Ovelha Negra – Capítulo 09

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Episódio 9: A Volta da Ovelha Perdida.

Doutor Sérgio: Desculpe amor. Mas não poderia deixar este corpo sem antes prova-lo. Temos que ser breves. Gostaria que me dissesse: “Se me ama, pare”. Sempre sonhei em fazer amor com você, olhando em seus olhos.

Sérgio começa a penetração olhando nos olhos do cadáver de Ângela ele a beija na boca.

Cena 1 Ilha – Manhã/Chuva fina.

Edmundo fumando, observa os rochedos.

Edmundo: Quantos ainda faltam? Quantos ainda precisam cair pra que a minha vez chegue? Oito ovelhinhas mascavam chiclete, uma foi passear,

então sobraram sete.

Irene chega por trás.

Irene: Contando as ovelhas?

Edmundo: Que susto você me deu!

Irene aponta seu cigarro, Edmundo acende o dela com isqueiro.

Irene: Anda muito assustado!

Edmundo: E você não? Ou acha que tudo isso, essa casa, essa ilha, essas mortes não preocupam?

Irene: Sabe Edmundo, estamos nós dois aqui. E eu sei que não sairemos daqui hoje. Impossível que algum barco chegue aqui com esse tempo. Quatro corpos embrulhados, e um desaparecido. Seis ou sete pessoas. E um de nós está jogando brilhantemente esse jogo. Se estivéssemos numa roda de apostas, quem você apostaria ser?

Edmundo olha maliciosamente pra Irene.

Edmundo: Vejo que está excluindo nós dois de sermos o assassino.

Irene: Óbvio.

Edmundo: Claro. Se for você, essa sua brincadeira de apostas serviria pra me enganar. Ou talvez, esteja tentando descobrir algo de mim.

Irene: Não acredito que seja você. Tenho 70% de certeza que não é você.

Edmundo: (ri) A mesma porcentagem que penso de você. Tá bom, vamos lá: Quer um palpite meu? Pra mim é o advogado.

Irene: (ri maliciosamente) Sério? Por quê?

Edmundo: Acho ele o tipo de cara bem inteligente. Frio, calculista, um grande jogador de xadrez. O cara que põe lenha na fogueira e depois sai de perto pra ver os gravetos se queimarem. E parece que tem dado certo pra ele. Você? Quem aposta?

Irene: Antes, achava que fosse Egídio. Depois: você. Mas como aposto minha vida agora, 60% de certeza que é o doutor.

Edmundo: (pequeno sorriso discreto) Bom palpite! Justifique.

Irene: A peste da tia Laura morreu por ter ingerido alimento proibido. Ele era o único que poderia saber das restrições dela. Depois Jayme

aparece morto, porque alguém pode ter jogado água nele. Sendo que o doutor havia pedido ao Jayme na noite anterior que não deixasse a casa ao léu, devido ao problema elétrico. Depois Clotilde, que tomou um remédio que ele havia deixado pra ela. A coitada deve ter tido uma queda de pressão e rolado as escadas. Egídio deve ter fugido do doutor. E agora, Ângela morre com agulhadas de veneno no pescoço, certamente dadas por um médico. Típico cara de crime passional. Logo após ele, Sérgio, ter o seu coração partido, após ver a amada nua com outro. Eu vi o ódio nos olhos daquele homem, quando ele chegou naquela sala e presenciou os dois nus. Crime passional.

Edmundo: Poderia até ser. Mas e as outras mortes? Se ele matou as outras pessoas, essa tese cai por terra. A não ser que ele seja um grande serial killer.

Irene: Então não acredita em crime passional?

Edmundo: Não nesse caso. Quem cometeu esses crimes, o fez de caso pensado. Não por emoção da hora. Volto a dizer, que acho que o advogado seria o cara mais certo pra isso. Embora, Sérgio também me pareça frio demais. Ele nem se preocupou em sair com a gente pra procurar Ângela. Talvez você esteja certa. Talvez seja ele, sim.

Irene: Seu palpite é bem coerente. Mas estamos nos esquecendo de outra coisa.

Edmundo: (nervoso) Que coisa, Irene?

Irene: Amanda e Alex. Sabemos muito bem que os dois já fizeram coisas terríveis no passado. Alex era sócio de uma joalheria. Amanda era noiva do tal sócio do Alex, um tal de… Bruno Soares. O sócio acabou morrendo na explosão da joalheria, no momento em que nenhum dos dois estava presente. Eles ficaram com o seguro, enquanto o sócio agora come capim pela raiz. Lembra?

Edmundo: Sim. Isso foi há alguns anos. Amanda era noiva do tal sócio. E depois casou com Alex.

Irene: Sem contar o ódio imenso que Alex sempre sentiu pela mãe.

