Mundos Opostos – Capítulo 03

Mundos OpostosCENA 01: PRAÇA DO FERREIRA/EXT./TARDE

Um Gol G5 branco estaciona em frente à Praça do Ferreira: a porta do motorista abre para a saída de Gustavo; a porta do acompanhante abre para a saída de Helena; a porta traseira direita abre para a saída de Ricardo. Os três fecham as portas e Gustavo trava o carro. Então, eles vão caminhar pela praça.

Gustavo, Helena e Ricardo caminham pela praça até se encontrarem com três jovens. Gustavo chama a atenção de um deles, um rapaz branco, loiro, magro, com um rosto colorido por um largo sorriso e uma camisa estampada com a piada “Se eu sou o que como, então eu sou trans?”. Os dois se reconhecem imediatamente e trocam um abraço.

GUSTAVO – Há quanto tempo, Guto…

GUTO – Como é que as coisas tavam por aqui, hein?

GUSTAVO – Bem, cara. Como é que foi Belo Horizonte, hã?

Enfim, os dois se apartam do abraço.

GUTO – Vou te contar, viu? É uma cidade bonita, nada assim sensacional, mas é bonita, sabe? Mas agora, uma cidade bonita é Ouro Preto… ô cidade bonita, tu tinha que ver… depois dessa viagem, eu comecei a dar valor àquelas aulas chatas de História… me arrependi de ter passado um semestre inteiro dormindo durante as aulas de História…

GUSTAVO – É assim mesmo. Sim, a gente marcou essa reunião aqui pra apresentar o novo membro da corrente. Vem cá, Ricardo!

Ricardo se aproxima de Gustavo. Guto e Ricardo se cumprimentam com um aperto de mão.

RICARDO – Prazer, eu sou Jonas Ricardo. Mas pode me chamar de Ricardo.

GUTO – Prazer, eu sou Gustavo Castela. Não me pergunte porque, mas o povo me chama de Guto.

RICARDO (rindo) – Gostei de ti.

GUTO – Também gostei de ti, Ricardo. Olha, vou te contar uma coisa… se tu desse abertura eu te pegava, viu?

Os três riem da piada de Guto.

GUTO – Tô brincando, viu, cara? Não sou viado, não…

GUSTAVO – Mas tu tem jeito, viu?

GUTO – Tá vacilando, é?

Os três continuam rindo. Guto chama a atenção de Ricardo e o apresenta a uma jovem branca de cabelos claros e vestido colorido. A moça olha fixamente para Ricardo, intimidando-o de certa forma.

GUTO – Ricardo, Luciana. Luciana, Ricardo.

RICARDO – Prazer em conhecer.

LUCIANA – O prazer é todo meu.

Luciana obedece ao seu desejo e começa a passar sua mão pelo tronco de Ricardo. Guto estranha a atitude de Luciana, enquanto Ricardo apenas olha para a mão dela. Ele levanta a cabeça, encarando-a, enquanto ela sorri para ele.

Ricardo segura a mão de Luciana e se afasta dela.

LUCIANA – Tu é tão lindo… do meu lado, ficaria melhor ainda…

RICARDO – Calma. A gente ainda não se conhece direito, esse nível de intimidade não se alcança assim. Calma, tá, Luciana? Tudo tem seu tempo.

LUCIANA – Tá certo… se for pra esperar, eu espero…

Luciana dá um beijo no rosto de Ricardo e tenta escapar para a boca, mas ele desvia. Ela não insiste.

GUTO – Ela é assim mesmo. Se tu continuar se incomodando é pior, aí é que ela vai ficar te marcando.

RICARDO – Tenho muitos motivos pra me incomodar com uma mulher desse jeito, Guto…

Guto encara Ricardo, que desvia o olhar.

CENA 02: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens do Aeroporto Internacional Pinto Martins.

Câmera onboard em um ônibus passa pela Avenida Mister Hull.

Duas crianças são fotografadas em frente à Praça do Ferreira.

