havia na porta do guarda-roupa, termina de pentear os seus cabelos, sorridente. O seu celular começa a tocar. Ela guarda o pente numa gaveta e se senta na cama, pegando-o. Vê quem é e atende rapidamente.

ALEXIA – (ao cel.) Rafa… (T) Sim, já estou pronta.

RAFAEL – (off) E eu pronto e feliz, ansioso pra te ver. Vem logo! Estou te esperado no lugar que a gente combinou.

ALEXIA – (ao cel.) Tudo bem. Estou saindo daqui agora.

RAFAEL – (off) Um beijo… No seu coração.

Alexia sorri. Ela desliga o celular, o guarda numa pequena bolsa, se levanta e se prepara para sair. Arlete entra no quarto.

ARLETE – Vai sair, Alexia? Está tão bonita.

ALEXIA – Vou sim. Vou ir viver a minha vida, Arlete!

ARLETE – Que sorriso lindo no rosto. Eu posso saber o que motivou toda essa produção?

ALEXIA – Foi o meu amor, Arlete… A paixão!

Arlete entende, sorri.

ALEXIA – Eu espero voltar pra casa com muitas novidades. Quando minha mãe chegar, explica à ela que eu saí pra encontrar uma pessoa. (T) A pessoa a qual eu sou apaixonada!

Decidida, Alexia sai do quarto. Fecha em Arlete, a observando, admirada.

CENA 12. LOJA. FACHADA. EXTERIOR. NOITE

Juca terminando de fechar a loja, trancando-a. Esther e algumas funcionárias ali perto, já sem o uniforme. Esther se despede de algumas mulheres, que já vão embora. Ela se prepara para ir embora, no mesmo embalo, mas Juca a segura pelos braços.

JUCA – Espera. Está indo embora?

ESTHER – (disfarça) É, eu estou um pouco indisposta.

JUCA – Mas a gente não combinou de jantar juntos? Eu te fiz um convite, Esther.

ESTHER – Eu sei… A gente não pode marcar outro dia?

JUCA – Você teria coragem de fazer essa grosseria comigo?

ESTHER – Juca…

JUCA – Eu te disse o motivo do jantar, Esther. É pra falar da loja, é uma oportunidade pra você. Além disso, obviamente, eu quero fazer você se distrair um pouco. Sei que o clima da loja às vezes é pesado, o trabalho causa estresse… Só quero te ajudar. Vamos?

Esther pensativa, nervosa. Ela respira fundo. Juca neutro.

ESTHER – Tudo bem, vamos.

Juca sorri, malicioso. Ele caminha até o seu carro, uma caminhonete, parada em frente à loja. Ele abre a porta e olha para Esther, para que ela entre. Esther ainda insegura, caminha lentamente até o veículo e entra. Juca fecha a porta, vai entrando no carro logo em seguida, sempre com um olhar malicioso.

Pouco tempo depois, o carro é ligado e sai dali.

[FADE OUT]

CENA 13. PRAÇA. EXTERIOR. NOITE

[FADE IN]

Sonoplastia:
Unconditionally – Katy Perry

Uma grande e maravilhosa árvore é mostrada. Rafael está sentado logo abaixo dela, encostado no tronco. Ao seu lado, um grande lençol estampado, jogado ali em cima da grama. Em cima dele, uma garrafa de vinho, duas taças e algumas frutas, tudo muito bem arrumado e organizado por ele. Na grama, em cima de alguns pires, estão cinco velas acesas, decorando o ambiente e deixando tudo ainda melhor.

Rafael olha para o lado esquerdo, sorri ao ver Alexia se aproximando, lentamente. Ele se levanta, feliz. Vai ao seu encontro. Logo, os dois ficam cara a cara, se olham nos olhos.

RAFAEL – É bom te ver.

ALEXIA – Eu digo o mesmo.

RAFAEL – Eu tenho uma coisa pra te mostrar. Vem comigo.

Ele estende a sua mão, sorridente. Alexia olha para a mão dele e estende a sua: eles dão as mãos e Rafael a guia, indo na frente. Logo, chegam perto daquela espécie de piquenique à luz da lua. Alexia admirada ao ver aquilo.

RAFAEL – Gostou?

ALEXIA – Rafael… Está tudo lindo. Eu amei.

RAFAEL – Quem nunca fez um piquenique romântico à noite, não é? Temos uma bebida leve, com pouquíssima porcentagem de álcool, muito saborosa, garanto, além de algumas frutas: uvas verdes, maçãs… Eu espero que você goste de tudo e que essa noite seja especial pra nós dois.

ALEXIA – Não poderia ser melhor. Só a decoração me ganhou.

Os dois dão leves risadas, descontraídos.

RAFAEL – Espera um pouco.

Ele se abaixa. Alexia com os olhos brilhando. Rafael abre a garrafa de vinho e, cuidadosamente, despeja o líquido vermelho nas duas taças que estavam ali, voltando a garrafa ao lugar em seguida. Ele se levanta e entrega uma taça à Alexia e fica com a outra. Sorrindo, Alexia dá um gole na bebida.

