Monólogos da Ditadura – Capítulo 2

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Cena 1 – Base de refugiados (Brasil – Tarde)

Certos acontecimentos marcam os seres humanos para sempre, a vida é frágil assim mesmo, não há nada que se possa fazer para mudar isso.

Todos estavam estáticos, paralisados enquanto assistiam a cena de horror, o pai daquela menina expulsando as palavras que estavam o estrangulando, enquanto que um menino, esvaído em lágrimas começa a gritar.

RYTHUS: Alguém salve a minha irmã! – Ele olhava rosto por rosto, aquelas pessoas que formavam o círculo, nenhuma delas dera um passo para ajudar aquela família destruída. – Alguém salva ela! – Ele implorou.

Os olhos de Rythus fizeram Angelique lembrar-se de seu irmão morrendo. Ele era um jovem com um lindo sorriso, mas suas lágrimas eram mortas, eram dolorosas, e aquele sentimento corroeu o coração daquela mulher, que permaneceu paralisada.

Daskvi se aproximou de Angelique.

DASKVI: Temos que fazer alguma coisa. – Ele disse ao ouvido de Angelique, suas palavras saltaram de seus lábios e quase escorregaram no piso branco molhado de sangue.

Angelique estava pálida, e seu maior esforço estava em drenar todo e qualquer sofrimento, para que ninguém percebesse que ela estava tão destruída quanto Dionísio, ou Rythus. Ela presenciava a morte de Marissa, ela presenciava a morte de seu irmão.

Daskvi deu um passo a frente, e ela segura seu braço.

ANGELIQUE: Não…

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa Simenio aparece acompanhado de mais 3 homens vestindo umas roupas brancas e máscaras na cara, dois deles carregavam fuzis, e se dirigiram ao centro do círculo.

SIMENIO: Já chega. – Ele gritou. – Levem-nos daqui.

Simenio era perito em armas e principalmente em radiação, ele sabia que uma contaminação poderia ocorrer com a chegada daquelas pessoas. Ele era o chefe que monitorava o setor de armamentos e treinava seus soldados, além de ser o responsável por eliminar as pessoas que trouxessem riscos para os demais.

O corpo de Marissa foi retirado, enquanto Dionísio e Rythus foram levados pelos homens vestindo aquela roupa estranha.

SIMENIO: Acabou. – Ele encarava todos que estavam no círculo. – Agora saiam!

As pessoas se dispersam rapidamente. Eis que Simenio se aproxima de Angelique.

SIMENIO: Preciso conversar com você.

Os dois se encararam por segundos, e finalmente ele vira as costas para ela.

 

Cena 2 – Centro Clínico (Brasil)

Aquele era o lugar onde a vida tinha uma esperança, ou a esperança era alimentada, mas sabiam que murcharia com o tempo. Margelli era a enfermeira responsável por cuidar os doentes, muitas vezes assumindo o papel do médico, mas ela se esforçava.

Quantas vidas escaparam das mãos ágeis de Margelli? Nem a moça sabia. Em meio a tantos corpos ela poderia enlouquecer, mas talvez o ser humano já fosse louco o suficiente, o bastante para viver e morrer.

Ela caminhava até uma maca, era um imenso corredor, tinham macas a esquerda e a direita, todas divididas por uma cortina branca que separavam os leitos. Margelli afasta a cortina com uma das mãos, enquanto que a outra segurava uma bandeja.

MARGELLI: Senhora Tonica, eu trouxe sua sopa. – Ela rapidamente solta a bandeja sobre uma mesinha que ficava ao lado da maca, e pega um guardanapo branco. – A senhora está vazando, espere um momento. – Com muito cuidado e delicadeza, ela pega o guardanapo e passa pelos olhos de Tonica, de onde saia um pus amarelado e com um péssimo odor.

TONICA: Eu… – Ela começa a tossir, num de seus esforços acaba expelindo sangue sobre os lençóis daquela maca. – Eu não aguento mais. – Ela disse em meio a um suspiro.

Ninguém mais aguentava. Margelli não disse nada, a única coisa que ela não podia fazer naquele momento era desencorajar os seus pacientes. A jovem enfermeira pega um líquido que estava sobre a mesa e coloca algumas gostas sobre o olho de Tonica.

MARGELLI: Isso vai aliviar sua dor. – Ao terminar seu serviço, Margelli volta a passar o guardanapo para tirar o excesso. – Pronto.

