Vida Inteira – Capítulo 30 (Vale a Pena Ler de Novo)

VIDA INTEIRA

escrita por:
GUILHERME SANTOS

CAPÍTULO 30

CENA 01. RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE

Esther prestes a derramar algumas lágrimas, encarando Juca, que permanece com um olhar malicioso, fixo. Esther respira fundo.

ESTHER – Como é que é? Eu acho que eu não entendi direito.

JUCA – Como não entendeu? Eu te ofereci de eu te levar pra sair comigo todas as noites em troca de uma grana.

ESTHER – Isso não pode ser real… Você me ofereceu mesmo isso?

JUCA – Ofereci. Algum problema?

Esther tenta se acalmar. Ela se levanta lentamente e encara Juca.

ESTHER – Eu acho melhor eu ir embora.

JUCA – Ficou maluca? A gente ainda nem comeu nada, não terminamos a nossa conversa.

ESTHER – Terminamos sim. Eu quero ir embora.

Sem dizer mais nada, ela sai apressadamente dali, com lágrimas nos olhos. Juca a olhando seriamente. Foco em Esther, já na saída do local.

CENA 02. RUA. EXTERIOR. NOITE

Esther acaba de sair do restaurante. Abalada, ela começa a correr para longe dali, desnorteada, boquiaberta, chocada com tudo. Aos poucos, ela vai parando, ofegante. Então, Esther encosta-se em um muro e começa a chorar, soltando tudo o que estava segurando no restaurante. Chora cada vez mais, em silêncio, boquiaberta. Tempo nela.

CENA 03. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE NORMA E PEDRO. INTERIOR. NOITE

Norma ainda chocada, encarando aquela nota fiscal em suas mãos.

NORMA – Nota fiscal de um motel. Eu não acredito que o Pedro está fazendo isso comigo, meu Deus… Não pode ser…

Algumas lágrimas caem de seus olhos. Segundos depois, a porta se abre. Tensão. Pedro entra, chegado do trabalho, e já joga a sua mala em cima da cama. Rápida, Norma amassa aquela nota fiscal e a guarda no bolso da sua calça, limpando as suas lágrimas em seguida, disfarçando. Ela se vida, fica frente a frente com Pedro, que vai tirando o seu paletó.

PEDRO – Que cara é essa?

Norma respira fundo. Por dentro, estava um poço de raiva e ódio. Ela o encara por um tempo. Pedro percebe, a encara também, confuso.

PEDRO – Vai ficar me encarando? Tá me comendo com os olhos.

Norma volta a si, respira.

NORMA – (disfarça) Me desculpa. (T) Chegou cedo hoje.

PEDRO – É, cheguei cedo porque eu vou ter que dar uma saída rápida.

NORMA – Vai sair, é?

PEDRO – Vou resolver algumas coisas com um amigo das antigas, coisas de trabalho, apenas negócios.

Norma tensa, contém as lágrimas. Pedro vai tirando a sua roupa.

NORMA – Onde vai ser esse encontro?

PEDRO – (grosso) Que curiosidade imensa é essa, Norma? (T) Vou tomar uma cerveja com ele por aí enquanto a gente conversa sobre negócios. O lugar não interessa, nem eu sei direito.

NORMA – (nervosa) Tudo bem. Você… Tem hora pra voltar? Não vai jantar comigo e com o seu filho, não é?

PEDRO – Se eu estou saindo daqui a pouco é porque não vou jantar em casa, Norma. Eu volto em três, quatro horas, não posso te garantir nada.

NORMA – Certo…

PEDRO – Cadê o Rafael?

NORMA – Saiu. Foi ter um encontro com uma garota.

PEDRO – Que garota? Aquela que pagou o mico? A Amora?

NORMA – Não. Ele terminou com a Amora, eu tinha te dito, te contei tudo o que aconteceu… Mas você não presta atenção em nada que seja relacionado à sua família. Por que será, não é Pedro?

PEDRO – Não me vem com drama agora, tô te pedindo. Cheguei cansado do trabalho, vou ter que sair pra resolver mais pepino daqui a pouco, não quero me estressar por coisa boba.

Norma o fita com os olhos, inquieta. Pedro pega uma toalha no guarda-roupa, caminha em direção à suíte, entra e fecha a porta.

Sozinha, Norma anda de um lado para o outro, passando as mãos em seu rosto, desnorteada.

NORMA – Desgraçado… Safado! Eu tenho certeza que você vai se encontrar mais uma vez com uma vagabunda… Eu vou acabar com você…

Ela se senta na cama e chora, em silêncio. Close nela, com um olhar decidido.

CENA 04. MANSÃO VASCONCELOS. SALA DE ESTAR INTERIOR. NOITE

Roger e Joelma sentados no sofá, agarrados, ambos com uma taça, tomando um vinho. Lady Machadão descendo as escadas. Logo, ela se aproxima lentamente de uma poltrona ao lado do sofá, sentado-se.

LADY MACHADÃO – Esse jantar sai ou não sai?

JOELMA – Que pressa é essa, mamãe? A senhora está passando fome?

ROGER – (p/ Joelma) Você ainda nem me apresentou a nova empregada, Jô. Só me disse que tinha contratado uma.

