Mundos Opostos – Capítulo 10

Mundos OpostosCENA 01: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/CORREDOR 2º ANDAR/INT./TARDE

Maria já estava se recuperando. Porém, ao passar em frente à porta do quarto de Igor, ela se assusta ao vê-la se abrindo para a saída de Débora. As duas se surpreendem e, ao se reconhecerem, ficam se encarando.

MARIA – Não sabia que o quarto do Igor é também sala de estar…

DÉBORA – Fala a verdade… você queria essa sala de estar pra você, não é?

MARIA – Por onde foi que tu entrou? Pela janela?

Débora ri de Maria.

MARIA – Eu nunca vi galinha voar tão alto ao ponto de alcançar uma janela…

DÉBORA – Só acho que você deveria ter mais respeito pela minha pessoa, e pensar mil vezes antes de me dirigir a palavra.

MARIA – E por quê? Por acaso agora tu é a dona dessa mansão?

DÉBORA – Não por hora. Dentro de algum tempo, eu serei Débora Matias Andrade da Costa Bastos. Esposa de Pedro Igor Pires Andrade da Costa.

Maria se surpreende com a resposta de Débora, mas tenta disfarçar.

DÉBORA – Serei esposa do herdeiro do Grupo Andrade da Costa. E, com a morte do meu tio Gabriel, QUE É MEU TIO E NÃO SEU, eu serei sim a dona dessa mansão.

MARIA (debochada) – Hm, entendi… entendi tudo…

DÉBORA – O que me diz?

MARIA – Eu sei o que foi que tu fez pra conseguir chegar aonde tu tá chegando. Fazendo o que tu fez, qualquer uma consegue. É uma pena que uma moça como tu tenha se rebaixado ao nível de apelar pro golpe da barriga pra segurar homem.

DÉBORA – Como você é atrevida… atrevida não, invejosa.

MARIA – Invejosa, eu? Imagina… quer que eu te diga uma coisa? Eu duvido muito que esse seu plano funcione.

DÉBORA – Como pode afirmar com tanta certeza?

MARIA – Porque o Igor não te ama. Ele só tá se casando contigo por causa do teu bebê. E quando essa criança nascer, pode ter certeza que você vai perder ele.

DÉBORA – Mentira sua. O Igor me ama sim, e essa criança é a prova do nosso amor. Eu não vou perdê-lo coisa nenhuma!

MARIA – Quer pagar pra ver?

DÉBORA – Falando em pagar, eu vou lhe dar um conselho. É melhor você e o seu irmãozinho pegarem o primeiro táxi que passar e irem voltando para o submundo de onde vieram. Do contrário, sofrerão muito em minhas mãos.

MARIA – A gente não tem medo de ti, Débora. Quando tu levanta a mão pra me bater, eu já sentei a mãozada na tua cara. Não é a gente quem tem que tomar cuidado.

DÉBORA – Já que vocês não vão sair por bem, eu vou expulsá-los daqui à força. Eu não vou descansar enquanto não ver vocês fora daqui.

MARIA – Pois vai morrer tentando. Tu não vai conseguir!

DÉBORA – Eu estou sendo boazinha com você, Maria. Estou lhe dando todas as chances possíveis de não termos uma convivência violenta.

MARIA – Isso só depende de ti, não de mim.

DÉBORA – Maria, eu estou avisando: ESQUEÇA o Pedro Igor, tire-o dessa sua cabeça oca! Me desculpe, mas você o perdeu.

MARIA – Tu fala como se o teu reinado nesse galinheiro fosse durar muito tempo…

DÉBORA – Claro que vai. Sou noiva dele, em breve serei sua esposa…

MARIA – Do que adianta estar casada com um homem que não te ama?

A expressão debochada de Débora é desmanchada nesse momento.

MARIA – Enfia na tua cabeça que o Igor não te ama, Débora! Ele me ama, ele gosta de mim! Ele mesmo já me disse isso. E não adianta dizer que não sabia, porque tu sabia sim. Tu armou esse circo justamente pra me afastar dele.

Um misto de raiva e tristeza invade o interior de Débora.