CENA 03: PRAÇA DO FERREIRA/EXT./TARDE

Gustavo, Guto, Helena, Luciana e Ricardo caminham pela praça, conversando, até pararem perto da calçada.

GUTO – Vamos começar o ritual de recepção do novo membro da Corrente. Primeiro de tudo, Ricardo, você gostaria de comer alguma coisa? Sei lá, um cachorro-quente, um sorvete…

RICARDO – Um sorvete de chocolate seria uma boa pedida.

Todos sorriem para Ricardo.

CENA 04: SORVETERIA/INT./TARDE

Guto, Luciana, Ricardo, Helena e Gustavo fazem um círculo em volta de uma mesa. Cada um com sua taça de sorvete de chocolate.

GUTO – Primeiro passo: passar uma boa imagem ao novo membro. Se ele quiser um sorvete de chocolate, todo mundo pede um sorvete de chocolate, para mostrar a ele o quanto o grupo é unido.

Helena pega uma colherada da taça de Guto, que não reage.

GUTO – A união é tanta que alguns podem tomar um pouco do lanche do outro. Somos tão unidos que não existe “é meu”, existe “é nosso”.

Luciana pega uma colherada da taça de Ricardo, que resolve não reagir, mostrando sua interação com o grupo.

GUTO – Vejo que já tá entrando no espírito da Corrente, né?

Todos riem.

LUCIANA – Qual é a sua idade, Ricardo?

RICARDO – Dezoito. Fiz dezoito ontem.

HELENA – A história da família do Ricardo é bem interessante. Se não for muito invasivo, ele bem que podia contar pra gente, não é?

RICARDO – Ai, conta tu que já sabe…

Eles riem e continuam conversando. Porém, Luciana está dispersa, dedicando todas as suas atenções a Ricardo. A moça se encanta pelo sorriso do rapaz que por vezes escapa durante a brincadeira, desce seus olhos até os seus braços. SLOWMO: Ela volta seu olhar para cima e se surpreende quando Ricardo se vira para ela; a surpresa é maior quando Ricardo se aproxima, põe a mão no seu rosto e começa a beijá-la; Luciana não resiste e começa a passear a mão pelo corpo de Ricardo.

CÂMERA NORMAL: Corta. Luciana está de olhos fechados, imaginando aquela cena. Ricardo estala os dedos na sua frente, acordando-a do transe.

LUCIANA – Hã? O que aconteceu?

GUSTAVO – Dormindo em pé, Luciana?

LUCIANA – Não… nada não…

HELENA – Parecia que tava era com sono.

LUCIANA – Não, não foi nada. Vai, continua.

Os focos vão para Helena. Luciana, ao contrário, continua observando Ricardo.

HELENA – Então, como eu ia dizendo… o Ricardo tinha me dito que o tio dele passou uns vinte anos vivendo no Rio de Janeiro.

RICARDO – Verdade. E a gente não passava muito tempo sem notícias dele, ele sempre escrevia pra minha mãe. Eu já li várias dessas cartas, eu percebia que ele gostava muito da minha tia Patrícia, mas pelo que a Talita me falou, parece que ela não gostava tanto dele assim não.

E a conversa continua.

CENA 05: FORTALEZA/EXT./TARDE

Imagens da Avenida Borges de Melo.

Imagens da Rua Cônego de Castro.

Imagens da Lagoa da Maraponga. Está anoitecendo.

Imagens da fachada da Mansão Andrade da Costa.

CENA 06: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE ALICE E GABRIEL/INT./NOITE

Gabriel está sozinho no quarto, assistindo televisão, deitado na cama. Batem à porta, e Gabriel abaixa consideravelmente o volume da televisão e se levanta.

GABRIEL – Pode entrar…

A porta se abre. É Igor. Gabriel o encara com um olhar neutro, enquanto Igor evita olhar nos olhos do pai. Suas expressões indicam que ele acabou de acordar.