JOELMA – É que ela está bastante ocupada, benzinho. Desde que Arlete foi embora muitas funções ficaram acumuladas. E eu também pedi um jantar especial, já que é o primeiro dela aqui.

ROGER – Bom, eu confio em você.

LADY MACHADÃO – Não se preocupa, genro querido. A mulher é até simpática. O que atrapalha é essa demora pra preparar um simples jantar. Se fosse eu na cozinha com a minha lasanha, tudo estaria pronto.

JOELMA – (irônica) Não é atoa que a lasanha da senhora realmente parecia ter sido feita de última hora, não é mamãe?

Joelma solta uma gargalhada forçada. Roger neutro. Lady Machadão a encara.

ROGER – Não fala assim, meu amor. A comida da sua mãe era muito saborosa, e ela quebrou o galho nesse meio tempo que ficamos sem empregada depois da demissão da Arlete.

JOELMA – Eu sei, benzinho, estou só brincando com a mamãe. (P/ Machadão) Não é?

LADY MACHADÃO – Eu não ligo pra essas brincadeiras, super levo na esportiva. Até porque o meu genro já disse que a minha comida é uma delícia. (ri) O que mais eu vou querer? Aqui eu trabalho com gente que entende do assunto.

Ela e Joelma trocam farpas nos olhares, mas disfarçam, dando risadas. Roger se vira para Joelma.

ROGER – A Amora não vem jantar?

JOELMA – Acho que não.

ROGER – (preocupado) Você falou com ela hoje?

JOELMA – Falei, fica tranquilo, ela está bem. Você conhece a sua filha, querido. Ela vai espernear um pouco, mas depois tudo volta ao normal. E você também não está dando muito o braço a torcer que eu sei.

Nesse momento, Emília, nova empregada, aparece ali, sorrindo, vindo da copa.

EMÍLIA – O jantar está pronto, já coloquei a mesa.

Todos se levantam. Joelma se aproxima de Emília, olha para Roger.

JOELMA – Essa aqui que é a nova empregada, meu bem.

LADY MACHADÃO – Emília o nome da querida.

Roger caminha até ela, sorri. Os dois trocam um aperto de mão.

ROGER – Seja bem-vinda. Bom, vamos jantar logo.

Então, todos vão indo para a copa, descontraídos, conversando.

CENA 05. PRAÇA. EXTERIOR. NOITE

Sonoplastia:
Unconditionally – Katy Perry

Rafael sentado, debaixo de uma grande árvore, encostado no tronco. Alexia o envolvendo com suas pernas e mão, sentada exatamente à sua frente. Os dois se beijando. Segundos depois, eles se apartam, sorrindo.

RAFAEL – Eu sonhei demais com essa noite, real.

ALEXIA – E eu sempre imaginei como seria o seu beijo.

RAFAEL – Eu também. Agora a gente já sabe, depois de tanto tempo.

ALEXIA – E é melhor do que eu poderia imaginar.

RAFAEL – Está sendo mágico tudo isso, não é?

ALEXIA – Você está fazendo isso se tornar inesquecível, Rafa. Eu nunca vou esquecer esse momento de nós dois aqui, debaixo dessa árvore, com essas cli ajudando a iluminar tudo, todo esse clima romântico pensado por você.

RAFAEL – É, modéstia à parte, ficou bacana demais, não ficou? Sou um cara organizado, princesa. Veja bem, eu fiz questão de pensar em tudo direitinho e saiu como eu esperava.

ALEXIA – Deixa de ser convencido, garoto!

Os dois dão risada, descontraídos. Rafael aproxima a sua mão do lençol que estava na grama e retira de uma simples cesta, um cacho de uvas verdes, retirando apenas uma.

RAFAEL – Com fome?

ALEXIA – Um pouco.

Ele traz aquela uva até a boca de Alexia, colocando-a ali. Alexia saboreia a fruta, sorri.

ALEXIA – Tá muito boa. Docinha, nada amarga, gostei de ver.

RAFAEL – Nada vai ser amargo na nossa vida a partir de agora, Alexia. (ri) Nem mesmo essa uva.

Eles aproximam os seus rostos novamente, testas coladas.

RAFAEL – Você é tão linda… Tão meiga.

ALEXIA – E o que eu posso dizer de você?

RAFAEL – Me elogia um pouco, vai? Eu curto ouvir você, uma deusa, falando bem de mim.

ALEXIA – Será que você merece? Não quero te deixar mais convencido, senhor Rafael.

RAFAEL – Ah, acho me mereço sim, poxa. Planejei todo esse humilde piquenique à luz da lua, com um vinho de leve, umas frutas… Se eu não ganhar um elogio, ao menos um beijo a senhorita pode me conceder?

ALEXIA – Acho que você vai preferir o beijo.

RAFAEL – Acertou.

Eles sorriem. Então, aproximam os seus lábios lentamente e dão um beijo longo e apaixonado, com ternura. Tempo neles, se curtindo.

CENA 06. RUA. EXTERIOR. NOITE

Caio e Alice se encarando firmemente. Caio confuso. Alice odiosa.

CAIO – Alice… Por que você fez isso? Por que me deu esse tapa?!

ALICE – (grita) Não se faça de sonso! Você merecia muito mais!

CAIO – Eu realmente não sei porque você tá me tratando desse jeito!