Após dar a sopa para a velha, Margelli se retira do local, andando pelos corredores ela se depara com Daskvi indo até o centro clínico que por ela era administrado.

Ela o encarou em silêncio, ela queria que ele não se aproximasse, não gostaria de falar sobre o que estava acontecendo.

DASKVI: Margelli. – Ele a chama.

MARGELLI: Oi… – Ela tinha um tom moderado na voz, parecia abatida.

DASKVI: Como está minha mãe?

Tonica era a mãe de Daskvi, provavelmente ela ficaria cega nos próximos dias, ou pior, ela perderia a vida. Margelli não queria dar falsas esperanças, mas também não queria acabar com ele daquela forma.

MARGELLI: Eu ainda não tenho os resultados dos exames.

DASKVI: Ela… – Ele quase hesitou, existem perguntas das quais as pessoas não querem ouvir a resposta, mas insistem em fazê-las sem motivo algum. – Ela vai morrer?

Margelli tentou soltar um sorriso amarelo para amenizar o clima, e tentou colocar um tom de brincadeira em sua voz, mesmo assim ela machucou cruelmente os sentimentos de Daskvi.

MARGELLI: Todos vamos um dia, não é mesmo? – Ela desfez-se do sorriso e partiu. Os olhos de Daskvi a abandonaram e ele seguiu em direção contrária até ao centro clínico onde encontraria sua mãe.

Logo na entrada, os visitantes eram obrigados a vestir uma roupa protetora e recomendados a colocar máscaras, Daskvi sentia-se melhor com aquilo, a máscara que cobria todo o seu rosto não permitia que sua mãe o visse chorar, porém era essa mesma máscara que não o permitia dar o último beijo nela.

 

 

Cena 3 – Base de refugiados (Escritório de Simenio – Brasil/tarde)

Simenio estava sentado em sua grande poltrona de couro, e momentos depois Angelique entra.

SIMENIO: Sente-se. – Ele aponta para a cadeira logo a sua frente.

Angelique sentou-se.

SIMENIO: Angelique, eu sei que você é a responsável por manter a ordem administrativa do local, mas não quero mais que você se meta em assuntos que não lhe dizem respeito.

ANGELIQUE: Desculpe, senhor.

SIMENIO: A chegada dessas pessoas nesse lugar poderiam ter causado uma grande contaminação, a única pessoa que deveria ter sido chamada para o local era eu, não você.

ANGELIQUE: Desculpe senhor, o Daskvi que me alertou sobre o ocorrido.

SIMENIO: Esse garoto. – Simenio faz cara de revolta. – Ele é apenas um refugiado comum, pare de tratar como se fosse alguém importante, e mais. – Ele se levanta e começa a andar de um lado para o outro. – Eu deveria ser alertado logo quando você ficou sabendo do ocorrido.

ANGELIQUE: Eu peço desculpas.

SIMENINO: Eu não vou admitir que isso se repita. – Ele a encara.

ANGELIQUE: Eu já me desculpei. – Ela se levanta. – Isso não vai mais se repetir.

Ela estava prestes a deixar o escritório quando Simenio a questiona.

SIMENIO: Até quando você vai envolver seus sentimentos em suas atitudes?

Angelique não responde e sai.

 

Cena 4 – Base de refugiados

Os componentes da SOTF finalmente chegam à base. O olhar atento para todos os aspectos do lugar desperta nojo em alguns deles, e desespero em outros.

Eram pessoas que caminhavam de um lado para o outro, eram pessoas sujas, mal vestidas, estavam no coração da pobreza do mundo, definitivamente.

ULISSES: Chegamos no inferno. – Disse ele com um ar de riso. – Prepara meu jatinho, eu vou voltar.

Glay e Horácio acabam por tentar fingir que não ouviram tal asneira.

BRIAN: Esperando a Adm3298 aparecer.

ULISSES: Adm Who? – Risos.

Eis que Angelique aparece, ela acabava de sair da sala de Simenio, ela estava um pouco trêmula da conversa que tivera com o chefe de armamentos, e logo percebe cinco homens esperando na recepção, eles estavam com trajes de proteção, mas mais sofisticado que os que eles usavam na base, Angelique logo percebeu se tratar da ONG SOTF.

Seus passos são rápidos, mas quase falhos, e se dirige até o grupo.

ANGELIQUE: Sejam bem vindos. – Disse ela, em inglês.