GABRIEL – O que deseja?

IGOR – Eu fiz o que não devia, não foi?

GABRIEL (irônico) – Não, imagina… só destratou nossas novas visitas e me desrespeitou diante das mesmas. Nada grave…

IGOR – Mas o senhor há de convir: não seria normal se todos nós reagíssemos bem à entrada de estranhos dentro de casa. A presença de visitas em casa que geralmente não frequentam os mesmos lugares que nós por muito tempo já não agrada a todos, então imagine a notícia de que gente que nunca vimos na vida vai passar a morar com a gente, vai passar a frequentar os mesmos lugares que nós todos os dias e todo o tempo…

GABRIEL – Um dia você vai entender por que eu fiz isso. Você e a sua mãe vão me entender. No meu lugar, vocês fariam a mesma coisa, eu tenho certeza disso.

IGOR – Do que o senhor está falando?

GABRIEL – Ainda não é o momento de falar disso, Igor. Estou procurando o melhor momento para abrir o jogo com você e com a sua mãe. Apenas esperem por mim, ok?

IGOR – Tá bom…

GABRIEL – O que você queria mesmo, Igor?

IGOR – Por mais que o senhor tenha criado um ambiente um pouco… como direi… diferente para todos nós, eu admito que eu fiz coisa errada. Eu poderia ter agido diferente se tivesse em meu juízo perfeito. Não que eu esteja querendo jogar a culpa em cima do álcool, mas o senhor há de concordar comigo que eu realmente não estava em meu juízo perfeito, não estava sóbrio. Enfim, o que eu quero é saber se eu tenho o seu perdão pela maneira como eu tratei o senhor… posso não lembrar direito do que eu fiz, mas, segundo as suas próprias palavras, eu lhe desrespeitei. Queria saber se eu tenho o seu perdão, se o senhor aceita os meus pedidos de desculpa.

GABRIEL – Bem… isso é reincidência, você sabe disso, não é? Se você estiver realmente disposto a mudar isso, eu aceito. Mas eu acredito que você só ficará leve se conseguir o perdão do Luís e da Maria… acertei?

IGOR – Sim. Eles ainda estão por aqui?

GABRIEL – Ainda não saíram desde que chegaram. E não acho que saiam ainda. Eles ainda não conhecem nada além dos portões do jardim, devem ter medo de andar por aí, principalmente à noite. No lugar de onde eles vieram, sair de casa à noite é andar sob a proteção da Lua, e ela não protege contra armas de fogo.

Igor sorri para Gabriel e, então, se retira do quarto do pai, deixando-o sozinho em cena.

GABRIEL – O Igor é um caso especial… ou ele finge muito bem, ou ele não sofre ressaca quando bebe.

Gabriel ri do próprio comentário.

CENA 08: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/COZINHA/INT./NOITE

Fátima e Luís supervisionam o trabalho das cozinheiras da mansão.

LUÍS – Na casa da minha mãe, a gente não tinha cozinheira não. Quando batia a fome, a gente ia lá na cozinha, pegava o que tinha na geladeira ou no armário e fazia o que dava. Aprendi sozinho a fazer arroz, feijão, macarrão…

FÁTIMA – Mas a comida das cozinheiras é melhor que a que você fazia?

LUÍS – Sim, sem sombra de dúvidas. Afinal, elas foram preparadas pra isso, né?

FÁTIMA – Melhor que a da sua mãe?

LUÍS – Comida de mãe é comida de mãe, né? Sempre é a melhor de todas.

Fátima e Luís riem.

FÁTIMA – Sabe, Luís, eu achei que você e a Maria demorariam mais tempo para se acostumar a morar aqui…

LUÍS – Se acostumar é uma coisa. Se adaptar já é outra. A gente já se sente à vontade em andar por todos os lugares, mas agora sair da mansão a gente ainda não sai. Alguém tem que ir com a gente pra apresentar a região… e a Helena já combinou de fazer isso.