ALICE – Eu vou refrescar sua memória.

Caio a olha, sem entender. Alice ofegante, explosiva.

ALICE – Você não se lembra de uma aposta ridícula que fez com o Renato? (T) Então… Aquela aposta que tinha como o prêmio duas garrafas de bebida alcoólica, sabe?

Caio chocado, engole seco. Alice com a voz trêmula, quase chorar.

ALICE – A aposta era me levar pra cama, não era? Você queria ver se a esquisitona do colégio Vasconcelos era tão difícil quanto imaginavam! (grita) Eu descobri tudo! Eu sei da sua aposta com o Renato! Eu sei que você se aproximou de mim por um único interesse, e me usou, me fez de trouxa o tempo todo, mentiu esse tempo todo! Eu sei quem você é, e eu quero acabar com você, seu babaca! Seu canalha!!!

Caio desnorteado, com um olhar de desespero. Alice super nervosa, como nunca se viu antes.

CAIO – Calma, Alice, deixa eu te explicar tudo, por favor!

ALICE – Eu não quero ouvir, não tem explicação alguma!

CAIO – Quem foi que te disse isso, Alice?!

ALICE – Isso não tem a menor importância! O que importa agora é que eu finalmente consegui abrir os meus olhos, e a minha vontade é de me jogar na frente de um carro, de tanto ódio que eu estou sentindo de mim mesma! Como você pode ter me enganado esse tempo todo?! Como eu pude ser tão cega ao ponto de não enxergar o crápula que você é?!

CAIO – Não fala assim, por favor! Vamos conversar!

Ele tenta a tocar, mas ela empurra as suas mãos, se esquiva, com raiva.

ALICE – Não encosta em mim, Caio! Tira as suas mãos de perto de mim! Você nunca mais vai encostar em mim um dia!

CAIO – Alice, fica calma, deixa eu explicar como tudo aconteceu! Eu era um babaca mesmo, mas quem teve a ideia da tal aposta foi o Renato, não eu!

Sonoplastia triste. Alice começa a chorar, fora de si.

ALICE – E você topou de primeira, eu aposto! Podia ter me deixado quieta, no meu canto, sozinha, mas não… Quis me iludir! Quis brincar com os meus sentimentos da maneira mais suja possível! Você não podia ter feito isso! Cê não tinha o direito de brincar com o meu coração, Caio!

Caio segurando o choro, olha nos olhos dela. Tempo.

CAIO – Alice, eu me apaixonei de verdade por você! A gente começou errado, eu realmente me aproximei de você por uma coisa idiota, uma questão horrorosa, nojenta, eu tenho consciência disso! Mas com o passar do tempo eu fui ficando cada vez mais encantado com você, com os nossos papos, com o que você era! Eu comecei a gostar de você e isso se tornou uma paixão! Eu não brinquei com os seus sentimentos, eu acabei me envolvendo, acredita em mim!

ALICE – Eu não acredito em nenhuma palavra que saia da sua boca! Eu não vou mais acreditar em você! (T) O tanto que eu cofiava em você, Caio… O tanto que eu me abri! Eu era louca por você, sempre fui! Você dilacerou o meu coração!

CAIO – Alice, me perdoa… Me perdoa, eu te imploro. Não era pra ser assim. Eu gosto de você.

ALICE – Não fala mais isso! Não brinca mais ainda do que você já brincou comigo. Eu já fui muito usada nas suas mãos. Não bastava o sofrimento e o inferno que eu tenho que passar na porcaria daquele colégio, não é? Acho que não era o suficiente eu ser massacrada e sofrer bullying por ser quem eu sou, sendo chamada de songa-monga, de esquisita, de feia… Talvez eu realmente seja tudo isso! Só uma pessoa muito idiota mesmo pra cair na sua conversa.

Alice limpa as suas lágrimas, péssima com tudo. Caio ainda se segurando, abalado.

ALICE – Não fale comigo nunca mais!

E ela sai dali, correndo, desaparece em segundos. Sozinho, Caio se senta na calçada, sem chão. Algumas lágrimas enfim começam a cair de seus olhos. Ele passa as mãos em seu cabelo, se bate, com ódio. Tempo nele.

CENA 07. RUA. EXTERIOR. NOITE

Alexia e Rafael caminhando lentamente na calçada, abraçados.
Rafa com uma mochila nas costas, com as coisas que ele havia levado para a surpresa feita à Alexia. Após caminharem mais um pouco, conversando, aos risos, eles param em frente a um ponto de ônibus. Rafael encosta-se em um muro e Alexia fica “em cima” dele, bem agarrados. Os dois se beijam. Segundos depois, o beijo cessa. Sorrisos são trocados, com cumplicidade.

ALEXIA – Chegou a pior hora.

RAFAEL – A volta para casa. Estava tão bom, não estava?

ALEXIA – Tava tudo maravilhoso, Rafa. Mas é que eu não posso chegar muito tarde em casa.

Sonoplastia:
Tua – Anavitória

RAFAEL – Eu sei que agora o que não vai faltar é tempo pra gente ficar juntinho sempre, se curtindo, mas é que quanto mais eu ficasse contigo essa noite, melhor.

ALEXIA – E você acha que foi fácil me desgrudar de você? Foi uma missão difícil.