DÉBORA (irada) – É mentira…

MARIA – Tu sabe que não é. Para de mentir pra ti mesma. O Igor não te ama, o Igor ama a mim!

DÉBORA – Favelada… imunda… ORDINÁRIA! EU QUERO QUE A SUA MÃE MORRA!

Maria se indigna com os xingamentos de Débora e lhe interrompe com uma potente bofetada, que a faz se chocar contra a parede.

MARIA – Lava a boca antes de falar da minha mãe, sua nojenta!

Maria sai a passos largos, deixando Débora sozinha em cena. Ela se deixa cair sentada no chão, ainda com o rosto virado.

DÉBORA – Ela vai se arrepender do que fez. Eu juro…

Fátima entra em cena e estranha ao ver Débora sentada no chão, com o rosto escondido pelas mãos e pelos cabelos.

FÁTIMA – Débora? O que é isso?

Débora se recompõe e se levanta, encarando Fátima.

DÉBORA – Aquela porca imunda me agrediu.

Débora vai embora, deixando Fátima intrigada.

CENA 02: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE LUÍS/INT./TARDE

TRILHA SONORA: Earth Song – Michael Jackson

Gustavo e Luís se abraçam. Ao fundo da cena, Gabriel, Helena e Igor observam a cena. O clima é de consternação.

GUSTAVO – A sua mãe está num bom lugar, Luís. Ela não sente mais nada de ruim, só coisa boa. Agora ela vai poder cuidar de você e da Maria, ela vai vigiá-los e protegê-los lá de cima.

LUÍS – Eu não vou poder mais ouvir a voz da minha mãe, não vou poder mais tocar nela…

GUSTAVO – Vai poder fazer isso nos seus sonhos mais puros. Ela vai estar lá para que vocês matem a saudade.

Gustavo e Luís se apartam do abraço.

GABRIEL – Eu acho que nós poderíamos fazer alguma coisa para levantar o astral do Luís e da Maria… sei lá, algo que possa alegrá-los, esquecer essa tristeza.

LUÍS – Acho que sei o que a gente pode fazer.

HELENA – E o que seria?

LUÍS – Hoje é o aniversário da Maria. Ela nunca lembra, por isso eu acho que a gente podia fazer uma festa de aniversário pra ela. Ela tá sofrendo muito mais do que eu, ela precisa disso mais do que eu.

HELENA – Ótimo. Hoje à noite a gente faz a festa de aniversário da Maria lá na casa do Guto. Nós fingimos que vamos ter um encontro da Corrente lá e fazemos uma festa surpresa pra ela. O que acham?

Aparentemente, todos concordam com a ideia de Helena. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

HELENA – Vamos começar avisando toda a Corrente. E, em seguida, corremos contra o tempo para acertar os detalhes da festa. Eu quero que tudo fique pronto antes do anoitecer.

Helena não esconde sua satisfação pelo sucesso de sua ideia.

CENA 03: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/SALA/INT./TARDE

Um telefone celular vibra em cima da mesa de centro. A tela do aparelho denuncia se tratar de uma ligação de Helena.

Jonas entra em cena, segurando Felipe nos braços. Ele corre até o celular.

FELIPE – Pai… ‘cano, ‘cano…

JONAS – É, o celular tá tocando…

Utilizando a mão livre, Jonas pega o celular na mesinha, atende a ligação e põe o celular no ouvido.

JONAS – Diz, Helena.

HELENA (cel.) – Oi, Jonas. Tá ocupado?

JONAS – Eu tiro um tempinho. É importante?

HELENA (cel.) – Importantíssimo.

JONAS – Pode falar.

TRILHA SONORA: Uptown Funk – Mark Ronson ft. Bruno Mars

HELENA (cel.) – Jonas, hoje é o aniversário da Maria e nós estamos pensando em organizar uma festa surpresa para ela lá na casa do Guto.

Helena e Jonas continuam conversando.

CENA 04: CASA DE GUTO E LUCIANA/QUARTO DE GUTO/INT./TARDE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Guto está deitado na cama, com o celular próximo do seu rosto. Claramente, uma ligação em viva-voz.

