Descobertas – Capítulo 16

CENA 01: COLÉGIO MÁXIMO, SALA DE AULA, INTERIOR, MANHÃ.

Maria surge na porta da sala, chamando atenção de todos da turma. Wesley e Luana surgem atrás de Maria e, pouco a pouco, entram na sala, vagarosamente.

(STEFANNY): – Eu não acredito que essa garota teve a ousadia de aparecer aqui depois daquele escândalo. – sussurrando.

(PATRÍCIA): – Pelo visto, teu plano pra afastar a caipira da escola, não deu muito certo. – sussurrando.

Stefanny e Maria se encaram a distância, enquanto a turma cochicha sobre o retorno da colega após o escândalo do vídeo íntimo.

(LAURO): – Seja bem-vinda novamente, Maria. Pode sentar em seu lugar.

(MARIA): – Obrigado, professor.

Assim que Maria fala, é possível ouvir algumas risadas de deboche pela sala. Maria vai em direção a sua classe, mas não percebe que Stefanny estica sua perna de propósito, fazendo com que Maria tropece e leve um tombo no corredor entre as filas de classes. Toda a turma começa a rir, exceto Wesley e Luana, que a ajudam a se levantar.

(LUANA): – Você não tem mais o que fazer não, sua otária?

(STEFANNY): – Tá falando comigo, aborto de rã? Eu não fiz nada, a vaca da sua amiga que não sabe caminhar. Já galopar… – fazendo sons de gemidos.

Maria sente-se envergonhada e toda turma começa a rir ao entender a referência ao vídeo íntimo da colega. Ela pensa em sair da sala, mas Luana a segura.

(LUANA): – Não! Você fica! Você não pode deixar essa idiota vencer.

Maria fica cabisbaixa, respira fundo e caminha até sua classe, sentando e ficando calada, assim como Luana e Wesley.

(LAURO): – Ok pessoal, mantenham a ordem e vamos focar nos estudos. Não é legal a forma como vocês e toda a escola estão tratando a Maria, isso não se faz.

(RYAN): – Ela ficou com o namorado da inimiga, queria qual tratamento? É uma cachorra! – rindo.

(MARIA): – Cala a boca, eu nem te conheço! – gritando.

(RYAN): – Mas se quiser conhecer, estamos aí. Adorei a performance do vídeo, se quiser repetir comigo… – rindo.

(LAURO): – Por favor, Ryan, vamos manter o respeito dentro da escola, ok? Bom, hoje nossa aula de Educação Física será teórica, dentro da sala. Vamos aprender as regras de um esporte que está crescendo no Brasil: o futebol americano.

Lauro começa suas explicações, enquanto Maria tenta se concentrar, mas tem dificuldade devido os olhares debochados e ameaçadores que seus colegas direcionam a ela.

CENA 02: MANSÃO DE CATARINA E LUIZ, QUARTO DE JONATHAN, INTERIOR, MANHÃ.

Jonathan está deitado na cama, recebendo uma bandeja de café da manhã de sua mãe, Catarina, que senta ao seu lado e acaricia seu rosto.

(CATARINA): – Bom dia, meu amor. Dormiu bem?

(JONATHAN): – O mesmo de sempre, mãe. Não precisava trazer o café, eu tô sem fome.

(CATARINA): – Mas você precisa comer algo, Jonathan, ultimamente você tem comido muito pouco e isso me preocupa.

(JONATHAN): – Não começa, mãe, eu não sou criança…

(CATARINA): – Não é criança, mas agiu como uma, roubando o carro do seu pai e saindo pela cidade sem pensar nas consequências.

(JONATHAN): – Tava demorando… Chama o papai pro sermão ficar completo!

(CATARINA): – Chamaria com o maior gosto se ele não tivesse ido trabalhar. Meu filho, nós te amamos e é justamente por isso que estamos sendo rígidos contigo, você foi muito irresponsável, colocou sua vida em risco e desobedeceu seus pais. Você não é criança, mas ainda é menor de idade e, mesmo sendo de maior, continuará sendo nosso filho.