Fátima e Luís sorriem um para o outro.

CENA 09: MANSÃO ANDRADE BASTOS/SALA DE JANTAR/INT./NOITE

A mesa de jantar é imensa, mas apenas duas cadeiras são ocupadas: na ponta da mesa próxima à saída da sala, estão sentadas Cassandra e Débora, conversando.

CASSANDRA – Débora, você tem todas as armas que você precisa para chamar a atenção do seu primo. Você é uma moça linda, educada, inteligente… Percebi também que vocês dois tem gostos parecidos. Parece-me que essa união tem tudo para dar certo, só basta você convencer o Igor disso.

DÉBORA – Eu sei disso, vó. Acontece que eu ainda não sei como eu posso fazer isso.

CASSANDRA – Mas, pelo que você me falou, essa tal de Maria sabe. Se até uma favelada que não tem nenhum grau de instrução consegue chamar a atenção do Igor, é claro que você também consegue, e ainda consegue fazer melhor do que ela. E caso você não consiga, sem problemas, apenas observe o jogo da tal Maria para virar o jogo ao seu favor. Se tudo isso falhar, não se esqueça de que o Pedro Igor é amigo confidente de qualquer bebida alcoólica.

Débora apenas encara Cassandra, que lhe devolve um sorriso.

CENA 10: FORTALEZA/EXT./NOITE

Imagens da Praia do Futuro. Está amanhecendo.

CENA 11: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/SALA/INT./MANHÃ

Gabriel desce as escadas da mansão, vestindo roupas mais simples que as usadas anteriormente. Ao mesmo tempo, Fátima vem pelo portão de entrada. A governanta chama a atenção do patrão, que prontamente vai ao seu encontro.

GABRIEL – Fátima, o café da manhã já está servido?

FÁTIMA – Ainda não, Gabriel. A família costuma acordar mais tarde.

GABRIEL – Na verdade, fui eu que acordei mais cedo mesmo.

Os dois riem.

GABRIEL – Fátima, percebi que você está tendo maior intimidade com a Maria e com o Luís do que eu. O que é meio lógico, afinal eu não passo o dia inteiro em casa.

FÁTIMA – Onde o senhor quer chegar?

GABRIEL – O Luís e a Maria estão se adaptando bem?

FÁTIMA – Melhor do que eu imaginava. Posso lhe garantir que, daqui a um mês, eles estarão iguais ou até piores que o Gustavo e a Helena… frequentando os mesmos espaços, falando a mesma língua, se relacionando com os mesmos amigos…

GABRIEL – Que bom… estou muito feliz em ouvir isso… era justamente isso o que eu queria…

FÁTIMA – Que mal lhe pergunte… mas por que você trouxe o Luís e a Maria para cá? Longe de eu querer lhe criticar ou até mesmo pôr em xeque a sua fidelidade à Alice, mas eles são seus filhos ou algo do tipo?

GABRIEL – Não, Fátima, eles não têm nenhum parentesco comigo. Eu não sou pai deles, nem tio, como eles costumam me chamar. Digamos que eu estou apenas fazendo um favor a uma amiga, oferecendo aos filhos dela o que ela nunca poderia lhes oferecer. A chance de ter uma vida digna longe de uma área suburbana.

FÁTIMA – Então, o senhor está dando uma de padrinho deles?

GABRIEL – Basicamente sim. Não que eu realmente seja, mas sim. Olha, Fátima, eu não pensaria duas vezes em estender a mão para qualquer pessoa com necessidade, mas o caso do Luís e da Maria é especial. O caso deles requereu tratamento diferenciado.

FÁTIMA – Por quê?

GABRIEL – Digamos que eles estão aqui por influência minha.

FÁTIMA – Conte mais.

GABRIEL – Eu era amigo de infância da mãe deles. passamos boa parte da nossa infância e adolescência convivendo juntos. Só que o destino acabou nos separando. Eu tentei ajudá-la enquanto pude, mas ela sempre recusou a minha ajuda… dizia que não se sentia bem em ser ajudada. E agora que nós nos reencontramos, eu a convenci a tentar oferecer aos filhos dela a vida que ela não quis ter.