ALF: Não precisa exigir do seu intelecto tentando falar conosco em inglês. – Disse ele com um ar de superioridade. – Nós sabemos falar português.

ULISSES: Até porque temos um brasileiro no nosso grupo, e acho que ele não fala inglês. – Ele solta uma gargalhada dando umas leves batidinhas nas costas de Horácio, que ri sem graça da piada.

GLAY: Mauvais. – Rangeu os dentes.

BRIAN: Nos leve até nossos aposentos. – Ele pediu, mas pareceu uma ordem.

ANGELIQUE: Mas é claro, me sigam.

Eles caminham por vários corredores, e se deparam com várias pessoas, sujas e maltrapilhas.

ULISSES: Esse lugar está cheio de gente moribunda.

Todos fingem não ouvir, parecia que Ulisses poderia dizer qualquer coisa que ninguém era capaz de se opor a ele, as vezes era possível criticar as autoridades de Brian como líder do grupo, afinal era o único que parecia alheio a tudo, não participava ativamente das conversas, mas quando algo lhe interessava ele rapidamente se atravessava no caminho de todos para ditar suas leis.

ANGELIQUE: Chegamos. – Ela mostra duas portas. – Aqui se encontra os quartos, lamento mas terão que dividir o quarto por um tempo.

BRIAN: Não vejo problemas.

ANGELIQUE: Cada quarto tem 4 camas, logo acredito que um de vocês ficará sozinho.

ULISSES: Claramente que sou eu.

BRIAN: Negativo. – Ele encarou cada um de seu grupo. – Ficarão 3 num quarto e dois no outro, para que nenhum de nós fique sozinho.

ALF: Parece-me uma boa ideia.

HORÁCIO: Por mim posso ficar no mesmo quarto que o Glay.

ULISSES: Isso. – Ele comemora. – Vocês dois ficam num quarto, e os verdadeiros americanos ficam em outro.

BRIAN: Acho que já está decidido então.

ANGELIQUE: Que bom que chegaram a um acordo. – Ela se despede. – Irei voltar ao trabalho, daqui duas horas volto para busca-los para apresenta-los para os refugiados.

GLAY: Até mais.

Cada um dos grupos entram em seus respectivos quartos, e Angelique volta para sua sala.

 

Cena 5 – Base Internacional (Estados Unidos)

Megan terminava um telefonema, ela acabara de receber a notícia de que os componentes do grupo SOTF haviam chegado ao Brasil, e ela triunfava mais um passo dado adiante.

MEGAN: Eles finalmente chegaram.

Ela parecia estar conversando com alguém, mas não era possível saber quem era.

MEGAN: Logo os jogos vão começar. – Ela bebe uma taça de vinho rapidamente. – Estou muito animada.

 

Cena 6 – Descarte humano (Brasil – Tarde)

Dionísio e Rythus passaram por um processo de desintoxicação, mas nem perceberam o tempo doloroso passar, estavam preocupados com Marissa. Depois de algumas horas, pai e filho se reencontram.

RYTHUS: Pai, onde ela está?

Dionísio sente um aperto no coração, nem ele sabia a respostas, e antes que ele dissesse alguma coisa, uma mulher toda de branco se apresentou a eles.

MARGELLI: Sejam bem vindos sobreviventes…

Dionísio a encarou com fúria nos olhos e salta sobre a mulher.

DIONÍSIO: Onde está minha filha?

Alguns seguranças que estavam ali próximos correm para retirar o homem enlouquecido de cima de Margelli.

Após o susto, Margelli finalmente toma fôlego para responde-lo.

MARGELLI: Sua filha está morta. – Ela tenta mostrar-se abatida. – O corpo dela está sendo descartado nesse exato momento. – Ela tenta não chocar Dionísio e Rythus, usando de palavras gentis. – Venham comigo.

Os dois a seguem por um longo corredor, até que finalmente chegam a uma sala onde várias outras pessoas também encontravam-se, algumas choravam, outras caiam no chão e tinham surtos de desespero.

Existiam choros, existiam gritos. Todos estavam desesperados. Logo a frente da sala existia um grande vidro, como se fosse uma grande televisão que mostrava o que tinha do outro lado. Era como um grande lixão, mas ao invés de lixo, existiam corpos. Alguns já estavam em um estado avançado de decomposição.

DIONÍSIO: Que lugar é esse? – Ele perguntou assustado.