(JONATHAN): – Tá, eu sei que errei, mas agora já era, não tem mais volta. Acho que tô pagando um preço bem alto com esse rosto horrível, não acha?

(CATARINA): – Assim que o médico permitir, você fará uma plástica.

(JONATHAN): – Pra quê, se eu nunca mais vou ficar o mesmo de antes? Se é pra todo mundo continuar me olhando esquisito, prefiro ficar assim.

(CATARINA): – Oh Jonathan, não fale assim… Você é um garoto incrível, sua beleza interior é muito mais importante que sua beleza física.

(JONATHAN): – Isso é lindo de ouvir, mas na prática não é assim que funciona. Na prática, as pessoas são movidas pela beleza física, mamãe, todo mundo dá mais valor ao físico do que ao interior. E o que o meu físico tem pra mostrar agora? Eu, que me cuidava tanto, que já era reconhecido pela minha beleza, agora virei um saco de cicatrizes que nunca vão sumir por completas! Ninguém vai se aproximar de mim como antes, eu não tenho nada a oferecer a não ser vergonha, medo e nojo.

(CATARINA): – Que isso, meu filho, não diga uma coisa dessas! Como você pode dizer que não tem nada pra oferecer? Quem cultua apenas a beleza física, acaba se tornando vazio por dentro. Eu não quero acreditar que você é esse tipo de pessoa, você é muito mais do que um rostinho bonito.

(JONATHAN): – Rostinho que nem existe mais, agora é um monte de retalhos. Me deixa, mãe, eu quero ficar sozinho aqui no meu quarto.

(CATARINA): – Quer que eu chame a Stefanny ou Richard pra passar a tarde com você?

(JONATHAN): – Eu já disse que quero ficar sozinho, que saco! – virando a bandeja no chão.

Catarina fica impressionada com o estado emocional de Jonathan e levanta-se da cama, saindo do quarto muito nervosa, enquanto ele chora sozinho no quarto.

CENA 03: COLÉGIO MÁXIMO, SALA DOS PROFESSORES, INTERIOR, MANHÃ.

Rômulo está mexendo em seu celular no período que não tem aula, quando recebe uma mensagem de seu amigo que é técnico em informática. Ele lê com atenção e se espanta ao ter uma informação sobre as difamações virtuais sofridas por Maria. Naquele momento, Helena entra na sala e percebe a animação de Rômulo.

(HELENA): – Bom dia, Rômulo, veja que está bastante animado.

(RÔMULO): – Bom dia, Helena. Pois é, recebi uma notícia importante que vai me ajudar muito. Tô ajudando a Maria a investigar quem está por trás do cyberbullying que ela está sofrendo, já que a Dona Abigail não faz nada.

(HELENA): – Rômulo, tome cuidado, olha onde você está se metendo…

De repente, Patrícia vai entrar na sala, mas ao perceber que os professores estão conversando, espera do lado de fora, com a porta entreaberta, e acaba escutando.

(RÔMULO): – Eu só quero que a sofrimento da Maria não seja impune. Olha, um amigo que entende tudo de informática, tá rastreando o IP das publicações, mas tá difícil. Só que ele conseguiu um dado importante, que é o local de onde partiu as postagens, foi neste condomínio de luxo, o Ilha do Frade. – mostrando o celular pra ela. – Que alunos do 3ª ano moram aqui, você sabe?

(HELENA): – A Stefanny, a Patrícia e o Jonathan, que eu me recordo, são apenas esses.

(RÔMULO): – Então, Helena, tá mais do que óbvio que foi um destes três quem está difamando a Maria na internet, se duvidar são os três juntos ainda!

(HELENA): – Vai com calma, Rômulo, você não pode acusar eles sem o IP completo ou alguma prova mais concreta.

(RÔMULO): – Eu tenho calma, Helena, mas agora minhas suspeitas se confirmaram ainda mais. Nada me tira da cabeça que a Stefanny é a mentora disso tudo e eu vou limpar a honra da Maria provando isso.