RAFAEL – E então… Do seu gosto?

ALEXIA – Sim. Está perfeito, Rafael. Tudo está maravilhoso. Obrigada.

RAFAEL – A senhorita merece muito mais. Mas por enquanto esse é um encontro original e romântico que eu posso te proporcionar.

ALEXIA – Romântico?

Os dois se olham desfazendo o sorriso. Clima. Ele pega a taça da mão dela e a coloca em cima do lençol, ao lado da garrafa, junto com a dele. Logo, se ergue e olha nos olhos de Alexia. Tempo.

RAFAEL – Romântico sim. Esse é um encontro romântico, Alexia.

ALEXIA – Eu confesso que estava esperando pra ouvir isso.

RAFAEL – E você ainda tinha alguma dúvida de que isso seria especial?

Eles aproximam os seus rostos, testas coladas, respiram fundo, ambos nervosos.

RAFAEL – Você sempre foi especial pra mim assim como esse encontro está sendo. Aconteça o que acontecer a partir de hoje, eu nunca, nunca vou me esquecer de você, do seu rosto, do seu jeito. Você vai ficar guardada no meu coração e na minha cabeça pro resto dos meus dias, Alexia. Sabe por quê?

ALEXIA – Fala… Eu quero muito ouvir…

Rafael se prepara. Alexia confiante. Ambos ainda com as testas coladas, bem próximos.

RAFAEL – Porque eu sou apaixonado por você. Completamente apaixonado. Eu te adoro, Alexia. Eu te amo.

Alexia dá leves sorrisos, emocionada. Rafael também.

ALEXIA – Eu sempre quis ouvir isso. Não faz muito tempo e eu assumi pra mim mesma que eu sou apaixonada por você. Você me conquistou. Me fez redescobrir o amor quando eu achava que não seria mais possível amar alguém de novo. Você foi a minha maior alegria nessa cidade.

RAFAEL – Você é a minha maior alegria. Você me completa, sempre me completou. É a minha metade.

ALEXIA – A minha metade…

RAFAEL – Fica comigo, Alexia… Fica comigo.

ALEXIA – Só se você me dar o beijo de um verdadeiro amor que eu estou esperado desde que eu te vi pela primeira vez.

Os dois sorriem. Tempo. Instantes depois, eles aproximam os seus lábios um do outro. Clima.

Por iniciativa de Rafael, o primeiro beijo acontece. Um beijo apaixonado, leve, cheio de amor, carinho e cumplicidade. Rafael passa as mãos no cabelo de Alexia durante o beijo, a acariciando. Alexia faz o mesmo, envolve seus braços nele.

E eles ficam ali, num beijo que ambos estavam com muita vontade, e que precisava acontecer há algum tempo.

A câmera vai se afastando, mostrando os dois juntos, de baixo daquela árvore, enquanto as luzes das velas os iluminavam.

CENA 14. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE NORMA E PEDRO. INTERIOR. DIA

Norma mexendo no guarda-roupa, retirando algumas roupas e as colocando em uma cesta, separando as peças para lavar.

Segundos se passam. Ela retira dali uma calça social de Pedro e a coloca de cabeça para baixo, para conferir se há alguma coisa nos bolsos da mesma. Não demora muito e cai algo da calça. Ela observa um pequeno pedaço de papel indo ao chão. Joga a calça na cesta e, curiosa, se abaixa para pegar aquilo que acabara de cair de uma peça de roupa de Pedro.

Norma pega aquilo e se levanta, observando atentamente. Tempo. Suspense. Após observar bem cada detalhe, o semblante de Norma vai fechando cada vez mais. Em pouco tempo, ela fica boquiaberta, chocada, encarando aquilo em suas mãos. Tratava-se de uma nota fiscal.

NORMA – Não é possível…

Ela segue a encarar aquilo, em choque.

NORMA – Nota fiscal de um motel? (T) O Pedro me trai…

Suspense. Ela ofegante, desnorteada. Close nela. Tempo.

CENA 15. RUA. EXTERIOR. NOITE

Caio parado em uma esquina, perto de uma lanchonete. Certo movimento por ali. Ele aparentemente está esperando alguém.

De repente, Alice vem vindo, apressada. Ele a vê, sorri, se aproxima dela. Os dois em poucos segundos ficam frente a frente. Alice com o semblante fechado.

CAIO – Eu vim assim que recebi a sua mensagem. Fiquei feliz por você querer me encontrar pra conversar comigo.

Alice ofegante, não diz nada. Ela vai fechando a sua cara cada vez mais, odiosa. Caio estranha, vai desfazendo o seu sorriso.

CAIO – Está tudo bem, Alice?

Alice cada vez mais ofegante, muito nervosa. Olhos vermelhos. Caio sem entender.

Então, Alice ergue a mão e dá um tapa muito forte na cara de Caio, que se choca.