MARGELLI: É onde os corpos são depositados. – Ela suspira tentando passar tranquilidade para Dionísio. – Está sala tem vista para o lado de fora, o lugar para onde não podemos ir, daqui podemos acompanhar o enterro de nossos familiares.

Rythus segurou firme a mão de seu pai, ele estava com medo, com angústia no coração.

MARGELLI: O enterro será agora.

Todas as pessoas caminham até o vidro, do lado de fora é possível ver como se existisse um deserto ali mesmo, não era possível sentir o cheiro, mas todos imaginavam que deveria ser o pior de todos.

O aterro era um grande buraco onde os corpos eram jogados, e depois lançado terra sobre eles.

Dionísio e Rythus deram passos significativos a frente, e viram alguns caminhões, daqueles mesmo que carregam pedras e terra em sua caçamba. Um deles levavam alguns corpos. Dionísio esforçou-se para poder ver sua filha em meio a tantos outros corpos falecidos e podres. Foi uma visão desconfortável.

DIONÍSIO: Filha…

RYTHUS: Onde ela está?

Ele não conseguia vê-la, então Dionísio cobriu os olhos de Rythus para que ele fosse poupado da dor de ver aquela cena.

Os corpos foram jogados, e sobre eles um pouco de terra e pedra.

A cena ficaria para sempre na memória de Dionísio.

 

Cena 7 – Quarto do Grupo 1 (SOTF)

Ulisses começou a guardar suas roupas em um pequeno armário, quando Brian o interrompe.

BRIAN: Nem guarde suas roupas aqui.

ULISSES: Como assim?

BRIAN: Você precisa ficar no outro quarto.

ULISSES: Eu não. – Ele solta um sorriso. – Quero ficar longe daqueles latinos.

BRIAN: Mas eles podem estar planejando algo contra a cúpula, e você precisa vigia-los.

ULISSES: Eu não, mande o Alf. – Ele aponta para o amigo que já estava deitado na cama, cansado da viagem exaustiva que tiveram.

ALF: O que foi agora?

BRIAN: O Alf não pode.

ULISSES: Por que não?

BRIAN: Ele leu os manuais, e preciso dele para me ajudar a formular as provas e os projetos. – Ele suspira. – Pra resumir, você leu os manuais?

Ulisses tenta desviar o olhar.

ULISSES: Eu vou para o outro lado, mas vou querer receber o dobro por ter que me sujeitar a isso.

Ulisses pega a sua mala e se retira da sala irritado.

ALF: Coitado.

Brian solta um sorriso.

BRIAN: Um idiota, mandei ele pra lá só porque ele iria ocupar muito espaço no armário, não ia caber minhas coisas aqui. – Diz Brian guardando seus pertences no armário.

ALF: Você é mesmo terrível. – Ele solta uma gargalhada.

Brian também sorri.

 

Cena 8 – Base de refugiados (Sala de Angelique)

Angelique terminava de arrumar alguns documentos quando vê a porta se abrindo e se depara com Daskvi.

ANGELIQUE: Daskvi? O que houve? – Ela corre até ele e o abraça.

Daskvi começa a chorar. Logo Angelique percebe do que se tratava, era possível que Tonica não tivesse resistido.

ANGELIQUE: Não me diga que…

DASKVI: Minha mãe faleceu… – Ele já estava no chão, estava destruído com tamanha dor que tomava conta de seu peito. – Eu nem tive tempo de dar o último beijo nela.

Era cruel para Angelique estar ouvindo aquelas palavras dolorosas, ela se emocionara novamente, e começa a chorar ao lembrar de seu irmão morrendo em seus braços.

ANGELIQUE: Chore. – Ela dizia. – Despeje toda dor sobre meus ombros.

Eles permaneceram jogados no chão, chorando… Por longos minutos.

O corpo de Tonica foi descartado naquele mesmo dia, Daskvi não foi ver o enterro.

 

Cena 9 – Quarto do Grupo 2 (SOTF)

Glay e Horácio já haviam terminado de guardar seus pertences quando a porta se abre.

ULISSES: Nem olhem pra mim.

HORÁCIO: O  que houve?

ULISSES: Vim pra esse quarto, os outros dois são chatos demais.

Glay solta um sorriso.

GLAY: Eu imagino, mas pensei que vocês fossem amigos.