GUTO – Na minha casa?

GUSTAVO (cel.) – Sim. Como vocês moram mais longe, então fica mais fácil para esconder a festa da Maria.

GUTO – Então me explica qual a ideia mirabolante que vocês tiveram para imaginar, organizar e montar uma festa de aniversário surpresa em questão de horas?

GUSTAVO (cel.) – Nós ficamos com o mais difícil. A Helena se ofereceu pra cuidar da decoração. Eu e o Igor vamos nos responsabilizar por abrir o bolso e tirar as ideias da Helena do papel. Quanto aos comes e bebes, vocês se organizariam.

GUTO – Não, por mim tudo bem.

Luciana entra no quarto e flagra Guto deitado na cama.

GUSTAVO (cel.) – Não se esquece, tá? A festa é hoje à noite, aí na tua casa. Se acerta aí com o pessoal do Ricardo que a gente se acerta aqui sozinho.

GUTO – Beleza. Faremos o nosso possível. Câmbio, desligo.

E Guto encerra a ligação.

LUCIANA – O que tá acontecendo?

GUTO – Hoje é o aniversário da Maria e a Helena quis porque quis que a gente fizesse uma festa surpresa pra ela hoje à noite aqui em casa. A desculpa que a gente vai arrumar pra ela é um encontro da Corrente aqui.

Luciana não esconde sua animação em ouvir isso.

LUCIANA – Então quer dizer que o Ricardo vem pra cá hoje à noite?

GUTO – Claramente que sim. Ele faz parte da Corrente, não é?

LUCIANA – Ai, Guto, você é inteligente pra algumas coisas, mas é uma porta para outras.

GUTO – Tu não tá pensando em dar em cima do Ricardo?

LUCIANA – Dar ainda não, mas chamar a atenção dele sim.

Guto apenas encara Luciana.

CENA 05: CASA DE JÉSSICA/SALA/INT./TARDE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Júlio está sentado no sofá, com o celular próximo ao rosto, em uma ligação no viva-voz com Luciana. Ali na sala também se encontravam Carolina segurando Felipe nos braços, Dimas, Jair, Jéssica, Jonas, Larissa e Ricardo.

LUCIANA (cel.) – Hoje é o aniversário da Maria e a Helena quer fazer uma festa surpresa pra ela. Por isso, a gente tá fazendo uma operação pra montar uma festa pra hoje à noite aqui em casa. O Gustavo, o Igor, a Helena e o Luís se comprometeram em arrumar a decoração. E só eu e o Guto não podemos arrumar sozinhos o resto. Como é que nós podemos se acertar com os comes e bebes?

JÚLIO – Vocês vão ficar com o bolo, né?

LUCIANA (cel.) – Claramente. O Guto pode ser um preguiçoso, um palhaço, o que for, mas na cozinha ele dá um show em muita dona de casa por aí.

LARISSA (brincando) – Eu senti essa indireta, hein?

LUCIANA (rindo/cel.) – Desculpa, dona Larissa, não era a minha intenção.

LARISSA – Não, tudo bem. Pode continuar.

CAROLINA – Como a gente é preguiçoso, a gente fica com o mais fácil, que são os salgadinhos e os dois litros de refri.

DIMAS – Quero ver como é que vocês vão pagar essa comida toda.

LUCIANA (cel.) – Qualquer coisa, a gente manda a conta pra Helena. A ideia foi dela, né? Que o seu Gabriel pague os custos, já que a Helena ainda não é independente.

JÚLIO (rindo) – Quero ver o que a Helena vai dizer quando ouvir isso…

LUCIANA (cel.) – Júlio, você não é nem louco de enredar pra Helena uma coisa dessas…

JÚLIO – Ah, Luciana, tu não me conhece…

JONAS – Pior que eu não duvido nada…

LUCIANA (cel.) – Ai, Júlio, faz isso comigo não.

JÚLIO (rindo) – Tô brincando, não vou fazer não. Prometo.