Patrícia fica pasma com o que ouviu e envia uma mensagem para Stefanny, marcando um encontro no banheiro e indo até lá, muito nervosa, enquanto Rômulo e Helena seguem conversando sobre o caso.

CENA 04: COLÉGIO MÁXIMO, BANHEIRO, INTERIOR, MANHÃ.

Patrícia está encostada na bancada da pia, roendo as unhas, quando Stefanny entra, aflita.

(STEFANNY): – O que foi, amiga? Porque me chamou com tanta urgência?

(PATRÍCIA): – Ai amiga, sujou pro nosso lado! Tô apavorada!

(STEFANNY): – Do que você tá falando?

(PATRÍCIA): – Do vídeo né, do que mais seria?

(STEFANNY): – Tá, mas o que aconteceu, Patrícia? Fala logo!

(PATRÍCIA): – O prof Rômulo pediu ajuda de um amigo que é trabalha com computadores e ele tá rastreando o IP de quem publicou o vídeo da Maria na internet e também de quem criou a página de zoação no Facebook.

(STEFANNY): – Ai, que droga! Tinha que ser esse professorzinho, desde o começo protegendo a caipira. Será que já descobriu o número do IP?

(PATRÍCIA): – Não, o IP completo não, só sabem a localidade, que partiu da Ilha do Frade, onde a gente mora. Falta pouco pra chegar em nós, Stefanny!

(STEFANNY): – Isso não pode acontecer, eu vou dar um jeito, a Dona Abigail disse que não ia levar esse caso pra frente, porque esse professor tem que ser tão intrometido?

(PATRÍCIA): – Todo mundo vai se ferrar, amiga! O Jonathan, porque aparece no vídeo com a Maria; você, porque publicou o vídeo; e eu, porque a página “Caipira Vadia” foi criada no meu computador. Ai, eu tô desesperada!

(STEFANNY): – Calma, para de chilique também! Eu vou dar um jeito, relaxa. Tenho que encontrar uma forma de parar essa investigação do prof Rômulo…

(PATRÍCIA): – Missão impossível, ele tem cisma com a gente, não tem mais jeito…

(STEFANNY): – Pra Stefanny, meu bem, tudo tem jeito. Pode deixar, eu vou tirar esse professorzinho lixo do nosso caminho.

Patrícia sente amedrontada e abraça Stefanny, que pensa em uma forma de impedir que Rômulo tenha provas contra ela.

CENA 05: COLÉGIO MÁXIMO, EXTERIOR, MANHÃ.

Trilha Sonora: Duele el Corazón (Enrique Iglesias).

No recreio, Richard e Luana namoram encostados no muro dos fundos da escola. Entre beijos, abraços e carícias, eles aproveitam o momento, escondidos do inspetor.

(RICHARD): – Tá cheirosa hoje hein…

(LUANA): – Só hoje?

(RICHARD): – Não, você sempre tá, mas hoje tá mais. Saudades de te beijar…

(LUANA): – Mas você me beijou ontem, seu bobo!

(RICHARD): – Ah, mas eu quero beijar sempre, ora… – beijando ela. – Meu amor, o que você acha da gente fazer um piquenique hein? Tem um parque ótimo aqui em Vitória, a gente podia passar a manhã de sábado lá, o que você acha?

(LUANA): – Acho ótimo! Do teu lado, tudo fica ótimo. – beijando ele. – E teus pais, como estão?

(RICHARD): – Daquele jeito, Luana. Eles não vivem um casamento, eles se aturam. O papai tá cada vez mais grosso com a mamãe, isso me deixa muito chateado.

(LUANA): – Poxa, que situação… Sua mãe é uma mulher tão legal, não merecia isso. Nem você e o Wesley, pois são ótimos filhos.

(RICHARD): – Eu tenho ficado pouco em casa nos finais de semana porque é difícil aguentar o papai implicando com a mamãe o dia todo, então eu fico com você ou com o Jonathan. Vocês são meus alicerces, sem vocês seria difícil aguentar essa barra.

(LUANA): – Eu tô sempre aqui, meu amor, pode contar comigo. Mas vamos esquecer os problemas, vamos falar de coisas boas. Tipo: eu tô pensando em abrir um canal no YouTube!