ULISSES: E somos, mas não suporto gente idiota, e resolvi vim pra cá, com vocês dois que espero que não sejam tão idiotas quanto eles.

HORÁCIO: Eu também espero.

Eles continuam conversando, e Ulisses guarda suas coisas no armário ao lado de Horácio.

 

Cena 10 – Descarte Humano

Terminado o enterro, algumas pessoas precisavam de atendimentos médicos no local, precisavam ser sedadas, e outras simplesmente enfartavam por insuficiência respiratória.

MARGELLI: Devo me despedir de vocês aqui. – Ela disse a Dionísio e Rythus. – Só os acompanhei, pois deve ser a primeira vez que vocês vêm a esse local. – Ela disse numa tranquilidade, como se todos os abatidos e sobreviventes que eram hospedados na base já tivessem passado uma vez naquele lugar, e era verdade. – Qualquer problema, basta entrarem em contato comigo.

Margelli se afasta e desaparece na multidão.

DIONÍSIO: Rythus, vamos embora daqui.

Rythus colocava a mão sobre o vidro, os seus dedos faziam um desenho, era um rosto com um sorriso. Seus dedos lentamente vão descendo pelo vidro, os seus olhos estão fixos no horizonte do outro lado, eis que ele sente um toque sobre sua mão, e ele olha ao seu lado se deparando com uma garota.

Ela estava toda mal vestida, seus olhos contemplavam o vazio que existia do outro lado do vidro, ela trazia consigo um sofrimento tão grande que seus olhos exibiam a tragédia, a dor e o trauma.

Rythus se agachou até ela, enquanto Dionísio apenas observava.

RYTHUS: Você está perdida? – Ele olhou em volta, todos já tinha abandonado o local, só estavam os três ali. – Onde estão os seus pais?

A jovem garota aponta para o vidro mostrando que seus pais estavam mortos e enterrados.

Rythus desaba em lágrimas e num impulso abraça aquela menina que mal conhecia. Sabia apenas que ela era uma órfã e estava perdida, assim como ele estava perdido.

O mundo é cruel.

 

Cena 11 – Anoitecer

Assim que anoiteceu, Angelique foi até o quarto dos integrantes do SOTF, e os conduziu até o salão principal onde o palco era apresentado a milhares de pessoas que foram convocadas para receber a ONG.

 

Cena 12 – Base de refugiados (Brasil – Noite)

Angelique sobe ao palco. Para participar da recepção estavam os principais chefes de cada setor. Angelique a presidente da administração, Simenio o líder de armamentos e equipe contra radiação, e Margelli, principal responsável pelo centro clínico, cuidava e tratava as pessoas que estavam morrendo.

ANGELIQUE: Inicio minha palestra contando sobre os fatos históricos que começaram em meados de 2017, quando o Brasil enfrentou sua maior crise financeira e acabou contraindo uma dívida impagável com os Estados Unidos. O presidente das duas nações na época se desentenderam, o que acarretou no primeiro ataque, onde uma bomba nuclear caiu em São Paulo em 2018. O acontecimento mobilizou vários países da América do Sul, e América Central, consequentemente ocasionando o bombardeio dos países que se puseram a favor do Brasil. Hoje, Chile e Equador se encontram inabitáveis, países vizinhos que foram completamente dizimados por algumas bombas atômicas, enquanto que o Brasil ainda tenta resistir após o segundo ataque que ocorreu dois anos depois com a nova eleição reelegendo o presidente dos Estados Unidos, e como forma de “comemoração” e demonstração de poder, acabou por bombardear o Brasil novamente. Desde o ano de 2017 está cede vem sendo construída, com o auxílio do poder americano e das entidades da União Europeia que estão de alguma forma tentando evitar que isso se repita. Todos sabem da existência do projeto da ONG SOTF, onde os Estados Unidos envia ajuda aos países abatidos, por pura pressão dos países europeus claro.

Enquanto Angelique falava sobre os acontecimentos histórios, era possível ouvir alguns murmúrios entre os integrantes da SOTF.

ANGELIQUE: Então, o programa desenvolvido a partir da ideia da União Europeia finalmente vai nos dar uma nova chance, e essa é a deixa para apresenta-los os integrantes da SOTF.

Os cinco componentes se levantam, e são vaiados por milhares de pessoas, Simenio e Margelli evitam olhar para os cinco, e não os recebem.