Edmundo: Mas a ponto de mata-la?

Irene: Alex sempre fez o que Amanda mandava. Me admira o fato dele ter uma amante. A não ser que…

Edmundo: A não ser o quê?

Irene: Que todo aquele escândalo da noite de ontem. Do flagrante. Que tudo não tenha passado de uma encenação. Um plano dos dois.

Edmundo: Será?

Irene: Ou então… Amanda realmente não sabia que Alex a traía. E talvez a parceria dos dois tenha se rompido agora, depois do que aconteceu.

Edmundo: Acredita mesmo em parcerias?

Irene: É provável que sim. Talvez tenhamos alguma dupla formada às escondidas.

Edmundo: Ou talvez o assassino não precise da ajuda de ninguém.

Irene: Só se ele for bastante inteligente, independente. Assim como você sempre foi. Não é?

Irene olha pra Edmundo com desconfiança.

Irene: Bom. Vou lá pra dentro. Essa chuvinha tá me dando frio.

Irene vai andando.

Irene: (sussurrando pra si mesmo) Jogar verde pra colher maduro. É assim que se joga esse jogo.

Edmundo fica a olhar Irene.

Edmundo: (sussurrando pra si mesmo) Droga! Acho que falei demais!

GRITOS DE AMANDA PEDINDO SOCORRO.

EDMUNDO CORRE PRA PERTO DA CASA.

Cena 2 Ilha Manhã/Chuva fina.

AMANDA FICA REFÉM DE EGÍDIO QUE ESTÁ ATRÁS DELA COM UMA FACA NO PESCOÇO. TODOS CHEGAM.

Amanda: Me solta, pelo amor de Deus, não me mata!

Edmundo: Egídio! Você está vivo? Como pode estar?

Egídio: Egídio não morreu! Egídio não morreu! Egídio vivo! Egídio se escondeu. Se escondeu depois que alguém deu pancada em cabeça de Egídio e me escondeu, pensando que Egídio tinha morrido. Mas Egídio, tava vivo. Egídio desmaiou. E acordou em outro lugar.

Advogado: Pancada?

Egídio: Não sei. Egídio não sabe se foi pancada, ou se foi injeção de doutor que deixou a cabeça de Egídio doendo. Egídio não tem certeza, mas acha que foi pancada.

Doutor Sérgio: Está louco! Só lhe dei calmante.

Egídio: Mas Egídio sabe agora quem é assassino.

Alex: (nervoso) Sabe?

Egídio: Egídio desconfia. Egídio não é burro. Não é demente. E Egídio já sabe como se defender. Egídio vai matar todos vocês. Um por um. Só assim Egídio se salva e ovelha negra não pega Egídio.

Advogado: Então você é o assassino? Por isso se escondeu esse tempo todo.

Egídio: Não. Egídio, não é assassino. Egídio se escondeu pra não morrer. Egídio vai virar assassino agora. Porque vai vingar morte de Ângela. E vai começar matando essa aqui.

Amanda: Seu louco! Não matei ninguém.

Egídio: Egídio viu você e advogado se beijando. Egídio viu pela janela. Alex é chifrudo. (ri)

Alex olha pra Amanda. Amanda dá cotovelada em Egídio que cai. Ela foge dele. Egídio se levanta e aponta faca pra eles.

Egídio: Vaca. Agora vou matar todos vocês.

Egídio avança pra cima dos homens que o seguram e tomam a faca dele.

Egídio: (gritando chorando) Me soltem! Malditos! Todos vocês. Não perceberam ainda? Vamos todos morrer! Estamos todos condenados. Todos condenados!

Os homens o imobilizam. Egídio continua a gritar e chorar.

Egídio: Todos condenados!

A NOITE CHEGA.

Cena 3 Sala de Jantar – Noite/Chuva.

Advogado, Doutor Sérgio, Irene, Edmundo, Amanda e Alex.

Advogado: Só espero que ele se acalme agora.

Irene: Ele está trancado no quarto lá em cima. Mas não vejo necessidade dele ficar amarrado como está agora.

Amanda: Não vê necessidade? É porque não foi você quem ele tentou atacar.

Alex: Não era você Irene, que desconfiava dele? Não dizia que achava que ele fosse o assassino.

Irene: Achava mesmo. Até ter motivo pra desconfiar de outras pessoas. Minhas suspeitas caíram por terra, assim que Ângela apareceu morta. Egídio jamais a mataria. Em minha opinião, ele pode ser descartado de qualquer suspeita.

Doutor Sérgio: Você diz isso porque não conhece pessoas como Egídio. Trabalho em hospitais e clínicas psiquiátricas. Sei do que estou dizendo. Esse tipo de pessoa, que tem a cabeça como ele, possui um grande transtorno psiquiátrico. Uma dupla personalidade.