JAIR – Bom, já tá tudo resolvido e dividido então. Mãos à obra?

JÚLIO – Beleza. Qualquer coisa a gente te liga, tá, Luciana?

LUCIANA (cel.) – O mesmo. Até logo.

JÚLIO – Até logo…

E Júlio encerra a ligação. Ricardo já vai se levantando.

RICARDO – Agora a gente vai se organizar, porque ficamos com a maior parte.

DIMAS – Eu e o Ricardo ficamos com os refris.

JONAS – Eu e a Carolina ficamos com os salgadinhos.

JÚLIO – Com que dinheiro?

Jonas se senta ao lado de Júlio e tira uma carteira do bolso do irmão.

JÚLIO – Ei!

JONAS – Nem vem dizer que tu não tem dinheiro que tu tem sim.

Jonas retira uma nota de 100 reais da carteira de Júlio e, em seguida, a devolve pra ele.

JONAS – Obrigado pelo empréstimo, querido irmãozinho.

JÚLIO – Ah, mas eu vou cobrar…

Risos generalizados. Jonas e Júlio ensaiam um princípio de discussão, mas logo riem juntos. A trilha sonora vai abaixando aos poucos

CENA 06: CASA DE GUTO E LUCIANA/FACHADA/EXT./NOITE

O carro de Jair estaciona em frente à casa. O motor é desligado e as quatro portas se abrem. Júlio sai do banco do motorista, Dimas sai do banco do acompanhante e Jonas, Carolina e Ricardo saem do banco de trás. Eles vão até o portão da casa, e Carolina toca a campainha.

Eles são atendidos por Guto.

GUTO – Chegaram mais cedo do que a gente imaginou.

CAROLINA – Hã?

GUTO – Tô sendo irônico. Achei que vocês iam chegar junto com a Maria, viu?

CAROLINA – A culpa foi do Felipe, só pra constar. Foi um sacrifício pra botar ele pra dormir.

GUTO – Entrem.

Guto abre espaço para os cinco entrarem.

CENA 08: CASA DE GUTO E LUCIANA/SALA/INT./NOITE

Carolina, Dimas, Jonas, Júlio e Ricardo entram e flagram Gustavo, Helena, Igor e Luciana posicionando as decorações. Ainda faltavam muita coisa.

GUTO – Pra vocês verem como dez mãos fazem falta…

DIMAS – Vocês estão há quanto tempo fazendo isso?

HELENA – Como vocês estão uma hora atrasados, então eu posso dizer que nós estamos ajeitando a decoração há umas duas horas.

CAROLINA – Então o que estamos esperando? Vamos ajudar. Com o dobro de pessoas, a gente apronta tudo na metade do tempo.

Ricardo pega um saco com bexigas e a oferece para Dimas.

RICARDO – Que tal começar enchendo os balões?

DIMAS – Por que tu tá oferecendo pra mim? Tu sabe que eu não sei encher balão, eu sempre papoco o balão e ainda levo susto…

RICARDO – Então vai ajudar o Gustavo, a Helena e o Igor com as letras.

Dimas se aproxima de Gustavo, Helena e Igor, que estão colando letras na parede, formando mensagens de parabéns. Enquanto isso, Jonas, Júlio e Ricardo enchem as bexigas. Carolina, Guto e Luciana se encarregam de levar os salgadinhos e refrigerantes para a cozinha.

CENA 09: MANSÃO ANDRADE DA COSTA/QUARTO DE MARIA/INT./NOITE

TRILHA SONORA: Earth Song – Michael Jackson [INSTRUMENTAL]

Luzes apagadas. Maria está deitada na cama, com o rosto afundado no travesseiro. Batem à porta, mas ela não atende. Mesmo assim, a porta se abre. Era Luís.

LUÍS – Maria?

Luís acende as luzes do quarto. Sem resposta. Luís acende a luz e se assusta ao ver Maria daquele jeito.

LUÍS – Maria…

Maria se mexe na cama, aliviando Luís.

LUÍS (sussurrando) – Graças a Deus…

Ele se senta na cama, perto da irmã.