FÁTIMA – Meio difícil de entender.

GABRIEL – Pois é… mas graças a Deus que eu consegui convencê-la, Fátima. Eu jamais me perdoaria se eu visse os dois sozinhos no mundo, lidando com a mesma vida de necessidades que a mãe.

FÁTIMA – Não entendi…

GABRIEL – Parece que a Micaela sofre de problemas cardíacos. Como ela passa necessidade, ela não teve como tratar esses problemas… sequer deve saber do que se trata. Como ela não aceitaria a minha ajuda, então é bem provável que ela tenha pouco tempo de vida.

Silêncio em cena.

CENA 12: MANSÃO ANDRADE BASTOS/SALA/INT./MANHÃ

Tocam a campainha. De início, ninguém atende. Tocam novamente, e então Débora vem descendo as escadas. Usando um vestido simples, ela desce correndo.

DÉBORA – Calma que o Brasil é nosso!

Débora abre a porta e se surpreende ao saber que se trata de Luciana. A moça está maquiada e bem arrumada, com um belo sorriso no rosto.

DÉBORA – Eu não acredito que você está montada desse jeito em plenas 6 horas da manhã…

LUCIANA (animada) – Sim.

DÉBORA – E pra que essa pressa toda para entrar? O Temer ainda nem caiu…

LUCIANA – Miga, o que vai cair é o teu queixo quando eu te falar o que aconteceu ontem.

DÉBORA – Então entra e me conta tudo.

Débora abre espaço para Luciana entrar. Ela fecha a porta e as duas se sentam no sofá.

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DÉBORA – Quero saber de todos os detalhes desse babado, não me esconda nada.

LUCIANA – Primeiro, por que é que você não foi para o encontro da Corrente?

DÉBORA – Teve encontro da Corrente ontem?

LUCIANA – Não te avisaram?

DÉBORA – Se tivessem me avisado eu teria ido, né, sua anta?

LUCIANA – Enfim, eles fizeram um encontro para receber o novo membro da Corrente. Mas mana, que boy magia era aquele? Era a coisa mais linda desse mundo, o homem dos meus sonhos, fiquei até toda—

DÉBORA – Esse tipo de detalhe eu dispenso, Luciana. Se você vier com mais alguma gracinha, eu vou logo avisando, bata na sua cara antes que eu bata.

LUCIANA – Credo, Débora, nem parece que você é minha amiga…

DÉBORA – Eu tô só te avisando… para com essas palhaçadas, senão eu esqueço que você é a minha melhor amiga e meto a mão na tua cara. Hoje os meus níveis de paciência com gente chata não foram repostos, achei que você já tinha percebido isso.

LUCIANA – Miga, eu acho que eu tô apaixonada por esse garoto. Se ninguém me segurar, eu sou capaz de cometer uma loucura.

DÉBORA – Loucura você comete por qualquer coisa, então eu nem me surpreendo. Você pelo menos sabe o nome dele?

LUCIANA – Ricardo.

DÉBORA – E como é que ele é?

LUCIANA – Jovem, gatíssimo, definido, cabelos negros, branco… me lembrou sabe quem? O Roni daquela novela, “Mil Acasos”… é um a cara do outro.

DÉBORA – Sério?

LUCIANA – Sério, eu não tô inventando.

Débora e Luciana continuam conversando, mas agora a um volume inaudível.

CENA 13: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens da Lagoa da Maraponga.

Câmera onboard de um ônibus saindo de um terminal.

Imagens da fachada da casa de Larissa

CENA 14: CASA DE LARISSA/SALA/INT./MANHÃ

Ricardo está sentado no sofá, jogando uma bola de tênis para cima e resgatando-a repetidas vezes. Em pé está Jonas, conversando com Ricardo.