RAFAEL – A gente pode fazer isso durar mais uma horinha, o que você acha?

ALEXIA – Eu tenho que ir pra casa, Rafa, infelizmente!

RAFAEL – Mas você vai. Só que comigo.

ALEXIA – Como assim?

RAFAEL – É isso aí. Eu, Rafael Duarte, estou me auto-convidando para lhe acompanhar até a sua casa. Fechou?

ALEXIA – (animada) Por mim, fechou super! Você está disposto a me acompanhar mesmo? O caminho não é mole, não, temos uma condução pra pegar.

RAFAEL – Hoje você não vai de condução. Vamos de táxi.

ALEXIA – Eu não estou acostumada com essas mordomias, não, Rafa. Podemos ir de ônibus tranquilo.

RAFAEL – Acontece, minha princesa, que eu quero chegar o quanto antes na sua casa. Quero ver a sua mãe, conhecer ela.

ALEXIA – Cê tá falado sério? Você já quer que eu te apresente pra minha mãe?

RAFAEL – E por que não? Não vou fazer questão de esconder o quanto eu sou apaixonado por você, Alexia! (grita) Eu quero mais é que todos saibam!

Alexia ri, ele também. Ela dá um leve tapa no ombro dele. Ambos descontraídos.

ALEXIA – Para de gritar, seu louco!

RAFAEL – Essa loucura se chama amor, paixão… E uma pitadinha de Alexia, quital?

ALEXIA – Você é muito bobo! Te adoro, sabia?

RAFAEL – Eu só estou vivendo a minha vida e sendo feliz pra valer como eu não estava sendo antes! Liberdade para amar, princesa!

Eles sorriem, se abraçam. Em seguida, dão um longo beijo. Após se afastarem, eles dão as mãos e voltam a caminhar lentamente, se preparam para ir embora.

CENA 08. CASA DE MATHEUS. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE

Matheus já abrindo a porta. Alice entra, chorando muito, desesperada, com ódio no olhar.

ALICE – Eu contei tudo pro Caio! Acabei de dizer pra ele que eu já sei de tudo! Joguei muita coisa na cara daquele cafajeste! Ele não podia ter feito isso comigo, Matheus. Aquele babaca se juntou com o desgraçado do Renato pra me humilhares! Eles acabaram comigo, Matheus!

Matheus tenta a acalmar, com um olhar triste ao ver a amiga naquela situação. Ele se aproxima dela, mas Alice está muito agitada, anda de um lado para o outro, nervos, passando as mãos no cabelo.

ALICE – Eu nunca me senti tão humilhada em toda a minha vida! Qualquer apelido que me colocassem doeria menos! Qualquer zoação, qualquer tipo se bullying, nada chegaria perto da dor que eu estou sentindo no meu coração! Eu fui usada da pior maneira possível!

MATHEUS – Alice, respira, se acalma! Você é maior do que isso tudo! Tem gente do seu lado, você não está sozinha! Eu estou aqui com você, Alice!

ALICE – Eu estou acabada, Matheus… Por que fizeram isso comigo? (T) O que eu fiz pra merecer isso tudo?!

Sonoplastia triste. Matheus não diz nada, apenas vai até Alice e a abraça fortemente. Alice retribui, chora bastante, com a cabeça deitada no ombro dele.

CENA 09. CASA DE ARLETE. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE

Arlete sentada no sofá, assiste televisão. A porta se abre. Esther entra, com uma cara exausta, fechando-a. Ela caminha lentamente até o sofá, se senta ao lado de Arlete.

ESTHER – Boa noite, Arlete.

ARLETE – Boa noite, minha querida. Demorou hoje, estava ficando preocupada.

Esther com os olhos vermelhos, respira fundo, se acalmando, disfarça os seus sentimentos.

ESTHER – É… Eu tive que ficar um tempo a mais na loja pra mexer no estoque.

ARLETE – Ah sim.

ESTHER – Cadê a Alexia?

ARLETE – (sorri) Ela deu uma saída, foi encontrar um garoto aí, acredita?

As duas se olham. Arlete animada, Esther neutra, vai abrindo um sorriso.

ESTHER – Ah, é? Um garoto?

ARLETE – É! Ela estava tão contente, Esther, você precisava ver! Acho que a nossa menina está apaixonada.

ESTHER – Será? Eu estava mesmo reparando que a Alexia mais na dela a alguns dias atrás, toda pensativa. Pensando bem agora, isso deve ser o motivo. Vamos esperar ela chegar pra ela nos contar direitinho como foi esse encontro.

As duas sorriem. Nesse momento, a porta se abre. Arlete e Esther levantam-se, ansiosas.

Sonoplastia:
Trem Bala – Ana Vilela

ESTHER – Alexia! Filha, ainda bem que você chegou, a gente estava agora mesmo falando de você.

A porta se fecha. Não é possível que Arlete e Esther dêem ao menos dois passos e Alexia surge, com Rafael ao lado, de mãos dadas. Arlete e Esther se entreolham, muito surpresas, contêm os sorrisos.

ALEXIA – Arlete… Mãe… Esse daqui é o Rafael. (T) O garoto a qual eu sou completamente apaixonada.

Alexia sorri, feliz. Rafael também sorri, um pouco nervoso, tímido.