LUÍS – Maria, eu entendo que tu ainda tá sofrendo pela morte da mãe, mas a gente não deve ficar chorando por causa dela. A gente não pode alimentar esse luto. Lembra que ela sempre gostava de ver a gente sorrindo, se divertindo?

MARIA (voz abafada) – Eu não quero me divertir…

LUÍS – Tá, mas pelo menos vamos sair um pouco. Olha, a Helena me disse que hoje vai ter encontro da Corrente lá na casa do Guto e da Luciana. Vamos?

Maria vira o rosto para Luís. Ela ainda estava chorando, mas já estava mais controlada. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

MARIA – E se a Débora estiver lá?

LUÍS – Vai dizer que tá com medo da Débora…

MARIA – Tu não sabe o que foi que aquela vaca me disse?

LUÍS – Não sei, mas é mais um motivo pra tu ir pra esse encontro. Ela nunca vai pra encontro da Corrente, e duvido que ela vá nesse, porque ela sabe que a gente também vai.

MARIA – Luís, ela desejou a morte da nossa mãe!

Luís estaciona com o que Maria acabou de lhe falar. Os dois se encaram, em silêncio.

CENA 10: CASA DE MAURÍCIO E TALITA/COZINHA/INT./NOITE

Bárbara, Jéssica, Larissa e Talita se reúnem na cozinha. Jéssica se ocupa com as panelas no fogão, enquanto Bárbara e Talita enxugam e guardam a louça lavada por Larissa. Um pouco mais afastadas, Bárbara e Talita conversam.

TALITA – Bárbara… se me permite ter a minha curiosidade saciada, você gosta do Jonas como genro?

BÁRBARA – Gosto sim. Gosto dele como genro, amo ele como filho de Deus e admiro ele como pai de meu neto.

TALITA – Se, no lugar dele, fosse o Júlio ou o Ricardo, você também ia gostar do seu genro?

TRILHA SONORA: Cheia de Marra – MC Livinho

BÁRBARA – Sinceramente? Eu adoraria ter o Júlio como genro, mas o Ricardo não. Ainda mais porque entre o Ricardo e a minha filha teve só aventura mesmo. O Ricardo podia ter se encantado pela Carolina, mas ela não correspondia.

TALITA – Me perdoe, Bárbara, mas sua filha se saiu uma grande vagabunda nessa história toda. Ficou feio pra ela, mas também fica feio pra você ficar falando sobre esse assunto com toda essa naturalidade.

BÁRBARA – Eu não pude fazer nada pra impedir. Quando a gente se deu conta do que estava acontecendo, a Carolina já estava grávida e não tinha como esconder. A gente chegou a ter umas conversas na época, mas eu não imaginava que ela tinha chegado a esse ponto. Eu achava que ela estava apenas desejando, fantasiando, mas na verdade ela tava era se lambuzando. Depois que a gente descobriu essa história, eu fiquei sabendo de cada história… graças a elas, eu descobri coisas sobre o Júlio que eu jamais imaginaria—

Bárbara interrompe sua própria corrente de pensamento. Ela tenta soterrá-la com outra conversa, mas falha.

BÁRBARA – Se tu soubesse metade das histórias que eu fiquei sabendo, tua visão sobre o Júlio mudaria para sempre.

Bárbara evita encarar Talita, que estranha. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

CENA 11: CASA DE GUTO E LUCIANA/SALA/INT./NOITE

Dimas, Gustavo, Helena e Igor colam as frases de parabéns nas paredes. Jonas e Júlio enchem os balões, que são posicionados na sala por Guto e Ricardo. Guto percebe que Ricardo não está em seu estado perfeito.

GUTO – Tá tudo bem, Ricardo?

RICARDO – Só tô com sede mesmo.

GUTO – Ah, pode ir lá na cozinha beber água, sem problema.

RICARDO – Pois tá bom…

Ricardo deixa Guto trabalhando sozinho, e vai para a cozinha.