(RICHARD): – Sério? Quem diria, vou namorar uma youtuber… Não vai me trocar quando tiver famosa né?

(LUANA): – Até parece, seu bobinho! – beijando ele. – Mas sério, tô pensando mesmo em virar youtuber, mas tô pensando ainda em algum tema porque já tem muita gente na internet né, quero fazer algo novo.

(RICHARD): – Olha, eu não sou muito bom em criatividade, ainda mais feminina, mas conversa com a Maria, acho que ela vai saber te ajudar.

(LUANA): – Acho que não, ela é totalmente desligada do mundo virtual, esqueceu? Mas tudo bem, eu vou pensar com calma…

Richard acaricia os cabelos de Luana e lhe dá um beijo intenso. De repente, o inspetor cutuca suas costas e Richard se vira, ficando assustado ao vê-lo e Luana sente-se envergonhada. O casal dá às mãos e caminham pelo pátio, rindo baixinho do flagra.

CENA 06: PENSÃO DA YOLANDA, INTERIOR, TARDE.

Yolanda está limpando a sala da pensão enquanto conversa com Maria, que está sentada no sofá.

(YOLANDA): – E então, minha menina, como foi o retorno na escola?

(MARIA): – Péssimo! Todo mundo ficou rindo de mim, jogando indiretas e piadinhas, ficavam cochichando sobre o vídeo, até me fizeram cair um tombo na sala. Ai madrinha, eu tenho vontade de sumir!

(YOLANDA): – Que absurdo! Eu liguei pra Dona Abigail, vai ter a reunião com os pais da Stefanny e Jonathan amanhã, quero só ver como eles vão reagir ao saber da atitude suja dos filhos.

(MARIA): – Os pais do Jonathan talvez fiquem contra o filho, mas a mãe da Stefanny eu duvido, ela é muito conivente com as maluquices da filha.

(YOLANDA): – Seja como for, amanhã eles vão saber de tudo e eu vou exigir uma providência da direção. Não quero saber se a mãe da Stefanny está coberta de joias, eu vou enfrentar do mesmo jeito.

Naquele instante, Maria se recorda das ameaças que Bruna lhe faz, dizendo que vai convencer Yolanda que ela roubou sua joia de família, mas como nunca a ouviu falar disso, está intrigada.

(MARIA): – Por falar em joia… Madrinha, a senhora não tem nenhuma joia?

(YOLANDA): – Eu? Com joia? – rindo. – Maria, desde quando pobre tem joia?

(MARIA): – Sei lá, alguma joia de família, algum anel de valor que seus avós ou pais tenham te deixado… Em muitas famílias acontece isso, joias que passam por gerações.

(YOLANDA): – É, mas não é o meu caso, querida. Eu nunca tive nenhuma joia, nem de família nem de nenhum outro jeito. – rindo. – Sabe, eu me lembro que uma vez teve um turista que ficou hospedado aqui na pensão, ele era da Escócia e estava conhecendo o litoral do Brasil. Antes de ir embora, ele deixou um anel muito bonito, parecia uma joia de tão bonito, mas era só bijuteria mesmo.

(MARIA): – Nesse anel, tem um cavalo com chifres? – intrigada.

(YOLANDA): – Sim, isso se chama unicórnio, é o animal símbolo da Escócia. Você já viu esse anel, Maria?

(MARIA): – Acho que sim, devia estar na mesa do seu quarto. – disfarçando a tensão. – Eu vou pro meu quarto tirar um cochilo, com licença.

Yolanda compreende e segue limpando a sala, enquanto Maria sobe ao seu quarto rapidamente. Em seguida, Jorge entra na sala, segurando um jornal nas mãos.

(JORGE): – Dona Yolanda, eu estou lendo os classificados do jornal em busca de emprego, mas tá bem complicado, a maioria pede experiência ou formação específica. Eu tô precisando muito arrumar um trabalho, a senhora não tem nenhum pra me recomendar?

(YOLANDA): – Deixa eu pensar… Ah, você sabe dirigir moto?