Animadas, Esther e Arlete se aproximam de Rafael. Todos se cumprimentam, trocam um aperto de mão. Em seguida, ficam se olhando.

ESTHER – Boa noite, meu querido! Como vai? É um prazer conhecer você!

RAFAEL – Eu estou bem, obrigado, dona…

ESTHER – Esther! Meu nome é Esther, sou a mãe da Alexia.

RAFAEL – O prazer é todo meu, dona Esther.

ARLETE – E eu sou Arlete, melhor amiga da Alexia e da Esther, uma grande companheira das duas.

ALEXIA – Mais do que isso.

RAFAEL – Muito prazer em conhece-la, Arlete.

Todos sorrindo, felizes.

ESTHER – Bom, vamos nos sentar, imagino que todos nós temos muito o que conversar.

RAFAEL – Na verdade, eu queria ser mais objetivo, mais direto. Eu preciso fazer uma coisa, e estou um pouco sem graça, mas se eu não falar o que eu preciso falar agora, posso perder a coragem.

Arlete e Esther se entreolham, curiosas.

ARLETE – Ai, fala, estou curiosa!

Rafael respira fundo, olha para Alexia, que está com um olhar mais sério, mas sem deixar de dar leves sorrisos, feliz. Os dois ficam se olhando. Ele pega as mãos de Alexia e as erguem. Ao fundo, Esther e Arlete observando tudo.

Rafael beija as mãos de Alexia cuidadosamente e a olha no fundo de seus olhos.

RAFAEL – Eu queria pedir a sua mão em namoro, Alexia.

Alexia surpresa, muito feliz. Esther e Arlete admiradas.

RAFAEL – E eu queria fazer isso aqui, na frente da sua família. (T) Você aceita?

ALEXIA – É claro que sim, seu bobo! Eu sou apaixonada por você, esqueceu?

Rafael sorri. Os dois se abraçam forte e se beijam em seguida. Esther emocionada, assim como Arlete. As duas aplaudem. O beijo do casal termina e Rafael se vira, olhando para Esther, que limpa algumas lágrimas de emoção.

RAFAEL – Eu vou fazer a sua filha muito feliz, dona Esther.

ESTHER – Confio em você, garoto. Dá pra ver pelo rostinho da Alexia que ela já está feliz. A minha torcida vocês já têm.

Todos sorrindo. Rafael orgulhoso de si. Logo, ele volta a beijar Alexia. Esther e Arlete se olham, contentes.

O foco torna-se a felicidade geral de todos ali presente e o beijo de Rafael e Alexia dominando a cena. Tempo neles.

CENA 10. CASA DE RAFAEL. QUARTO DE NORMA E PEDRO. INTERIOR. NOITE

Norma sentada na cama, olhando para o nada, pensativa. Pedro sentado em uma poltrona, banho tomado, bem arrumado, terminando de calçar os sapatos. Norma o encara.

NORMA – Que produção incrível, Pedro… Se arrumou todo pra um simples encontro de negócios com o seu amigo.

PEDRO – Quer dizer que eu não posso nem mais sair de casa bem arrumado?

Ele se levanta, abre o guarda-roupa, procurando por algo. Norma também se levanta, se aproxima dele.

NORMA – Eu só estou elogiando o meu marido… Só isso.

PEDRO – Obrigado. Vou tentar não demorar muito.

Ele enfim retira um casaco de lá, o veste. Norma o olhando seriamente.

PEDRO – Vou terminar de ajeitar o meu cabelo e já vou.

NORMA – Tudo bem. Querido, eu vou ter que dar um pulo aqui no mercadinho do lado. Quero comprar algumas coisas pra complementar o jantar, já estou muito atrasada com ele.

PEDRO – Pois é, achei que já estaria fazendo comida no tempo em que eu estava no banho. Você está estranha hoje, Norma.

NORMA – Impressão sua. Não comecei o jantar ainda porque eu estou um pouco indisposta.

PEDRO – Bota o seu filho pra te ajudar. Rafael não faz nada mesmo, o dia todo atoa dentro de casa. Devia ir arrumar um emprego, fazer algo de útil. Já basta as coisas que ele fez no passado.

Norma respira bem fundo, se controla, olhos vermelhos.

NORMA – Eu… Eu vou indo então. (T) Até mais tarde.

Pedro se aproxima dela e lhe dá um selinho. Ela fecha os olhos, enojada. Logo, ele se afasta e entra na suíte novamente, deixa a porta aberta. Instantes depois, Norma pega a sua bolsa em cima da cama e sai do quarto apressadamente.

CENA 11. CASA DE RAFAEL. GARAGEM. INTERIOR. NOITE

Suspense. Norma aparece ali, apressada. O carro de Pedro estacionado. Rapidamente, ela abre o porta malas do veículo e se enfia ali dentro, se acomoda, e em seguida, ergue a mão e fecha a si mesma dentro daquele porta malas.

Pouco tempo depois, Pedro aparece ali, andando tranquilamente. Ele usa um pequei controle para abrir o portão automático e em seguida entra no carro. Em poucos segundos, o veículo é ligado. Não demora muito e Pedro sai da garagem com o carro. Tensão.