CENA 12: CASA DE GUTO E LUCIANA/COZINHA/INT./NOITE

Luciana enche um copo com água e devolve a garrafa d’água à geladeira. Ela se vira para voltar à sala, mas se surpreende ao ver Ricardo chegando à cozinha. Ela tenta disfarçar o nervosismo.

LUCIANA – Quer alguma coisa, Ricardo?

RICARDO – Só um copo d’água.

LUCIANA – Ah, então pode pegar esse aqui. Eu pego outro pra mim, sem problemas.

Luciana estende a mão, oferecendo o copo para Ricardo. Ele pega o copo e tenta trazê-lo para perto de si. Porém, Luciana não solta o copo de imediato, e sua mão vai junto… ela tenta soltar, mas quando consegue, o faz tão bruscamente que desestabiliza o copo, que derrama em cima de Ricardo.

RICARDO – Ops.

LUCIANA (tensa) – Desculpa, Ricardo…

RICARDO – Não, sem problemas…

LUCIANA – Olha, eu vou lá no quarto do Guto pegar outra camisa pra ti.

TRILHA SONORA: Um Beijo Seu – Banda Calypso

RICARDO – Sério mesmo que tu vai pegar uma camisa do Guto?

LUCIANA – Ele tem uma parecidíssima com essa. Se a gente trocar, ele não vai nem perceber.

Ricardo não a responde. Luciana sai da cozinha.

CENA 13: CASA DE GUTO E LUCIANA/QUARTO DE GUTO/INT./NOITE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Luciana entra no quarto de Guto e corre até a cômoda. Ela abre a terceira gaveta e tira de lá uma camisa vermelha, parecida com a usada por Ricardo. Ela encara a camisa, e abre um sorriso.

LUCIANA (sorrindo) – Espero que essa trapalhada me sirva de alguma coisa…

Luciana volta com a camisa em mãos.

CENA 14: CASA DE GUTO E LUCIANA/COZINHA/INT./NOITE

Mesma trilha sonora da cena anterior. Ricardo está sentado numa cadeira da mesa de jantar. Luciana entra na cozinha com a camisa em mãos, chamando a atenção de Ricardo.

LUCIANA – Tá aqui, Ricardo.

Luciana passa a camisa para Ricardo.

RICARDO – Realmente, é parecida com a minha. Mas olha, depois a gente destroca, viu?

Luciana não responde Ricardo, apenas sorri para ele. Ricardo pensa em trocar a camisa, mas estaciona.

RICARDO – Não tem problema se eu trocar na tua frente não, né?

LUCIANA – Não… nenhum…

E Ricardo tira a sua camisa molhada, deixando seu torso nu na frente de Luciana, que se controla para não se exaltar.

RICARDO – É bom que eu me sinto mais à vontade, sabe… sou desses que costuma passar o dia em casa sem camisa.

LUCIANA – O clima também ajuda, né? Não é todo mundo que gosta de cobrir o corpo num lugar quente como esse.

Ricardo solta um breve sorriso para Luciana, indicando concordância com o seu pensamento. Ele veste a camisa de Guto e entrega a sua para Luciana. Ele volta para a sala, deixando Luciana sozinha em cena. A moça não resiste e abraça a camisa de Ricardo, cheirando-a na tentativa de capturar a essência masculina que tanto a encanta, fascina e excita.

LUCIANA (sussurrando) – Ele só vai ter essa camisa de volta depois de um beijo.

Ela para de abraçar a camisa, mas o sorriso não se desfaz. Ela sai da cozinha. A trilha sonora vai abaixando aos poucos.

CENA 15: MANSÃO ANDRADE BASTOS/QUARTO DE DÉBORA/INT./NOITE

Débora está sentada em sua cama, com as pernas cruzadas. Sentada na beirada da cama, ao seu lado, está Cassandra. As duas conversam.

CASSANDRA – Mas você conseguiu o que queria? O Pedro Igor concordou em assumir o noivado?

DÉBORA – Sim, vó, ele concordou. Não precisei insistir muito, só o chamei à razão. Uma criança crescer vendo os pais separados já tem tendência a desacreditar no amor. Afinal, o amor que o gerou sequer foi capaz de durar mais de nove meses…

CASSANDRA – Excelente. Agora é comigo e com seus tios. Nós vamos acertar todos os detalhes da união matrimonial.