ALICE – (grita) Você é um canalha!!! (T) Canalha!!! Cafajeste! Você não vale nada, Caio! Eu odeio você!!!

Algumas pessoas olhando a confusão. Caio a olha, com a mão no rosto vermelho, chocado. Fecha em Alice, raivosa. Suspense. Tensão.

CENA 16. RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE

Sonoplastia tensa, profunda. Lugar vazio. Em uma mesa discreta no canto do local, estão Juca e Esther. Há apenas uma garrafa de cerveja na mesa, a qual Juca se serve.

JUCA – Você bebe?

ESTHER – Não, obrigada.

JUCA – Bebe um pouco, vai. Não fica tão tensa.

ESTHER – Eu não tenho mesmo o costume, seu Juca, obrigada.

JUCA – Para de falar assim, com tanta formalidade. Nós não estamos no nosso horário de trabalho agora.

Juca coloca a garrafa na mesa, começa a beber. Esther desconfortável.

JUCA – Apesar de eu ter te chamado para falar da loja, aqui fora eu não sou mais o seu patrão, nem você a minha funcionária.

ESTHER – Eu sei.

JUCA – Você está estranha. Parece com pressa para ir embora. Eu fiz alguma coisa?

ESTHER – Não, está tudo bem. Desculpa se eu transpareci isso.

JUCA – Então melhora essa cara. Eu não te convidei pra um jantar pra você ficar me olhando como se eu fosse te atacar a qualquer momento.

Juca bebendo sem parar, se serve mais. Esther surpresa com aquilo. Sonoplastia vai subindo aos poucos.

ESTHER – Eu só estou um pouco tensa, me desculpa.

JUCA – Não tem motivo pra ficar tensa, minha querida. Não tem.

ESTHER – Certo…

JUCA – Nós vamos fazer o pedido, vamos jantar, beber, aproveitar. Tudo por minha conta. Não percebe o quanto eu estou querendo ser bacana contigo? Quero ser generoso com você, Esther.

ESTHER – Eu agradeço muito. Você realmente é um patrão maravilhoso, tem me ajudado muito.

JUCA – Eu vou te ajudar mais. Tenho um negócio pra te propor.

ESTHER – Um negócio?

JUCA – É. Pra começar, queria te dizer que eu pretendo aumentar o seu salário.

ESTHER – Aumentar o meu salário? Mas por qual motivo?

JUCA – Não é uma certeza, mas eu estou pensando em te dar uma promoção, subir você de cargo. O que acha?

ESTHER – Seria incrível! Mas em tão pouco tempo de loja? (T) Não… Eu acho que seria injusto com as outras funcionárias.

JUCA – Elas não têm que se intrometer, eu sei o que estou fazendo. Em tão pouco tempo você mostrou um imenso potencial, Esther… Se eu te oferecer um novo cargo oficialmente, você tem que aceitar. Não é todo dia que um patrão dá uma oportunidade desse tamanho de bandeja pra uma funcionária.

Esther respira fundo, nervosa. Juca firme, a encara.

ESTHER – Eu sei, mas… Eu não consigo entender.

JUCA – Não consegue entender o quê?

ESTHER – Tudo isso. Tudo que você faz e quer fazer pra mim, me ajudando tanto, sempre me elogiando. Tem um motivo especial?

JUCA – Talvez tenha. Você vai perceber com o passar do tempo.

ESTHER – Por favor, seja mais claro.

JUCA – Tudo no seu tempo, Esther. (T) Eu te acho muito, muito bonita. É a funcionária mais linda da minha loja, sabia?

Olhar malicioso, dentes cerrados. Esther engole seco, tensa. Sonoplastia cresce.

JUCA – Além de te promover, eu vou te fazer ganhar muito mais dinheiro por fora. Você deve estar precisando, como muitos brasileiros espalhados por aí. Chegou não tem muito tempo aqui no Rio de Janeiro, não sabe bem como funcionam as coisas aqui, deve estar precisando bastante de uma grana extra. Quem não está, na verdade, não é?

ESTHER – Sim…

JUCA – Por isso eu tenho uma proposta pra te fazer.

Juca termina de beber a cerveja que estava em seu copo com um único gole, limpa a sua boca com a mão, bem truculento, e encara Esther com um sorriso malicioso.

JUCA – Eu quero ficar mais perto de você, sabe? Te conhecer melhor… Você aceita sair comigo todas as noites depois do trabalho em troca de uma grana?

Tensão absoluta. Esther se choca com aquilo, olhos marejados, vermelhos.

JUCA – Não vai ser nada demais… Você me acompanha no lugar que eu quiser te levar, a gente conversa um pouco e no fim rola o que tiver que rolar. E então… Aceita?

Closes alternados dos dois. Fecha em Esther, quase chorando. Tempo nela.

Congela em ESTHER, numa mistura dos tons rosa e roxo, e o seu rosto se torna a capa de um caderno escolar, marcando o FIM DO 29º CAPÍTULO.

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