CENA 12. CASA DE ARLETE. FACHADA. EXTERIOR.NOITE

Alexia e Rafael aos beijos em frente à casa. O beijo termina e eles ficam se olhando, felizes. Rafa fazendo um carinho nos cabelos de Alexia.

ALEXIA – Eu estou muito feliz, Rafa.

RAFAEL – Imagina como eu estou. Radiante, querendo dar pulinhos se alegria.

ALEXIA – Admirei muito o que você fez ali perante a minha mãe e a Arlete. Foi lindo.

RAFAEL – Eu não quero perder mais tempo, Alexia. Quero compensar todo o período que eu fiquei longe de você, todo o tempo que eu fui covarde e não me declarei, não vivi o que eu queria. Mas agora isso acabou.

ALEXIA – Quando o destino junta, já era. E eu creio nisso. A gente se ama. Eu não te conheci aqui nessa cidade atoa. Foi um encontro de destinos.

RAFAEL – O encontro do nosso destino. Daqui pra eternidade. Minha princesa…

ALEXIA – Meu príncipe.

Os dois dão outro beijo, apaixonados. Segundos depois, se afastam.

RAFAEL – (suspira) Tenho que ir agora, antes que fique muito tarde. Por mim eu não te soltaria nunca mais, sabia?

ALEXIA – Eu também queria ficar com você o tempo todo, mas é melhor você ir agora mesmo antes que fique muito tarde. Não quero que você corra algum risco nessa cidade, deve ser tão perigoso ficar rondando por aí tarde da noite.

RAFAEL – (brinca) Tá preocupadinha comigo, dona Alexia?

ALEXIA – (ri) O que foi? Eu tenho que cuidar do que é meu.

Eles riem, descontraídos.

RAFAEL – Bom, eu vou indo então. Preciso anunciar para os meus pais que eu sou o homem mais feliz do mundo a partir de hoje.

ALEXIA – E eu quero me deitar logo pra sonhar, sonhar e sonhar com você. A gente se vê amanhã?

RAFAEL – Com certeza. Eu te amo.

ALEXIA – Eu te amo.

Rafael beija a testa dela carinhosamente. Em seguida, eles se abraçam, dão um beijo, não querem se desgrudar. Aos risos, o casal se afasta e Rafael começa a seguir seu caminho. Alexia parada, o admirando, olhos brilhando.

CENA 13. RUA. EXTERIOR. NOITE

Avenida pouco movimentada. O carro de Pedro andando ali, velocidade moderada. CAM vai se aproximando do carro, focaliza. Tempo nele.

CENA 14. CARRO DE PEDRO. INTERIOR. NOITE

Pedro dirige, concentrado. Ele reduz a velocidade aos poucos, vira uma rua e logo para o carro, próximo a uma esquina.

Corta para:

No porta malas do carro, Norma está ofegante, nervosa, agarrada em sua bolsa. Tempo nela, tensão absoluta.

Corta para:

Pedro se vira para o lado do banco do carona, observando atentamente. Não demora muito e a porta se abre. Uma mulher jovem, muito bonita, vestido justo e curtíssimo, muito acima do joelho, entra no carro, sentando-se e colocando o cinto de segurança. Era claramente uma garota de programa. Pedro a olha, malicioso, solta um sorriso.

PEDRO – Tu é muito gostosa, sabia?

MULHER – E você demorou hoje, não acha?

PEDRO – Ah, nem tanto, vai… Culpa da chata da minha mulher, fica me empacando, fazendo mil perguntas, eu tive que disfarçar. Apesar de tudo eu tenho que manter o meu casamento e aquela família.

MULHER – Mas você fala deles com tanta raiva. Devia os largar logo e viver a sua vida numa boa, sem dever nada pra ninguém.

PEDRO – E acha que eu já não pensei nisso? Mas eu não posso. Se eu me separo agora a minha esposa pode tentar tirar tudo que é meu, melhor eu ficar na minha.

MULHER – Eu tenho um pouco de ciúmes! (provocante) Será que a sua esposa é melhor do que eu na cama?

PEDRO – Claro que não, que pergunta idiota. Aquela mulher é uma mosca morta. Você sim é incrível, me distrai e me tira por algumas horas daquele caos que é a minha casa. Se eu pudesse mandava todos à merda! (T) Agora chega de conversa fiada, chega?

Ele passa as mãos na coxa dela, apertando-as, safado. A mulher se oferecendo, masca um chiclete, rindo.

MULHER – Calma, vamos logo pro nosso lar doce lá de sempre. Prometo que hoje vai ser inesquecível.

PEDRO – Toda transa contigo é inesquecível.

Eles gargalham, ficam a conversar. Logo, Pedro liga o carro e sai dali, apressado.

Corta para:

No porta malas, Norma deixa algumas lágrimas caírem ao escutar tudo aquilo. Ela fica ali, sem chão, chocada e boquiaberta com tamanha barbaridade.

CENA 15. CASA DE RAFAEL. FACHADA. EXTERIOR. NOITE

Rafael na porta de sua casa, usando a chave para abrir o portão. Ele ia entrar, mas logo, uma pessoa toca o seu ombro. Ele se vira, vendo Sofia à sua frente.

RAFAEL – Sofia…

SOFIA – Oi, Rafa. Boa noite.

RAFAEL – Boa noite. Tudo bem?