DÉBORA – Não se esquece que ele pediu para vocês esperarem por ele. Ele também quer participar das negociações. Eu concordo com ele, ele é o noivo, é de se esperar que ele também se engaje, que ele também participe.

CASSANDRA – O Pedro Igor só vai atrapalhar as negociações. Tenho certeza que ele vai querer impor condições, exceções e tudo mais para deixar bem claro a você que ele não está se casando por você, e sim pela criança.

DÉBORA – Tem razão. Enquanto isso, eu tenho que arranjar uma maneira de simular o desenvolvimento da gravidez.

CASSANDRA – Débora, você tem ideia do quanto isso pode nos atrapalhar?

DÉBORA – Eu não sou nenhuma burra, vó. Eu vou conseguir esconder essa farsa, ela nunca vai ser descoberta. Nem que pra isso eu tenha que esconder só do Pedro Igor. Eu forjo o desenvolvimento da gravidez… como o tempo entre a descoberta da “gravidez” e o casamento não vai ser muito gritante, eu posso encobrir a falsa com uma verdadeira. Simples assim.

CASSANDRA – Débora, isso aqui não é novela da Glória Perez onde as gravidezes são desreguladas. Como você vai fazer pra justificar o fato do seu filho nascer de 11, 12 meses?

DÉBORA – Intitulo como mais um caso que a ciência não possa explicar.

Cassandra não responde Débora. Alguns segundos de silêncio. O celular de Débora toca e, imediatamente, a moça pega o aparelho, que se encontrava jogado em cima da cama, e o atende.

DÉBORA – Alô?

IGOR (cel.) – Débora?

DÉBORA – Oi, Igor. Tá um barulho aí, o que está havendo?

IGOR (cel.) – Temos um encontro da Corrente aqui na casa do Guto e da Luciana. Vem pra cá, por favor, eu preciso falar com você.

DÉBORA – Claro que não, o Luís e a Maria estão aí.

IGOR (cel.) – Mas é exatamente por isso que você tem que vir pra cá. É um assunto sério, você precisa estar aqui.

DÉBORA – Pelo menos dá pra adiantar alguma coisa?

IGOR (cel.) – Não. Venha, por favor.

DÉBORA – Tá certo, eu já vou indo. Até logo.

IGOR (cel.) – Até logo.

Débora encerra a ligação.

DÉBORA – A senhora ouviu, não é, vó?

CASSANDRA – Sim, ouvi.

DÉBORA – Você acha que eu devo ir?

CASSANDRA – Acho que sim. Uma boa relação entre você, a Maria e o Luís poderia nos ajudar a fazer o seu tio Gabriel interagir mais nas negociações. Ele está muito relutante quanto ao casamento, porque ele sabe que você rivaliza com os suburbanos que ele tanto estima.

DÉBORA – Vai ser muito difícil alguém me convencer a fazer as pazes com aqueles marginais. E mesmo que eu o faça, eu duvido muito que eles aceitem os meus pedidos de desculpa, afinal hoje mesmo eu briguei com a Maria e ela deve estar morrendo de raiva de mim.

CASSANDRA – Mais um motivo para você fazê-lo. Faça a Maria acreditar que você sentiu que pegou pesado e está arrependida. Faça esse esforço de tentar aceitar os dois, isso pode adiantar a data do seu casamento e lhe ajudar a disfarçar o atraso no nascimento da criança.

Débora acena positivamente com a cabeça para Cassandra.

CENA 16: CASA DE GUTO E LUCIANA/CORREDOR/INT./NOITE

Luciana anda pelo corredor, na direção da sala. Porém, Guto vem na direção contrária e tapa a sua passagem.

LUCIANA – O que foi, Guto?

GUTO – Eu não acredito que você está usando essa festa como pretexto pra tentar se aproveitar do Ricardo.

LUCIANA – Hã?

GUTO – Quer dizer que você usou o famoso truque de molhar o crush pra poder vê-lo sem camisa e, quem sabe, ter a chance de roubar um beijo dele?