Brian e Alf se dirigem ao centro do palco, enquanto Glay, Horácio e Ulisses aguardam um pouco atrás, os cinco estavam em pé, encarando a multidão enfurecida.

ULISSES: Aposto que se eles tivessem tomates sobrando eles estariam jogando em nós. – Disse ele murmurando entre um sorriso. – Coitados, afinal, se eles tivessem um tomate podre iriam comer e não desperdiça-los jogando em nós.

Glay e Horácio apenas se encaram em silêncio.

BRIAN: Silêncio por favor. – A voz dele ecoou na sala, e milhares de pessoas se calaram. Na plateia encontravam-se pessoas como Daskvi, Dionísio, Rythus, a menina órfã, entre outras milhares de vidas amargas. – Estamos aqui para salva-los, e não para sermos julgados por algo que nem fizemos. – Eles suspira e continua. – O programa estabelecido pela ONG visa a salvação das pessoas que aqui estão.

Ele encarava a todos procurando uma maneira de falar.

BRIAN: No entanto não poderemos abrigar a todos nos Estados Unidos.

Algumas pessoas começam a discutir enquanto Brian continua seu discurso.

BRIAN: O ar que vocês estão respirando atualmente é tóxico e está matando vocês pouco a pouco, e para que sejam salvos vocês precisam ser levados para outro lugar. – Ele vira uma página do manual, e continua lendo. – Para isso vocês irão passar por um processo seletivo que vai definir quem vive e quem morre.

“O que, então se continuarmos aqui vamos todos morrer?”, “ai meu Deus”, “Isso não pode ser verdade”, várias conversas e lamentações paralelas tiveram início, Brian havia encerrado seu anúncio.

ULISSES: Vejam a cara desses pessoas. – Ele soltou um sorriso. – Coitados.

Horácio estava perplexo, ele encarou Angelique e ela tinha a mesma expressão dolorosa nos olhos.

Monólogo de Angelique

Eu sabia, definitivamente eu sabia que estávamos morrendo, mas por algum motivo eu estava alheia a tudo isso, talvez porque eu já esteja morta por dentro, mas agora olhando em volta eu ainda vejo o brilho da vida no olhar de milhares de pessoas. São pessoas inocentes e merecem a chance de viver. Mas eu já não sei mais, não sei como essa chance é nos dada, não há mais justiça, não há mais esperanças. Eu lutei, lutei muito, mas agora me pego chorando internamente, eu tenho pena dessas pessoas, gostaria que Deus tivesse também.

 

 

CONTINUA…

70 thoughts on “Monólogos da Ditadura – Capítulo 2

  1. #MyAnalises

    Entendi o motivo de Angelique por não ter ajudado Merissa mais por mim foi muita crueldade!
    Coitado do Daskvi sofre por causa da mãe 😦
    Essa Margelli é uma … prefiro não comentar

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    • Pois é, aos poucos vamos conhecendo melhor a personalidade de Angelique.
      Daskvi perde a pessoa q mais amava
      Gente, Margelli uma boa pessoa…
      Muito obrigado 😀

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    • Acredito que parte do drama maior foi o aterro de corpos, espero que tenha gostado, muito obrigado 😀

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  2. #MyAnalisisTheOriginal

    Já odeio Alf, Ulisses e Brian, são três desalmados!
    Hoje conhecemos personagens novos: Margelli e Simenio
    Não queria estar na pele do Rythus nem do Dionísio, ver a filha e irmã ser descartada, nossa!
    A cena do Daskvi com a Angelique foi linda!
    Capítulo divino! Nota 10!
    Parabéns, Hivan!

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    • Sobre Alf, Ulisses e Brian, eles aparentam ser desalmados, mas existe algo de humano neles, com o tempo vamos conhece-los melhor, mas é normal não gostar deles logo de cara.
      E novos personagens serão apresentados aos poucos.
      Dionisio e Rythus sofrem a perda, mas encontram uma menina órfã que irá dar novos rumos a vida deles.
      Eu me emocionei bastante com a cena de Angelique e Daskvi, q bom que gostou também.