Inserts Egídio em seu quarto, amarrado à janela e à cama, com cordas. Egídio está com semblante de ódio e bufando como um touro.

Irene: Ele é só um demente mental.

Doutor Sérgio: Isso é apenas uma das faces dele. A outra, nós não conhecemos. Esse tipo de paciente pode possuir uma mente atrasada pra algumas coisas simples, como comer sozinho ou ir ao banheiro, mas pra outras, pode ser um gênio brilhante, comparado aos grandes mestres das artes, ou até mesmo a seriais killers.

Egídio: (gritando lá de cima) Doutor Sérgio, maluco! Assassino de esposa. Matou a primeira esposa. Eu vi no jornal! Sérgio maluco. Assassino.

Doutor Sérgio ajeita os óculos tentando manter a calma.

Doutor Sérgio: Pobre diabo!

Egídio: (gritando lá de cima) Otávio, defensor de assassino, comparsa do médico. Otávio, tá pegando a mulher dos outros, né safado? Advogado safado. Egídio sabe. Lobo entre ovelhas.

Advogado: (ri, tenso) Pior que uma criança demente.

Egídio: (gritando lá de cima) Alex, marido traído. Alex cornudo! Alex ovelha negra. Mamãe Laura não gostava de você. Papai também nunca gostou. Rejeitado. Filho pródigo. Ovelha desgarrada! Ovelha negra. (risos)

Alex muito nervoso, com copo na mão, bebe de uma vez.

Egídio: (gritando lá de cima) Edmundo tá armado. Edmundo tá armado! Ele vai matar todo mundo. Mas não vai usar arma. Não vai usar. O papai dele ficou aleijado. Papai aleijadinho. Edmundo vingador. Não gosta de ninguém.

Edmundo respira fundo, tremendo de raiva.

Edmundo: Se ele falar do meu pai de novo eu dou um fim nele.

Egídio: (gritando lá de cima) Amanda piranha. Matou o noivo pra ficar com Alex. Amante do advogado. Amante do advogado!

Amanda: Pronto. Ficou louco de vez!

Silêncio.

Irene: Até que enfim. Calou a boca. Cansou.

Egídio: (gritando lá de cima) Psiu, Irene, sua mãe tá te chamando aqui em cima. Ela tá te chamando. Vem afrouxar o pescoço dela, vem.

Irene se descontrola e dá um pulo do sofá, tentando subir as escadas, Edmundo a segura.

Irene: (gritando) Maldito, desgraçado! Desgraçado! Brincadeira tem limite, seu demente!

Risadas de Egídio vindo lá de cima.

Edmundo: Calma Irene. Chega!… Quem vai levar a comida dele?

Amanda: Eu que não vou. Por mim esse infeliz morria de fome.

Advogado: Já não chega de mortes? Façam o prato dele. Eu levo.

Cena 4 Quarto de Egídio – Noite/Chuva.

Egídio amarrado. Advogado entra com o prato na mão e olha severamente para Egídio.

Egídio: Ah! Você! Diabo! Diabo! Fora daqui! Fora!

Advogado fecha a porta e olha de maneira assombrosa pra Egídio.

Rosto de Egídio congela de horror. O Advogado lhe sorri de forma diabólica.

Continua…

29 thoughts on “Ovelha Negra – Capítulo 09

  1. A cena mais marcante foi a do Egídio gritando.Será que o que ele falou e viu é verdade?Egídio tem dupla personalidade,pelas palavras do Doutor Sérgio.Será que Egídio é o assassino ou não?Acho que ele não tem nada a ver com as mortes.Desconfio do Edmundo,da Irene ou do Advogado Otávio.
    Parabéns pelo capítulo!

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  2. Egídio voltou querendo vingança do assassino e tentou matar a Amanda e ainda xingou todo mundo
    E que falar desse gancho, gente? Maravilhoso
    Já me deixou ansioso para o próximo capítulo
    Parabéns, Maurício!

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  3. Em nenhum momento, minha confiança na inocência do Egídio foi abalada. E agora que ele expôs os podres de todas as ovelhas vivas, ele se transformou numa próxima vítima em potencial. Se eu não me engano, ele é o próximo da lista da Laura, né? Depois da Ângela vinha o Egídio, né?

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  4. Parabéns Maurício, ajudou bastante com as informações de Egídio. Ajudou a aumentar os suspeitos. Todos cometeram crimes, então qualquer um pode ser. Acho que o advogado vai matar o Egídio.
    Bom capítulo, mas pra entender as cenas e poder apontar um suspeito tem que ler bem devagar e ainda não é possível saber.
    Instigante. Maurício você está conseguindo fazer uma web que não é óbvia e nem bobinha. Excelente trabalho.

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