SOFIA – Tudo. Estava passando por perto e resolvi conversar contigo, por sorte você também parece que chegou agora em casa. É bom falar numa boa assim contigo, sabe?

RAFAEL – Depois de você ter tido uma atitude nobre daquelas não podia ser diferente. Você foi uma pessoa do bem, assumiu a culpa no caso daquele balde de tinta que caiu em cima da Amora e provou a inocência da Alexia.

AMORA – Só fiz o que eu tinha que fazer. Eu não sou uma pessoa tão ruim, Rafael. Não teria coragem de ficar numa boa enquanto a outra era pregada para Cristo no meu lugar. E também eu não tenho meso nenhum daquela patricinha, você sabe, tanto que eu fiz aquilo com ela.

RAFAEL – Nem me fala da Amora…

SOFIA – Vocês não estão mais juntos, né? Imagino a raiva que vocês está sentindo dela.

RAFAEL – Ela me fez de otário, fui totalmente usado por aquela garota. Mas eu não quero falar dela. As coisas acontecem como tem que acontecer e isso foi bom, porque eu abri os meus olhos e fui correr atrás da garota que eu realmente sou apaixonado: a Alexia.

SOFIA – Sabia… Vocês dois se gostam mesmo, estava nítido pelo olhar de ambos. Prefiro mil vezes você com a Alexia, aquela garota é do bem, humilde.

RAFAEL – E eu não sei? Finalmente encontrei a minha metade.

SOFIA – Bom… Boa sorte pra vocês dois aí. Eu estou embarcando amanhã, tô de malas prontas. E feliz.

RAFAEL – Vai ir embora mesmo?

SOFIA – Dessa vez é pra valer. Já curti muito as minhas férias. Eu aprontei, me diverti, vivi coisas boas, ruins, conheci gente nova, uma galera aí que eu vou guardar no meu coração. (ri) Eu causei, não é? Fiz a minha parte. Vivi intensamente.

RAFAEL – (ri) Causou bastante mesmo. Foi você mesma, Sofia.

SOFIA Agora eu vou seguir vivendo a minha vida com a minha família fora do Brasil. Eu até estava preocupada em desencalhar, sabe? Mas aí eu pensei bem e vi que não preciso de homem pra me completar em nada, não. Pelo contrário, homem acaba me dando mais trabalho, só dor de cabeça, e eu estou evitando problemas na minha vida agora.

Rafael admirado. Sofia vai desfazendo o sorriso. Leve emoção ali. Os dois se olhando.

SOFIA – Foi maneiro…

RAFAEL – Foi sim. Acho que eu vou sentir a sua falta um pouco. Mas você foi mudar a sua postura só nos quarenta e cinco do segundo tempo, infelizmente…

SOFIA – Foi do jeito que tinha que ser. Foi do jeito que eu quis.

Os dois seguem se olhando. Tempo. Então, Sofia respira fundo. Close nela. Segundos depois, ela dá as costas e vai indo embora. Closes alternados de Rafael, a olhando, dando um leve sorriso, e de Sofia se afastando cada vez mais. Fecha nela.

CENA 16. MOTEL. INTERIOR. NOITE

O carro de Pedro adentra o estacionamento do local. Pedro anda alguns segundos por ali com o carro e logo o estaciona numa espécie de garagem privativa, desligando-o. As luzes do farol se apagam.

Pedro e a mulher descem do veículo, fecham as portas. Aos risos, conversando em OFF, eles vão caminhando até uma escada e sobem os degraus da mesma em seguida, indo em direção ao quarto. Suspense. Um tempo se passa.

SLOW: Norma abre bem lentamente o porta malas do veículo. Em segundos, ela sai dali, com uma cara péssima, detonada, agarrada em sua bolsa. Devagar e sem fazer barulho, ela fecha o porta malas. Em seguida, respira fundo, tenta se acalmar. Ela então vai caminhando em direção à escada onde Pedro e a tal mulher acabaram de subir, tensa.

CENA 17. MOTEL. QUARTO. INTERIOR. NOITE

Quarto grande, cama redonda, lençol vermelho e espelho no teto, tudo muito sensual. Pedro e a tal garota de programa aos beijos e amassos, fogosos. Ele já está sem camisa, a mulher já de trajes íntimos.

Pedro a empurra na cama, sobe em cima dela, beija todo o seu corpo. A mulher solta alguns gemidos, gostando daquilo, não querem perder tempo. Afobado, Pedro começa a tirar a sua calça e fica só de cueca. Em seguida, volta a beijar o corpo da mulher, subindo das pernas até a nuca. Clima quente. A mulher sobe em cima de pedro, se senta em cima dele. Os dois se beijam fogosamente.

Suspense e tensão em cena. De repente, a porta se abre bruscamente com um forte empurrão. Pedro e a mulher se assustam com aquilo, param o beijo, sem entender, mas permanecem na cama. Norma entra, já chorando, joga a sua bolsa no chão. Ela enfim encara Pedro e a mulher, praticamente nus, deitados na cama, bem agarrados.

Suspense absoluto em cena. Tempo na reação de todos. Pedro extremamente chocado, boquiaberto, sem acreditar. Norma solta um grito ensurdecedor.

NORMA – (grita) Safado! Seu filho da mãe, mau caráter!!!