JONAS – Achei muito engraçado que você ganhou novos amigos e eu nem sequer sabia.

RICARDO – Quer entrar pro rol de fiscais da minha vida pessoal?

JONAS – Não é isso, Ricardo. Eu só queria conhecer seus novos amigos também. Queria fazer parte do seu novo grupo de amigos.

RICARDO – Ah, tá com ciúmes deles, né? Fica tranquilo, Jonas, eu não vou te trocar por nenhum deles. Tu e o Dimas vão continuar sendo os meus namorados. Se tu quiser, eu posso conversar com eles, quem sabe eu consiga te apresentar ao grupo, te botar lá dentro também?

JONAS – E é exatamente isso o que eu quero. E eu tô tranquilo quanto a isso, eu sei que tu não vai me trocar, é só porque eu também queria fazer parte do teu novo círculo de amizades, como sempre aconteceu.

RICARDO – Não, pode deixar, tu vai fazer parte sim. Só tenha um pouquinho de paciência.

JONAS – Paciência? Ricardo, o que é paciência? É aquele jogo de cartas?

Ricardo ri de Jonas, mas não lhe responde. Jonas espera que Ricardo lance a bola de tênis novamente para roubar-lhe a bola enquanto ela está no ar.

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RICARDO – Ei!

JONAS – Quer? Então vem pegar.

Jonas se distancia de Ricardo, obrigando-o a levantar-se do sofá e tentar recuperar a bola. Jonas começa a correr pela sala, fugindo de Ricardo.

RICARDO – Jonas, para com essa viadagem, me dá essa bola…

JONAS (rindo) – Tá me chamando de viado, Ricardo? Sério?

RICARDO – Não me deixa mais irritado do que eu já tô! Me dá essa bola!

JONAS – Já disse, vem pegar!

RICARDO – ME DÁ A PORCARIA DESSA BOLA!

Jonas se esquiva novamente de Ricardo e se escora no corrimão da escada. Ele levanta a bola e se desvia para o lado, indo de encontro aos degraus da escada, sendo seguido por Ricardo, que se mantém em sua frente, impedindo sua fuga.

Jonas está de costas para o degrau da escada. Ricardo avança, mas Jonas desvia, subindo os primeiros degraus. Ricardo avança novamente e Jonas tenta desviar, mas acaba escorregando em um degrau e caindo de costas na escada.

RICARDO – CARAMBA! Jonas, tu tá bem?

Ricardo tenta ajudar Jonas a se levantar, mas ele dispensa a ajuda, levantando-se sozinho e caminhando até o centro da sala, mancando.

RICARDO – Tu tá bem, cara?

JONAS – Tô. Não quebrei nada não, tá doendo porque eu bati as costas mesmo, mas não foi nada demais.

Os dois ficam calados. Percebendo que Ricardo ainda está preocupado, Jonas se aproxima do primo.

JONAS – Não precisa se preocupar, Ricardo. Eu tô bem. Na verdade, eu esperava outra reação de ti.

RICARDO – Outra reação?

JONAS – Eu achei que tu ia rir de mim por ter caído feito a Dilma.

Ricardo luta para não rir do comentário de Jonas. Ao perceber que não vai resistir, ele vira o rosto, mas não consegue rir silenciosamente. Como consequência, Jonas acaba rindo também. E, por fim, os dois gargalham juntos e se abraçam.

RICARDO – Já falei que te amo, primo?

JONAS – Já…

RICARDO – E tu me ama?

JONAS – Sim…

Os dois se apartam do abraço e vão para o corredor, saindo de cena.

CENA 15: FORTALEZA/EXT./MANHÃ

Imagens do Centro da cidade.

Câmera onboard de um veículo de cores negras passeando pela Avenida Borges de Melo.

Imagens da fachada da mansão Andrade Bastos.

CENA 16: MANSÃO ANDRADE BASTOS/SALA/INT./MANHÃ

Débora e Luciana ainda estão conversando.