      Muito obrigado 😀

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  3. Coitado do Daskvi perdeu a mãe 😦
    Muito triste a cena do enterro da Marissa 😦
    Ansioso para saber qual a seleção da Ong.
    amo a descrição das cenas nos mínimos detalhes, parabéns continue assim. Mostre mais a Megan ❤ Beijos amigo 😀

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    • Infelizmente, foi uma perda muito grande pra ele.
      Uma cena de enterro forte, e desumana.
      Logo a seleção começa, não se preocupe.
      Tentarei mostrar mais a Megan, mas enfim, ela está em um núcleo de apoio, não posso garantir um grande destaque, apesar que estou muito surpreso pelo grande destaque que ela teve.
      Muito obrigado 😀

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  4. Parabéns Hivam.. Sua web esta bem envolvente.. Rs Ainda tentando me recuperar após a cena do enterro da Marissa. E como eu adoro vilões rs.. Alf, Brian e Ulisses tem tudo pra serem odiados. Kkk amei

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    • Muito obrigado 😀
      A cena do enterro de Marissa foi cruel, mas uma realidade enfrentada nas circunstâncias que a web se encontra, e também baseada em outras guerras.
      Gente, não sabia que gostava de vilões, então esse grupo vai ser um prato cheio.
      Mais uma vez agradeço, e continue acompanhando 😀

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    • Fico feliz que tenha gostado do resultado, eu tentei abordar um assunto mais impactante dessa vez, espero conseguir manter a qualidade dos primeiros capítulos, muito obrigado 😀

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  5. Achei os dois capítulos muito bons. Esse tem de distopia, um futuro em que o mundo está praticamente destruído, me empolga bastante. A morte da Marissa foi muito emocionante. Infelizmente tô sem tempo pra fazer um comentário específico, mas pode ter certeza que pretendo acompanhar esse lacre. ❤

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    • Eu me sinto praticamente nua escrevendo uma distopia, um futuro, você não tem noção de como são as coisas, e como aconteceram, é tudo novo pra mim, e confesso que estou gostando de escrever a trama, espero poder agradar a todos. E também avalio a cena da morte de Marissa como uma das melhores cenas.
      Pois ficarei aguardando, muito obrigado 😀

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  6. Que capítulo!!! Se eu considerava Víbora sua melhor web, ela está perdendo o topo do ranking para Monólogos. Cada capítulo que passa é melhor, mas envolvente, chocante… Ulisses definitivamente tem minha antipatia, que homem fdp. Angeline não é o que o primeiro capítulo apresentou Ela é mais humana, traumatizada, triste… Gente, e agora vai começar um jogo pela sobrevivência, chocado… Parabéns, Hivan 😀

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    • Eu nunca que imaginaria que você gostava tanto de Víbora Dócil, e vamos lembrar do Inácio meu personagem favorito (tá parei, mas sinto tanta saudade que nem parece que foi nesse ano). E que bom que Monólogos está superando, afinal isso significa que eu estou melhorando a forma como desenvolver a trama, o roteiro tudo, e espero continuar assim. Os personagens dos quais você falou, Ulisses e Angelique, são totalmente diferentes, Angelique pareceu ser má no primeiro capítulo, mas ela é uma mulher bondosa, já Ulisses é um tanto quanto mimado, na verdade ele não se importa muito com os acontecimentos a seu redor.
      E logo os jogos da seleção vão iniciar, espero que goste, muito obrigado 😀

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    • Gente, rainha Angelique, como pôde? kkkkkk Mas enfim, acho importante ela na organização, espero que ela lhe conquiste aos poucos também.

      Rythus e Yumi apenas amamos

      Muito obrigado 😀

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  7. Eu tô com medo de não conseguir ler e comentar especificamente a tempo, aí já vou deixando meu ponto pra não dar problema. Meus parabéns, aposto que o capítulo está uma maravilha, comento melhor depois que ler tudinho.

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  8. Excelente capitulo, e que final foi esse, Trump vs Temer, não sei quem é pior!!! Será uma premonição para 2017? Começei a diferenciar os personagens e saber quem é do bem e do mal. No mais, parabens Hivan.

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    • Deixei tudo subentendido e joguei, e vamos fazendo não é mesmo? E vamos decidindo um lado também. Muito obrigado 😀

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  9. Que web-novela fascinante Hivan, roteiro digno de seriado americano, que me recorda bastante séries como Lost, The Walking Dead e Under The Dome, talvez por aprofundar como uma série de pessoas se comportariam diante de uma situação catastrófica. Bom, vamos direto ao assunto… Esse capítulo divino…

    Simenio faz o papel do militar autoritário, o que me faz relacionar a uma ditadura verdadeiramente dita. Um homem cruel que quer estar o tempo todo no controle de tudo. Mostrando ser um homem insensível, sem nenhum sentimento, mas espero que ele demonstre ter algum sentimento humanitário nos futuros capítulos.