Ela enojada com aquilo, com muito ódio, chorando bastante. Pedro segue em estado de choque.

NORMA – (grita) Desgraçado… Desgraçado!!! Cafajeste! Canalha!!!

Pedro se levanta rapidamente, ainda de cueca, e se aproxima de Norma, que o recebe com milhares se socos e tapas em seu rosto e seu peitoral, descontando o seu ódio, com o semblante fechado. Ela bate cada vez mais, enquanto Pedro tenta se defender, se esquivando.

PEDRO – Calma, Norma! Para com isso!

Norma despeja cada vez mais tapas e mais tapas nele, sem nem enxergar onde estava atingindo. Pedro enfim consegue a segurar, prende as suas mãos. Ela o empurra fortemente, se afastando.

NORMA – Você não vale nada! É um merda! Um crápula! Infeliz, desgraçado, o pior homem da face da terra! Eu não sei como eu fui me casar com você um dia! O Rafael não merece o pai imundo que ele tem!

PEDRO – Calma, Norma, vamos conversar, por favor!

NORMA – Cala essa boca! Não fala comigo! Você vai sumir da minha vida, o nosso casamento acabou! Você morreu pra mim, Pedro! Eu e o meu filho vamos ser muito felizes longe de você, como a gente já devia estar sendo há muito tempo!

Dito isso, Norma pega a sua bolsa no chão e sai dali correndo, apressada.

PEDRO – (grita) Norma, espera!

Mas ela já havia saído do quarto. Desesperado, Pedro veste a sua calça, sua blusa e calça seus sapatos, em questão de poucos segundos, num afobamento gigantesco. Logo, ele sai do quarto, correndo, indo atrás de Norma.

CENA 18. MOTEL. INTERIOR. NOITE

Norma correndo, já na saída do motel, limpando as suas lágrimas, em choque. Ela enfim sai do motel.

CENA 19. MOTEL. FACHADA. INTERIOR. NOITE

Norma encosta-se no muro do estabelecimento, chorando sem parar, desolada. Ela avista um táxi. passando ali, não pensa duas vezes e faz um sinal para que ele pare. O veículo estaciona na frente dela e Norma entra no mesmo. O táxi sai dali em segundos.

CENA 20. MOTEL. INTERIOR. NOITE

Pedro entra no seu carro desesperadamente, liga-o, e sai dali em pouco tempo, cantando pneu descontroladamente, fazendo um barulho ensurdecedor.

CENA 21. AVENIDA. EXTERIOR. NOITE

Sonoplastia tensa, que cresce cada vez mais durante toda a cena. Pedro dirige descontroladamente por uma avenida relativamente vazia, com poucos veículos ali.

Corta para:

Dentro do carro, Pedro chora, bate no volante repetidas vezes, odioso. Ele dá alguns grossos e rígidos gritos, visivelmente fora de si. CAM detalha: ele pisa fundo no acelerador cada vez mais, passa a marcha com truculência.

Corta para:

O carro de Pedro totalmente desgovernado, numa velocidade super acima do permitido. O veículo faz um zig-zag tremendo, avança sinais perigosamente, ultrapassa dezenas de veículos. Buzinadas e mais buzinadas são ouvidas.

Mais a frente, há alguns veículos do corpo de bombeiro, terminando de apagar o fogo de um carro, que pelo visto, havia se envolvido em um acidente um tempo antes. Muitos bombeiros ali, trabalhando, área isolada com uma fita amarela. Com isso, o restante dos veículos passam do outro lado da faixa. Devido ao acidente, muitos poucos carros se atreviam a passer ali, local vazio.

Corta para:

Pedro aumenta cada vez mais a velocidade, pisa ainda mais fundo no acelerador. Ele segue dando socos no volante, descontrolado, sem rumo, totalmente desnorteado. Pedro se atenta à estrada, vê aquela movimentação toda um pouco à frente, sirenes ligadas, luzes vermelhas tomando conta do local. Reação imediata dele, que fica boquiaberto. CAM detalha: Os pés de Pedro fincam bruscamente no freio, reduzindo a velocidade, ele sabe o que está prestes a bater.

Corta para:

Suspensa e tensão absoluta! Com muita rapidez, o carro de Pedro se aproxima cada vez mais do local do acidente. Barulho absurdo de pneu cantando. É inevitável o que iria acontecer. Os bombeiros vêem aquele carro desgovernado vindo e correm para a calçada, assustados.

Em poucos segundos, o carro de Pedro bate no outro veículo que estava envolvido em uma acidente.

SLOW: O carro de Pedro “voa”, atinge consideráveis metros de altura, vai ao chão, capota milhares de vezes sem parar por um segundo sequer, de forma violenta, durante a longa e extensa avenida. Depois de alguns segundos, o veículo para, totalmente destruído, exatamente num acostamento, com os pneus pra cima. Ao lado, do carro, estava o corpo de Pedro, jogado para fora do veículo. Close no rosto dele, olhos fechados, machucado, sangrando bastante.

Foco naquilo. Tempo. Por um instante, nada mais é ouvido.

Congela em PEDRO, numa mistura dos tons rosa e roxo, e o seu rosto se torna a capa de um caderno escolar, marcando o FIM DO 30º CAPÍTULO.

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