DÉBORA – Eu nem sei o que dizer depois de tudo isso…

LUCIANA – Mas eu sei. Me dê todas as dicas que você tiver para eu conquistar esse boy. Quero esse gostoso na minha cama pra ontem!

DÉBORA – Mas queridinha… mal viu a mudinha e já quer ter a árvore?

LUCIANA – Mana, eu tenho que ser rápida. Um garoto desses não dura muito tempo solteiro, não! Quero botar minha coleira nele antes que outra vagabunda venha botar os olhos em cima. E do jeito que esse mundo tá, é bem capaz de eu perder ele pra outro homem!

DÉBORA – Mas Luciana, me responde uma coisa. O Ricardo te deu bola?

LUCIANA – E outra coisa: se ele já tiver dona, eu faço questão de acabar com a festa dessa ordinária e levar esse gato pra tomar leite na minha casa!

DÉBORA – Chocada! Pois saiba que você tem todo o meu apoio. Invista nele, amiga. Estude-o, conheça todos os seus gostos, só assim você pode conquistá-lo.

Débora e Luciana sorriem uma para a outra. A cena congela em um efeito dourado nos rostos das duas.

FIM DO TERCEIRO CAPÍTULO.

34 thoughts on “Mundos Opostos – Capítulo 03

  1. tentando com todas as forças frear meu instinto machista de chamar a Luciana de puta

    Gabriel está me irritando com esse segredo, assim não dá pra defender.

    Mortíssima com a referência a Mil Acasos, confesso que não consegui evitar uma risada.

    Essa relação entre o Jonas e o Ricardo é bem… estranha, morro. Sempre sinto um clima a mais que amizade no ar 😛

    Quero só ver o que a Luciana vai fazer pra tentar fisgar o Ricardo.

    Parabéns, Glauce, ótimo capítulo, assim como os outros 😀

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    • Continue tentando, amore, a senhora não vai querer ir pro fórum de justiça por causa de processo pro danos morais.

      Uma falta de tempo.

      A web acabou, mas os acasos continuam ocorrendo.

      Eles se conhecem desde o dia em que nasceram, foram criados juntos, têm os mesmos gostos, o mesmo tipo sanguíneo, a mesma mentalidade, o mesmo tamanho de (opa!)… enfim, eles cresceram de um jeito que, ou eles se odiariam profundamente, ou se gostariam ao ponto de parecer mais amantes que amigos. E eles escolheram se gostar… mas mana, a senhora não é a única que sente isso, o Dimas também, por isso ele morre de ciúmes 😛

      Pois muito obrigada, Esmas :* 😀

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  2. Atualizado, adoramos? Pois bem, farei um breve comentário sobre os acontecimentos iniciais. Quando vi os créditos finais, me surpreendi ao saber que “Mundos Opostos” foi baseada numa obra de Inés Rodena. Como o currículo dessa autora mexicana é mais extenso que a Muralha da China, eu gostaria de saber qual obra vosmecê se inspirou? Seria “Maria do Bairro”? Digo isso porque senti algumas pequenas semelhanças, como o fato do Gabriel abrigar dois estranhas em sua residência, isso me lembra o Fernando abrigando a Maria. Bom, dos outros núcleos, menciono a forma aberta e livre que a trama retrata as relações pessoais entre todos os personagens, no sentido de seus sentimentos e sexualidade. Sobre o tamanho dos capítulos, está havendo uma diminuição, o que torna mais agradável a leitura. E seu texto é afiado, rigorosamente com a ortografia, o que eu prezo muito. Parabéns Glay, ansioso pela sequência! 😀

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    • Vamo soltar fogos de artifício? Ai vamo.

      E acertou, adorassem. É Maria do Bairro sim.

      É algo que eu observo muito no meu círculo pessoal: a livre expressão de sentimentos e pensamentos, mesmo quando se fala brincando (ou “frescando”, como dizem aqui)… ficou bem real, principalmente porque é algo mais visto entre os personagens jovens (onde justamente eu mais vejo isso, por isso eu meio que falei no capítulo de OPVD que o Abner tem um comportamento mais condizente com a geração do pai dele e até mesmo da avó).