(JORGE): – Sim, eu tenho carteira para dirigir carro e moto. Porque?

(YOLANDA): – Porque aqui perto da pensão tem uma pizzaria e eles estão precisando de um motoboy para fazer as entregas. Quem sabe você consiga?

(JORGE): – Seria perfeito! Obrigado, Dona Yolanda, vou lá agora mesmo.

Jorge sai da pensão, entusiasmado, enquanto Yolanda segue trabalhando.

CENA 07: PENSÃO DA YOLANDA, QUARTO DE MARIA, INTERIOR, TARDE.

Maria tranca-se no quarto e caminha de um lado para outro, revoltada.

(MARIA): – Então, não existia joia nenhuma… A Bruna me ameaçou por nada e eu burra caí feito uma pata! Ai, que ódio! – derrubando o travesseiro da cama. – Porque as pessoas me usam desse jeito, gostam de me fazer de idiota? Ah, mas isso não vai ficar assim… Eu vou dar o troco pra Bruna como ela merece! – respirando fundo. – Chega, cansei de ser a bobinha que sofre calada, agora todo mundo vai conhecer uma nova Maria!

Imediatamente, Maria sai do seu quarto, decidida a se vingar de Bruna. Ela bate na porta do quarto de Bruna e não obtém resposta, então ela abre a porta e entra no quarto, ao perceber que ela não está. Maria começa a revirar o quarto de Bruna, sem deixar bagunçado, mas procura incansavelmente por algo que a ajude a desmascará-la. É quando ela encontra um álbum de fotos dentro de uma gaveta e começa a folhá-lo, sorrindo.

(MARIA): – Perfeito! Amanhã todo mundo vai saber que a Bruna não é rica!

Maria ri e sai do quarto, retornando ao seu quarto e começando a escolher algumas fotografias de Bruna para expor na escola amanhã.

CENA 08: MANSÃO DA ROSA, INTERIOR, TARDE.

Rosa está vendo um álbum de família, observando com atenção as fotos de Lucas, com os olhos marejados. Ela acaricia as fotos como se estivesse acariciando o rosto do filho. Logo, Stefanny senta ao lado de Rosa no sofá e observa as fotos.

(STEFANNY): – Saudades dele né?

(ROSA): – Muita! Teu irmão era uma pessoa tão especial, sinto tanta falta dele.

(STEFANNY): – Eu também sinto. A gente vivia como gato e rato, mas eu sinto falta dele. – rindo.

(ROSA): – O tempo passa, mas eu não me conformo, Stefanny. Eu não consigo entender porque o Lucas se matou. Se ao menos ele tivesse deixado alguma carta, algum recado, tivesse se despedido… Mas não, ele simplesmente se matou e deixou conosco as dúvidas além das lembranças.

(STEFANNY): – Oh mãezinha, nem todo mundo que se suicida deixa cartas, talvez o Lucas estivesse tão atordoado naquele momento que nem teve cabeça pra escrever alguma coisa e deixar pra senhora. – disfarçando a tensão.

(ROSA): – Se tivesse alguma carta, eu tenho certeza que meu sofrimento seria menor, porque pelo menos eu entenderia o que passou pela cabeça do Lucas naquele momento, seria algo que confortaria meu coração de mãe. Mas eu não sei nada e isso me deixa tão perdida no meio dessa saudade sem fim.

Stefanny recorda-se da carta que Lucas deixou para a mãe, mas ela rasgou, e fica calada, enquanto observa Rosa secar uma lágrima que escorre de seus olhos.

(ROSA): – E o Jonathan, como está? Porque não vai fazer companhia a ele?

(STEFANNY): – Não dá pra dizer que ele tá bem né, ele tá daquele jeito. Ah, eu não tô afim de ir lá não, sei lá…

(ROSA): – O que foi agora, minha filha? Não gosta mais do Jonathan?

(STEFANNY): – Ai, sei lá, mãe… Quando eu vi o Jonathan deformado, eu senti uma coisa tão estranha, sabe? Ele tá tão diferente, tão feio e baixo astral, não foi por esse Jonathan que eu me apaixonei. Olha, eu não nasci pra ser babá de doente, entendeu?