    Entendi também a relação de Davski e Angelique, ela vê nele a imagem do irmão que perdeu no passado, e ele encontra nela um porto seguro, isso me fez desmontar a imagem que tinha sobre eles, que era o de pessoas autoritárias, mas na verdade, é que um tem ao outro nesse cenário.

    A cena 10 me emocionou de verdade, imaginar um local de descarte humano trás junto quantas histórias acabam ali, ou começam com os sobreviventes que não são descartados por este sistema desumano. A história de Dionísio e seus filhos estão me emocionando muito.

    Cheguei a conclusão que odeio quase todos os cinco membros da SOTF, em primeiro lugar Brian, como alguém consegue ser tão frio? E se ele consegue manipular Ulisses e o enganá-lo, isso só constrói uma imagem de que esse Ulisses é só um babaca xenofóbico, porém nojento, que ocupa a segunda colocação “donos do meu ódio”. Em terceiro Alf, que tá mais pra ser um baba-ovo de Brian, inclusive apoio um casal romântico entre eles 😀
    Sobre Ulisses e Glay, me parecem impotentes a tudo isso, observam tudo calados, engolem cada sapo, mas ainda sim estão ali. QUAL É A DELES?

    E sobre esse processo seletivo da última cena, isso foi algo que realmente me assustou, nojo dessa SOTF, que está fazendo algo totalmente desumano, colocando a vida dos mais fortes sobre os mais fracos… O que me lembrou de Under The Dome, quando uma residente da cidade presa pelo domo, diante da falta de recursos, disse que seria uma boa ideia “por os jovens, crianças e velhos sobre uma árvore, quem ficasse lá e não caísse ou morresse por falta de outros recursos, seria forte e útil o bastante para a cidade”, lógico que isso é uma metáfora, mas se aplica muito bem a solução dada pela SOTF.

    Parabens Hivan, essa web é demais! 😀

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    • E não há mais vida em mim depois de um comentário como esse, pra falar a verdade a web tem muito o clima de série, mas vamos fazendo.

      Simenio é exatamente da forma como você o descreveu, vamos esperar e torcer para que nos próximos capítulos ele demostre tais sentimentos humanos, quem sabe, afinal a ditadura deve se instaurar na base, e deve ser tão cruel quanto o cenário o qual se encontram.

      Eu simplesmente amo a relação de Daskvi e Angelique, para ser sincero são meus personagens favoritos (mas não espalha kkkk), eu pensei inicialmente neles, e tentei encaixa-los em várias das minhas tramas, mas nenhuma existia um “perigo real” em que colocasse um do lado do outro em constante batalha, e quando comecei a desenvolver essa web então eles encaixaram perfeitamente, e desde então me sinto realizado trabalhando essa relação de mulher destemida protegendo aquele que ela o considera como irmão, e ele a vendo como porto seguro.

      Eu tentei fazer da cena 10, uma cena 5 do capítulo 1, e vejo que deu certo de alguma forma. Acho que é frustrante ver quando os sonhos acabam, quando o mundo acaba, e é principalmente disso que a web fala, ela fala sobre pessoas, que mesmo tendo seus sonhos mortos, continuam buscando a sobrevivência sem motivo ou razão para persistirem. Esse lugar de descarte humano é simplesmente tenebroso e eu não sabia ao certo como coloca-lo na trama, fico aliviado ao ver que consegui inserir da maneira correta e também comover.

      Sobre o grupo SOTF você está certo sobre eles, Brian o líder, e por isso ele passa por cima do Ulisses e o manda como bem entende, já o Alf não passa de um obcecado por Brian, e “puxa saco” também. Já Glay e Horácio são mais como “intrusos” no grupo, um brasileiro e um mexicano, é como se não tivesse voz ativa no grupo simplesmente porque os outros tem mais autoridade.

      E essa seleção, acredito que será da forma como todos estão pensando, é realmente para provar quem é mais forte.

      Estou emocionado com o comentário, muito obrigado, continue acompanhando 😀 😀

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  10. Coitado do Rythus e do Dionísio ver o cadáver de alguém q amam tanto ser descartado daquele jeito. Sofro
    Nojo aumenta cada vez mais com esse Ulisses…
    TIve q ler as pressas
    Parabéns
    SOCORRO

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