      A voz do povo é a voz de Deus. Eles pediram capítulos mais curtos, e eu tô fazendo isso, sem que eu observe queda de qualidade ou mutilação na história.

      Muito obrigado, Airton ❤ 😀

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  3. Genteeeeeeeeeee, chocado com esses acontecimentos. E vamos devagarinho, com muito amor e carinho, comentar cada um bem gostosinho.

    E vou começar por dizer que eu entendi o significado de “Câmera onboard”! Antes eu pensava que era algum mistério, mas depois entendi 😛 Chocado que a Débora chegou chegando. Eu pela chamada não imaginava que ela seria uma vilã assim 😮 Essa preconceituosa 😠 E sobre esse meu comentário na chamada: “Não conseguir ver a Debora como vilã…” eu RETIRO O QUE DISSE 😛 O Igor me parece ser aquela pessoa que age para depois pensar… A prova disso é que ele pediu desculpas ao Gabriel, então ele deveria se poupar e ficar com a Maria, grato.

    Déboraaaaaaa rainha ❤ “Calma que o Brasil é nosso!”, E pra que essa pressa toda para entrar? O Temer ainda nem caiu…, “Se você vier com mais alguma gracinha, eu vou logo avisando, bata na sua cara antes que eu bata.”, “Mas queridinha… mal viu a mudinha e já quer ter a árvore?” GRITOOOOO com as frases dessa maravilhosa. ❤ E digo mais, bem que a rainha poderia deixar o preconceito de lado, né? E tenho uma mensagem para ela: Temos que gozar uma vida de paz e amor, demorô! 😉

    Amei a citação a Mil Acasos, socorro ❤ Guto é o who mais querido de todos whos sim 😍 Vale lembrar que não entendi muito a piada da camisa dele “Se eu sou o que como, então eu sou trans?” pode me explicar? Péssima situação para essa piadinha com o Ricardo, hein, Guto? 😛 Morto com essa “Corrente”… “Somos tão unidos que não existe “é meu”, existe “é nosso” – Então se ele tiver uma namorada é de todos? Quase um surubão, adorooo 😂 😛

    Eu digo e repito: Jonas e Ricardo não passa de amizade. Eu sei que eles tem ums música deles na trilha e o palco todo montando para eles, mas definitivamente NÃO! Eles são só amigos. E não entendi o motivo do Ricardo não contar para “Corrente” que namora o Dimas, mesmo vendo que Luciana estava dando “em cima” dele. Será vergonha? 😮

    ALGUÉM CANCELA A LUCIPUTA? Ela pode ficar com quem ela quiser, os direitos são iguais, né non? Porém nem conhecer a pessoa e tentar beijar, tocar nas partes censuradas e várias outras coisa é de mais. Quero nem ver o tombo quando ela souber do Ricardo e Dimas. E não vou mentir, adoroooo. E se Ricardo ceder a Luciana eu ja aviso senhor Glay, bata na sua cara antes que eu bata. E Luciputa eu te imploro, para de passar vergonha.

    (Cadê o gif da Glória Maria “para de passar vergonha, eu te imploro” quando a gente precisa?)

    Parabéns Glay 😀

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    • Grito com a língua mordida. E realmente, o Igor é meio inconsequente… agora imagina quando ele bebe umas e outras? A coisa despiroca de vez.

      A web acabou, mas os acasos continuam. Quanto à piada: se ele come mulher, então ele é homem, mulher ou trans? E mort, umas explicações furadas, BOA GUTO!

      Quanto a ele manter “segredo” sobre o namoro com o Dimas… claramente ele não teve tempo de se pronunciar. Temos que armar o espetáculo da tombada da Luciana, né non?

      E muito obrigassem, Flavin :* ❤ 😀

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