Luciana ri do questionamento de Guto.

LUCIANA – Nossa, Guto. Seus neurônios estão bem ativos hoje à noite, não é verdade?

GUTO – Não tenta mudar de assunto. Você vai mesmo levar a sério esse plano de separar o Ricardo do Dimas?

LUCIANA – De novo, Guto: é pelo bem do Ricardo. Pelo bem do Dimas também, mas primeiro pelo bem do Ricardo.

GUTO – Sabe o que você pode fazer pelo bem do Ricardo? Deixá-lo em paz. Não vê que ele está feliz da vida com o Dimas?

LUCIANA – Qualquer namorico deixa uma pessoa feliz. O Ricardo nunca vai ser feliz com o Dimas, eles não podem fazer uma família. Eu junto com o Ricardo posso fazê-lo mais feliz ainda, porque nós podemos fazer uma família.

Guto bufa.

GUTO – Você é mesmo muito insistente, não é?

LUCIANA – Ué, quem não chora não mama.

GUTO – Se as coisas derem errado pra ti, não venha querer chorar as pitangas pro meu lado não, viu?

Luciana debocha de Guto, o que o irrita ainda mais.

LUCIANA – Por favor, Guto, você pode me dar licença? Eu quero ajudar o povo a montar a festa surpresa da Maria.

Guto abre passagem para Luciana, que vai para a sala e o deixa ali sozinho. Ele desconta a sua raiva dando um soco na parede.

GUTO – Essa Luciana ainda vai me deixar louco…

As lágrimas ameaçam transbordar, mas Guto rapidamente as contém e se recompõe.

CENA 17: CASA DE GUTO E LARISSA/SALA/INT./NOITE

Tocam a campainha. Igor se afasta do grupo e vai atender. É Débora, e ela está visivelmente tensa.

IGOR – Que bom que é você. Entre.

Igor abre espaço para Débora entrar. Os dois se dirigem ao corredor, chamando a atenção de todos os demais personagens em cena, que se intrigam com a presença de Débora na festa de Maria.

CENA 18: CASA DE GUTO E LUCIANA/CORREDOR/INT./NOITE

Débora e Igor param no corredor.

DÉBORA – O que você quer que eu faça aqui na festa de aniversário de uma garota que eu antipatizo?

IGOR – Olha, Débora, primeiro de tudo: eu percebi que vocês não me esperaram e as negociações do nosso casamento já estão avançadas.

DÉBORA – O guichê de reclamações é o quarto da minha avó.

IGOR – Eu poderia muito bem fazer a Esmeralda e ignorar completamente esse casamento, mas eu não vou fazer isso em respeito ao nosso filho. Se você não quiser que eu mude de ideia, então é melhor que você acate uma vontade minha, que por uma coincidência oriunda da novela anterior à nossa, também é uma vontade do meu pai.

DÉBORA – E o que seria?

IGOR – Fazer as pazes com a Maria. Não sei se você sabe, mas hoje nós estamos fazendo uma festa surpresa para a Maria, a mãe dela morreu ontem à tarde e nós estamos tentando alegrá-la.

Débora se choca com o que acabou de ouvir de Igor.

DÉBORA – O quê?

IGOR – Exatamente. A Maria está triste, de luto pela morte da mãe.

DÉBORA – É por isso que ela me bateu quando nós discutimos hoje à tarde… eu não devia ter falado aquilo…

IGOR – Aquilo o quê, Débora?

DÉBORA – A gente teve uma discussão, não lembro direito o porquê, daí eu perdi a cabeça e desejei a morte da mãe dela…

Igor se choca com a confissão de Débora. Ela desvia o olhar, preocupada e desesperada com a situação. Ele, visivelmente alterado e tenso, passeia as mãos pela cabeça e pelo pescoço, pensando no que falar e no que agir diante do que acabara de escutar. Ambos lutam para que as lágrimas não transbordem.

A cena congela em um efeito dourado no rosto dos dois.

FIM DO DÉCIMO CAPÍTULO.

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