(ROSA): – Stefanny, você não acha que está sendo muito radical não? Você sempre foi louca por esse menino, fez de tudo até conseguir namorar ele, agora quer acabar tudo por causa disso?

(STEFANNY): – E a senhora acha pouco? Como eu vou beijar o Jonathan com aquela cara horrorosa? Mãe, eu senti nojo quando vi ele, é sério, eu não consegui nem tocar na mão dele! Quero só ver quando o Jonathan voltar pro Colégio Máximo, a recepção será péssima, ninguém mais vai reconhecê-lo como o cara mais popular da escola.

(ROSA): – Por falar em Colégio Máximo, amanhã eu tenho uma reunião com os pais do Jonathan e a responsável por uma tal de Maria… O que você aprontou, filha?

(STEFANNY): – Nada demais, uma brincadeirinha como sempre, agora estão implicando comigo. Falta de senso de humor! Vou sair com a Patrícia, daqui a pouco eu volto, beijos.

Stefanny sai de casa e deixa Rosa preocupada, mas ela segue vendo o álbum de foto e recordando de momentos vividos com Lucas, sentindo muitas saudades do filho.

CENA 09: RUA, EXTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: Numb (Link Park).

Jorge foi contratado pela entregadora de pizzas e já está circulando por Vitória como motoboy, a fim de entregar os pedidos. Exalando simpatia e carisma, Jorge conquista a admiração de todos por onde passa, escondendo seu lado perverso atrás de um sorriso encantador. Após fazer todas as entregas, Jorge se espreguiça ao lado da moto estacionada e estala os dedos de sua mão, retirando um papel de dentro da jaqueta de couro.

(JORGE): – Agora que sobrou um tempinho, eu vou nesse endereço. Será que a Catarina já saiu do trabalho? – sorrindo.

Jorge guarda o endereço do trabalho de Catarina, que encontrou em uma pesquisa da internet, e sobe na moto, partindo em direção ao endereço. Algum tempo depois de atravessar o trânsito caótico de Vitória, ele finalmente chega em frente ao ateliê onde Catarina trabalha como designer. Jorge estaciona a moto do lado oposto, um pouco escuro, e observa a grande infraestrutura do local. Minutos depois, ele avista Catarina saindo do local, trancando a porta e caminhando até seu carro, que estava estacionado na rua.

(JORGE): – Catarina… Você continua linda, sinto teu perfume doce mesmo à distância… – colocando capacete e ligando a moto. – Espera aí, meu amor, não me deixe aqui! – rindo.

Catarina sai com seu carro pela rua para ir a sua casa, sem perceber que está sendo seguida por uma moto. Jorge segue Catarina em todo seu percurso, que dura alguns minutos, até a entrada do condomínio de luxo, onde apenas quem mora pode entrar. De longe, Jorge observa Catarina entrar com seu carro no condomínio e sorri maquiavelicamente ao descobrir onde ela mora.

CENA 10: COLÉGIO MÁXIMO, EXTERIOR, MANHÃ.

Catarina e Jonathan estão dentro do carro, estacionado em frente a escola.

(CATARINA): – Meu filho, você já veio até aqui, agora desça e vai pra aula.

(JONATHAN): – Eu não tenho coragem, mãe. Todo mundo vai zoar de mim!

(CATARINA): – Deixa de bobagem, sua vida precisa continuar, não pode parar os estudos por causa disso. Quem gostar de você de verdade vai ficar do teu lado.

Catarina desce do carro e Jonathan faz o mesmo, cabisbaixo e envergonhado por entrar na escola pela primeira vez após a deformação no rosto. No mesmo instante, Rosa e Stefanny chegam a escola e os quatro se encontram no portão. Catarina e Rosa se abraçam, enquanto Stefanny e Jonathan se olham de longe, ele então se aproxima para beijá-la, mas ela desvia o rosto e dá um abraço rápido nele. Os quatro entram na escola, enquanto as mães vão para a sala da direção na reunião, os jovens ficam pelo pátio aguardando o sinal.

(JONATHAN): – É impressão minha ou você tá me evitando, Stefanny?

(STEFANNY): – Eu? Que isso, Jonathan, que bobagem…

(JONATHAN): – Então, porque você não me beijou desde o acidente?

(STEFANNY): – Porque eu… Ah, sei lá, Jonathan! Eu vou conversar com a Patrícia e a Bruna, até mais.

Stefanny se afasta de Jonathan, sentindo vergonha dele, e fica próxima a Patrícia e Bruna, que conversam bastante. Enquanto isso, Jonathan fica sentando em um banco no pátio, sozinho, observando os olhares estranhos de todos os alunos da escola que passam por ele, alguns riem, outros cochicham e todos se mantêm afastados, demonstrando que a popularidade de Jonathan acabou. Angustiado, ele pega sua mochila e vai para o banheiro.

(BRUNA): – Ai, cadê o Ryan que não chega?

(PATRÍCIA): – Ryan? Que Ryan? Aquele nosso colega esquisitão?

(BRUNA): – Isso, eu queria falar com ele sobre uma festa que vai rolar, queria convidar ele.

(STEFANNY): – Ai amiga, credo hein, você já teve bom gosto, esse Ryan além de feio tem um jeito muito estranho, parece bandido!

(BRUNA): – Sabe, vou fazer uma fofoquinha: ele traficava drogas! Mas ele saiu dessa vida, ainda bem.

(PATRÍCIA): – Que horror! E você ainda quer se relacionar com esse tipo de gente?

(BRUNA): – Ele mudou e eu acho ele bonitinho.

Stefanny e Patrícia se benzem e riem, enquanto Bruna ignora. Naquele instante, ela é puxada por trás e se assusta ao ver Maria. As três não gostam da presenta dela e a encaram.

Trilha Sonora: Criminal (Britney Spears).

(BRUNA): – Que isso, caipira, perdeu a noção do perigo?

(MARIA): – Querida ordinária, você não acha que tá na hora das suas amigas saberem quem você é de verdade?

(STEFANNY): – Gente, olha o jeito que a otária falou com você… Não vai fazer nada, Bruna?

(BRUNA): – Vou sim, vou contar tudo pra diretora agora mesmo!

(MARIA): – Ótimo, aproveita e chama minha madrinha lá na direção, que é sua mãe também.

(PATRÍCIA): – Como assim? Vocês são parentes? – surpresa.

(MARIA): – Infelizmente, somos parentes sim, mas pelo menos somos parentes distantes. Vocês sabiam que a mãe da Bruna é dona de uma pensão no subúrbio?

(STEFANNY): – Oi? Bebeu, garota? – pasma.

(BRUNA): – Maria, controla sua língua! – nervosa.

(MARIA): – Quem devia se controlar era você, quando ficava me explorando na pensão e fazendo ameaça, dizendo que ia contar pra Dona Yolanda que eu roubei uma joia de família que nunca existiu, eu descobri que era uma bijuteria qualquer. Achou que ia me enganar por quanto tempo hein, sua imbecil? – gritando.

(STEFANNY): – Peraí… O que a caipira tá falando, é verdade, Bruna? – chocada.

(MARIA): – É verdade sim, toma o álbum de fotos da vida da Bruna e descubra que sua amiga nunca foi rica, ela não passa de uma pobre com prepotência, que fingiu ser rica pra se aproximar de vocês duas, Stefanny e Patrícia, tudo por status na escola.

Maria entrega o álbum de fotos para Stefanny, que folha as páginas e vê tudo com Patrícia, ambas pasmas ao descobrirem a verdade sobre Bruna.

(BRUNA): – Eu te odeio, Maria! – gritando.

(MARIA): – Grita, pode gritar, mas tua máscara caiu. E agora, quem tá por cima, sua vaca?

Maria e Bruna se encaram fixamente, enquanto Stefanny deixa o álbum de fotos cair no chão, como raiva e nojo ao descobrir a farsa da amiga.

CONTINUA…

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Jonathan é excluído por todos no Colégio Máximo.